Achados Econômicos

Arquivo : abril 2013

Corte nos juros faz país economizar um Bolsa Família em um ano
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Sílvio Guedes Crespo

Texto atualizado às 15h58 (incluído gráfico de inflação)

O setor público gastou R$ 217 bilhões com pagamento de juros aos investidores nos últimos 12 meses, segundo o Banco Central. Um ano antes, no período de abril de 2011 a março de 2012, o gasto havia sido de R$ 237 bilhões. A diferença, R$ 20 bilhões, é praticamente o orçamento do programa Bolsa Família em 2012 (R$ 21 bilhões).

Não custa notar que, mesmo depois de caírem, os gastos com juros ainda são dez vezes maiores do que os desembolsos do Bolsa Família.

Ainda, essa trajetória de redução nas despesas com juros pode não se manter no médio prazo, pois ela ocorreu ao mesmo tempo em que a inflação acelerou.

Inflação

O BC reduziu a taxa básica de juros (a chamada Selic) de 12,5% ao ano, em julho de 2011, para 7,25%, em outubro do ano passado, nível que foi mantido até o dia 18 de abril. Com essa queda, caíram também os juros ao consumidor, levando a um aumento da demanda por bens de consumo.

Como a produção de bens não aumentou na mesma proporção, a inflação acelerou, até atingir 6,59% nos 12 meses encerrados em março.

É verdade que boa parte da inflação resultou de aumento nos preços de alimentos (alta de 13,5% no período), produtos que o consumidor não adquire por meio de financiamento.

Mas também tiveram uma alta considerável os preços de bens de consumo como roupas (6,8%) e móveis (4,4%) – mercadorias, essas sim, que muitas vezes são parceladas.

Gastos com juros

Há duas semanas, o BC voltou a subir a taxa básica de juros, para 7,5% ao ano, e provavelmente a elevará a 8,25% até o fim do ano, segundo projeções de instituições financeiras.

Ou seja, os gastos com juros devem voltar a subir. Ao mesmo tempo, o governo já deu mostras de que não pretende diminuir a política de transferência de renda nem os investimentos em programas sociais em geral. Ainda, sua arrecadação está em queda, em parte por conta de diversos cortes de impostos, em parte também por causa da desaceleração da economia.

De onde o governo vai tirar dinheiro para continuar alimentando os ricos e os pobres? Se as empresas voltarem a aumentar investimentos, há chance de termos melhora na atividade econômica e, consequentemente, mais geração de impostos. Caso contrário, o governo provavelmente terá que escolher entre conter gastos, retomar a arrecadação ou deixar a dívida subir. A sorte, vamos dizer assim, é que ainda há gordura para queimar nas despesas públicas.


No atual ritmo, PIB per capita do Brasil alcançaria o dos EUA em 108 anos
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Sílvio Guedes Crespo

Em quanto tempo o PIB per capita do Brasil alcançaria o de países ricos

Veja Álbum de fotos

Mantido o atual ritmo de crescimento em cada país, o PIB (produto interno bruto) per capita do Brasil se igualaria ao dos Estados Unidos em 108 anos, ao do Reino Unido em 47 anos e ao da Itália em 30.

Em 2012, o PIB (produto interno bruto) per capita do Brasil foi de US$ 11.875, e o dos EUA, de US$ 49.922, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI). Esse número foi calculado com base na paridade do poder de compra, uma cotação do dólar que desconta a diferença do poder aquisitivo em cada país.

Para calcular o ritmo de crescimento atual, Achados Econômicos considerou a média dos últimos cinco anos e a da projeção de crescimento para os próximos cinco, elaborada pelo FMI, ou seja, o período que vai de 2009 a 2018.

Nesses dez anos, o PIB per capita brasileiro vem crescendo a uma média de 4,5% ao ano, enquanto o dos EUA avança a 3,1% ao ano.

