Achados Econômicos

Arquivo : julho 2013

Lucro do Itaú Unibanco sobe 76% após fusão
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Sílvio Guedes Crespo

O Itaú Unibanco fechou o primeiro semestre de 2013 com o  maior lucro da história do setor bancário nacional – pelo menos por enquanto, já que outro gigante, o Banco do Brasil, ainda não divulgou seus resultados sobre o segundo trimestre deste ano.

Quase cinco anos após a fusão, ocorrida no final de 2008 – que, logo ficou claro, foi muito mais uma aquisição do Unibanco pelo Itaú – Achados Econômicos faz uma breve seleção de dados sobre o maior conglomerado financeiro privado do país.

Lucro

O lucro líquido do Itaú Unibanco no primeiro semestre deste ano foi de R$ 7,2 bilhões, um recorde do setor bancário.

Nos cinco anos anteriores à fusão (2004 a 2008), o lucro somado dos dois bancos era bem mais baixo. Na média dos primeiros semestres, ficou em R$ 3,648 bilhões. De 2009 a 2013, a média de lucro do Itaú Unibanco foi de R$ 6,4 bilhões por semestre, um salto de 76%.

No Bradesco, seu principal concorrente privado, o aumento foi de 68%. No Santander, a alta foi bem mais expressiva, de 131%, mas deve-se considerar que nesse intervalo houve a compra do ABN Amro e do Real. Ainda assim o banco espanhol está bem atrás do Itaú; seu lucro foi de R$ 2,9 bilhões no primeiro semestre de 2013.

Agências

Em número de agências, o Itaú Unibanco avançou pouco depois da fusão. Hoje tem 3.871 unidades, apenas 8% mais do que antes da fusão. Seus concorrentes foram mais longe nesse aspecto.

Funcionários

O Itaú Unibanco chegou a aumentar o número de funcionários nos primeiros anos depois da fusão, mas em 2012 teve uma redução, diferentemente dos concorrentes, que elevaram o contingente ano após ano.

 


País volta a depender de especulador para equilibrar contas externas
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Sílvio Guedes Crespo

Atualizado às 15h52 (acrescentados dois parágrafos na conclusão)

O Brasil voltou a depender dos especuladores internacionais para compensar o dinheiro que sai do país com importação de bens e serviços.

No primeiro semestre, saíram das nossas fronteiras US$ 3 bilhões por meio do comércio (exportações menos importações), US$ 22 bilhões por meio de serviços prestados no exterior (como viagens) e US$ 20 bilhões na forma de rendas, de acordo com dados do Banco Central. Por outro lado, entraram US$ 2 bilhões por meio de remessas feitas por brasileiros que moram no exterior.

Esses quatro números se referem ao fluxo líquido, ou seja, à diferença entre as entradas e saídas. Eles formam o grupo de dados que o BC chama de transações correntes. Em conjunto, essas operações ficaram negativas em US$ 43 bilhões no primeiro semestre, ou seja, essa foi a quantia que deixou o país por meio do comércio de bens e serviços, e também por meio de renda e das remessas feitas por pessoas físicas.

Nos últimos anos, o deficit das transações correntes não trazia problemas para o país porque, ao mesmo tempo em que esse dinheiro saía, uma quantia muito maior entrava na forma de investimento estrangeiro direto (investimento em produção, como construção e reforma de fábricas).

Na primeira metade deste ano, no entanto, isso mudou. Os investimentos diretos líquidos somaram US$ 37 bilhões. Ficaram faltando, portanto, US$ 6 bilhões para compensar o deficit nas transações correntes. Essa diferença foi coberta pelo capital especulativo, aqui entendido como os investimentos que não vão para o setor produtivo, e sim para o mercado financeiro (por exemplo, títulos de renda fixa).

A última vez em que o país teve que recorrer a especuladores internacionais para equilibrar as contas externas em um semestre foi na primeira metade de 2010.

O gráfico abaixo mostra a necessidade de capital especulativo do país em cada ano. Quando o resultado é negativo, significa que as transações correntes e os investimentos diretos foram mais do que suficientes para trazer dólares ao país, de modo que nesses casos não dependemos de capital em setores não produtivos.

Como se pode ver, desde a década de 2000 foram raras as vezes em que o gráfico deu positivo, ou seja, em que precisamos recorrer a capital especulativo para equilibrar as contas externas.

