Achados Econômicos

Arquivo : maio 2013

PIB do Brasil volta a crescer mais que o do México, mas fica abaixo do esperado
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Sílvio Guedes Crespo

Texto atualizado às 15h29

Com indústria fraca, PIB ainda cresceu mais do que há um ano; em outros países, desacelerou

A economia brasileira cresceu menos do que o esperado por muitos analistas, o que foi considerado “muito ruim” pelo próprio governo, mas, comparativamente a outros países, voltou a caminhar a um ritmo mais rápido do que o de alguns emergentes.

Isso ocorreu porque o PIB (produto interno bruto) do Brasil estava muito fraco e, nesse caso, qualquer melhora já faz diferença. Já com outras nações em desenvolvimento, aconteceu o oposto: a alta havia sido intensa no início do ano passado, então ficou mais difícil continuar no mesmo ritmo (veja tabela ao final deste texto).

No primeiro trimestre de 2013, a economia brasileira cresceu 0,6% em relação aos últimos três meses de 2012 e 1,9% ante o período de janeiro a março do ano passado.

Um ano atrás, o Brasil estava lanterna do ranking dos emergentes, por ter crescido apenas 0,8% em relação ao primeiro trimestre de 2011.

Essa foi a principal mudança na comparação entre a economia do Brasil e a de outros países que já divulgaram suas contas nacionais deste início de ano.

Outra modificação no cenário está no fato de que a taxa de expansão do Brasil no primeiro trimestre, em relação a igual período de 2012, alcançou a dos Estados Unidos (1,8%). No entanto, os dados sobre a economia americana são preliminares e podem mudar amanhã (dia 30), quando o país divulga sua revisão.

Em relação às nações de crescimento rápido e à Europa, a situação se manteve: o Brasil continua se expandindo em ritmo bem inferior ao dos emergentes asiáticos (com exceção da Coreia do Sul, que subiu 1,5%), mas ainda superior ao da União Europeia (que, na verdade, encolheu 0,7%). Também segue atrás dos latino-americanos Chile e Peru, sempre na comparação com o primeiro trimestre do ano passado.

Na comparação com o último trimestre do ano passado, em que a economia brasileira cresceu 0,6%, algumas posições do ranking mudam. A Folha fez um levantamento mostrando que, nesse tipo de medição, o país ficou abaixo da Coreia do Sul e do Japão (que avançaram 0,9%) e acima do Chile e do México (0,5% cada).

Freio global

O PIB brasileiro cresceu mais neste início de ano, mas a partir de uma base fraca. Em 2012, conforme levantou o blog Achados Econômicos, a economia do país havia caído 25 posições no ranking mundial de crescimento econômico, ficando em 128º lugar. Naquele ano, o Brasil cresceu menos do que a média dos emergentes, da América Latina e do mundo.

Em 2013, a melhora do Brasil vai na contramão das maiores economias do planeta. Estados Unidos, China, Japão e União Europeia tiveram no primeiro trimestre um desempenho pior do que há um ano. O Reino Unido foi uma exceção, conforme aponta a tabela abaixo.

Variação do PIB (%) em comparação com um ano antes

País1º trimestre de 20121º trimestre de 2013
Brasil0,81,9
África do Sul2,11,9
Alemanha1,2-0,3
Argentina4,82,7
Chile5,64,1
China8,17,7
EUA31,8
França0,3-0,4
Grécia-6,2-5,3
Japão3,40,2
México4,30,8
Peru64,8
Reino Unido00,6
Rússia4,91,6
  • Fonte: Escritórios oficiais de estatísticas e BBC


Brasileiros são os mais otimistas com a economia, segundo ranking global
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Sílvio Guedes Crespo

Os brasileiros aparecem em primeiro lugar em um ranking internacional de otimismo econômico.