É claro que nenhum país mantém o mesmo ritmo de crescimento desse indicador por períodos tão longos – na verdade, é difícil que a taxa se repita mesmo em dois anos seguidos.

A economia dos países está exposta a inúmeros eventos que influenciam o seu crescimento. Ainda, quanto maior o PIB per capita, mais difícil manter um ritmo de expansão alto.

Na China, por exemplo, o PIB per capita tem crescido acima de 10% ao ano, mas, com isso, os trabalhadores locais tendem a começar a ganhar mais, de modo a aumentar o custo do trabalho e, possivelmente, corroer parte da competitividade dos produtos chineses.

Nem por isso o cálculo do tempo que os países vão levar para aumentar o seu PIB per capita é inútil. Ele mostra para onde a economia de cada nação está apontando neste momento.

Não deve ser visto, portanto, como uma tentativa de prever o futuro, e sim como uma forma de enxergar melhor o atual momento.

Emergentes

A China e a Coreia do Sul são os dois países emergentes que mais rapidamente alcançariam a renda per capita dos EUA, se mantivessem o atual ritmo de crescimento. Veja quanto tempo cada nação em desenvolvimento levaria para chegar ao mesmo nível dos americanos.

PaísPIB per capita atual (US$)Crescimento anual* (%)Em quantos anos alcançaria os EUA
China9.16210,126
Coreia do Sul32.2724,826
Chile18.4195,446
Índia3.8307,266
Rússia17.7094,768
México15.3123,4483
África do Sul11.3753,3786
  • * Média do período 2009-2018
  • Fonte: FMI


Brasil é o país com maior redução do desemprego desde 2008
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Sílvio Guedes Crespo

Atualizado às 10h25 (acrescentada taxa de desemprego do IBGE)

O Brasil é o país que acumula maior redução da taxa de desemprego desde 2008, segundo dados do Fundo Monetário Internacional (FMI) sobre os 42 países que já divulgaram os números de 2012 referentes ao mercado de trabalho.

No ano em que estourou a crise financeira internacional, 7,9% da população ativa brasileira estava sem emprego; em 2012, essa proporção passou para 5,5%, o que representa uma queda de 30% na taxa.

Os números do FMI se referem à média de cada ano e vão só até 2012. No entanto, dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) confirmam que a tendência de queda do desemprego se manteve no início de 2013, apontando a menor taxa para meses de março desde 2002.

Ranking

A Alemanha, no ranking do FMI, aparece em segundo lugar, com uma diminuição muito próxima da brasileira, de 7,6% para 5,5%. O terceiro país da lista é a Bolívia, onde o indicador foi de 6,9% para 5,5%.

A taxa só caiu em 15 dos 42 países analisados. Em Portugal, na Bulgária e na Espanha, o indicador de desemprego mais do que dobrou no período. Na Grécia, mais que triplicou (veja tabela abaixo).

Os Estados Unidos e a Índia são os dois únicos países, entre as maiores economias, que não estão na lista do FMI, por não terem o dado fechado do desemprego médio em 2012.

Mas para os EUA, o FMI tem uma projeção, de que a taxa atingiu 8,1% no ano passado, contra 5,8% em 2012. Já a Índia não conta com os dados oficiais nem com previsões.

Desemprego em países selecionados

PaísTaxa em 2008 (%)*Taxa em 2012 (%)*Variação (%)**
Brasil7,95,5-30,4
Alemanha7,65,5-28,2
Argentina7,97,2-8,6
Rússia6,46,0-6,3
China4,24,1-2,4
Japão4,04,49,2
México4,04,820,8
França7,810,231,5
Reino Unido5,68,044,3
Itália6,810,656,8
Portugal7,615,7106,2
Espanha11,325,0121,2
Grécia7,724,2215,8
  • * Porcentagem da população economicamente ativa
  • ** Variação porcentual de 2008 a 2012
  • Fonte: FMI

Brasil no mundo

Esta é a terceira postagem da série “Brasil no mundo”, em que o blog Achados Econômicos analisa a recém atualizada base de dados do FMI.

