Achados Econômicos

Arquivo : janeiro 2014

País gasta mais de R$ 1 tri em cinco anos com juros da dívida pública
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Sílvio Guedes Crespo

Atualizado às 15h04*

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O Brasil gastou mais de R$ 1 trilhão nos últimos cinco anos com pagamento de juros da dívida pública, mostram dados do Banco Central divulgados nesta sexta-feira, 31.

No total, o setor público brasileiro teve uma despesa de R$ 249 bilhões em 2013 com juros. É o maior valor anual desde pelo menos 2002, quando o BC iniciou o registro desses dados pela metodologia atual. Se atualizarmos pela inflação, no entanto, o maior valor da série é o de 2011 (R$ 265 bilhões).

De 2009 a 2013, os gastos com juros somaram R$ 1,065 trilhão. Corrigido pela inflação, esse valor equivale hoje a R$ 1,190 trilhão.

Em média, cada um dos 94 milhões de brasileiros com ocupação remunerada gastou, indiretamente, R$ 11 mil no período para pagar os credores do governo, o que dá mais de R$ 2 mil por ano por pessoa.

gastos com juros - legenda

Parte do dinheiro usado para pagar juros vem da arrecadação dos governos federal, estaduais e municipais com impostos e itens extraordinários (como receita de privatizações e concessões).

Outra parte é obtida por meio da rolagem da dívida – processo em que o governo toma dinheiro emprestado para pagar juros.

No ano passado, União, Estados e municípios destinaram R$ 91 bilhões do seu orçamento para a dívida. Esse esforço fiscal é chamado de superavit primário.

Como os juros somaram R$ 249 bilhões em 2013, ficaram faltando R$ 158 bilhões para pagar os credores. Este último valor, chamado de deficit nominal, ou necessidade de financiamento nominal, corresponde ao que o governo precisou tomar emprestado para honrar seus compromissos.

Gastos do setor público com juros

Item2013 (R$ bi)2009 a 2013, em valores da época (R$ bi)2009 a 2013, em valores atuais (R$ bi)
Parte da arrecadação do governo usada para pagar juros91,3491,4550,0
Dinheiro que o governo tomou emprestado para pagar juros157,5574,3640,1
Total de gastos com juros248,91.065,81.190,1
  • Fonte: Banco Central

Opinião: gasto alto, mas necessário

Como se pode ver, a maior parte dos juros tem sido paga por meio da rolagem, ou seja, por meio da criação de novas dívidas. O governo toma dinheiro emprestado de uns para pagar outros.

De 2009 a 2013, os juros somaram R$ 1,1 trilhão, como foi dito, mas apenas R$ 491 bilhões foram pagos com dinheiro arrecadado com impostos e outras fontes. Os demais R$ 574 bilhões vieram de novas dívidas.

É verdade que R$ 491 bilhões não são uma quantia desprezível, ao contrário. Há, inclusive, quem argumente que o governo deveria usar parte desse valor para investimentos, programas sociais ou corte de impostos.

O problema é que. se o setor público aumenta a dependência de rolagem da dívida – e isso tem ocorrido nos últimos anos –, o risco de emprestar dinheiro ao governo também sobe. Consequentemente, a taxa de juros que os investidores cobram tende a aumentar também, criando um ciclo vicioso.

Dito de outra forma, a tendência é de que, quanto menos dinheiro de impostos o governo gastar hoje com dívida, mais terá que gastar no futuro. Além disso, existem as consequências de curto prazo. Se os investidores notam que o controle da dívida (e outras responsabilidades do governo) não está sendo levado a sério, eles investem menos no setor produtivo, o que contribui para frear o PIB (produto interno bruto).

Ainda se poderia dizer que a dívida líquida do governo tem diminuído como proporção do PIB, o que é verdade. Mas o problema, neste momento, não é a dívida líquida, e sim a bruta.

A dívida líquida se refere a tudo o que o governo está devendo menos tudo o que estão devendo ao governo. A bruta é só o que o governo deve.

A dívida bruta tem aumentado porque o governo toma dinheiro emprestado, a juros de mercado, e empresta para empresas, a juros mais baixos, por meio do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).

Quando faz essa operação, a dívida líquida não aumenta, pois o mesmo montante que o governo toma emprestado é registrado como uma quantia que o BNDES (ou seja, o próprio governo) tem a receber.

Já a dívida bruta aumenta. Pode parecer que não há problema, mas há. A dívida que o governo contrai precisa ser paga em um prazo menor do que aquela que as empresas contraíram junto ao BNDES. Além disso, os juros que o governo paga são maiores do que os que ele recebe.

* Inspirado em comentário do leitor que assina como Hussar, incluí às 15h04 a informação de que cada brasileiro com ocupação pagou, em média, R$ 11 mil em juros nos últimos cinco anos. Hussar, obrigado pela observação!


Com Dilma, renda da população cresce 3% ao ano e supera a era Lula
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Sílvio Guedes Crespo

Atualizado ás 16h11*

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Enquanto a maior parte dos principais indicadores econômicos tem se deteriorado nos três primeiros anos do governo Dilma Rousseff, o mercado de trabalho permanece uma exceção, de acordo com dados de diversas fontes, estatais e privadas.

A renda da população teve um crescimento real (acima da inflação) acumulado de 2,6% em 2011, 3,2% em 2012 e outros 3,2% no ano passado, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Na média anual, portanto, o ritmo de crescimento da renda no governo Dilma é de 3%, o que dá mais que o dobro do registrado durante o período do seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva (1,3% ao ano). Isso aconteceu porque, no primeiro ano do ex-presidente, a renda caiu mais de 10%, puxando para baixo a média dos seus oito anos.

rendimento medio - variacao 2003 2013 01

Não é possível comparar com o governo Fernando Henrique Cardoso porque o IBGE mudou a metodologia da pesquisa em 2002.

A série histórica do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) em São Paulo, no entanto, é mais longa. Ela registra que, na média anual, a renda no governo Dilma cresceu mais do que nos dois mandatos de Lula e do que no segundo de Fernando Henrique Cardoso. Por outro lado, avançou em ritmo mais lento do que na primeira gestão de FHC e no período Itamar Franco.

renda media variacao por presidente dieese

Sempre que cito algum dado sobre o crescimento da renda, boa parte dos leitores diz que seu próprio salário não subiu e que, portanto, os dados estão errados ou manipulados.

Isso acontece provavelmente porque tais leitores devem ser de classe média. O aumento real da renda praticamente só ocorreu na classe baixa (e provavelmente na altíssima, que tem tão pouca gente e por isso não aparece nas pesquisas). Um estudo do próprio IBGE, por exemplo, mostrou que o rendimento da população com nível superior subiu só 0,7% de 2003 a 2012, enquanto o dos que têm até oito anos de estudo aumentou 37%.