Otimismo econômico em países selecionados

País% da população que crê em melhora nas finanças pessoais
Brasil88
Venezuela73
China71
México61
Chile48
África do Sul45
Estados Unidos43
Argentina38
Austrália36
Canadá34
Alemanha26
Reino Unido24
Itália15
França14
Grécia13
Japão12
Espanha12
  • Fonte: Pew Research Center

O Pew Research Center, um instituto americano de pesquisas, perguntou, em 39 países, o que as pessoas achavam que iria acontecer com a sua situação econômica pessoal nos próximos 12 meses (veja tabela ao lado).

No Brasil, 88% disseram que a situação vai melhorar, um nível de otimismo que não foi registrado em nenhum outro país.

No ranking, os países mais otimistas são emergentes ou pobres. Imediatamente abaixo do Brasil aparece a Nigéria, seguida por Senegal, Venezuela e China.

Entre as nações ricas, os americanos são os mais otimistas com suas finanças (43% acreditam em melhora); franceses, gregos, japoneses e espanhóis são os mais pessimistas.

O otimismo dos brasileiros com suas finanças pessoais pode ser explicado pelo fato de que, apesar de a economia estar crescendo pouco, o desemprego se mantém em patamar historicamente baixo e a renda da população continua subindo (em ritmo cada vez mais lento, mas subindo).

Perguntados sobre a situação econômica do país como um todo, os brasileiros também estão entre os mais otimistas: 79% disseram crer que o cenário vai melhorar nos próximos 12 meses. Eles dividem a liderança com a população da China, onde 80% preveem melhora na economia.

É assim que eles respondem quando questionados sobre o que acham que vai acontecer. Se a pergunta é sobre como a situação está agora, no entanto, os brasileiros não estão tão na frente: 59% avaliam que o cenário atual está bom.

Esse percentual é mais alto do que o registrado em vários países ricos, mas não de todos. Fica atrás de Alemanha (onde 75% consideram boa a situação econômica), Canadá (67%) e Austrália (67%).

Desigualdade

No Brasil, 50% das pessoas acreditam que a desigualdade aumentou nos últimos anos. Somente em quatro países, entre os 39 pesquisados, houve um porcentual menor: Venezuela (40%), El Salvador (38%), Bolívia e Malásia (ambos com 32%).

Entre os países ricos, 80% da população acha que a desigualdade social vai aumentar. Já nos emergentes, 59% pensam assim.

A pesquisa completa está no site do Pew Research Center.


Renda do trabalhador cresce no menor ritmo desde 2004
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Sílvio Guedes Crespo

Texto atualizado às 10h50 (acrescentado trecho sobre trabalho formal)

A renda da população ocupada continua crescendo acima da inflação, mas o ritmo de alta teve uma forte desaceleração no início deste ano.

Nos quatro primeiros meses de 2013, o rendimento dos trabalhadores subiu a um ritmo de 2% ao ano, metade do verificado em 2012 (alta de 4,3%) e o menor nível desde 2004, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

É um ponto positivo que a renda ainda esteja subindo em um momento de PIB (produto interno bruto) fraco. Aliás, dois outros importantes indicadores do mercado de trabalho continuam muito bem: a informalidade está diminuindo e o desemprego segue em nível baixo.

Mas esses números têm evoluído mais lentamente, o que gera dúvidas sobre a sustentabilidade desse quadro. Enquanto a economia não dá sinais seguros de que vai para frente ou para trás, os empresários hesitam. Não aumentam os investimentos, mas também não demitem.

Os economistas do mercado financeiro também se mostraram pouco convencidos de uma retomada. No início do ano, estimavam que o PIB cresceria 3,5% neste ano; agora, já reduziram a projeção para menos de 3%.

No exterior, no entanto, ainda há quem aposte no Brasil. Se não houvesse, a Petrobras não teria captado US$ 11 bilhões no mercado internacional com uma taxa de juros abaixo da esperada por analistas.

Não que eles estejam plenamente satisfeitos com o governo. Em artigos na imprensa, já manifestaram descontentamento com as intervenções do governo na economia. Mas ainda assim continuam com seus aportes no setor produtivo brasileiro. Eles trouxeram US$ 64,1 bilhões ao país nos últimos 12 meses, volume superior ao verificado um ano antes (US$ 63,8 bilhões), segundo o Banco Central.


