Achados Econômicos

Arquivo : novembro 2013

Cliente pode poupar mais de R$ 200 mil ao pesquisar crédito imobiliário
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Sílvio Guedes Crespo

Quem sabe pesquisar as taxas de juros e demais custos de financiamento de um imóvel pode economizar dezenas de milhares de reais ou mesmo centenas de milhares ao longo de 30 anos, segundo estimativa do blog Achados Econômicos a partir de dados coletados pela Fundação Proteste.

A entidade levantou o custo efetivo total (CET) do crédito imobiliário em oito bancos, expresso na forma de porcentagem ao ano. O blog calculou quanto isso significa em reais, considerando o Sistema de Amortização Constante (SAC), em que as parcelas são mais altas no início e mais baixas no fim.

Um casal com renda de R$ 4,5 mil, por exemplo, consegue um CET de 10,25% ao ano no Citibank, ao financiar 80% de um imóvel de R$ 150 mil. Já na Caixa Econômica Federal, o mesmo cliente obtém o empréstimo a um custo de 8,23% anuais.

A diferença do CET de um banco para o outro é de menos de 2 pontos percentuais ao ano. Parece que não faz diferença, mas este blog calculou que, ao longo de 30 anos, o cliente do Citibank terá desembolsado aproximadamente R$ 300 mil com o financiamento (sem contar o valor da entrada), enquanto o da Caixa gastará menos de R$ 270 mil, ou seja economizará cerca de R$ 30 mil.

O valor que se pode poupar – ou perder – aumenta quanto maior for a quantia financiada. Para parcelar 80% de um imóvel de R$ 800 mil, o cliente do Banrisul, por exemplo, terá um custo de 11,5% ao ano e desembolsará em torno de R$ 1,7 milhão ao longo de 30 anos. A mesma pessoa pode conseguir uma taxa de 9,25% se abrir uma conta-salário na Caixa. Dessa forma, gastará R$ 1,5 milhão no período, ou R$ 200 mil a menos do que no Banrisul.

Veja abaixo o CET em porcentagem ao ano e a estimativa do total a ser desembolsado ao longo do financiamento, considerando três perfis diferentes de clientes.

Perfil 1

Imóvel de R$ 150 mil

Financiamento: 80% (R$ 120 mil)

Renda familiar: R$ 4,5 mil

BancoCET (% a.a)Valor total a ser
desembolsado (R$ mil)*
Caixa (Minha Casa, Minha Vida + FGTS)7,69254
Caixa (sem FGTS nem Minha Casa Minha Vida)8,23263
BB (Minha Casa, Minha Vida + FGTS)9,02276
BB (só FGTS)9,29281
Citibank (relacionamento**)9,36282
Santander (relacionamento**)9,72288
Banrisul9,73288
BB (sem FGTS)9,76289
HSBC9,99293
Itaú10,02293
Bradesco10,16295
Citibank10,25297
  • * Estimativa calculada por meio do SAC
  • ** Taxa válida só para quem tem relacionamento com o banco
  • Fonte: Instituto Proteste. Elaboração própria

Os compradores que podem usar o FGTS ou se enquadram no programa Minha Casa, Minha Vida têm um custo menor no BB e na Caixa, como indica a tabela acima.

Alguns bancos divulgaram qual seria a taxa para quem tem relacionamento com a instituição financeira. No Citibank, por exemplo, quem apenas toma o crédito e não usa outros serviços bancários tem um custo de 10,25% ao ano; já os que têm relacionamento pagam apenas 9,36%, na mesma instituição financeira.


Perfil 2

Imóvel de R$ 400 mil

Financiamento: 80% (R$ 320 mil)

Renda familiar: R$ 11 mil

BancoCET (% ao ano)Valor total a ser
desembolsado (R$ mil)*
Caixa (relacionamento** + conta salário)8,62719
BB (prestação em dia + salário) 300 meses***8,66654
BB (prestação em dia) 300 meses***8,9673
Citi (relacionamento**)9,04738
Caixa (relacionamento**)9,12742
Santander (relacionamento**)9,39754
HSBC9,63764
BB (taxa balcão) 300 meses9,66692
Caixa (balcão)9,67766
Itaú9,79771
Citibank9,93777
Banrisul10,49802
Bradesco10,89820
  • * Estimativa calculada pelo SAC
  • ** Para clientes que têm relacionamento com o banco
  • *** O financiamento do BB para esta modalidade é de 25 anos
  • Fonte: Fundação Proteste. Elaboração própria

Bancos como Caixa, BB, Santander e Citibank informaram as taxas cobradas de quem tem relacionamento com a instituição financeira credora, que são mais baixas do que para os que apenas tomam o crédito.