Uma pesquisa da consultoria Mercer, citada neste blog, constatou que, nas grandes empresas privadas do país, somente os profissionais de nível operacional (o mais baixo da hierarquia) tiveram aumento salarial acima da inflação em 2013.

Para quem não acredita em pesquisas, nem estatais nem privadas, sugiro fazer o seu próprio levantamento. Tente se lembrar de quanto uma faxineira, um pedreiro ou um pintor cobrava pelo dia há três anos e veja quanto eles cobram hoje. Pergunte ao síndico do seu prédio qual foi o aumento dos porteiros. Caso ande de ônibus, pergunte ao cobrador qual foi o dissídio da categoria.

Desemprego

A taxa de desemprego é outro indicador de que o mercado de trabalho continua aquecido. Ela ficou em 5,4% em 2013, segundo o IBGE, sendo o menor valor desde o início da série histórica da Pesquisa Mensal de Emprego, em 2002.

O Dieese, que usa outra metodologia, apontou que o desemprego foi de 10,4% em São Paulo no ano passado, a menor desde 1990.

Uma observação a ser feita é que, nos últimos meses, o desemprego tem caído não por causa o aumento do emprego, mas porque o número de pessoas que procuram trabalho está diminuindo.

Segundo o IBGE, em março de 2002, 76% da população que estava fora do mercado dizia não ter interesse em trabalhar. Hoje, 91% afirmam não querer emprego. Não se trata necessariamente de preguiça. Entre essas pessoas, há aposentados e menores de 18 anos, além de donas de casa.

Uma hipótese é de que o envelhecimento da população e o desejo de cada vez maior dos jovens de estender os estudos podem ter contribuído para o aumento da população que não deseja trabalhar. De qualquer maneira, se elas não querem um emprego, não podem ser chamadas de desempregadas.

Quanto menos pessoas estão disponíveis para o mercado, maior a chance de os trabalhadores conseguirem reajustes, pois a disputa por cada vaga fica menor. A população chamada de “nem-nem”, que não estuda nem trabalha, contribui, indiretamente, para o aumento da renda dos demais.

Nos próximos meses poderemos ter uma noção melhor do mercado de trabalho, quando saírem os próximos resultados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (chamada de Pnad Contínua), bem mais ampla que a atual Pesquisa de Emprego. Ela cobre mais de 3.000 cidades do país, enquanto a atual abrange apenas seis regiões metropolitanas.

Perspectiva

O bom momento do mercado de trabalho é ameaçado pelo menos por dois fatores. Primeiro, a alta do dólar torna o preço das mercadorias importadas mais caro. Dessa forma, os assalariados tendem a perder poder de compra.

Em segundo lugar, por causa do aumento da inflação, o Banco Central tem elevado sua taxa básica de juros. Com isso, as empresas ficam menos estimuladas a investir na produção (uma vez que podem ganhar mais com aplicações financeiras) e dessa forma a geração de empregos fica comprometida.

O aumento de juros também afeta o consumo. O crediário fica mais caro e, se o as empresas vendem menos, tendem a contratar menos ou até demitir trabalhadores.

O lado positivo é que o real mais fraco tende a ajudar a indústria nacional na competição com a estrangeira – mesmo que as máquinas importadas fiquem mais caras, os salários ficam mais baixos quando medidos em dólares. A questão agora é se o ganho das empresas com o câmbio vai ser suficiente para traze investimentos e compensar as incertezas do mercado e o custo gerado pelo aumento dos juros.

* Atualização:

Notei que o IBGE destacou no texto de apresentação da Pesquisa Mensal de Emprego um número diferente do que eu usei. A instituição diz que a renda média no ano passado foi 1,8% maior do que em 2012. Ela somou a renda média de todos os meses de 2013 e dividiu por 12. Fez o mesmo com 2012. Depois, dividiu o resultado de 2013 pelo de 2012.

Já eu optei por um caminho diferente. Calculei quanto a renda aumentou de dezembro de 2012 para janeiro de 2013, de janeiro para fevereiro etc, até chegar a dezembro de 2013. O resultado foi uma expansão de 3,2% acumulada no ano passado.

De qualquer modo, as duas formas de cálculo levam à conclusão destacada nesta postagem, de que o aumento médio anual da renda nos três primeiros anos do governo Dilma (de 3% ao ano no meu cálculo e 2,9% no do IBGE) foi superior ao registrado no segundo (3,1% no meu cálculo e 3,4% no do IBGE) e no primeiro mandato (-0,5% e -2,1%) de Lula.


Pessimismo dos empresários atinge o maior nível desde 2009
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Sílvio Guedes Crespo

Atualizado às 9h49*

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Uma onda de pessimismo se espalhou entre empresários brasileiros em 2013 a ponto de a expectativa sobre a economia cair, na média anual, para o menor nível desde 2009.

O clima de pessimismo é captado por diversas pesquisas da Fundação Getulio Vargas (FGV), da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e da Confederação Nacional do Comércio (CNC).

A FGV realiza sondagens mensais junto aos empresários da indústria, dos serviços, do comércio e da construção.

No caso da indústria e dos serviços, o índice de expectativa, na média de 2013, foi o mais baixo desde 2009. Já em relação ao comércio e à construção, cujas pesquisas começaram a ser feitas em 2010, o nível atingido em 2013 é o menor da série.

expectativa empresarios fgv

Pela pesquisa da CNI, a expectativa do empresário industrial é hoje a mais baixa desde 2007 (dado mais antigo disponível). Na sondagem da CNC, iniciada em 2011, o nível é o menor da série.

expectativa industria cni

expectativa comercio

Histórico

A sondagem industrial da FGV é o indicador mais antigo sobre a confiança dos empresários. Ela mostra que a indústria estava mais pessimista na segunda metade da década de 1990. Depois disso, houve quatro picos de otimismo: em 2000, 2004, 2007 e 2010.  De 2011 para cá, no entanto, as expectativas da indústria vêm caindo ano a ano.

expectativa do empresario industrial historico

Opinião

Conhecer as expectativas dos empresários é importante porque elas indicam a propensão ou não ao investimento. Quanto maior o receio por parte deles, menores as chances de fazerem grandes planos de longo prazo. Mesmo quando o pessimismo é infundado, ele pode gerar, ao menos no curto ou médio prazo, uma retração dos investimentos e, consequentemente, da economia.

Isso não quer dizer, no entanto, que as expectativas dos agentes sempre se concretizem. Há dois anos, as projeções para 2013 eram excessivamente otimistas.