Número de greves no país em 2012 é o maior em 16 anos
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Sílvio Guedes Crespo

Texto atualizado às 13h36

Protesto de metalúrgicos na Grande SP em março de 2012

O Brasil teve em 2012 o maior número de greves dos últimos 16 anos, segundo o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos).

Foram 873 ocorrências, número que não era alcançado desde 1996, quando a pesquisa identificou 1.228 greves. Em relação a 2011, o aumento foi de 58%.

O Dieese contou 87 mil horas paradas no ano passado, maior nível desde 1990, ano em que os trabalhadores acumularam 117 mil horas de greve.

Principais reivindicações

(% do total)

Reajuste salarial40,7
Alimentação26,9
Plano de Cargos e Salários23
Participação nos lucros19
Salários atrasados18,3
Piso salarial16,2
  • Os números somam mais de 100% porque na mesma greve pode haver mais de uma reivindicação
  • Fonte: Dieese

As principais reivindicações foram reajuste de salário e introdução, manutenção ou melhoria do auxílio alimentação (veja tabela ao lado).

Os dados incluem as paralisações, que os pesquisadores chamam de “greves de advertência”, aquelas que são iniciadas já com data para terminar e normalmente duram um dia.

Ao contrário do que se poderia pensar, o aumento do número de greves, neste momento, não está relacionado à piora do mercado de trabalho, mas justamente ao oposto disso. Com o desemprego em baixa, os assalariados se sentem mais seguros para se manifestar. Do outro lado, os empregadores têm mais dificuldade de substituir seus funcionários.

Essa tese fica evidente quando se olha para os resultados alcançados e para as reações das empresas. No balanço do Dieese, nota-se que a maior parte das reivindicações (75%) foi atendida pelo menos parcialmente, ao mesmo tempo em que medidas patronais como desconto de salário ou ameaça de demissão foram mínimas (8% do total).

Em outras palavras, o poder de barganha dos assalariados aumentou, fato que é reforçado também por uma outra pesquisa do Dieese, segundo a qual 95% das negociações coletivas de salários no ano passado terminaram com reajuste acima da inflação. Em 2003, apenas 19% delas tiveram esse resultado.

“Gente que antes não fazia greve porque tinha sensação de insegurança com o emprego, agora está fazendo. Se os salários atrasam, os trabalhadores param mesmo”, disse Rodrigo Linhares, do Dieese.

Setor privado lidera

Os empregados do setor privado fizeram mais greves (53% do total) e foram mais bem sucedidos. Nesse segmento, 85% dos movimentos foram ao menos parcialmente atendidos e em menos de 2% os pedidos foram inteiramente rejeitados. Ainda no setor privado, quase 30% das greves terminaram com o compromisso de que as negociações prosseguissem após a volta ao trabalho, como indica a tabela abaixo.

Greves nos setores público e privado

ResultadoSetor privadoServiço públicoEstataisTotal
Reivindicações atendidas integralmente32%16,4%0%25%
Reiv. atendidas parcialmente52,8%46,8%47,6%50,2%
Reiv. rejeitadas1,6%11,9%4,8%5,6%
Prosseguimento das negociações29,8%39,3%47,6%34%
  • Fonte: Dieese

As colunas somam mais de 100% porque algumas vezes as reivindicações são parcialmente atendidas durante a greve e, ao mesmo tempo, os empregadores dão prosseguimento às negociações após a volta ao trabalho.

O estudo também mostra que a reação dos empresários foi menos incisiva do que a das autoridades públicas. Apenas um terço dos casos registrados no setor privado foi parar na Justiça; no setor estatal, a proporção foi de 41%.

Investimentos

O fato de os assalariados terem obtido sucesso nas negociações coletivas de salário representa uma conquista no curto prazo. A dúvida é se tal situação é sustentável por um período mais longo.