Os dados sobre o BB, no caso dos perfis 2 e 3, se referem a um financiamento de 300 meses, não de 360, como os demais bancos. Por isso, seu custo não pode ser comparado diretamente com o dos rivais. Mantive-o na lista, ordenado pelo CET, não pelo valor a ser desembolsado. O mesmo banco informou, também, qual a taxa cobrada de quem mantém os pagamentos em dia, como indica a tabela.


Perfil 3

Imóvel de R$ 800 mil

Financiamento: 80% (R$ 640 mil)

Renda familiar: R$ 23 mil

BancoCET (% ao ano)Valor total a ser
desembolsado (R$ milhões)*
Caixa (relacionamento + salário)9,061,5
Caixa (relacionamento)9,251,5
Citibank9,341,5
HSBC9,531,5
BB (prestação em dia + salário) 300 meses**9,591,4
Santander (relacionamento)9,981,6
Caixa10,051,6
BB (prestação em dia) 300 meses**10,081,4
Itaú10,221,6
Citibank10,481,6
BB (balcão) 300 meses**10,581,5
Bradesco11,281,7
Banrisul11,51,7
  • * Estimativa calculada pelo SAC
  • ** Para clientes com relacionamento com o banco
  • Fonte: Fundação Proteste. Elaboração própria

Outro lado

Consultados pelo blog, os bancos disseram que o CET informado nas tabelas acima é o máximo cobrado para os três cenários da simulação e acrescentaram que essas taxas são reduzidas dependendo do perfil do cliente e das condições de financiamento. Os valores divulgados no site das instituições financeiras podem ser negociados. A atribuição dos juros é feita de maneira individualizada.

Observação

O cálculo do valor a ser desembolsado é uma estimativa porque o cliente pode optar por financiar ou não algumas despesas, como os gastos com cartório e imposto. Este estudo usou os mesmos critérios para todos os bancos ao projetar o valor total previsto em cada operação.


PIB per capita do DF é duas vezes o de SP e oito vezes o do Piauí
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Sílvio Guedes Crespo

Atualizado às 16h59*

brasilia

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O Brasil caminha gradativamente rumo à redução das desigualdades regionais, embora elas ainda saltem à vista, como indicam dados divulgados nesta sexta-feira pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

A distância entre os Estados mais ricos e os mais pobres dá sinais de que está diminuindo, tanto em termos de PIB (Produto Interno Bruto) total quanto em relação ao PIB per capita.

O Distrito Federal teve um PIB per capita de R$ 63 mil em 2011 (dado mais recente), número oito vezes maior que o dos dois Estados mais pobres do país, o Piauí (R$ 7.836) e o Maranhão (R$ 7.853).

O PIB per capita do DF é, também, quase duas vezes superior ao do Estado de São Paulo (R$ 32.449) e quase três vezes maior que a média nacional (R$ 21.536).

Ainda gritante, essa diferença já foi mais acentuada. Em 2010, o PIB per capita do DF era 8,5 vezes maior do que o do Maranhão, à época o Estado mais pobre.

A queda verificada não é desprezível, pois significa que, em 16 anos, o PIB per capita das duas unidades federativas se igualaria.

Vale notar, no entanto, que dificilmente esse ritmo continuaria por tanto tempo, uma vez que quanto mais uma região cresce economicamente, mais difícil se torna manter a velocidade da expansão.

pib per capita dos 26 Estados e DF

O PIB per capita do Distrito Federal é grande porque reúne num espaço muito pequeno pessoas com muito dinheiro – notadamente, altos funcionários públicos. Nesse aspecto, a capital federal é hors concours.

Mas se tomarmos como referência os demais Estados, nota-se uma pequena queda na desigualdade regional.