Em janeiro de 2012, analistas estimavam que, em 2013, o PIB (produto interno bruto) cresceria 4,2%, que a balança comercial ficasse positiva em US$ 15 bilhões e que a inflação oficial caísse para 5%. Hoje, não há sinais de que o PIB tenha subido muito mais que 2%; a balança comercial teve um superavit de apenas US$ 2,6 bilhões e a inflação atingiu 5,91%.

No atual momento, ao contrário, temos indícios de que o pessimismo pode estar exagerado. O Itaú compara as estimativas dos analistas com os indicadores de mercado e assim chega a um número, o Índice Itaú de Surpresa. Quando o indicador dá um resultado acima de zero, significa que as surpresas foram positivas, ou seja, que o pessimismo dos analistas não se confirmou – ao menos não na intensidade estimada.

Na mediação mais recente, divulgada em dezembro, o Índice Itaú de Surpresa ficou positivo em 0,17 ponto, número mais alto entre os cinco países latino-americanos pesquisados.

is2

is3

Em recente entrevista ao jornal “O Estado de S. Paulo”, o presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, afirmou que a crítica do mercado ao Brasil “tem uma certa dose de exagero”. É o que indicam os dados do concorrente Itaú. O mais provável, no entanto, é que esse exagero seja pontual – um ajuste após um período de otimismo igualmente excessivo.

* Acrescentado o item ‘Opinião’ às 9h49


Brasil perde reservas internacionais pela primeira vez desde 2000
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Sílvio Guedes Crespo

Atualizado às 13h46*

O Brasil interrompeu, no ano passado, sua trajetória de acúmulo de reservas cambiais internacionais que já durava mais de uma década.

Pela primeira vez desde 2000, o montante em moeda estrangeira ou títulos públicos de países ricos que o governo brasileiro mantém em seu poder diminuiu.

O país perdeu US$ 5,9 bilhões em reservas em 2013 (gráfico abaixo). O número é pequeno em comparação com os US$ 313 bilhões que o Brasil acrescentou ao seu cofre ao longo de 12 anos. Mesmo assim, a perda não é desprezível porque marca o fim de um ciclo.

Os dados fazem parte do balanço de pagamentos divulgado nesta sexta-feira pelo Banco Central.

reservas internacionais variacao 2000-2013

Entenda

As reservas são o dinheiro que o país guarda quando a entrada de moeda estrangeira supera a saída.

A perda de reservas no ano passado ocorreu porque os gastos dos brasileiros com bens e serviços estrangeiros aumentaram e não foram compensados por uma elevação equivalente das exportações nem dos investimentos vindos do exterior.

As importações de bens atingiram US$ 239,6 bilhões, ou US$ 16,8 bilhões a mais do que em 2012. Do outro lado, as exportações ficaram praticamente estáveis, em US$ 242,2 bilhões.

Assim, a balança comercial, que é a diferença entre exportações e importações, despencou de US$ 19,4 bilhões, em 2012, para US$ 2,6 bilhões, no ano passado.

BALANÇA COMERCIAL (em US$ bi)*

Item20122013
Exportações242,6242,2
Importações-223,2-239,6
Saldo19,42,6
  • Fonte: Banco Central
  • * Números negativos indicam saída de dinheiro do país

Já a balança de serviços e rendas, que inclui os gastos dos brasileiros com serviços estrangeiros (por exemplo, em viagens internacionais) e também com pagamento de juros e salários, teve um deficit de US$ 87,3 bilhões no ano passado, contra US$ 76,5 bilhões em 2012.

BALANÇA DE SERVIÇOS E RENDAS (US$ bi)*

Item20122013
Receita de brasileiros com serviços no exterior39,939,1
Receita de estrangeiros com serviços no Brasil-80,9-86,6
Receita de brasileiros com rendas no exterior10,910,1
Receita de estrangeiros com rendas no Brasil-46,3-49,8
Saldo-76,5-87,3
  • Fonte: Banco Central
  • * Números negativos indicam saída de dinheiro do país

As transferências que os brasileiros no exterior fazem para suas famílias no Brasil subiram 18% e somaram US$ 3,4 bilhões, o que representa a entrada de US$ 518 milhões a mais do que em 2012. Só que essa entrada é pequena demais para fazer alguma diferença.

Desse modo, a conta de transações correntes, que reúne a balança comercial, a balança de serviços e renda e as transferências teve no ano passado um rombo de US$ 81,4 bilhões, o maior desde que o país começou a fazer esse registro, em 1947.

CONTA DE TRANSAÇÕES CORRENTES (US$ bi)*

Item20122013
Balança comercial19,42,6
Balança de serviços e rendas-76,5-87,3
Transferências unilaterais2,83,4
Saldo-54,2-81,4
  • Fonte: Banco Central
  • * Números negativos indicam saída de dinheiro do país

O resultado das transações correntes tem sido deficitário nos últimos anos, mas esse saldo negativo vinha sendo coberto pelo forte aumento dos investimentos estrangeiros no país.

Até o ano passado, a entrada de capital externo para projetos de longo prazo era mais do que suficiente para compensar todo o dinheiro que saía na forma de transações correntes.

No primeiro semestre, no entanto, o deficit na conta corrente, que já vinha subindo, atingiu um ponto em que os investimentos estrangeiros diretos, ou seja, no setor produtivo, passaram a não dar mais conta. A partir daquele momento, o país passou a depender de capital de curto prazo, conforme este blog notou à época.

O que os últimos dados da balança comercial mostram é que, em 2013 como um todo, nem mesmo o capital especulativo foi suficiente para cobrir o déficit das transações correntes.

Os investimentos estrangeiros diretos caíram de US$ 65,3 bilhões para US$ 64 bilhões. Somando a isso os US$ 3,5 bilhões que as companhias brasileiras receberam de suas filiais no exterior, tivemos US$ 67,5 bilhões entrando no país na forma de investimentos empresariais.

O país registrou, ainda, uma entrada líquida de US$ 5 bilhões na forma de investimentos de curto prazo, como aplicações na Bolsa de Valores, em títulos da dívida do governo e outros.

Mais US$ 1,2 bilhão entrou como transferência unilateral entre empresas (por exemplo, quando uma companhia sediada nos EUA manda dinheiro para sua filial no Brasil, sem exigir nada em troca).

Dessa forma, os investimentos estrangeiros totais somaram US$ 73,8 bilhões.

INVESTIMENTOS INTERNACIONAIS (US$ bi)*

Item20122013
De longo prazo (investimento direto)68,167,5
De curto prazo (investimento em ações, títulos etc.)3,85,0
Transferências unilaterais (a chamada ‘conta de capital’)-1,91,2
Saldo70,073,8
  • Fonte: Banco Central
  • * Números negativos indicam saída de dinheiro do país

Temos, também, os dados que foram registrados de forma errada e por isso não entraram em nenhum dos itens do balanço de pagamentos aqui citados. Os erros e omissões somaram uma entrada de US$ 1,7 bilhão.