Nas duas primeiras, o blog informou que o país caiu 25 posições no ranking mundial do crescimento econômico e que voltou a ter uma taxa de investimento menor que a das nações ricas.

Essas três comparações confirmam que o atual momento econômico brasileiro – de um país emergente que combina mercado de trabalho aquecido e, ao mesmo tempo, crescimento e investimento baixos – é um caso particular no mundo.

A questão agora é saber por quanto tempo esse cenário vai se sustentar e o que deve ocorrer depois, se uma recuperação nos demais indicadores ou uma redução no nível de emprego.

Metodologia

A medição da taxa de desemprego varia muito de um país para outro. Por isso, não é possível fazer um ranking indicando onde o desemprego é menor e onde é maior.

Porém, é possível comparar cada país consigo próprio. Se a taxa passou de 7,9% para 5,5% no Brasil, e de 7,6% para 15,7% em Portugal, pode-se dizer com segurança que ela caiu aqui e subiu lá.

Outro exemplo de comparação de pesquisas com diferentes metodologias: o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) e o IBGE. Apesar de as duas instituições apresentarem dados bem diferentes todos os meses, quando se observam as tendências de longo prazo, os resultados vão no mesmo sentido. Enquanto na pesquisa do IBGE, feita em seis regiões metropolitanas,  a taxa caiu 30% desde 2008, na  do Dieese, em São Paulo, a queda foi de 26%.

Há décadas o IBGE adota um padrão menos rigoroso que o Dieese para definir o que é estar desempregado. A atual série do instituto do governo foi iniciada em 2002 e não mudou esse conceito.

Vale acrescentar, ainda, que os números se referem à proporção de desempregados em relação à população ativa. Uma queda nessa taxa não significa que menos pessoas estejam sem emprego, e sim que esse contingente passou a representar uma parcela menor do total de pessoas que fazem parte do mercado de trabalho.

Também se deve notar que, em alguns países, a taxa cai menos porque já é muito baixa. Na China, por exemplo, a redução foi de 4,2% para 4,1%.


Brasil volta a investir menos que países ricos em 2012
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Sílvio Guedes Crespo

O Brasil voltou a ser um país que investe menos do que as nações ricas, após manter-se por quatro anos em situação melhor que elas.

Em 2012, os investimentos corresponderam a 17,6% do PIB (produto interno bruto) brasileiro, enquanto na média do G-7 (grupo dos países mais poderosos) eles ficaram em 17,7%, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI).

Países emergentes em geral têm uma taxa de investimentos maior do que os ricos. Na China, ela é de 47%; na Argentina, de 24%.

Nesse aspecto, o Brasil é uma exceção. Desde pelo menos a década de 1980, foram poucos os momentos em que tivemos um desempenho melhor que o do G-7 (e do que os demais emergentes) nesse indicador, como indica o gráfico abaixo.

Em 2008, os investimentos brasileiros tiveram uma forte alta e superaram a marca de 20% do PIB, algo que não ocorria desde 1989. Ao mesmo tempo, esse indicador caiu nos países ricos por causa da crise, levando o Brasil a viver um raro período em que gozou de taxas superiores às do G-7.

Os dados do FMI mostram que essa fase durou quatro anos (até 2011) e foi interrompida em 2012 por causa da queda no Brasil e da leve melhora nos investimentos dos Estados Unidos, Japão e Canadá. Alemanha, França, Itália e Reino Unido continuam contribuindo negativamente nessa estatística.

Investimento em 2012

PaísTaxa (% do PIB)
China46,9
Índia34,9
Coreia do Sul27,7
México24,7
Argentina23,8
Japão20,6
França19,9
Brasil17,7
EUA16,2
Reino Unido14,3
  • Fonte: FMI

De 1980 a 2007, o Brasil teve uma taxa mais alta que a do G-7 somente uma vez, em 1994. Nas últimas três décadas, o país só superou a média da América Latina também uma vez (em 1989) e nunca atingiu o patamar dos emergentes.