Em 2008, o PIB de São Paulo era 4,5 vezes maior que o do Piauí e o do Maranhão. Em 2011, já era quatro vezes superior a ambos. Nesse ritmo, as duas unidades federativas mais pobres levariam 24 anos para chegar ao nível de São Paulo.

Não custa lembrar que esse indicador, ainda que seja bom para medir a distância econômica entre os Estados, não capta a desigualdade interna de cada unidade federativa. Este ponto é mais bem identificado pelo índice de Gini.

* O PIB do DF era 8,5 vezes maior que o do Maranhão em 2011, não 8,5%, como afirmava incorretamente este texto. O erro foi corrigido às 13h18. 


Renda de empregados domésticos sobe 8,1% em um ano e lidera alta
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Sílvio Guedes Crespo

Atualizado às 17h21*

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A renda dos trabalhadores que prestam serviços domésticos saltou 8,1% em termos reais (descontada a inflação) entre outubro do ano passado e o mesmo mês de 2013, em mais um sinal de que os mais pobres estão sentindo menos os problemas econômicos do país, mais percebidos pela classe média.

O aumento de renda dos empregados domésticos foi o mais acentuado dos últimos 12 meses, entre as sete categorias em que o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divide a população ocupada. Em segundo lugar ficaram os trabalhadores da construção civil, com uma alta de 7,2% no seu rendimento.

A Pesquisa Mensal de Emprego referente a outubro foi divulgada nesta quinta-feira.

RENDA MÉDIA DOS TRABALHADORES ATUALIZADA PELA INFLAÇÃO

Grupo de atividadeRenda em out/12 (R$)Variação ante out/12 (%)
População ocupada1.9171,8
Indústria extrativa, de transf. e distr. de eletricidade, gás e água1.9914,1
Construção1.7057,2
Comércio, reparação de veículos e objetos pessoas e domésticos e comércio varejista e de combustíveis1.527-0,8
Serviços prestados à empresa, aluguéis, atividades imobiliárias e de intermediação financeira2.348-2,5
Educação, saúde, serviços sociais, administração pública, defesa e seguridade social2.5921,8
Serviços domésticos8158,1
Outros serviços (alojamento, transporte, limpeza urbana e serviços pessoais)1.6941,4
  • Fonte: IBGE

Os dados mostram que, apesar de ter obtido o maior aumento, o grupo dos serviços domésticos continua sendo o de menor rendimento. Entre as sete categorias, é a que mais concentra trabalhadores pobres.

O IBGE não abriu os números referentes a cada uma dessas categorias. Não é possível comparar, por exemplo, quais empregados do ramo “construção civil” tiveram os maiores reajustes, se os pedreiros ou os engenheiros.

Mas existem outras pesquisas indicando que os mais pobres continuam tendo reajuste superior, em termos percentuais, ao da classe média.

Em um estudo feito em janeiro, o mesmo IBGE informou que a renda dos profissionais com curso superior teve uma alta real de apenas 0,7% nos últimos dez anos, enquanto na população com até oito anos de estudo, o aumento foi de 37,3%.

RENDA DA POPULAÇÃO POR ESCOLARIDADE, ATUALIZADA PELA INFLAÇÃO

AnoRenda da população com até 8 anos de estudo (R$)Variação anual real (%)Renda da população com curso superior (R$)Variação anual real (%)
2004689-0,73.973-2,4
20057042,23.916-1,4
20067364,64.0002,2
20077704,54.0972,4
20087993,84.1260,7
20098202,74.1260
20108625,14.086-1
20119065,14.083-0,1
20129535,14.0980,4
  • Fonte: IBGE

Mais recentemente, a renda de quem tem no máximo oito anos de estudos acelerou, subindo em média 5,1% ao ano desde 2010. A dos que têm curso superior, ao contrário, caiu em média 0,2% anuais no período.

Outras fontes

Embora este blog tenha apresentado inúmeras vezes análises mostrando a deterioração de diversos indicadores da economia brasileira, sempre que surge uma notícia positiva embasada em dados do IBGE uma parte dos leitores argumenta que tal instituto não é confiável, por ser do governo.