Para que as empresas paguem bem aos funcionários e se mantenham competitivas, é necessário que a produtividade acompanhe os reajustes salariais. Do contrário, as companhias podem perder espaço no mercado internacional.

O governo cortou impostos sobre a folha pagamento de diversos setores, mas essas medidas não foram suficientes, pelo menos até o fim do ano passado, para estimular os empresários a investirem mais. Ao contrário, ao mesmo tempo em que os empregados conseguiram reajustes acima da inflação, os investimentos caíram de 19,3% do PIB (produto interno bruto), em 2011, para 18,1%, em 2012.


Gasto de brasileiros no exterior aumenta mais de 10 vezes desde 2003
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Sílvio Guedes Crespo

Atualizado às 15h30 (acrescentada análise a partir do 7º parágrafo)

Os gastos dos brasileiros no exterior continuam aumentando apesar da fraca atividade econômica nacional. Nos últimos 12 meses, atingiram US$ 23 bilhões, ou dez vezes mais do que em 2003 (US$ 2,1 bilhões).

Esse aumento não tem sido acompanhado, na mesma proporção, pelas exportações brasileiras (que quadruplicaram no período) nem pelos investimentos estrangeiros no país (que quintuplicaram).

Visto de outra forma, para cada US$ 10 que entraram no país por meio de exportações nos últimos 12 meses, US$ 1 saiu na forma de gastos de turistas. Ou ainda, para cada US$ 10 que chegaram como investimento de multinacionais, US$ 3,62 saíram nas viagens de  brasileiros ao exterior.

Os gastos do brasileiro lá fora contribuíram, junto com a queda das exportações, para que as transações do Brasil com o resto mundo ficassem negativas em US$ 70 bilhões nos últimos 12 meses.

O tema é delicado porque as despesas de turistas no exterior, ao mesmo tempo em que poderiam representar uma preocupação para o país do ponto de vista macroeconômico, são também uma conquista para os que conseguem, pela primeira vez na vida, conhecer outras nações.

O turismo, dentro ou fora do país, é uma atividade que gera um retorno pessoal incomensurável, algo que não pode ser medido apenas pelos gastos no cartão de crédito. Não é desejável que as viagens sejam desestimuladas apenas para o país colocar equilibrar suas contas externas. Mas é necessário que esse equilíbrio seja alcançado por outros meios.

Por que ficou mais fácil viajar

Passear no exterior se tornou uma atividade acessível a cada vez mais brasileiros à medida que melhoravam as contas externas do país, entre outros fatores. Mais especificamente, à medida que aumentavam os preços dos produtos básicos no mercado internacional.

Como a soja, a carne e o minério de ferro ficaram mais caros, os exportadores brasileiros nem precisariam aumentar a produção se quisessem ganhar mais dinheiro. Mas eles produziram mais e, com isso, passaram a ganhar muitas vezes mais.

Em volume, as exportações de soja dobraram de 2001 a 2011; em dólares, sextuplicaram. Com a carne bovina ocorreu o mesmo. No caso dos minérios de ferro, a alta em volume foi de 112%, e em dólares, de 1.326%.

Vendas ao exterior trazem dólares para o país. Como elas subiram com muita força na década de 2000, contribuíram para um ciclo virtuoso de desenvolvimento que durou pelo menos até 2011, mas se desacelerou no ano passado.

Os dólares trazidos pelas exportações mais do que compensavam os que saíam por causa das importações e dos gastos com serviços no exterior. Em outras palavras, o volume que entrava era superior ao que saía.

Esse equilíbrio das transações do Brasil com o resto do mundo contribuiu para dar segurança aos empresários internacionais, que passaram a colocar cada vez mais dinheiro no país. Os investimentos estrangeiros diretos subiram de US$ 10 bilhões, em 2003, para US$ 67 bilhões, em 2011.

Todo dinheiro do exterior que chega ao Brasil é imediatamente trocado por reais para circular aqui dentro. A demanda pela moeda nacional, portanto, aumentou mais do que a oferta nesse período em que choviam dólares na forma de investimento estrangeiro e de aumento das exportações.