A projeção do Fundo Monetário é de que a taxa de investimentos da economia brasileira continue próxima à dos países do G-7 – mais ligeiramente abaixo – até 2018, pelo menos. Alguns economistas têm afirmado que o indicador deve ter uma recuperação em 2013, mas o número oficial referente ao primeiro trimestre ainda não foi divulgado.

Brasil no mundo

Esta é a segunda postagem da série “Brasil no mundo”, em que o blog Achados Econômicos analisa a base de dados do FMI, atualizada na semana passada. A primeira mostrou que o Brasil caiu para 128º lugar no ranking mundial de crescimento econômico.

Até sábado, será publicada uma postagem por dia comparando o Brasil com mais de 100 países.


Brasil cai 25 posições em ranking mundial de crescimento econômico
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Sílvio Guedes Crespo

PIB EM PAÍSES SELECIONADOS

Posição*PaísVariação do PIB em 2012 (%)
14ªChina7,8
39ªVenezuela5,5
41ªChile5,5
43ªBolivia5,2
65ªÍndia4,0
67ªMéxico3,9
102ªEUA2,2
108ªJapão2,0
110ªArgentina1,9
128ªBrasil0,9
129ªAlemanha0,9
136ªReino Unido0,2
141ªFrança0,0
162ªItália-2,4
164ªPortugal-3,2
166ªGrécia-6,4
  • * Posição no ranking de 166 países
  • Fonte: FMI

O Brasil caiu 25 posições em um ranking que mede o ritmo de crescimento do PIB (produto interno bruto) de 166 países, elaborado com dados do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Com uma expansão de apenas 0,9% na economia no ano passado, o país ficou em 128º lugar. Em 2011, estava em 103º, após uma alta de 2,7% no PIB.

Nos últimos 20 anos, somente três vezes o Brasil esteve em uma colocação pior do que a atual: em 1998 (quando ficou em 141º lugar), em 1999 (138º) e em 2003 (141º).

O ranking considerou apenas os países que forneceram os dados para todo o período examinado (1993 a 2012). Os números se referem ao crescimento econômico real, ou seja, descontada a inflação.

Com esta postagem, o blog Achados Econômicos inicia a série “O Brasil no Mundo”, em que analisará nos próximos dias os indicadores econômicos de mais de 100 países, com base no banco de dados do FMI, que foi atualizado na semana passada.

Nessas duas décadas, o melhor momento foi em 2010, quando a economia nacional avançou 7,5% e alcançou a 31ª posição. Naquele ano, o crescimento foi superior ao de importantes países emergentes, como Coreia do Sul, Chile, México e Rússia.

Ranking 2012

A economia que mais cresceu no mundo em 2012 foi a da Líbia, com alta de 104,5%. No entanto, deve-se fazer a ressalva de que países em guerra civil ou com grande instabilidade política costumam ter fortes variações no PIB, para cima ou para baixo. Esse crescimento da Líbia, por exemplo, veio depois de a economia encolher simplesmente 62% em 2011.

Na lanterninha do ranking de 2012 aparece a Grécia, que, depois de dar calote nos investidores e adotar um sofrido aperto fiscal, viu sua economia encolher 6,4%. Foi a quinta retração seguida no PIB grego, que acumula queda de 20% desde 2008.

Mundo

No ano passado, o desempenho do Brasil ficou abaixo da média não só da América Latina e do mundo, como também do G-7 (o grupo dos países mais industrializados), o que não ocorria desde 2003.

A variação do PIB de um ano para o outro é importante porque retrata um momento específico.