Dependência do dólar

Os brasileiros precisam de dólares porque o real não é uma moeda aceita mundialmente. Quando compramos algum bem importado, normalmente temos que usar a moeda americana.

Quando o dólar está em falta, a cotação sobe. Ou então o Banco Central vende parte das suas reservas, mesmo que com compromisso de recomprar no futuro. Para não queimar reservas, é bom que entre no país pelo menos a mesma quantidade de dólares que sai. Ou seja, as contas externas precisam ficar equilibradas.

Historicamente, as contas externas são um desafio importante na economia brasileira. Já estivemos melhor do que hoje, mas também já tivemos fases bem piores.

Como disse o economista Samy Dana, o capital especulativo não é necessariamente ruim. Problema maior seria se nem esse tipo de investimento chegasse ao país, como já ocorreu em outros tempos.

Maus tempos

Hoje, o Brasil voltou a depender de capital especulativo, mas pelo menos os especuladores ainda colocam dinheiro aqui. No final da década de 1990, ao contrário, o país não só não atraía investimento direto suficiente como também não convencia nem os especuladores.

Em 1998, por exemplo, saíram do país US$ 33 bilhões nas transações correntes. Juntos, os investimentos diretos (que ficaram em US$ 26 bilhões) e o capital estrangeiro não produtivo (US$ 4 bilhões) chegaram apenas a US$ 30 bilhões. Faltaram, portanto, US$ 3 bilhões para fechar a conta.

O resultado foi a queima de grande parte das reservas internacionais do país (pressionada não só por esses resultados, mas também pelas especulações contra o real, gerando uma bola de neve).

De 1996 a 2000, tais reservas caíram praticamente à metade, como aponta o gráfico abaixo. Só voltaram a subir com força a partir de 2006 (e no início de 2013 voltaram a ter leve queda).

Bons tempos

O clima melhorou, e muito, quando o preço das matérias-primas que o Brasil exporta subiu, por conta da China, que crescia absurdamente e não parava de comprar bens como minério de ferro e produtos agrícolas.

As exportações aumentaram tanto que, de 2003 a 2007, o país chegou a ter superavit nas transações correntes, como indica o gráfico abaixo. Ou seja, não dependia nem dos especuladores nem dos investidores do setor produtivo para equilibrar as contas externas.

Depois, as importações foram aumentando mais do que as exportações, de maneira que, a partir do final da década de 2000, o comércio de bens e serviços voltou a ficar deficitário.

Mas isso não se tornou um problema, uma vez que entrava muito dinheiro na forma de investimento estrangeiro direto. Eram banqueiros e empresários de países ricos colocando seu capital no setor produtivo brasileiro.

Dependência

Hoje, no entanto, os preços das matérias-primas não sobem mais, só que as importações continuaram aumentando. Nós passamos de um superávit de US$ 3 bilhões na balança comercial, no primeiro semestre do ano passado, para um déficit de US$ 7 bilhões na primeira metade de 2013.

Os investimentos estrangeiros diretos continuam altos, mas não o suficiente para cobrir o crescente déficit nas transações correntes, que aumentou de US$ 25 bilhões nos seis primeiros meses de 2012 para nada menos que US$ 43 bilhões em período equivalente de 2013.

Nos restou a sede dos especuladores. Para não descermos mais um degrau, voltando à situação do final da década de 1990, em que nem os especuladores queriam colocar dinheiro no país, é preciso que nossa economia se torne mais atraente para os investidores do setor produtivo ou mais favorável para os exportadores.

Nesse aspecto, temos duas boas notícias. A recente desvalorização do real pode tornar nossa indústria mais competitiva, favorecendo as exportações e também melhorando a capacidade de concorrer com os produtos importados. Ainda, os leilões de infraestrutura, se obtiverem sucesso, devem trazer grandes investimentos estrangeiros ao país.

Mas o câmbio, sozinho, não resolve, segundo diversos economistas têm afirmado. Primeiro porque a queda do real pode gerar inflação, uma vez que os importados ficam mais caros. Depois, porque o custo dos produtos nacionais precisa cair. Isso pode ser feito, entre outras coisas, pela redução da carga tributária (que, por sua vez, exigiria maior controle de gastos públicos).

Por último, é preciso que o mercado internacional ajude. A Europa, um dos grandes clientes dos exportadores brasileiros, está afundada em uma crise. A China, que compra nossas matérias-primas, vive uma desaceleração.