Assim, colocando tudo na conta, saíram do país US$ 81,4 bilhões por meio das transações correntes e entraram US$ 73,8 bilhões como investimentos estrangeiros e mais US$ 1,7 bilhão que não se sabe como (erros e omissões), o que significou um balanço de pagamentos negativo em (ou uma perda de reservas de) US$ 5,9 bilhões.

BALANÇO DE PAGAMENTOS (US$ bi)*

Item20122013
Transações correntes-54,2-81,4
Investimentos internacionais70,073,8
Erros e omissões3,11,7
Saldo (variação das reservas)18,9-5,9
  • Fonte: Banco Central
  • * Números negativos indicam saída de dinheiro do país

* Acrescentado o item “Entenda” às 13h46


Ranking: as casas de câmbio com as melhores taxas destas férias
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Sílvio Guedes Crespo

dolar thinkstock

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Quem pesquisa as casas de câmbio antes de fazer uma viagem internacional ou após voltar pode economizar centenas de reais.

Por exemplo, as pessoas que compraram US$ 5.000 em espécie para viagem no HSBC em dezembro pagaram, em média, R$ 2,487 por cada unidade da moeda dos Estados Unidos e gastaram, pela quantia adquirida, R$ 12.435. Já os que foram ao Banco do Brasil conseguiram uma cotação de R$ 2,424 e desembolsaram R$ 12.120 – ou R$ 315 a menos.

Os dados fazem parte do ranking de operações de câmbio, à disposição no site do Banco Central. Os números se referem ao valor efetivo total (VET) cobrado, que inclui a taxa de câmbio mais as tarifas e o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras).

Na comparação entre BB e HSBC, considerei duas instituições que fizeram mais de 300 operações naquele valor. Se tomarmos o total das casas de câmbio do país, as pessoas que compraram US$ 5.000 pela Lúmina Corretora de Câmbio gastaram R$ 12.625 em dezembro, em média, enquanto no banco BNP Paribas o valor foi de R$ 11.680, o que dá uma diferença de R$ 925.

Aqui, cabe fazer duas ressalvas. Primeiro, que os dados se referem à média do mês. Portanto, se a maior parte das operações em determinado banco foi feita justamente num dia em que a cotação do dólar estava muito alta, essa instituição financeira vai ficar lá embaixo no ranking, e não necessariamente por ser careira.

Para evitar avaliações erradas, sugiro, então, comparar apenas as instituições que fizeram um grande número de negócios. Isso diminui a chance de que a casa de câmbio avaliada tenha concentrado suas operações em uma data específica.

A segunda ressalva se refere ao fato de que os valores disponíveis no site do BC correspondem às operações já realizadas. As instituições não têm obrigação de comprar ou vender moeda estrangeira, hoje, pelo mesmo preço do mês passado.

Mesmo assim, o ranking é de grande serventia porque oferece um histórico das casas de câmbio. Se uma instituição ficou entre as mais baratas em novembro e dezembro, vale a pena ligar e perguntar qual o VET atual. esses dados são, portanto, um ponto de partida para a pesquisa. Meia dúzia de telefonemas podem significar uma boa economia.

Ranking

Veja, abaixo, as casas de câmbio que apresentaram, nos dois últimos meses, as melhores taxas (do ponto de vista do cliente) para comprar ou vender moeda estrangeira em espécie, para turismo.

Para elaborar cada tabela, listei as 20 instituições que fizeram o maior número de operações e apresento, abaixo, as que apresentaram os melhores valores efetivos totais. Para pesquisar outros valores, basta olhar no site do BC.

MELHORES INSTITUIÇÕES PARA QUEM COMPRA US$ 5.000

InstituiçãoVET por dólar em dezembro (R$)VET por dólar em novembro (R$)VET médio nov./dez.Custo médio nov./dez.
BANCO DO BRASIL S.A.2,4242,3712,397511.988
BEXS CORRETORA DE CÂMBIO S/A2,4372,3792,40812.040
TREVISO CORRETORA DE CÂMBIO S.A.2,4352,3892,41212.060
LEVYCAM – CORRETORA DE CAMBIO E VALORES LTDA.2,4352,3912,41312.065
FAIR CORRETORA DE CAMBIO S.A.2,4392,3892,41412.070
  • Fonte: Banco Central. Elaboração: Achados Econômicos

MELHORES INSTITUIÇÕES PARA QUEM VENDE US$ 1.000

InstituiçãoVET por dólar em dezembro (R$)VET por dólar em novembro (R$)VET médio nov./dez.Receita média da operação nov./dez.
CONECTA CORRETORA DE CÂMBIO LTDA.2,3472,312,32852.328,50
SOL CORRETORA DE CÂMBIO LTDA.2,3012,2562,27852.278,50
MULTIMONEY CORRETORA DE CÂMBIO LTDA2,3012,2552,2782.278,00
TREVISO CORRETORA DE CÂMBIO S.A.2,2922,2442,2682.268,00
NOVO MUNDO CORRETORA DE CÂMBIO S.A.2,2962,2372,26652.266,50
  • Fonte: Banco Central. Elaboração: Achados Econômicos

MELHORES INSTITUIÇÕES PARA QUEM QUER COMPRA € 5.000

InstituiçãoVET por euro em dezembro (R$)VET por euro em novembro (R$)VET médio nov./dez.Custo médio da operação nov./dez.
BANCO DO BRASIL S.A.3,3233,1943,258516.293
FAIR CORRETORA DE CAMBIO S.A.3,3033,2183,260516.303
S. HAYATA CORRETORA DE CÂMBIO S.A.3,333,213,2716.350
DISTRI-CASH DISTRIBUIDORA DE TÍTULOS E VALORES MOBILIÁRIOS S.A.3,3413,2143,277516.388
LEVYCAM – CORRETORA DE CAMBIO E VALORES LTDA.3,3423,2173,279516.398

MELHORES INSTITUIÇÕES PARA QUEM QUER VENDE € 1.000

InstituiçãoVET por euro em dezembro (R$)VET por euro em novembro (R$)VET médio nov./dez. (R$)Receita média da operação nov./dez. (R$)
TREVISO CORRETORA DE CÂMBIO S.A.3,1573,0493,1033.103
MULTIMONEY CORRETORA DE CÂMBIO LTDA3,1413,0343,08753.088
TURMALINA CORRETORA DE CÂMBIO S.A.3,1523,0083,083.080
CONECTA CORRETORA DE CÂMBIO LTDA.3,1083,0263,0673.067
BROKER BRASIL CORRETORA DE CÂMBIO LTDA.3,1472,9873,0673.067
  • Fonte: Banco Central. Elaboração: Achados Econômicos


Brasil sobe 23 posições em ranking de melhores países para fazer negócios
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Sílvio Guedes Crespo

renato cerqueira futurapress estadao conteudo

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O Brasil subiu 23 posições em um ranking de melhores países para fazer negócios, elaborado pela agência de informações financeiras Bloomberg.