Nesse caso, podemos recorrer a uma pesquisa da consultoria Mercer, empresa privada que tem 25 mil clientes e atua em 40 países. Ela fez um levantamento de salários em mais de 400 companhias privadas em atuação no Brasil e constatou que somente os funcionários de nível operacional (a categoria mais baixa) tiveram reajuste acima da inflação em 2013.

Esse grupo de trabalhadores obteve um aumento de 12,5%, de acordo com a Mercer. Em segundo lugar, ficaram os presidentes de empresa, com uma alta de 5,2%. Os demais profissionais tiveram alta salarial entre 0,5% e 3,3%, dependendo do cargo (saiba mais aqui).

A consultoria explica que os cargos operacionais tiveram os maiores reajustes porque são os que mais se beneficiam dos dissídios trabalhistas.

A informação da Mercer é confirmada por uma pesquisa do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos). Segundo a entidade, cerca de 85% dos acordos salariais coletivos acertados no primeiro semestre tiveram aumento acima da inflação.

Outro instituto que reforça esses dados é o Datafolha. Entre seis tipos de empregados domésticos, o que registrou maior aumento salarial foi o das mensalistas (23,8%, sem descontar a inflação). O único que teve perda foi o serviço de auxiliar de enfermagem (queda de 2,6%), conforme o gráfico abaixo.

datacasa empregados domesticos

* Acrescentados dados do Datafolha às 17h21


Inflação dá trégua, e serviços têm crescimento real de 2,7% em 12 meses
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Sílvio Guedes Crespo

O setor de serviços, principal componente do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro, esboça sinais de uma lenta retomada, não tanto por uma expansão de suas atividades, mas pela trégua dada pela inflação nos últimos meses.

O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou que esse ramo da economia teve um crescimento nominal de 9,6% entre setembro do ano passado e o mesmo mês de 2013. No acumulado do ano, a alta foi de 8,4%; em 12 meses, de 8,7%.

Esses números se referem somente à variação nominal, ou seja, sem descontar a inflação. Por esses dados, notamos que a receita do setor está em uma trajetória predominantemente de queda, desde o início do ano.

servicos variacao nominal ibge achados economicos

No entanto, quando calculamos a variação real (descontada a inflação), percebemos que o setor teve seu melhor resultado desde fevereiro, por causa da desaceleração do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo).

servicos variacao real ibge achados economicos

Opinião

A lenta recuperação da receita real dos serviços nos últimos meses está aquém do desejável por uma economia que cresceu apenas 0,9% no ano passado e é chamada de “emergente”.

Em 2012, o Brasil caiu 25 posições no ranking de mundial de crescimento econômico, uma vez que seu PIB avançou menos de 1%, depois de ter subido 2,7% em 2011 e 7,5% em 2010.

Mesmo não entrando em recessão, o país teve uma perda relativa de espaço na economia internacional.

Os dados do setor de serviços reforçam que a atividade econômica está sofrendo para repor essas perdas.

O comércio varejista, um dos segmentos que vinha crescendo fortemente até o ano passado, sofreu uma brusca desaceleração neste ano. Em 2012, o volume de vendas acumulava uma alta de 8%. Já nos 12 meses encerrados em setembro, o aumento foi de apenas 4,9%.

A indústria, é verdade, deu sinais de recuperação. Sua produção cresceu 1,1% nos 12 meses terminados em setembro. Mas isso não garante nem a reposição das perdas do ano passado, quando o setor encolheu 2,6%.

Sobrou a agropecuária como última esperança para impulsionar o PIB brasileiro em 2013. Segundo estimativa do Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), o segmento deve crescer 10,5% neste ano, bem mais que a indústria (1,1%) e os serviços (2,1%).

Com isso, a agropecuária vai permitir que o PIB avance 2,5% neste ano, estima o Ibre. Com indústria fraca, comércio menos vigoroso e serviços em expansão lenta, as commodities agrícolas devem ganhar espaço relativo na economia nacional.


Análise: economia brasileira interrompe ritmo de retomada
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Sílvio Guedes Crespo

industria folhapress rafael andrade

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Os dados que o Banco Central divulgou hoje (14) sobre a economia brasileira são capazes de agradar ao mesmo tempo gregos e troianos – e desagradar a ambos, também, como se pode notar nos comentários da notícia.