Como disse Samuel Pessôa, da FGV, no Valor: “A vida do próximo presidente será dura”. Diria mais, que a situação de Dilma Rousseff já não está fácil.


Alta do dólar faz país queimar US$ 7,5 bilhões em reservas no semestre
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Sílvio Guedes Crespo

O Brasil queimou US$ 7,5 bilhões em reservas internacionais no primeiro semestre deste ano, segundo dados do Banco Central.

O país tinha US$ 378,6 bilhões no final do ano passado e encerrou o primeiro semestre com US$ 371,1 bilhões.

A queda é pequena, em comparação com o tamanho das reservas, mas mostra uma mudança de tendência. Desde meados da década de 2000 até o final de 2012, as reservas subiram fortemente e quase sem interrupção, com exceção dos meses imediatamente após a crise bancária dos Estados Unidos, que estourou em setembro de 2008.

A queima de reservas ocorreu porque o Banco Central vendeu dólares mais do que comprou, em uma reação à especulação de investidores, segundo o professor de economia Alcides Leite, da Trevisan Escola de Negócios:

“Isso [a queima de reservas] foi feito porque antes vinha muito dólar [para o Brasil]. Agora não está vindo muito. Não é verdade que saiu mais que do que entrou no semestre, tanto que o balanço de pagamentos ficou positivo. Mas fica aquele medo, aquela expectativa: ‘Será que vai subir?’. Então o próprio mercado interno começa a valorizar o dólar; começa a comprar para guardar.”

A referência que ele faz ao balanço de pagamentos é a seguinte: dados do BC mostram que entrou mais dinheiro no Brasil do que saiu no primeiro semestre. A diferença foi de US$ 6,3 bilhões.

Com isso, as reservas poderiam ter aumentado em US$ 6,3 bilhões. Mas o BC optou por atender a demanda dos que queriam comprar moeda estrangeira, vendendo dólares das reservas. Caso não o fizesse, a cotação tenderia a subir mais.

No final do ano passado, o dólar comercial saía por R$ 2,04; terminado o primeiro semestre de 2013, estava em R$ 2,22, alta de 9%.

“Aquele momento de crescimento de reservas não existe mais”, disse Leite. “Nesse nível, a queda não é preocupante, mas a gente vai passar por um momento de manutenção ou até redução.”

A fase de forte crescimento das reservas que o Brasil viveu na segunda metade da década passada foi impulsionada, primeiro, pelo aumento do preço de matérias-primas que o país vende ao exterior, como o minério de ferro.

Em seguida, aumentaram os investimentos estrangeiros diretos no país, porque as empresas e bancos estrangeiros estavam com muito dinheiro e queriam colocá-lo em mercados emergentes, que crescem mais que os ricos. Encontraram no Brasil um ambiente favorável, com uma rara combinação de democracia, mercado consumidor em crescimento e política econômica relativamente pró-mercado (em comparação a outros países latino-americanos).

Hoje, no entanto, a situação mudou. O preço das matérias-primas parou de subir (em alguns casos, até caiu) por causa, principalmente, do crescimento mais fraco na China. Os investimentos estrangeiros diretos também, pois aumentaram as chances de bancos e empresas lucrarem nos EUA, onde a economia está se recuperando.

 


Craques hoje chegam a ganhar 20 vezes mais que nos anos 1980; compare
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Sílvio Guedes Crespo

Em 20 de agosto de 1980, o jogador Sócrates conseguiu um aumento no Corinthians e passou a ter o maior salário do futebol brasileiro, segundo estimou a Folha de S.Paulo à época. Eram 500 mil cruzeiros mensais, além das luvas de 12 milhões a serem pagas ao longo de dois anos.

O acordo gerou uma corrida por reajustes no futebol paulista, que Jaime Franco, diretor do São Paulo, chamou de “síndrome de Sócrates”. “Antes, era apenas no Rio de Janeiro que víamos o Zico ganhando um salário fantástico […]. Depois do caso Sócrates, todos só raciocinam em função do que recebe o jogador do Corinthians”, disse Franco.

O blog Achados Econômicos pesquisou nos arquivos da Folha dos anos 1980 e transpôs, para valores de hoje, os salários de grandes jogadores de futebol.