O país passou do 61º lugar, na edição do ano passado, para o 38º, no ranking atual. Com isso, o Brasil superou países emergentes como Rússia e Índia, mas manteve-se atrás da China, do Peru e do Chile, assim como de todas as nações desenvolvidas e de algumas em crise, como a Grécia.

Hong Kong se manteve em primeiro lugar, seguido pelo Canadá, que subiu quatro posições, e pelos Estados Unidos, que caíram duas.

A Bloomberg analisou 157 países e deu uma nota de 0 a 100 nos seguintes quesitos: “grau de integração econômica” (peso 10), “custo de iniciar um negócio” (peso 20), “custo do trabalho e do material” (peso 20), “custo de transporte de bens” (peso 20), “custos menos tangíveis” (20) e “mercado consumidor” (10).

Melhores países para fazer negócios

Posição em 2014PaísPosição em 2013Nota
1Hong Kong183.4
2Canadá681.5
3Estados Unidos280.2
4Cingapura880.1
5Austrália679.9
5Alemanha579.9
7Reino Unido1079.4
8Holanda478.0
9Espanha1677.0
10Suécia1276.2
21Chile2672.8
28China2469.6
37Peru5063.3
38Brasil6163.2


Análise

A olho nu, o ranking da Bloomberg parece destoar de muito do que vem sendo constatado historicamente no Brasil.

No quesito “grau de integração econômica”, em que o Brasil teve a maior nota (75,6 pontos), o estudo avalia, entre outras coisas, se as tarifas de importação são baixas e se o grau de “codependência com o mercado global” é alto.

Nossos números não corroboram nem o primeiro nem o segundo ponto. Segundo a Câmara de Comércio Internacional, o Brasil é o país mais protecionista do G-20 (grupo que reúne sete dos países mais ricos, 12 emergentes e a União Europeia).

Em relação ao “custo de iniciar um negócio”, item em que o Brasil teve sua segunda maior nota (68,1 pontos), a Bloomberg analisa o custo não só para abrir uma empresa, como também para financiar um negócio e para trazer dinheiro ao país na forma de investimento estrangeiro direto.

O Banco Mundial, quando examina o custo de abrir uma empresa, em um estudo chamado Doing Business, coloca o Brasil em 130º lugar. Vale notar que a metodologia do BM é criticada por diversos especialistas, inclusive pela Organização Internacional do Trabalho.

Mesmo se descartarmos totalmente o trabalho do Banco Mundial, ainda teremos diversos indícios de que a burocracia no Brasil é excessiva. Nos demais itens analisados, também não há sinais de uma melhora tão abrupta.

O que, então, justificaria uma elevação tão considerável do Brasil no ranking de fazer negócios da Bloomberg?

Variação do dólar em 2013

PaísVariação do dólar (%)Variação do dólar descontada a inflação local (%)
Argentina32,515,5
Brasil14,68,2
Chile9,86,6
Peru9,46,9
Colômbia8,56,5
México0,9-2,9
  • Fonte: Economática

Uma hipótese está na taxa de câmbio. Diferentemente do Doing Business, o ranking da Bloomberg é muito focado em custos, não tanto em tempo gasto. Custo de abrir uma empresa, custo do trabalho e dos insumos (bens usados na produção), custo de mobilidade dos bens etc.

Quando o real se desvaloriza, os custos no Brasil ficam mais baixos, do ponto de vista dos estrangeiros. Mesmo que a eficiência dos nossos portos e aeroportos não melhore, mesmo que os preços do transporte não caiam, mesmo que o custo da mão de obra não baixe, para quem vem de fora o Brasil fica mais barato quando o real perde valor.

No ano passado, o dólar subiu cerca de 15% em relação ao real, o que representou uma alta considerável em comparação com outros países.

A tabela ao lado contém um levantamento da consultoria Economática e mostra a variação da moeda dos EUA em seis países da América Latina. Aponta, ainda, a variação do dólar descontada a inflação do país. Por exemplo, no Brasil, o poder de compra da moeda americana aumentou 8% no ano passado.

 


Opinião: Problema é a qualidade do emprego, não a quantidade
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Sílvio Guedes Crespo

Atualizado dia 22/01 às 11h05

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A economia brasileira sofreu uma forte desaceleração nos últimos anos e tem vários problemas a serem enfrentados. O número de empregos não é um deles.

Cada vez que são divulgados os dados do Ministério do Trabalho sobre empregos formais, temos a notícia de queda na geração de postos de trabalho. Nesta terça-feira, por exemplo, ficamos sabendo que a criação de empregos em 2013 foi a menor dos últimos dez anos.

Um desavisado poderia entender que o mercado de trabalho do país vive o seu pior momento desde 2003. Mas não é isso que os dados dizem.

Os números mostram uma queda no ritmo de aumento do emprego, e não uma redução da quantidade de pessoas empregadas. Em 2013, havia 1,1 milhão de trabalhadores com carteira assinada a mais do que em 2012. É isso o que diz o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), recém atualizado.

empregos formais serie historica caged ministerio trabalho achados economicos

Se contarmos desde 2002, data em que se iniciou a série de levantamentos feitos pelo Ministério do Trabalho, o mercado de trabalho nacional aumentou em 19 milhões de empregos formais (gráfico acima).

Não é surpreendente que a criação de postos de trabalho cresça em ritmo cada vez mais lento, uma vez que a população ativa do país está em desaceleração.

Se as empresas abrissem vagas a um ritmo superior ao do crescimento do número de pessoas que querem trabalhar, chegaríamos um dia a uma situação em que todos os brasileiros estariam empregados. Não sobrando mais ninguém para ser contratado, teríamos a notícia de que o mercado de trabalho estaria em crise, pois naquele momento não eram gerados mais empregos.

Emprego

Um recuo no ritmo de aumento dos empregos formais só representa uma deterioração do mercado de trabalho se a taxa de desemprego e o grau de informalidade estiverem altos ou em ascensão.

No caso da taxa de desemprego, as pesquisas divulgadas até agora indicam que ela caiu na década passada e depois se manteve no patamar mais baixo já registrado. O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) apontou que a desocupação ficou em 4,6% em novembro passado, menor número da série de dados, iniciada em 2002.