Os números do IBC-Br, um indicador que tenta antecipar o cálculo do PIB (produto interno bruto), indicam que a economia brasileira caiu 0,12% no terceiro trimestre em relação ao segundo.

Ao mesmo tempo, apontam que a economia cresceu 2,32% no terceiro trimestre em comparação com um ano antes.

O primeiro número cai como uma luva para os colecionadores de más notícias. É o argumento perfeito para quem torce por uma catástrofe. No limite, pode parecer um sinal de que estamos próximos de entrar em uma recessão.

O segundo atende aos propósitos de quem crê indiscriminadamente na propaganda governista e no otimismo exagerado do ministro Guido Mantega (Fazenda).

Crescimento medíocre

Para quem está interessado em entender o que acontece no país e não tem paciência para tentar fazer uso partidário desses dados, minha sugestão é olhar para ambos os números e também para alguns outros.

Resumindo, o cenário que temos hoje é o seguinte:

  • no ano passado, a economia foi mal (cresceu apenas 0,9%);
  • durante o primeiro semestre deste ano, melhorou. No período de abril a junho, especialmente, surpreendeu muitos analistas ao crescer 1,5%, mais do que países como Coreia do Sul e México. Continuasse nesse ritmo, o PIB acumularia alta de 6,1% em um ano;
  • no terceiro trimestre, nossa economia perdeu vigor (caiu 0,12% em relação ao segundo trimestre), mas não tanto a ponto de voltarmos ao mau desempenho do ano passado (em comparação com o terceiro trimestre de 2012, produzimos 2,32% mais neste ano).

Enfim, o que esses e outros dados mostram é que este ano estamos com um desempenho econômico medíocre. Há os que se contentam com a mediocridade e os que querem fazê-la parecer sinônimo de desastre.

Em minha visão, o melhor é entender que não estamos bem e que temos um grande potencial de melhora. Falta, por exemplo, o governo trocar a ideia de se confrontar com investidores pela de combater o desperdício de gastos públicos.


Apoio ao capitalismo aumenta entre brasileiros, mas com políticas sociais
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Sílvio Guedes Crespo

dolar reuters

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A mais recente edição do Latinobarômetro mostrou um aumento do apoio dos brasileiros à economia de mercado, ou seja, ao capitalismo. Ao mesmo tempo, a maior parte dos pesquisados vê o Estado como uma entidade capaz de acabar com grande parte da pobreza, senão toda ela.

Em texto anterior, este blog informou que o apoio à privatização, entre os brasileiros, é o segundo maior da América Latina.

Os dados sugerem que a população apoia um equilíbrio na relação entre Estado e mercado. A maioria (63%) acredita que as empresas privadas são indispensáveis para o desenvolvimento do país. Por outro lado, 77% confiam na capacidade estatal de combater a pobreza.

Veja abaixo alguns dos resultados da pesquisa.

Apoio ao capitalismo

O apoio da população à economia de mercado atingiu o maior nível desde 2005.

latinobarometro economia de mercado achados economicos

Políticas sociais

A população brasileira é a segunda da América Latina entre as que mais confiam na capacidade do Estado de resolver grande parte da pobreza, senão toda ela.

Do total de entrevistados, 77% disseram que o poder público é capaz de combater totalmente ou grande parte desse problema. Somente no Paraguai o otimismo com essa capacidade do Estado é maior.

pobreza latinobarometro achados economicos

 


Cinco maiores bancos da América Latina são brasileiros, diz estudo
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Sílvio Guedes Crespo

O Banco do Brasil superou o Itaú e se tornou o maior banco da América Latina, segundo uma pesquisa do site britânico The Banker, que pertence ao grupo que publica o jornal “Financial Times”.

As cinco primeiras instituições financeiras do ranking são brasileiras: BB, Itaú, Bradesco, Santander Brasil e Caixa Econômica Federal.

O levantamento usa como referência para medir o tamanho dos bancos um indicador chamado “tier 1”, que reúne apenas os ativos de melhor qualidade de cada instituição financeira.