O real, em consequência, passou a valer mais. Comprar produtos estrangeiros ficou mais barato; viajar ao exterior, também. Isso para não falar que os investimentos estrangeiros contribuíram para gerar emprego e renda no país. A taxa de desemprego caiu para patamares historicamente baixos, e a renda média da população subiu acima da inflação.

Mudança de rumo

A boa fase das contas externas brasileiras nos últimos meses deu lugar a um momento de apreensão. Os preços dos produtos que o Brasil exporta já não sobem mais como naquele tempo. Em 2012, a exportação de minério de ferro foi igual à do ano anterior em volume; mas, em dólares, diminuiu em US$ 10 bilhões (ou 25%). (No caso de soja e carne, houve aumento, mas de US$ 1,5 bilhão no total, não compensando as perdas com minério).

Ao mesmo tempo, as importações continuam fortes porque a indústria nacional é pouco competitiva no atual cenário. E os turistas, como citamos aqui, continuam gastando bastante no exterior.

Esses e outros fatores fizeram com que a saída de dólares passasse a aumentar mais do que a entrada. Até alguns meses atrás, isso não era um grande problema, pois os investimentos estrangeiros ainda compensavam o dinheiro que saía por meio das importações de bens e de serviços. Porém, já não são mais suficientes.

As empresas de outros países investiram US$ 64 bilhões no Brasil nos últimos 12 meses, mas outros US$ 70 bilhões deixaram o país por meio do comércio de bens e serviços.

O Brasil é capaz de aguentar um rombo desse tipo nas contas externas por algum tempo, pois tem US$ 379 bilhões em reservas. Além disso, o país continua sendo capaz de atrair capital especulativo. Mas não é recomendável que queime reservas ou alimente especuladores para compensar o que os brasileiros  gastam em viagens ou com produtos importados. Nem que continuemos dependentes dos preços dos produtos básicos no mercado internacional.

Mais adequada será uma política que torne o país mais atraente para investimentos estrangeiros diretos (a concessão dos serviços de infraestrutura pode contribuir para isso) e reduza custos para o setor produtivo nacional. Ainda, a exploração do petróleo da camada pré-sal também pode ajudar a trazer dólares ao país ou diminuir a dependência de importação desse produto.


Na crise, alemães são vistos como mais ‘confiáveis’ e ‘arrogantes’ da Europa
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Sílvio Guedes Crespo

Mais uma pesquisa mostra que a crise econômica está dividindo a Europa em duas partes: a Alemanha e o resto.

O Pew Research Center, um instituto de pesquisa, tentou identificar o grau de otimismo ou pessimismo dos europeus em relação a seus próprios países e também à União Europeia como um todo.

Os alemães deram respostas completamente diferentes dos demais. Eles estão satisfeitos com os rumos de sua nação (57% pensam assim), acreditam que a integração econômica fortaleceu o bloco (54%), aprovam seu chefe de governo (74%) e são favoráveis à União Europeia (60%).

Ao mesmo tempo, os alemães são rotulados como os mais “confiáveis” da Europa, segundo a população de sete dos oito países pesquisados (só os gregos não os elegeram). No entanto, ele ganharam também outro estereótipo, o de mais “arrogantes”, na opinião dos cidadãos de cinco países.

Em todos os oito países em que foi feita a pesquisa, o número de pessoas que acreditam que a integração europeia fortaleceu a economia diminuiu. Somente na Alemanha a maioria ainda crê nessa hipótese.

Os dados mostram que mesmo na França, a segunda maior economia da Europa, a percepção é completamente diferente da Alemanha. Enquanto 91% dos franceses acham que vivem má situação econômica, somente 25% dos alemães pensam assim.

Em sete países onde foi feita a pesquisa, a maior parte da população acha que o seu presidente ou primeiro ministro não está sabendo lidar com a crise. A Alemanha é a única exceção: 74% aprovam a chefe do governo, Angela Merkel.