A OIT (Organização Internacional do Trabalho) calcula que a taxa de desemprego no Brasil caiu de 8,1%, em 2007, para 6,7% em 2013. O Dieese estima que o número tenha passado de 14%, em 2009, para 10,5%, em 2012, atingindo 9,5% em novembro do ano passado (número mais recente).

Uma pesquisa mais abrangente do IBGE, lançada na semana passada, apontou que existem hoje 61 milhões de pessoas fora da força de trabalho – outro dado que pode levar desavisados a uma interpretação errada.

Pelos novos conceitos do IBGE (que são os mesmo da OIT), “força de trabalho” é o grupo dos que estão trabalhando ou estão disponíveis para trabalhar. Ou seja, esses 61 milhões são pessoas que não estão disponíveis e, por isso, não são chamadas de desempregadas. Tirando os menores de 18 anos e os maiores de 60, há 30 milhões de brasileiros fora da força de trabalho por decisão própria.

Em relação à informalidade, dados do IBGE mostram que, apesar de alta, ela vem caindo continuamente desde pelo menos 2002.

Renda

Outro sinal de que o mercado de trabalho não está encolhendo é o fato de que a renda da população, em média, está acompanhando a inflação, o que é confirmado por diversos institutos de pesquisa.

O IBGE constatou que o rendimento médio das pessoas ocupadas era de R$ 1.608 em outubro de 2011, ou R$ 1.805 em valores atualizados pela inflação. Passou para R$ 1.801 no mesmo mês de 2012 (R$ 1.907 em valores atuais) e R$ 1.954 no penúltimo mês do ano passado (R$ 1.964, em número atualizado). Ou seja, houve uma alta de 6% acima da inflação em 2012 e de 3% em 2013.

O Dieese também constatou um aumento da renda média, mas em ritmo menor: 2,6% acima da inflação em 2012 e 1,3% nos 12 meses encerrados em outubro de 2013 (número mais atual).

A classe média não percebe o aumento da renda porque ele se concentra entre as camadas mais baixas e também entre mais ricos.

Uma pesquisa da consultoria Mercer constatou que, em 2013, os funcionários de cargos operacionais (os mais baixos da hierarquia) conseguiram um aumento salarial médio de 12,5% (nesse caso, sem descontar a inflação). Os presidentes de empresas tiveram reajuste médio de 5,2%. Todos os demais grupos, no entanto, ficaram com reajuste de 3,3% ou menos – ou seja, perderam dinheiro, já que a inflação chegou perto de 6%.

Uma dica para os que não acreditam em pesquisas é observar a experiência própria. Tente se lembrar de quanto você pagava para sua empregada doméstica há cinco anos e quanto paga hoje. Compare essa evolução com o seu próprio salário. Note como ficou difícil encontrar, em São Paulo, uma faxineira que cobre menos de R$ 90 por dia.

Qualidade

O problema do mercado de trabalho, hoje, não está relacionado ao número de pessoas empregadas ou desempregadas, mas sim ao fato de que a renda média não está mais crescendo no mesmo compasso dos anos 2000. Hoje, ela não sobe muito mais do que a inflação – e, considerando a desaceleração recente, é possível que logo o rendimento médio passe a cair, em comparação com o aumento dos preços de bens e serviços.

Uma vez que a taxa de desemprego está baixa, o desafio não é tanto gerar novos empregos, mas melhorar a qualidade dos que já existem. A renda média, na década de 2000, aumentou porque muita gente estava desempregada e foi absorvida pelo mercado de trabalho. Esse ganho foi puxado por uma economia que crescia com a expansão do crédito, com o aumento das exportações para a China e com a chegada de investimentos estrangeiros no país.

Agora que caiu muito a quantidade de pessoas à disposição dos empregadores, a saída é aumentar a produtividade dos empregos que já existem. O problema é que isso exige soluções de longo prazo, como a melhora da educação e da infraestrutura, além da diminuição da burocracia.

No curto prazo, no entanto, também há o que ser feito. O mais urgente talvez seja o governo recuperar a credibilidade junto a investidores. Por exemplo, cumprindo rigorosamente as metas de inflação e de economia para pagamento de juros. Ainda, é necessário permitir que a concorrência, não uma canetada do governo, defina os resultados dos processos de concessão da infraestrutura.

* No título, substituída a palavra ‘número’ por ‘quantidade’ no dia 22/01 às 11h05


IBGE muda pesquisa e apresenta taxa de desemprego maior
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Sílvio Guedes Crespo

Atualizado às 12h08

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O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) lançou uma nova série de pesquisas sobre o mercado de trabalho, com mudanças na metodologia e abrangência maior.

Nos seus primeiros resultados, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, ou simplesmente Pnad Contínua, indicou um desemprego maior do que o registrado pela tradicional Pesquisa Mensal de Emprego (PME), cuja metodologia havia sido alterada pela última vez em 2002.

A taxa de desocupação no país foi de 7,4% no segundo trimestre do ano passado, de acordo com o dado mais recente da Pnad Contínua. Já a PME registrara 5,8% em abril e maio, e 6% em junho, o que dá uma média de 5,9%.

O gráfico abaixo mostra a diferença entre as duas pesquisas, considerando a taxa média da PME em cada trimestre.

pnad continua e pme

 

Novos dados

A Pnad contínua mostrou, ainda, que existiam no país 90,6 milhões de pessoas ocupadas no segundo trimestre do ano passado, 1 milhão a mais do que em igual período de 2012. A população desocupada era de 7,3 milhões de pessoas no período de abril a junho de 2013, o mesmo número registrado um ano antes.

A região com maior taxa de desemprego foi o Nordeste (10% no segundo trimestre do ano passado), seguida pelo Norte (8,3%). A desocupação ficou abaixo da média nacional no Sudeste (7,2%), no Centro-Oeste (6%) e no Sul (4,3%).

Esses números são inéditos, uma vez que a pesquisa anterior trazia registros apenas de seis regiões metropolitanas.

Por outro lado, a Pnad Contínua ainda não traz informações sobre a renda da população, como faz a PME. O IBGE planeja divulgar até o final do ano.

Substituição

A Pnad Contínua vai substituir a PME e também a Pnad, que registra anualmente dados não apenas sobre mercado de trabalho, mas inclusive a respeito de temas como educação, migração e trabalho infantil. A nova pesquisa divulgará dados sobre o mercado de trabalho a cada trimestre e sobre os demais temas uma vez por ano.

A PME continuará sendo divulgada até o final do ano. A partir de 2015, ela deixará de existir, de modo que a Pnad Contínua se tornará a responsável por registrar a taxa oficial de desemprego do país.