MAIORES BANCOS DA AMÉRICA LATINA

BancoCapital tier 1 (US$ bi)Ativos totais (US$ bi)Lucro antes dos
impostos (US$ bi,
em 2012)
Banco do Brasil36,35557,5
Itaú35,24969,8
Bradesco32,33917,6
Santander Brasil31,92062,7
Caixa Econômica Federal13,83472,3
  • Fonte: The Banker

Os dados do site The Banker nem sempre batem com os rankings comuns, que medem o total de ativos. Por exemplo, a Caixa Econômica Federal tem um total de ativos maior que o do Santander Brasil. No entanto, aparece em posição inferior no ranking de capital “tier 1”.

Outro dado a ser observado é que o lucro dos bancos nem sempre significa aumento do capital de qualidade. O Banco do Brasil lucrou menos que o Itaú, mas o capital “tier 1” do primeiro avançou 12,3% em um ano, enquanto o do segundo subiu 7,9%.

Lucro

O Banco do Brasil lucrou R$ 2,7 bilhões no terceiro trimestre de 2013, o que representa uma ligeira queda de 0,9% em relação ao verificado um ano antes.

Já o Itaú teve o maior lucro de sua história. No terceiro trimestre, ganhou R$ 4 bilhões. Deve-se considerar que os dados do site The Banker se referem ao ano de 2012, por isso não captam a boa performance do Itaú em 2013. No trimestre passado, o banco não só aumentou seu lucro como reduziu o nível de inadimplência dos seus clientes e com isso gastou menor com provisões.

Ganhos com juros

Os maiores bancos brasileiros estão entre os que mais ganham com juros no mundo. Um levantamento anterior feito pelo mesmo site mostrou que o Itaú é o 13º do planeta nesse quesito, apesar de ser só o 39º em tamanho (pela medida de de “tier 1”). O BB aparece em 14º no ranking de juros (36º no de capital “tier 1”), enquanto o Bradesco está em 16º (42º em tamanho).

O fato de que os três bancos ocupam uma posição bem mais alta no ranking de juros do que no de capital sugere que os ganhos dessas instituições com empréstimos são desproporcionais ao tamanho delas, se compararmos com concorrentes do exterior.


Brasil é o segundo país mais favorável a privatizações na América Latina
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Sílvio Guedes Crespo

O Brasil é o segundo país da América Latina cuja população mais apoia a privatização de empresas estatais, segundo a mais recente edição do Latinobarômetro, uma pesquisa anual sobre democracia e economia.

No total, 44% dos brasileiros entrevistados disseram que estão “de acordo” ou “muito de acordo”, com a ideia de que as privatizações de empresas estatais beneficiaram o país. Somente os equatorianos se mostraram mais favoráveis, com 57% da população endossando a desestatização.

privatizacao america latina latinobarometro opiniao achados economicos 1

Quando perguntados quanto à satisfação com os serviços públicos privatizados, os brasileiros continuam em segundo: 37% disseram ter ficado “mais satisfeitos” ou “muito mais satisfeitos” com os serviços privatizados. No Equador, 59% afirmaram isso.

A pesquisa dá uma ideia de como está a opinião pública num momento em que o governo toca um programa de privatização da infraestrutura e em que a questão do grau de intervenção do Estado na economia se torna central.

Importante notar que, embora o Brasil apareça em segundo lugar no ranking, somente no primeiro, o Equador, mais de 50% da população apoia privatizações.

No final dos anos 1990, quando diversas nações latino-americanas implementavam seus programas de desestatização, esse tipo de medida era bem mais popular.

Em 1998, a privatização era apoiada por pelo menos 50% da população em países como Brasil, México, Chile e Venezuela.

A Guatemala foi a nação em que a venda de estatais mais perdeu adesão: 61% da população apoiava essa medida em 1998, contra 28% hoje.

privatizacao america latina latinobarometro opiniao achados economicos 1998

Desde 1998, o percentual de brasileiros favoráveis à privatização é superior à média simples da América Latina. No Brasil e no restante da região, o apoio caiu a partir daquele ano, de modo que em 2003, quando Lula assumiu a Presidência do país, apenas 33% da população endossava esse tipo de medida.