Para enxergar as tendências de longo prazo, no entanto, o melhor é usar médias de períodos maiores. O gráfico abaixo mostra que, nos dez anos encerrados em 1993, o PIB brasileiro cresceu a uma média de 2,8% ao ano, um número inferior ao verificado no restante do mundo.

Nos anos seguintes, a economia foi perdendo força até 1999, quando o país teve um desempenho muito pior do que a média dos demais. Houve um salto em 2000, seguido por um período de estabilidade. A partir de 2006, o PIB nacional passou a crescer com mais força, até alcançar a média mundial em 2011. No ano seguinte, voltou a se descolar dos demais países.

Dito de outro modo, o gráfico mostra que, apesar do “pibinho” do ano passado, no acumulado dos últimos dez anos ainda estamos bem melhor do que os países ricos. Porém, voltamos a crescer menos que a América Latina e do que a média do mundo.


Inflação da cesta básica é a maior em 10 anos e corrói salário mínimo
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Sílvio Guedes Crespo

O aumento dos preços da cesta básica voltou a corroer o poder de compra das pessoas que ganham o salário mínimo, invertendo uma tendência que marcou quase todo o período do governo Lula e o início da gestão Dilma.

Nos 12 meses encerrados em março, o valor da cesta básica nas principais capitais teve a maior alta dos últimos dez anos. Em São Paulo, subiu 23,1%, segundo o Dieese. No Rio, aumentou 22,7%; em Brasília, 22,5%, e em Salvador, 32,6%. Já o salário mínimo avançou apenas 9% no período.

Até então, o que vinha ocorrendo era o inverso: o salário mínimo ganhava poder de compra em cima da cesta básica ano após ano, com exceção de uma pequena perda em 2010, mais do que compensada em 2011 e 2012.

O gráfico abaixo deixa isso claro. Mostra qual a parcela do salário mínimo, em termos porcentuais, que fica comprometida com os produtos da cesta básica. Em março de 2003, por exemplo, essas mercadorias consumiam 91% do mínimo em São Paulo. A proporção foi caindo sistematicamente até chegar a 48% no ano passado.

Nos últimos 12 meses, no entanto, houve uma alta significativa, e a proporção subiu para 54%. Em outras palavras, ao contrário do que ocorria no ano passado, hoje o salário mínimo deixou de ser suficiente para comprar duas cestas básicas.

No ano que vem, o aumento do mínimo deve ser menor, porque seu cálculo que leva em conta o PIB (Produto Interno Bruto) de dois anos antes. Em 2014, o reajuste vai se basear no crescimento econômico de apenas 0,9% registrado em 2012.


Preço de produtos básicos que tiveram corte de imposto não cai nem 1%
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Sílvio Guedes Crespo

Carnes puxaram a queda de preço dos produtos desonerados

Inflação de itens da cesta básica desonerados

ProdutoVariação em março (%)
Açúcar cristal-1,91
Carnes-1,63
Óleo-0,62
Pasta de dente-0,41
Café moído-0,38
Sabonete0,48
Carnes e peixes industrializados0,75
Manteiga1,4
Aves e ovos1,42
Café solúvel1,51
Pescados1,78
Papel higiênico1,92
Média ponderada-0,54
  • Fonte: IBGE

Os produtos da cesta básica que ficaram isentos de impostos federais em março tiveram uma redução de apenas 0,54% em seus preços no mês, segundo cálculo deste Achados Econômicos a partir de dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

No dia 8 do mês passado, a presidente Dilma Rousseff anunciou o fim do PIS-Cofins e do IPI para os produtos da cesta que ainda não estavam isentos. Até então, eles eram tributados em pelo menos 9,25% (veja tabela ao final deste texto).

A queda de preço nos produtos desonerados em março foi puxada pelas carnes (-1,63%). Dentro desse grupo, o destaque foi o contrafilé, com redução de 3,6%, e a alcatra, de 2,84%. O filé mignon recuou 1,66%, segundo o IBGE.

