Achados Econômicos

10% mais ricos ficam com 50% da renda nos EUA, maior concentração desde 1917

Sílvio Guedes Crespo

A concentração econômica nos Estados Unidos bateu recorde, quando medida pela comparação da renda dos 10% mais ricos com a do restante da população.

Pela primeira vez desde pelo menos 1917, os 10% mais abastados passaram a abocanhar mais da metade de toda a renda gerada naquele país, segundo uma pesquisa do economista Emmanuel Saez, da Universidade da Califórnia em Berkeley.

Mais precisamente, essa faixa da população ficou com 50,4% da renda em 2012. Saez levantou dados disponíveis desde 1917, conforme indica o gráfico abaixo.

É curioso observar que, em todo o período analisado, houve somente dois outros momentos em que os 10% mais ricos se aproximaram de conquistar metade da renda do país – e ambos precederam as maiores crises econômicas do planeta.

O primeiro momento foi no final da década de 1920, logo antes da Grande Depressão que se estenderia ao longo dos anos 30. O segundo foi oito décadas mais tarde, em 2007, um ano antes da quebra do banco Lehman Brothers.

Se considerado o 1% mais rico, o grau de concentração econômica, embora esteja crescendo, ainda não bateu o recorde do final da década de 1930. Essa pequena parcela da população fica hoje com pouco mais de 20% da renda dos EUA; em 1928, ela tinha quase 25%.

Retomada desigual

O estudo mostra, ainda, que a atual retomada econômica dos EUA praticamente só tem beneficiado a população mais rica.

Enquanto as estatísticas oficias mostram que a renda média subiu 6% de 2009 a 2012, Saez explica que os ganhos do 1% mais rico cresceram 31,4% no período, enquanto os dos demais 99% ficaram estagnados, com uma alta de apenas 0,4% em três anos.

Saez nota que, logo após a crise, os mais ricos perderam mais dinheiro. A renda do 1% caiu 36% de 2007 a 2009; a dos 99% recuou 12%. Com isso, a elite econômica recuperou quase totalmente o que havia perdido na recessão, enquanto a faixa dos demais 99% perdeu menos, mas não recuperou nada.

“A Grande Recessão deprimiu a participação dos mais ricos apenas temporariamente e não vai reverter o dramático aumento da fatia de renda dos mais ricos que se iniciou na década de 1970”, afirma Saez, no estudo.