Os ganhos do doutor, superlativos para a época, eram apenas uma fração do holerite dos craques atuais. Corrigidos pela inflação, os Cr$ 500 mil de salário mensal, com mais Cr$ 500 mil de luvas, equivaleriam hoje a R$ 115 mil por mês.

Neymar, no Santos, chegou a receber R$ 2,3 milhões mensais em 2012, segundo algumas fontes, ou R$ 3 milhões em 2013, de acordo com outras. Pela estimativa mais baixa, supera em 20 vezes o que Sócrates ganhava no Corinthians. Como eram poucos os jogadores com salário próximo ao do doutor, não é exagero inferir que todos os atletas da seleção brasileira de 1980, somados, não ganhavam o que Neymar chegou a receber sozinho no Santos.

O craque que agora está no Barcelona é um caso extremo, mas não uma exceção. Vários outros jogadores de hoje ganham muitas vezes mais do que os ídolos dos anos 1980. Ronaldinho Gaúcho, por exemplo, leva R$ 900 mil por mês no Atlético-MG, o que equivale à soma dos ganhos de Sócrates, Zico, Falcão.

Salários defasados

Essa diferença gritante entre a remuneração atual dos craques e a dos anos 1980 decorre não só da evolução do mercado do futebol mundial, mas também do fato de que os salários dos jogadores no Brasil, naquela época, estavam muito defasados em relação aos dos países ricos e mesmo em comparação com a Argentina.

Se Sócrates levava R$ 115 mil por mês em 1980, um ano depois Maradona recebia, no Boca Juniors, o equivalente a R$ 280 mil, aos 20 anos de idade – antes, portanto, de estrear na Copa de 1982 e de ganhar o Mundial de 1986.

Patrocínio

O patrocínio foi um fator que impulsionou os salários dos jogadores. Dos R$ 2,3 milhões que Neymar tirava no Santos, apenas R$ 350 mil saíam do próprio clube. Todo o resto vinha de patrocinadores que exploravam a imagem do santista.

Ronaldinho Gaúcho, quando estava no Flamengo, acertou um contrato de R$ 1,250 milhão por mês em 2011. Mas o clube pagava somente R$ 500 mil (R$ 250 mil de salário e R$ 250 mil de luvas). O outros R$ 750 mil vinham da Traffic, empresa que investe em jogadores e comercializa direitos de TV, patrocínio e promoção.

Mercado de paixões

Ao explorar o potencial econômico do futebol, os empresários têm por objetivo transformar sentimentos em consumo. Basicamente, procuram extrair receita a partir da relação emocional entre torcedores e clubes, que é construída historicamente, conforme as vitórias e derrotas em cada partida.

A revista da FGV Projetos apresentou em sua mais recente edição um conjunto de artigos sobre o mercado de futebol. Destaco o dos pesquisadores Antônio Carlos Kfouri Aidar e Evandro Jacóia Faulin, com sacadas preciosas a respeito dos negócios do esporte. Veja abaixo algumas observações dos autores sobre o assunto.

  • “[Com a profissionalização do futebol] Aparece o produto dos sonhos do sistema capitalista. Por quê? Futebol é paixão e o torcedor não vive sem ele. Nosso folclore aponta vários casos em que chefes de família mais humildes deixam de comprar até leite para seus filhos para poder assistir a uma partida final de campeonato.”

  • “Se um jogo de futebol for tratado como um bom produto, ele não terá substituto para o torcedor.”

  • “O futebol é o único caso [entre os inúmeros mercados existentes] em que o cliente é maltratado e volta sempre!”

  • “Não há fidelidade a produtos ou serviços em nenhuma outra indústria na proporção que existe no futebol.”

  • “Décadas atrás, se um elenco era imbatível, ganhava, no máximo, mais dinheiro com mais ingressos, porque mais gente estava interessada em ver os times em ação. Hoje, quem faz mais gols e fatura mais partidas aparece mais na TV, o que gera melhores contratos de patrocínio e merchandising.” 