Outros itens, no entanto, aumentaram de preço, especialmente os peixes. A tilápia saltou 15%, e a corvina, 4,76%.

Os números mostram quanto os preços variaram no mês do corte de impostos, e não qual foi o impacto da desoneração. Para saber isso, seria necessário projetar qual seria o aumento ou redução caso os tributos tivessem sido mantidos.

A tabela abaixo mostra quanto variou, em março e nos últimos 12 meses, os itens da cesta básica que tiveram isenção de impostos federais em março. O açúcar cristal teve uma queda maior do que a das carnes, mas, como tem peso menor no orçamento das famílias, sua variação contribui menos para o índice de inflação.

Veja também quanto se pagava de impostos federais sobre os itens da cesta básica, conforme listou o Dieese (Departamento Internsindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos).

Energia e carro

Ainda em relação aos produtos em cujo preço o governo interveio, a pesquisa do IBGE informa que a energia elétrica residencial caiu 18,04% desde o início do ano. O automóvel novo, que teve o corte de IPI prorrogado, subiu 0,35% em março, mas acumula queda de 3,22% nos últimos 12 meses.

Repasse

Os tributos são apenas um dos vários fatores que influenciam no preço dos produtos. O professor de economia Alcides Leite, da Trevisan Escola de Negócios, explica por que a pesquisa não aponta uma queda dos valores na mesma proporção do corte de impostos.

Primeiro porque, até chegar ao consumidor, o desconto precisa passar por toda uma cadeia produtiva. Não adianta o produtor fazer o repasse, e os intermediários, não.

Em segundo lugar, os comerciantes podem esperar o estoque terminar e só baixar o preço quando começarem a vender o produto novo, que eles compraram sem imposto.

Um terceiro motivo é a limitação da própria pesquisa do IBGE, que não foi feita especialmente para detectar a variação dos preços da cesta. Ela abrange locais específicos e é realizada ao longo de todo o mês, não apenas após o dia 8, quando foram cortados os impostos.

Ainda, os preços de alguns produtos sofrem variações sazonais.


Com Thatcher, Reino Unido reduziu dívida e aumentou desigualdade
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Sílvio Guedes Crespo

Texto atualizado às 20h04 (alterada escala no gráfico do PIB)

A ex-primeira-ministra do Reino Unido Margaret Thatcher, morta nesta segunda-feira, deu uma guinada nas contas públicas do seu país enquanto esteve no comando, entre 1979 e 1990.

Reduziu drasticamente a dívida, por meio de um corte acentuado nos gastos do governo. Ela também diminuiu a arrecadação, mas em menor grau. Com isso, o país deixou de ter um rombo nas contas públicas e, por dois anos, chegou a operar no azul.

Por outro lado, no mesmo período a desigualdade e o desemprego aumentaram. Ainda, o PIB (produto interno bruto) britânico cresceu menos do que a média das nações ricas e do mundo.

Veja abaixo alguns indicadores da economia do Reino Unido no período Thatcher.

Contas do governo

A Dama de Ferro, como ficou conhecida, assumiu o governo quando as despesas públicas superavam as receitas e ainda cresciam em ritmo mais rápido. Ela decidiu reduzir ambas. Perto do fim do mandato, o setor público do Reino Unido já arrecadava mais do que gastava. Depois o déficit voltou, mas não como no início da década de 1980.

O maior controle das despesas possibilitou uma forte redução da dívida pública, passando de mais de 40% do PIB, em 1979, para 26,5%, em 1990, como indicam os gráficos abaixo.

 

Crescimento econômico

Os primeiros anos de Thatcher foram de recessão. Em 1980, o PIB do Reino Unido encolheu 2%, enquanto o do restante do mundo subiu 1,9%. Em 1981, a economia britânica também se retraiu, na contramão global.