Por enquanto, a nova pesquisa, que será trimestral, trouxe dados somente do período de janeiro de 2012 a junho de 2013. No dia 28 de março, serão divulgados os números referentes ao segundo semestre do ano passado. Em maio, os dados corresponderão ao primeiro trimestre de 2014. Em agosto, sairão os dados sobre o segundo trimestre.

Diferenças

Uma das principais diferenças entre as três pesquisas é a amplitude. A PME entrevistava pessoas em 44 mil domicílios localizados em seis regiões metropolitanas (Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre). A Pnad abrangia 147 mil domicílios em 1.100 municípios . Já a Pnad Contínua tem uma amostra de 211 mil domicílios em 3.500 municípios.

A PME era mensal, enquanto a Pnad era anual. A nova pesquisa divulgará trimestralmente dados sobre o mercado de trabalho a respeito do Brasil como um todo e das grandes regiões (Norte, Nordeste etc.) e anualmente os números sobre emprego e desemprego separados por Estado, além de disponibilizar o banco de dados para que o cidadão possa fazer pesquisas mais detalhadas. Também uma vez por ano, a Pnad Contínua vai apresentar os dados referentes a outros temas, como educação, migração e trabalho infantil.

As pesquisas têm diferenças também sobre os conceitos usados. Por exemplo, a PME e a Pnad consideravam que as pessoas de dez anos ou mais estavam em idade de trabalhar. Na nova metodologia, esse limite mínimo subiu para 14 anos.

Outra diferença importante é o conceito de desocupação. Na PME, só era considerada desempregada a pessoa que, além de estar sem trabalho e disponível para entrar no mercado, havia procurado emprego nos últimos 30 dias. Já na Pnad contínua, estar sem ocupação e ao mesmo tempo disponível para um emprego é o suficiente para a pessoa ser considerada desocupada.

Esse ajuste deve pôr fim a uma das principais críticas que a PME sofria, a de chamar de “inativo” o trabalhador que havia desistido de procurar emprego, mas continuava interessado em voltar ao mercado.

Conceitos

A Pnad Contínua também mudou alguns conceitos com o objetivo de se encaixar em um padrão definido na OIT (Organização Internacional do Trabalho).

A pesquisa trocará a expressão “População Economicamente Ativa” (PEA), que se refere à soma das pessoas ocupadas e desocupadas, por Força de Trabalho. O termo “População em Idade Ativa” (PIA) será substituído por “População em Idade de Trabalhar”.

Vale destacar, ainda, que a Pnad Contínua introduzirá o conceito de subocupação, referente às pessoas que estão ocupadas, mas com um número de horas de trabalho insuficiente para serem consideradas ocupadas.

A taxa de desocupação ainda não foi divulgada, mas o IBGE promete lançá-la dentro da Pnad Contínua.


Indústria reduz pagamento a trabalhador pela 1ª vez desde 2010
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Sílvio Guedes Crespo

Atualizado às 13h08*

industria shutterstock

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Após anos de aumento contínuo de salários sem uma elevação correspondente da produtividade, a indústria reduziu o pagamento aos trabalhadores.

Em novembro, cada funcionário recebeu, em média, 2% menos do que em igual mês de 2012. Nesse tipo de comparação, os gastos dos industriais por trabalhador não caíam desde maio de 2010 (veja gráfico abaixo).

Os números foram divulgados nesta terça-feira pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e se referem ao pagamento real, ou seja, corrigido pela inflação.

folha de pagamento por trabalhador industrial

Como a inflação foi de quase 6% no ano passado, pode-se deduzir que os gastos por trabalhador não diminuíram nominalmente. O que ocorreu foi uma perda do poder aquisitivo. Dito de forma mais clara, a inflação está corroendo o salário do funcionário industrial.

Ao mesmo tempo, essa situação pode permitir ao patrão realizar um ajuste que vem buscando há meses. Se a empresa consegue aumentar o preço dos seus produtos sem elevar na mesma proporção os gastos por trabalhador, ela melhora sua produtividade e tem mais chance de se manter no mercado ou mesmo se expandir futuramente.

Emprego

A indústria vem cortando empregos desde 2011. O número de trabalhadores ocupados no setor diminuiu em todos os meses desde outubro daquele ano, sempre na comparação com igual período do ano anterior. Porém, os gastos das empresas com salários não caíam (gráfico abaixo).

pessoal ocupado industria

Esta aparente contradição – corte de empregos combinado com aumento de gastos com salários – ocorreu possivelmente porque os demitidos encontraram trabalho no setor de serviços.

Outro possível motivo da contradição está no custo da demissão. Os encargos trabalhistas pagos após os cortes entram na estatística como parte da folha de pagamento.

O que está havendo

A indústria brasileira está em crise. De janeiro a novembro do ano passado (dado mais recente), a produção aumentou apenas 1,4%, segundo o IBGE – crescimento insuficiente para compensar a queda de 2,5% registrada em igual período de 2012.

Permanecem os velhos problemas que as empresas sempre tiveram no país, como a infraestrutura precária, a burocracia excessiva, os juros altos (que apesar de terem caído em comparação com 20 anos atrás, ainda são elevados em relação à maioria dos países) e outros.

Mais recentemente, acrescentou-se a isso outro fator: o aumento de salários. Em 2003, somente 19% dos acordos coletivos entre patrões e empregados resultou em reajuste acima da inflação, segundo o Dieese. Já em 2012, a proporção saltou para 95%.

O setor de serviços consegue mais facilmente repassar esse aumento salarial para os preços. Não dá para importar, por exemplo, um corte de cabelo. Quando o dono do salão se vê obrigado a dar reajuste para o funcionário, ele pode simplesmente subir o preço do corte, se houver quem pague. E tem havido.

Já a indústria, que enfrenta a concorrência externa, não pode fazer o mesmo. Se a mercadoria nacional fica mais cara que a estrangeira, o cliente simplesmente opta pelo produto importado.

Para se adaptar, no ano passado a indústria passou por um ajuste. O setor reduziu seu quadro de pessoal e investiu em máquinas. De janeiro a novembro, a produção de bens de capital (equipamentos usados na produção) cresceu 14%. Ao mesmo tempo, as empresas demitiram funcionários, como aponta o gráfico acima.

O ajuste pode não ter terminado ainda, de modo que tenhamos mais cortes na indústria nos próximos meses. O movimento pode beneficiar o setor, sem um custo social alto, pois a taxa de desemprego continua no patamar mais baixo desde 2002.