  • “A construção de um estádio leva em média dois ou três anos, já a compra de uma equipe inteira pode ser feita em uma semana. No entanto, alterar o número e a qualidade dos torcedores de um clube leva pelo menos uma geração”

  • “Nas últimas três gerações, o mundo futebolístico reconhece que apenas um time teve uma importante transformação, passando de time “pequeno” para “grande”, arrebatando grande número de torcedores, inclusive com as raríssimas mudanças do clube do coração: o Santos Futebol Clube, de Pelé”


Salário de parlamentar no Brasil supera o de Japão, Alemanha e Canadá
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Sílvio Guedes Crespo

 

Sala de um dos apartamentos funcionais reservados para deputados federais em Brasília

O salário básico dos parlamentares no Brasil é maior do que o de países ricos como Japão, Alemanha e Canadá, segundo um levantamento feito pela revista britânica “The Economist“. Se for considerado como proporção do PIB (produto interno bruto) per capita, os ganhos dos legisladores do Brasil superam o de 24 dos 29 países analisados.

Hoje, os deputados e senadores brasileiros ganham o equivalente a US$ 157,6 mil por ano de salário básico, ou 13 vezes o PIB per capita. O cálculo usa uma cotação do dólar em paridade do poder aquisitivo, com o objetivo de neutralizar as variações do poder de compra do dólar nas diferentes nações.

Entre os 29 locais examinados pela revista, apenas quatro pagam mais que o Brasil aos seus parlamentares, em termos absolutos: Nigéria, Itália, Estados Unidos e Austrália. Desses, no entanto, somente a Nigéria é mais pobre que o Brasil, em PIB per capita.

 

Na Austrália, os parlamentares ganham mais de US$ 200 mil por ano, mas esse valor equivale a menos de quatro vezes o PIB per capita. Essa proporção é comum a diversos países ricos, como Estados Unidos, Alemanha, Japão, Canadá e Reino Unido.

Na França e na Suécia, o salário dos parlamentares equivale a, no máximo, duas vezes o PIB per capita. Na Espanha e na Noruega, a remuneração dessas autoridades é muito próxima ao próprio PIB per capita do país.

Entre os países estudados, a Espanha é o que paga menos aos parlamentares, apenas US$ 43,9 mil por ano.

O levantamento da “Economist” foi feito porque no Reino Unido existe uma proposta de aumento do salário dos congressistas em 11,5%, num momento em que a renda média do país está estagnada. Se o projeto vingar, a remuneração deles subirá de US$ 105,4 mil por ano para US$ 117 mil (continuando abaixo da verificada no Brasil).

Custo do Congresso

Considerando todo o Orçamento da Câmara e do Senado, o Poder Legislativo do Brasil gasta mais, por ano, do que o de Alemanha, França, Canadá e, inclusive, Itália, país onde os parlamentares ganham mais, segundo outro estado, da Transparência Brasil, feito em 2007.

Hoje, os congressistas brasileiros ganham R$ 26.723,13 por mês. No entanto, apesar de terem acabado com o 14º e o 15º salários, ainda têm vários outros tipos de remuneração.

Os senadores têm auxílio-moradia (R$ 3.800 por mês), plano de saúde (sem limite para despesas médicas), cota parlamentar (até R$ 15 mil mensais com telefone, correio, alimentação e outros itens), passagens aéreas (cinco por mês, de ida e volta, entre Brasília e a capital do Estado que representa), carro oficial (com 10 litros de gasolina ou 14 de álcool por dia) e cargos de confiança (11 servidores comissionados, além de sete efetivos).

Os deputados possuem auxílio-moradia (R$ 3.000 por mês), reembolso com gastos em saúde, cota parlamentar (até R$ 34.258, dependendo do Estado que representa, para passagens aéreas, telefone, correio, alimentação e outros) e cargos de confiança (até 25 secretários, cuja soma de salários pode chegar a R$ 78 mil por mês).

Prefeitos

Recentemente, o UOL fez um ranking dos maiores salários de prefeitos das 26 capitais do país. O mais bem pago é  o de Curitiba, Gustavo Fruet (PDT), com R$ 26.723 por mês. Ele recebe o mesmo valor do governador do seu Estado (Beto Richa, do PSDB) e da presidente da República, Dilma Rousseff (PT).

Em seguida, aparecem os prefeitos de São Luís, São Paulo, Aracaju e Belo Horizonte. O menor salário entre os prefeitos de capitais é o do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PMDB), com R$ 13.965.


São Paulo e Rio gastam 61% mais com saúde do que cidades do Norte
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Sílvio Guedes Crespo

Atualizado às 16h30

As cidades de São Paulo e Rio de Janeiro gastaram juntas, em saúde, R$ 8,7 bilhões em 2011, enquanto os 449 municípios do Norte destinaram, no total, R$ 4,9 bilhões ao setor, segundo um estudo da Associação Transparência Municipal.