Depois, voltou a crescer, algumas vezes atingindo marca superior ao resto do globo. Mas desacelerou no final do mandato, de modo que, na média, o PIB britânico subiu ao ritmo de 2,6% ao ano no período Thatcher.

No período, o PIB do Reino Unido acumulou alta de 32,9%, contra 38% do G-7 e 41,5% do mundo.

Desigualdade

O coeficiente de Gini mede a desigualdade em um país. Quanto mais perto de 100, mais desigual é a sociedade. Durante o período Thatcher, o índice subiu de 29,1 (1979) para 40,6 (1990). Depois que ela deixou o governo, o indicador parou de aumentar. Desde então, oscila entre 38 e 40 pontos, poucas vezes tendo saído dessa faixa.

Desemprego

O desemprego no Reino Unido atingia 6,5% da população economicamente ativa em 1980, ano seguinte à posse de Thatcher. A taxa subiu nos anos seguintes até 11,8%. Depois, passou a cair, mas, ainda assim, a primeira-ministra deixou o cargo com um desemprego um pouco maior do que quando entrou. Cabe observar que essa tendência também foi verificada nas outras grandes economias europeias, como a França e a Alemanha.

Álbum de fotos: a trajetória de Thatcher

Veja a trajetória de Margaret Thatcher


Indústria brasileira tem pior desempenho entre 15 emergentes; veja ranking
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Sílvio Guedes Crespo

A indústria brasileira teve, no ano passado, o pior desempenho entre os 15 maiores países emergentes que produzem estatísticas comparáveis, embora tenha se saído melhor do que diversas nações ricas. O setor encolheu 2,7% em 2012, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Achados Econômicos levantou, nos escritórios de estatística de cada país, o indicador oficial que mais se assemelha à Pesquisa Industrial Mensal do IBGE.

A China lidera o ranking de longe, com alta de 10% em 2012. Em segundo lugar aparece a indústria da Malásia e, em terceiro, a da Indonésia, confirmando uma tendência já observada, de que os emergentes da Ásia têm obtido um crescimento bem mais acelerado do que os da América Latina.

O México é o primeiro latino-americano da lista. Como exportador para os Estados Unidos, o país tem sido beneficiado pela recuperação da economia americana.

Entre os 15 países listados, apenas três tiveram variação negativa na indústria: Brasil, Ucrânia e Argentina.

Ricos

A indústria dos EUA cresceu 2,7% no ano passado. Já na Europa, os resultados das maiores economias foram negativos. Houve forte queda em Reino Unido (-2,7%), França (-2,8%), Grécia (-3,5%), Portugal (-4,9%), Espanha (-6%) e Itália (-6,5%). Na Alemanha, o setor encolheu 0,4%. No conjunto da União Europeia, a queda foi de 2,4%. No Japão, houve retração de 0,3%.

Brasil

O economista Rogério César de Souza, do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial, vê sinais de recuperação neste ano. Ele concedeu ao blog a entrevista abaixo.

A indústria encolheu ou desacelerou em quase todos os países emergentes. Por que no Brasil foi pior?

Em relação a países desenvolvidos, a indústria brasileira tem um retrato um pouco melhor. De todo modo, a comparação com emergentes é válida porque levanta questões importantes. Temos a questão da economia interna. O consumo das famílias está relativamente bom, mas a indústria vai mal. O serviço e o comércio vão bem melhor.

Nós temos uma crise estrutural. A raiz vem de longe e hoje e está na falta de competitividade. A indústria não consegue competir com alguns produtos importados, por uma conjunção de fatores. Temos as questões ligadas ao custo Brasil, que são a carga tributária, as carências de infraestrutura e logística e outros problemas. Junto a isso tivemos um cenário externo bastante negativo.

Em fevereiro a indústria brasileira voltou a encolher. Até quando a crise persistirá?