Do total da população alemã, 75% consideram que as condições econômicas atuais são boas. Além de o percentual ser, disparado, o maior entre os países pesquisados, é também o único que cresceu.

A crise veio como um balde de água fria na população dos demais países. Em 2007, nada menos que 65% dos espanhóis estavam satisfeitos com a situação econômica de seu país; hoje, só 4% estão. Na França, o percentual passou de 30% para 9%.

Mais austeridade

Apesar de a situação da Europa não ter melhorado depois que os governos resolveram cortar gastos para pagar dívidas, a maioria da população acredita que esse é o caminho para sair da crise.

Na França, 81% acreditam que reduzir despesas públicas para pagar juros é melhor do que aumentar gastos para estimular a economia. Já na Grécia, só 37% defendem que o governo continue cortando gastos. Essa diferença pode ser explicada porque o governo da França fez um esforço fiscal menor do que o da Grécia a partir de 2008. O setor público grego, que gastava mais antes da crise, fez um ajuste forte e hoje caminha para o sexto ano seguido de recessão.

Curiosamente, o apoio ao euro ainda é forte na população dos países. Nada menos que 69% dos gregos querem continuar com a moeda única; entre os espanhóis, a proporção é de 67%.


Desemprego na Europa faz até 33% aceitarem trabalho inferior à formação
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Sílvio Guedes Crespo

O alto desemprego na Europa tem feito com que cada vez mais profissionais aceitem funções que exigem menos do que eles poderiam contribuir, segundo um estudo da Organização Internacional do Trabalho (OIT) publicado na semana passada.

Dependendo da metodologia usada para definir a qualificação do trabalhador e o nível exigido pelo empregador, o número de pessoas mais qualificadas do que o necessário varia entre 10% e 33% da população ocupada.

Segundo a OIT, esse problema tem crescido mais entre os jovens (15 a 24 anos). Ao mesmo tempo, a taxa de pessoas menos qualificadas do que a empresa gostaria, um problema antigo na Europa, tem diminuído e está atualmente em 20% do total de empregados.

Assim como o trabalhador despreparado, o qualificado demais também representa um problema não só para ele mesmo como também para o empregador.

Eles ganham menos do que os seus pares que estão alocados adequadamente e estão menos satisfeitos. Como consequência, afirma o estudo da OIT, os preparados demais costumam ter um “comprometimento limitado com o trabalho” e muitas vezes estão à procura de um novo emprego.


5 bancos ficam com 83% dos depósitos no país, maior nível desde 95
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Sílvio Guedes Crespo

O setor bancário no Brasil atingiu seu maior nível de concentração desde pelo menos 1995, segundo dados do Banco Central compilados por Achados Econômicos.

As pessoas físicas e jurídicas têm hoje R$ 1,7 trilhão depositado em bancos. Desse valor, 83% – ou R$ 1,4 trilhão – estão em apenas cinco instituições ou conglomerados financeiros: Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Itaú, Bradesco e Santander. Em 1995, apenas 68% dos depósitos estavam nos cinco maiores grupos.

Nível de concentração quase igual existe quando se comparam vários outros indicadores – ativos, número de agências, lucro, quantidade de funcionários etc. Em 1995, os cinco maiores bancos compreendiam 56% dos ativos totais; hoje, a proporção é de 79%.

O percentual estava oscilando entre 79% e 80% desde 2008, mas no ano passado subiu um pouco mais até atingir os 83% atuais.

O gráfico mostra que a concentração do setor bancário vem aumentando desde pelo menos 1998. Mas vale notar que em 2008 a linha dá um salto excepcional. Naquele ano, o Itaú comprou o Unibanco (ou fundiu-se com ele, como prefere dizer), e o Santander incorporou os ativos do ABN Amro (adquirido no ano anterior).

Nessa conta entram todas as instituições financeiras e conglomerados que o Banco Central classifica como “tipo 1”, ou seja, os bancos comerciais, os múltiplos com carteira comercial e as caixas econômicas.