Com isso, São Paulo e Rio despenderam com saúde, em média, R$ 494 por habitante – 61% mais do que as cidades do Norte (R$ 306) e 34% mais que as do Nordeste (R$ 370).

Não que os municípios do Norte e do Nordeste evitem investir em saúde. Ao contrário, eles destinam ao setor uma fatia ligeiramente maior do seu orçamento (24% e 26%, respectivamente) do que o Sul e o Sudeste (23% cada).

O problema é que o Norte e o Nordeste não têm uma atividade econômica forte o bastante para gerar impostos a ponto de manter investimentos em saúde no mesmo nível das demais regiões. Eles não vão, de um ano para o outro, elevar em 60% a receita tributária.

Se for necessário primeiro esperar essas regiões terem uma infraestrutura semelhante à do Sudeste, para depois os profissionais de saúde irem para lá, então a população tenderá a ficar anos com escassez de médicos.

Para se igualarem, em gastos com saúde, ao Sudeste, os municípios do Norte precisariam de mais R$ 3,1 bilhões, e os do Nordeste, de R$ 6,8 bilhões, conforme a tabela abaixo. Seriam, portanto, R$ 9,8 bilhões por ano em novos recursos.

Recursos necessários em cada região para atingir o mesmo nível do Sudeste em gastos com saúde por habitante

RegiãoNº de habitantes (milhões)Quanto gasta com saúde (R$ bi)Quanto deveria gastar para se igualar ao SE (R$ bi)Quanto falta para alcançar SE (R$ bi)
Norte16,14,97,93,1
Nordeste53,519,826,56,8
Sudeste8140,240,20
Sul27,612,113,71,6
Centro-Oeste11,65,85,80
  • Fonte: Associação Transparência Municipal / Elaboração: Achados Econômicos

 

Vale notar que as transferências federais e estaduais hoje são responsáveis pela maior parte dos gastos nessas regiões. Dos R$ 24,7 bilhões que as duas regiões destinaram à saúde em 2011, menos da metade (R$ 12,0 bilhões) vieram de recursos próprios.

É preciso acrescentar, ainda, que certamente há desperdício de dinheiro na administração da saúde pública, especialmente em regiões onde o controle social é menor. No entanto, ainda não há estudos apontando com exatidão quanto e como se poderia economizar na gestão desses municípios.

 


Aluguel sobe 6,95% no ano e vira vilão da inflação, no lugar dos alimentos
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Sílvio Guedes Crespo

Texto atualizado às 13h51

O aluguel residencial contribuiu para impulsionar a inflação em junho, compensando a queda ocorrida em diversos alimentos e gerando um aumento do índice acumulado em 12 meses, para 6,7%, conforme indicam dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

O aluguel residencial aumentou 1,04% em junho e acumula uma alta de 6,95% no ano, superando, portanto, a inflação dos alimentos, que foi de 6,02% no primeiro semestre, de acordo com o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) o indicador oficial de inflação, calculado pelo IBGE.

Com isso, os preços relacionados à habitação subiram 0,57% no mês, enquanto os de alimentos e bebidas aumentaram somente 0,04%. No mesmo mês do ano passado, a situação era inversa: o primeiro grupo havia subido fortemente (0,68%), enquanto o segundo avançou menos (0,28%).

O grupo de custos classificados como habitação só não acumula uma alta no ano (está em queda de 0,18%) por causa da redução da energia elétrica residencial, item que ficou 18,03% mais barato no início de 2013.

Vale lembrar, ainda, que a comida tem um peso maior no índice geral de inflação. Ou seja, mesmo subindo menos, os alimentos influenciam mais a alta do IPCA. O indicador só avançou no acumulado dos 12 meses porque outros itens, além do aluguel, também subiram mais neste ano do que em 2012.

É o caso, por exemplo, dos artigos de residência, que acumulam alta de 3,04% neste ano, sendo que no primeiro semestre do ano passado haviam caído 0,84%. O mesmo se passou com itens de cama, mesa e banho, que subiram 2,6% na primeira metade de 2013, após terem descido 1,56% em igual intervalo do ano passado. Ainda, aparelhos eletrônicos tiveram alta de 1,66% e queda de 3,65% nos dois períodos, respectivamente.