Esse dado de fevereiro tem que ser olhado com bastante cuidado. Em janeiro, houve um crescimento bastante forte, mas estava “contaminado por fatores pontuais”. Por exemplo, o setor de caminhões, que está ligado a bens de capital, e automotores cresceram bem, mas porque tinham uma base baixa de comparação.

Depois, em fevereiro vimos exatamente o contrário, ou seja, uma queda justamente nesses setores. Se fosse possível tirar os efeitos pontuais, a indústria não teria subido tanto em janeiro nem caído tanto em fevereiro, mas de qualquer forma o sinal é positivo. A expectativa é de que nos próximos meses ela comece a apresentar resultados mais convincentes.

O ano passado foi tão ruim que é difícil imaginar que vamos ter um resultado ainda mais fraco nos próximos meses. Isso é baseado, em boa medida, na expectativa de um resultado mais robusto da economia brasileira. O cenário externo também está relativamente melhor.

Metodologia

O ranking selecionou os países emergentes com maior PIB (produto interno bruto) e com dados disponíveis e minimamente comparáveis, uma vez que cada instituto de estatística tem sua metodologia particular. A Venezuela e as Filipinas, por exemplo, são maiores do que a Ucrânia, mas não apresentaram indicadores para a indústria em 2012 que possam ser comparados.

Foram considerados emergentes apenas os países que, além de não fazerem parte do G-7 (grupo das sete nações mais desenvolvidas) nem da Europa Ocidental, também não estão ou não estiveram recentemente em guerra civil ou situação política altamente instável, como o Egito.

O Chile, um importante país emergente, ficou de fora por não ter um PIB entre os 15 maiores. Sua indústria cresceu 2,9% no ano passado.


Proporção de acordos salariais acima da inflação quintuplicou desde 2003
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Sílvio Guedes Crespo

O Dieese publicou em seu site um interessante infográfico sobre as negociações coletivas de salário desde 1996. São todos dados históricos e nenhum deles é inédito, porém, da forma como foram organizados, permitem enxergar com muita clareza como aumentou o poder de barganha dos sindicatos a partir de 2004.

O ano de 2003 foi o pior para os empregados, em todo o período estudado. Apenas 18,8% dos acordos ou convenções analisados resultaram em aumento acima da inflação.

Em 2012, essa proporção foi cinco vezes maior e atingiu 94,6% do total, no melhor ano para as negociações coletivas, do ponto de vista dos assalariados.

O indicador de inflação utilizado foi o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

 

Ao clicar no botão “play”, nota-se que as colunas da esquerda – que mostram as categorias que tiveram aumento abaixo da inflação – vão diminuindo gradativamente a partir de 2004, de modo que, em 2012, elas praticamente sumiram, dando lugar à azuis, dos grupos que tiveram reajuste real.

A mesma pesquisa calcula que, em média, o aumento médio real foi de 1,96%. Mas é possível que tenha sido até maior. As negociações que terminaram com reajuste apenas no piso salarial não entraram no estudo, sendo que, nesses acordos, são os empregados com menor remuneração que costumam ganham o maior aumento.

O Dieese concluiu que, em 2013, o atual padrão de aumento deve se manter ou mesmo avançar, porque a “situação econômica é claramente mais positiva”, com uma expansão do PIB (produto interno bruto) que pode chegar a 3% ou 4%, diz a entidade.

Peço licença para dizer por que não tenho uma visão tão otimista. No mesmo estudo, uma das tabelas, que reproduzo abaixo, mostra que os aumentos só foram fortes no primeiro semestre do ano passado, quando muitos analistas ainda previam que o PIB brasileira cresceria cerca de 3% no ano passado.

Com o passar do tempo, as perspectivas foram piorando, e o aumento salarial, também. A partir de julho, o reajuste médio foi caindo mês a mês. Se essa tendência continuar – e os dados de fevereiro da indústria mostra que não há muitos motivos para otimismo – será difícil que esse padrão de reajuste salarial se mantenha neste ano.