O apoio à desestatização voltou aos poucos e atingiu novo pico em 2009, com 50% de respostas favoráveis – curiosamente, um ano antes da eleição que levou Dilma Rousseff ao Planalto.

privatizacao america latina latinobarometro achados economicos serie temporal


Preço de produtos básicos que ficaram isentos de impostos volta a subir
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Sílvio Guedes Crespo

Atualizado às 14h47*

Os preços dos produtos da cesta básica que estão livres de impostos federais desde março caíram logo depois da desoneração e voltaram a subir em setembro e outubro, segundo cálculos do blog Achados Econômicos.

No início de março, a presidente Dilma Rousseff determinou que as mercadorias da cesta básica sobre as quais ainda incidiam impostos federais ficassem isentas.

Daquele mês em diante, os preços desses produtos foram caindo até agosto. Em setembro e outubro, no entanto, voltaram a subir.

inflacao produtos desonerados mar out ibge achados economicos uol 1

Como a queda de março a agosto foi bem mais forte do que a alta de setembro e outubro, as mercadorias desoneradas acumulam uma queda de 1,8% desde março, mês da desoneração.

Não é possível estabelecer uma relação direta de causa e consequência entre a desoneração e o barateamento dos produtos, pois os impostos são apenas um dos fatores que influenciam os preços.

Os dados são aproximados, uma vez que não há uma correspondência exata entre os itens desonerados e a classificação que o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) faz dos produtos. Por exemplo, o governo determinou a isenção de impostos para pasta de dente, mas a pesquisa de inflação não informa exatamente a variação de preço desse produto, e sim a de um grupo chamado “produtos de higiene bucal”.

Os números citados se referem à variação média dos preços de cada produto, ponderado pelo peso que cada um deles tem no IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), indicador oficial de inflação. Algumas das mercadorias analisadas caíram e outras subiram. A que acumula maior queda de preço desde março é o açúcar refinado (-14%). A que subiu mais foi a manteiga (5%).

inflacao produtos desonerados mar out ibge achados economicos uol 2

Opinião

A decisão da presidente Dilma Rousseff de zerar os impostos federais sobre a cesta básica foi correta. Não se espera que qualquer desoneração faça o preço cair para nunca mais subir.

O benefício desse tipo de medida é permitir que circule no setor privado um dinheiro que, de outro modo, entraria nos cofres públicos.

Do produtor ao varejista, fica sempre a critério do empresário repassar ou não ao consumidor os benefícios de não precisar mais recolher os impostos, de acordo com as possibilidades dele diante do mercado.

Se não houver alteração nos demais fatores que influenciam o preço (aumento ou queda de outros custos, mudanças na variação entre oferta e demanda etc), a empresa pode fazer o repasse se estiver em um segmento com muita competição. Nesse caso, ela aproveita a queda de imposto para baratear suas mercadorias antes que o concorrente o faça.

Muitas vezes, ele pode não repassar para o consumidor o corte do imposto – por exemplo, se tiver o monopólio de um produto para o qual há grande demanda e achar que a redução de preço não vai atrair número significativo de clientes.

Outra possibilidade é de que a companhia barateie o produto, mas em proporção menor do que o corte do imposto, de modo que ela aumente um pouco sua margem de lucro.

Seja qual for o motivo da queda de preço dos itens desonerados, a decisão foi importante para o atual momento da economia. Uma redução de impostos, acompanhada de contenção do aumento de gastos públicos, permitiria que mais dinheiro circulasse no setor privado, o que ajudaria a gerar crescimento duradouro do PIB (produto interno bruto). Se a desoneração for sobre produtos essenciais, melhor.

A queda de preços dos itens desonerados permitiu ao governo respirar um pouco diante da inflação alta. Com isso, parece ter adiado uma medida mais dura de contenção de preços, a elevação da taxa básica de juros, que só ocorreu em abril.

Falta o governo cumprir com a outra parte do esquema, reduzindo o avanço dos gastos públicos, para recuperar a confiança dos empresários e abrir caminho para o aumento dos investimentos. Quanto mais tempo demorar para mostrar aos investidores que este é um país estável, de economia previsível e ideal para quem faz um planejamento de longo prazo, mais forte terá que ser o aperto.