Altas e baixas

O tomate, que havia se tornado símbolo da inflação no início do ano, caiu 7,21% em junho, depois de já ter descido 10,31% em maio. O preço de outros alimentos também parou de subir ou mesmo recuou, como aponta o primeiro gráfico. Na outra ponta, dos produtos que subiram, destacaram-se o aluguel, como já foi dito acima, e alguns itens do grupo transporte.

O segundo gráfico, no entanto, deve ser observado com cautela. Apesar de ter saltado 6,71% em junho, a passagem aérea não pode ser considerada um novo vilão da inflação, pois está saindo de um período de forte queda. No acumulado do ano, caiu 25,9%.

Ainda, os dados sobre as tarifas de ônibus, metrô e trem se referem ao aumento ocorrido em junho. As elevações, no entanto, foram revogadas, e isso só aparecerá na próxima pesquisa, a ser divulgada em agosto.

Os móveis e as roupas, vale notar, são itens comprados muitas vezes a prazo. A procura por esses produtos tende a cair quando o crédito fica mais caro, o que deve ocorrer neste ano, após o recente aumento na taxa básica de juros.

Em relação aos aluguéis, não há garantia de que a alta vista no primeiro semestre se repita.

Com esses movimentos, a inflação, que acumulou alta de 6,7% nos últimos 12 meses, deve começar a desacelerar. Analistas consultados pelo Banco Central estimam que ela feche o ano aos 5,87%.


Três bancos brasileiros estão entre os que mais ganham com juros no mundo
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Sílvio Guedes Crespo

Atualizado às 12h03*

A receita dos três maiores bancos brasileiros com juros é desproporcional ao tamanho deles, em comparação com instituições financeiras de outros países, conforme indica um levantamento da revista britânica The Banker.

O Itaú, apesar de ser só o 39º maior banco do mundo no ranking geral da revista, é o 13º quando o assunto é cobrança de juros. O conglomerado financeiro recebeu US$ 27,687 bilhões com empréstimos no ano passado.

O Banco do Brasil, 36º do mundo em tamanho, é o 14º em cobrança de juros, com US$ 23,73 bilhões. O Bradesco é o 16º nesse quesito (com US$ 21,247 bilhões no ano passado), mas apenas o 42º em tamanho.

Juntos, Itaú, BB e Bradesco ganharam US$ 72 bilhões com juros em 2012.

O indicador usado para definir o tamanho dos bancos é o chamado “capital de nível 1”, que inclui apenas a parcela dos ativos considerada de melhor qualidade.

 

Os 20 bancos que mais ganharam com juros em 2012

Ranking de jurosRanking geralBancoPaísReceita de juros
(US$ bi)
ICBCChina66,427
China Construction BankChina56,153
10ºAgricultural Bank of ChinaChina54,353
CitigroupEUA48.635
JP Morgan ChaseEUA45,121
Wells FargoEUA43,746
Bank of AmericaEUA41,475
Bank of ChinaChina40,853
14ºSantanderEspanha39,772
10ºHSBC HoldingsR. Unido37,672
11º13ºCrédit AgricoleFrança30,500
12º11ºBNP ParibasFrança28,687
13º39ºItaú Unibanco HoldingBrasil27,687
14º36ºBanco do BrasilBrasil23,730
15º34ºSberbankRússia23,205
16º42ºBradescoBrasil21,247
17º20ºDeutsche BankAlemanha20,964
18º31ºBBVAEspanha19,95
19º23ºBank of CommunicationsChina19,098
20º15ºBarclaysR. Unido18,358
  • Fonte: The Banker

China domina

Apesar da boa performance dos bancos brasileiros, os chineses dominam o topo do ranking de receita de juros, com cifras bem mais altas que a de Itaú, BB e Bradesco.

O ICBC, maior conglomerado financeiro do mundo, foi o que mais ganhou com juros – US$ 66,427 bilhões no ano passado. O segundo e o terceiro lugares também são da China.

Em seguida aparecem os americanos Citigroup, JP Morgan Chase, Wells Fargo e Bank of America. O primeiro europeu da lista é o espanhol Santander.

Juros no Brasil

A taxa básica de juros no Brasil está hoje em 8% ao ano. O número é bem mais baixo do que os 45% alcançados em março de 1999, mas ainda superior à maior parte dos países. Em termos reais (descontada a inflação projetada), a taxa é a quarta mais alta do mundo, abaixo apenas de China, Rússia e Chile, em um ranking de 40 países elaborado pela MoneYou.

