Achados Econômicos

Alta do juro faz títulos de renda fixa perderem até 25% no ano

Sílvio Guedes Crespo

Texto atualizado às 20h15*

Para quem acha que investimento em renda fixa significa risco zero, aí vai uma informação importante: alguns títulos do Tesouro Direto acumulam uma perda de mais de 20% desde o início do ano.

Consequentemente, os fundos de renda fixa que têm esses papéis na carteira também tiveram queda expressiva em 2013 – mais de 10% em alguns casos.

Enquanto isso, o Ibovespa, indicador de referência da Bolsa de Valores de São Paulo, caiu 13% desde o início do ano até a última sexta-feira (4).

O principal motivo dessa perda, por contraditório que possa parecer, está nos recentes aumentos da taxa básica de juros, a Selic, que começou o ano em 7,25% e hoje atingiu 9,5%.

O primeiro gráfico mostra os títulos do Tesouro Direto com pior rentabilidade neste ano, que foram as Notas do Tesouro Nacional tipo B – papéis que rendem a inflação (medida pelo IPCA, o índice oficial) mais uma taxa prefixada.

O que teve o pior resultado, por exemplo, paga IPCA mais 5,75% ao ano. Os papéis que têm ''Principal'' no nome são aqueles que pagam os juros somente na data do vencimento; os demais oferecem remunerações a cada semestre.

O segundo gráfico, abaixo, apresenta os fundos de renda fixa que mais perderam em 2013, entre aqueles administrados pelos seis maiores bancos do país.

“A renda fixa pode ser tão variável quanto o mercado acionário. Tem gente que diz que você nunca perde, mas dependendo do momento em que você sair, pode perder mais do que na Bolsa”, afirma o economista Pedro Raffy Vartanian, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

No caso dessas perdas citadas nos gráficos, elas só valem para quem quiser vender os títulos agora. Se o investidor carregá-los até o vencimento, terá um rendimento positivo.

Também é preciso informar que nem todos os papéis do Tesouro Direto acumulam perdas em 2013. Os pós-fixados (cujo retorno só é conhecido na data de vencimento) tiveram alta, como as Letras Financeiras do Tesouro (LFT) para 2014, que renderam quase 6% (aqui, a rentabilidade de todos os títulos).

As LFTs acompanham a taxa Selic e por isso, as recentes elevações do juro básico beneficiaram esses papéis.

Entenda

Cada vez que o Banco Central aumenta a taxa básica de juros, o preço dos títulos prefixados cai. Isso acontece porque a Selic é uma das referências para o rendimento dos títulos públicos.

Quem comprou um título prefixado em janeiro, quando a Selic estava em 7,25% ao ano, não conseguirá vendê-lo hoje pelo mesmo preço que pagou, pois atualmente a taxa está em 9,5%. Se quiser se desfazer do papel, esse investidor terá que cobrar um preço baixo o suficiente para compensar essa diferença na taxa de juros.

Navegue pelas imagens abaixo para entender como funciona a marcação a mercado, nome dado a esse processo de ajuste diário dos preços dos títulos públicos, que pode fazer você ganhar ou perder dinheiro.

Risco

Ainda se poderia argumentar que, para quem pensa em resgatar o título somente na data de vencimento, o Tesouro Direto não oferece um risco considerável.

Afinal, com ou sem essas oscilações no preço do papel, o investidor de longo prazo terá, na data de vencimento, o dinheiro que foi investido mais os juros prometidos. A chance de o governo dar um calote é mínima.

É verdade, mas ainda assim existe um risco. Por exemplo, e se você compra um papel prefixado de 20 anos e, quando for resgatar, a Selic estiver em 20%? Você terá deixado de ganhar muito dinheiro, ao comparar com as outras aplicações dos anos 2030.

Bom, então é melhor comprar títulos pós-fixados? Não necessariamente. E se a Selic cair para 1% em 20 anos? Quem previa, em 2003, que hoje essa taxa estaria em menos de 10%?

''O melhor a fazer [para quem reduzir os riscos] é diversificar misturando títulos prefixados com pós-fixados'', recomenda Vartanian. Dessa forma o investidor se protege de grandes variações na taxa de juros e obtém um rendimento intermediário.

* Atualizada a taxa básica de juros, anunciada pelo BC por volta das 20h. Título alterado (anterior: 'Investimento em renda fixa perde até 25% no ano'.