Em português, o sistema bancário do tipo 1 abrange os 99 bancos que oferecem serviços para o dia a dia da maioria das pessoas e empresas. Não entram, por exemplo, os bancos de desenvolvimento (como o BNDES), as instituições financeiras com atuação muito específica e não ligadas a conglomerados bancários (por exemplo, Banco Volkswagen, Mercedes Benz, Caterpillar etc) e nem as cooperativas de crédito.

Mas se colocarmos na conta todas essas instituições, que são 1.619 no país, a concentração continua sendo grande. Nesse caso, os cinco maiores bancos detêm 69% dos ativos; em 1995, eram 47%.

Vale notar que, quando incluímos o BNDES no ranking, ele aparece como o terceiro maior banco do país em ativos, atrás apenas de BB e Itaú. O Santander cai para a sexta posição. Se deixarmos de fora o Santander, que também é um gigante, apenas cinco bancos têm 69% de todos os ativos do sistema financeiro nacional.

Se contarmos o Santander, fica assim: seis conglomerados financeiros detêm 77%; as demais 1.613 instituições financeiras dividem os restantes 23%.

Os gráficos abaixo apresentam de outra forma a evolução da concentração bancária. O primeiro mostra que, em 1995, os dez maiores bancos não chegavam a ter 75% do total de ativos (considerando o consolidado tipo 1). Já em 2012, apenas seis bancos têm mais de 80%.

 


Após corte de impostos, preço de itens básicos cai 1,59%
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Sílvio Guedes Crespo

Atualizado às 15h13*

Variação de preço dos itens desonerados

ProdutoVariação em abril (%)
Açúcar refinado-4,5
Açúcar cristal-3,41
Óleo-2,05
Carnes-1,78
Café moído-1,37
Aves e ovos-1,09
Papel higiênico-0,82
Café solúvel-0,76
Pasta de dente-0,34
Sabonete-0,03
Carnes e peixes industrializados0,14
Pescados1,1
Manteiga1,33
Média ponderada-1,3

Os produtos da cesta básica que ficaram isentos de impostos federais tiveram uma queda de preços de 1,3% em abril, depois de já terem caído 0,29% em março, conforme apontam dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgados nesta quarta-feira (8). Nesses dois meses, a queda acumulada foi de 1,59%.

No início de março, o governo desonerou os produtos da cesta básica sobre os quais ainda havia tributos federais. As alíquotas chegavam a 12,5%, conforme indica uma tabela elaborada pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), reproduzida abaixo.

Sem a queda de preço desses itens, o índice oficial de inflação não teria voltado a ficar abaixo do teto da meta estipulada pelo governo, que é de 6,5% ao ano. Nos últimos 12 meses, o indicador subiu 6,49%. Apesar de ainda alto, o número mostra uma leve desaceleração de preços, pois nos 12 meses encerrados em março a alta havia sido de 6,59%.

As carnes, grupo desonerado que tem o maior peso no índice, tiveram uma queda de 1,78%. Dentro desse conjunto, as maiores quedas foram da carne de carneiro (-5,26%), filé mignon (-2,8%) e contra filé (-2,8%).

Não é possível saber qual foi o impacto da desoneração da cesta básica, pois há diversos fatores que influenciam o preço dos produtos. A variação pode ter resultado não só do corte de impostos, mas também de eventos sazonais.

Preocupação

Apesar da desaceleração em abril, a inflação continua em patamar alto, beirando o teto da meta do governo, e é a principal preocupação dos executivos de grandes empresas, segundo uma enquete recente feita pelo jornal Valor Econômico.

Enquanto esses itens citados acima caíram, vários outros subiram, como a batata inglesa (16%), a cebola (11%), a cenoura (8%) e os produtos farmacêuticos (2,99%).

A inflação no Brasil terminou o ano passado em 5,84%, número superior à média mundial, que foi de 3,9%, e também a países como  Bolívia (4,5%), México (4,1%), Paraguai (4%), Peru (2,7%), Colômbia (2,4%) e Chile (1,5%), entre outros. Como se poderia esperar, ficou abaixo de Venezuela (10%), Argentina (10,8%, segundo o dado oficial, que é questionado) e Uruguai (7,5%).