* Acrescentada a parte de opinião às 14h14 e dados do IPCA no primeiro gráfico às 14h47


Bolsa brasileira tem a 3ª maior queda do mundo em 2013
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Sílvio Guedes Crespo

* Atualizado às 9h54

bmfbovespa01

As Bolsas de Valores mostraram-se um excelente investimento neste ano na maior parte do mundo, com exceção de alguns países emergentes – entre eles, o Brasil.

O Ibovespa, indicador de referência das ações brasileiras, acumulou uma queda de 10,99% nos dez primeiros meses do ano. Apenas em outros dois países o mercado acionário recuou mais: no Chipre (-16,73%) e no Peru (-20,88%). A maior alta encontrada foi na Venezuela, de 454%.

O blog Achados Econômicos analisou 76 países, totalizando 77 índices de ações, uma vez que considerou dois para os Estados Unidos (Nasdaq e Dow Jones).

Dos indicadores examinados, 62 estão positivos no ano, enquanto os demais 15 acumulam baixa.

Ricos

Países ricos, fortemente afetados pela crise internacional, estão vivendo um momento de recuperação do preço das ações.

Tirando uma média simples, os principais índices de ações do G-7, grupo que reúne sete países desenvolvidos e altamente influentes, subiram 20% neste ano. Em todos os 24 mercados maduros pesquisadas, o aumento médio foi de 18%. Em nenhum delas houve queda.

bolsas g7 1

A chamada periferia da Europa, que gerou turbulência nas Bolsas mundiais no ano passado por causa de problemas de endividamento, teve forte aumento de preço das ações. Na Grécia, a alta acumulada em 2013 é de 31%; na Irlanda, de 30%; na Espanha, 21%; em Portugal, 11%.

Emergentes

Entre os principais emergentes, o desempenho não foi tão bom. A média dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) ficou em apenas 0,97%, devido ao desempenho negativo de Brasil, China e Rússia.

bolsas brics

Excluindo a Venezuela, que teve uma alta excepcional e distorceria a média, as Bolsas da América Latina avançaram 5% neste ano, considerando as seis maiores economias da região. A queda em Brasil, México, Colômbia e Peru puxou a média para baixo.

Recuperação no Brasil

A forte queda da Bolsa brasileira ocorreu no primeiro semestre. Em julho, iniciou-se uma trajetória de alta e, desde então, o Ibovespa subiu 14,33% até o fim de outubro.

Nestes últimos quatro meses, as ações nacionais passaram a acompanhar a alta verificada no mercado mundial. Para o economista Ricardo Mollo, professor de Finanças do Insper, o avanço recente do Ibovespa reflete notícias pontuais e tende a não se sustentar. Leia entrevista abaixo.

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Achados Econômicos: A Bolsa brasileira subiu nos últimos quatro meses. Essa tendência deve continuar?

Ricardo Mollo: Parece que as informações recentes fizeram a Bolsa reagir. Mas não dá para dizer que isso é uma coisa contínua, porque os indicadores dos fundamentos da economia não dizem isso.

Nós teremos um crescimento do PIB (produto interno bruto) em torno de 2% neste ano, muito abaixo do que se esperava no final de 2012.

As pessoas esperavam que a balança comercial ficasse positiva, e estamos vendo uma balança baixa ou mesmo negativa. A taxa de câmbio está bastante volátil; A taxa de juros está subindo. O que aconteceu na Bolsa recentemente é reflexo de notícias pontuais, então pode não continuar.

Quais notícias?

A continuação dos estímulos econômicos nos EUA e o leilão de Libra, por exemplo. Houve algumas aberturas de capital importantes, sendo duas no setor de educação, que é um segmento que todo mundo tem acompanhado e gostado. Isso traz dinheiro de fora.

Outro ponto é que o impacto negativo da OGX na Bolsa aconteceu principalmente no primeiro semestre. Agora ela sai do Índice Bovespa.

As eleições de 2014 já têm algum impacto na Bolsa?

Ainda não vejo evidências disso. O que tem impacto é a interferência do governo nas empresas. Esta gestão interfere muito, usa as estatais de encontrar formas ou de desenvolver o Brasil ou de encontrar soluções para problemas que o governo não conseguiu resolver. O mercado de capitais está relacionado a expectativas. É necessário que o governo mantenha as regras do jogo sempre firmes.

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* Acrescentados gráficos e entrevista