No ano passado, o setor público brasileiro gastou R$ 214 bilhões com juros aos credores, dos quais R$ 105 bilhões saíram dos cofres da União, Estados e municípios e o restante foi pago por rolagem (quando o governo faz novas dívidas para pagar as que estão vencendo), segundo o Banco Central.

Considerando os setores público e privado, existem hoje na economia brasileira R$ 2,5 trilhões em empréstimos e financiamentos, sendo R$ 1,1 trilhão tomados por pessoas físicas e R$ 1,4 trilhão por pessoas jurídicas.

Na média, os bancos que operam no Brasil pagam taxa de juros de 6,9% ao ano quando tomam dinheiro emprestado e cobram 18,1% quando emprestam, ainda segundo o BC. A diferença, atualmente em 11,2 pontos percentuais, é o chamado spread bancário. Ela ainda é considerada alta por muitos analistas. Há um ano, no entanto, girava na casa dos 15 pontos percentuais.

Apesar de, na média, os bancos cobrarem 18,1%, a taxa é muito mais alta para alguns segmentos. As pessoas físicas pagam, hoje, 136% ao ano no cheque especial (há um ano, a taxa era de 158%), conforme mostra a tabela abaixo.

Taxa de juros para pessoas físicas (% ao ano)

Tipo de créditoMaio/2013Maio/2012
Imobiliário7,88,7
Compra de veículos19,722,6
Outros bens66,271,6
Cheque especial136,3158,4
  • Fonte: Banco Central

* Correção: o Itaú é o 13º em receita de juros, e não 12º, como informava incorretamente este texto. O erro foi corrigido às 12h03


Pessoas mais ricas do mundo ganham meio PIB do Brasil em um ano
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Sílvio Guedes Crespo

As 111 mil pessoas do planeta que possuem investimentos acima de US$ 30 milhões ganharam, em conjunto, US$ 1,6 trilhão no ano passado, o que equivale a mais da metade de tudo o que foi produzido naquele ano em um país como o Brasil.

Os números são de uma pesquisa da Capgemini sobre a evolução do patrimônio das pessoas mais ricas do mundo.

De acordo com o estudo, existem hoje 111 mil pessoas com mais de US$ 30 milhões em investimentos, grupo que os pesquisadores chamam de “ultra high net worth individuals” – indivíduos com riquezas líquidas ultra altas.

O patrimônio deles aumentou 10,9% no ano passado, passando de US$ 14,7 trilhões para os atuais US$ 16,3 trilhões. A riqueza somada desses milionários, portanto, aumentou em US$ 1,6 trilhão. Enquanto isso, o PIB (produto interno bruto) do Brasil foi de US$ 2,4 trilhões.

Para ser classificado nesse grupo, é necessário ter US$ 30 milhões líquidos em investimentos. Quem tem US$ 30 milhões, mas está devendo US$ 10 milhões, tem um patrimônio líquido de apenas US$ 20 milhões, e então não entra na lista dos 111 mil. Ainda, a casa onde a pessoa ou sua família mora não conta. Quem habita em um imóvel de US$ 30 milhões, mas só tem mais US$ 20 milhões em investimentos, também não consta do grupo.

Elite

Se consideradas todas as pessoas com mais de US$ 1 milhão investidos, elas são 12 milhões no mundo todo e possuem um patrimônio líquido de US$ 46,2 trilhões, segundo o estudo.

Essa elite mundial elevou suas posses em 2,6% no ano passado, enquanto o PIB mundial avançou apenas 1,6%, o que indica um aumento da concentração de riquezas.

Mais da metade desses 12 milhões estão nos Estados Unidos, no Japão e na Alemanha. No Brasil, há apenas 165 mil pessoas nessas condições, conforme indica o gráfico abaixo, extraído do estudo (clique para ampliar).

 

De acordo com os pesquisadores, a riqueza dessas pessoas aumentou por causa da recuperação dos mercados de ações em países ricos e também em emergentes asiáticos.

A Bolsa subiu 7% nos EUA e 27% na Alemanha. No Brasil, apesar do mau desempenho do mercado de ações, houve alta de 9,4% nos preços de imóveis, segundo a medição da Capgemini, o que compensou as perdas dos milionários na Bolsa.


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