Apesar da queda em março e abril dos preços dos produtos recém desonerados, quando se observa o total da cesta básica nota-se que a inflação tem sido forte. Conforme apontou este mesmo blog há três semanas, as mercadorias da cesta básica avançaram 23% em São Paulo e 32% em Salvador, nos 12 meses encerrados em março.

Esses números mostram que a inflação da cesta básica já está corroendo o poder de compra dos mais pobres, pois, no mesmo período, o salário mínimo subiu apenas 9%. Até então, o mínimo vinha aumentando acima da variação desses preços. O alívio que os preços de produtos desonerados trouxe ao índice de inflação é importante, mas insuficiente.

* Correção: a queda nos preços dos produtos desonerados foi de 1,59% em abril e março, e não de 1,5%, como informado anteriormente. Em abril, foi de 1,3%, não de 1,2%. Os erros foram corrigidos às 15h14


Poupança pela regra antiga vira um dos melhores investimentos
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Sílvio Guedes Crespo

Um ano depois da mudança de regras, a poupança antiga apresentou um dos melhores resultados entre as aplicações de renda fixa, segundo levantamento do professor de economia Pedro Raffy Vartanian, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, feito a pedido do blog Achados Econômicos.

“Com a Selic [taxa básica de juros] em baixos patamares [hoje em 7,5% ao ano], a poupança antiga é um excelente investimento. Uma recomendação para as pessoas que podem poupar é não mexer no dinheiro da poupança antiga”, sugere o professor.

As aplicações na poupança feitas até o dia 3 de maio do ano passado renderam 6,25% nos últimos 12 meses. Elas seguem a regra antiga, com rendimento de 0,5% ao mês mais TR (Taxa Referencial).

Já quem aplicou a partir do dia 4 de maio daquele ano teve um rendimento de apenas 5,47% em um ano, pois segue a nova regra, segundo a qual o ganho equivale a 70% da taxa Selic (taxa básica de juros) mais TR.

Vale lembrar que ninguém pode mais aplicar na poupança antiga. Quem já tinha aplicação antes da mudança, pode mantê-la.

Comparação

O rendimento da poupança pela regra antiga bateu o da média dos fundos de renda fixa referenciados DI, assim como superou também o CDB, supondo uma remuneração de 90% do DI, conforme indica a tabela abaixo.

AplicaçãoRendimento em 12 meses (%)*
Tesouro Direto com taxa de juros fixa + IPCA (NTN-B)13,22
Tesouro Direto prefixado (LTN)10,82
Poupança (regra antiga)6,25
CDB**5,75
Poupança (regra atual)5,47
Fundos DI***4,04
  • * Já descontados impostos e taxas
  • ** Supondo remuneração de 90% do CDI e prazo de 2 anos
  • *** Média dos fundos dos 4 maiores bancos que exigem investimento inicial baixo

Na tabela acima, o CDB supõe que se consiga uma remuneração de 90% do CDI. Caso obtenha 100% do CDI, o investidor terá um rendimento de 6,38% (superando, portanto, a poupança), mas esse ganho é mais difícil e depende da quantia aplicada e da relação do cliente com o banco.

Tesouro Direto

Entre os títulos do Tesouro Direto, a LTN e a NTN-B ganharam, de longe, da poupança, com rendimento superior a 10%.

Vartanian, no entanto, faz uma ressalva: “Apesar do excelente ganho no Tesouro Direto , o investidor pode ter flutuações de curto prazo no rendimento, podendo até ter resultado negativo em alguns meses”.

Ou seja, se o investidor quiser uma aplicação mais previsível e garantida ainda tem dinheiro na poupança antiga, a recomendação é não mexer. Agora, se ele estiver atrás de um ganho maior, mesmo que para isso corra risco de pequenas perdas no curto prazo, então o Tesouro Direto é mais adequado, afirma o professor.