Ao mesmo tempo, a recente alta do dólar, por causa da recuperação americana, também pode ajudar a indústria. Mas aqui existem dois “poréns”. Primeiro, muitas das máquinas usadas no setor são importadas, de modo que a desvalorização do real aumenta parte dos custos. Em segundo lugar, ao mesmo tempo em que o dólar alto barateia os produtos nacionais, a inflação os encarece. Os ganhos de competitividade gerados pelo câmbio são parcialmente comidos pela alta dos preços.

Ainda, deve-se considerar que o crédito tende a se expandir em ritmo mais lento em 2014 – de forma que as pessoas terão menos dinheiro para consumir bens industriais. Para piorar, a taxa de juros está subindo, o que desestimula os investimentos.

Não me parece que exista uma saída, portanto, que não passe pelo aumento da produtividade do país como um todo, por meio de mais leilões de infraestrutura. Eles não só trazem dinheiro ao Brasil, como barateiam os custos das empresas. As concessões precisam acelerar.

* Incluído comentário sobre emprego às 11h52 e o item ‘O que está havendo’ às 13h08


Inflação anual de Dilma é próxima à de Lula e inferior à de FHC
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Sílvio Guedes Crespo

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Embora a presidente Dilma Rousseff seja duramente acusada de leniência com a inflação, o ritmo de aumento de preços durante o seu governo é próximo ao do período Luiz Inácio Lula da Silva e inferior ao da gestão Fernando Henrique Cardoso.

A inflação foi de 6,5% em 2011, 5,84% em 2012 e 5,91% em 2013, o que dá uma média anual de 6,1%. Na era Lula (2003 a 2010), os preços subiram 5,8% ao ano. Já na gestão FHC (1995 a 2002), o aumento médio foi de 9,1%.

Os dados se referem ao Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), principal indicador oficial de inflação, calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

inflacao fhc lula dilma ibge

As críticas à presidente Dilma provavelmente resultam da avaliação, por parte de analistas, de que neste momento histórico existem condições para o governo manter a inflação em um nível mais baixo.

Tanto Lula quanto FHC tiveram que enfrentar a inércia de uma inflação alta deixada por seus respectivos antecessores.  Em 1994, um ano antes de o tucano chegar à Presidência, os preços haviam subido 917%, de modo que a alta de 22% no ano seguinte – que seria um escândalo nos dias atuais – foi vista como um alívio.

Em 2002, antes da posse de Lula, a inflação havia sido de 12,5%. O resultado de 9,3% no primeiro ano do petista também foi, portanto, um avanço.

Com Dilma, ocorreu o contrário. O gráfico acima mostra que a inflação vinha caindo gradativamente em cada mandato presidencial até chegar o governo atual, que interrompeu essa trajetória.

Para recordar, a inflação foi de 135% ao ano com Figueiredo, 586% com Sarney, 735% com Collor e 1.519% com Itamar. Justiça seja feita, foi no governo Itamar Franco que a hiperinflação acabou. O IPCA subiu 757% no primeiro semestre de 1994 e apenas 19% no segundo, época em que FHC era ministro da Fazenda.

FHC

Fernando Henrique Cardoso passou o primeiro mandato combatendo fortemente a inflação, pois essa postura o havia colocado na Presidência e disso dependeria a sua reeleição.

De 22% em 1995, o IPCA passou a 10%, 5% e 2% em cada um dos anos seguintes, respectivamente. O gráfico abaixo deixa clara a redução drástica da inflação a partir de 1995.

inflacao no brasil 1980 - 2013

Desde o início, FHC usou intensamente o câmbio como uma das armas do combate ao aumento de preços, em vez de conter com mais força os gastos públicos. Mantendo o real forte em relação ao dólar, os produtos importados ficaram baratos para os brasileiros ao longo de todo o primeiro mandato.

A estratégia gerou um rombo nas contas externas do país e provocou críticas dentro do próprio governo. Chamada de “âncora cambial”, a política foi classificada de “populismo cambial” pelo então ministro José Serra.

Com o real caro, o preço dos produtos brasileiros fica alto e a nossa indústria tem dificuldade para competir com os estrangeiros. Resultado: as importações aceleram e as exportações pisam no freio. A âncora cambial fez o saldo comercial do Brasil (diferença entre exportações e importações) acumular uma perda de US$ 22 bilhões durante o primeiro mandato de FHC. Analistas passaram a desconfiar que, cedo ou tarde, faltariam dólares no país.

Após crises em países emergentes, investidores observaram os fracos fundamentos da nossa economia à época e especularam contra o real. Em janeiro de 1999, o governo teve que fazer uma forte desvalorização da moeda nacional e abandonar a âncora cambial.

Com a queda do real, o saldo comercial melhorou, mas a inflação aumentou. Um ajuste fiscal forte, que poderia ter sido feito no primeiro mandato, acabou tendo que ser feito no segundo, paralelamente a uma elevação considerável da taxa básica de juros.

Num contexto de impostos altos, corte de gastos públicos e juros elevados, a economia travou, provocando aumento do desemprego e queda da renda da população. Dessa forma, FHC fechou as portas do Planalto para os tucanos por pelo menos 12 anos.

Lula

A política de combate à inflação no governo Lula começou com uma carta aberta do recém empossado presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, ao ministro da Fazenda, Antonio Palocci, pedindo para ajustar a meta de aumento de preços de 4% para 8,5%.

Meirelles explicava que a inércia da inflação do ano anterior seria responsável, sozinha, por 4 pontos percentuais da alta de preços em 2003. Dessa forma, o primeiro mandato do governo Lula começou com uma inflação de 9,3%, em 2003, e terminou com uma de 3,14%, em 2006.

Diferentemente do que ocorreu no segundo mandato de FHC, no governo Lula o câmbio ajudou a segurar a inflação, pois os preços de matérias-primas – que são o forte do Brasil – dispararam no mercado internacional. As exportações batiam recorde anualmente, o que permitiu ao país importar cada vez mais produtos baratos sem causar um rombo nas contas externas.

O cenário permitiu ao Banco Central baixar drasticamente a taxa básica de juros sem pressionar a inflação.

O bom resultado das exportações gerou confiança dos investidores internacionais e os estimulou a colocar dinheiro no setor produtivo brasileiro. A entrada de dólares permitiu ao país passar de devedor a credor externo. Em um cenário mais estável, o crédito pôde avançar, gerando consumo, emprego e renda.

Com a crise financeira internacional em 2008, a atividade econômica brasileira esfriou, e o presidente Lula passou a injetar dinheiro na economia por meio de empréstimos de bancos públicos.

A inflação, então, voltou a subir e terminou o ano de 2010 em 5,91% – mesmo número alcançado por Dilma em 2013. Porém, naquele momento a economia brasileira cresceu 7,5% (contra os cerca de 2% no ano passado), de modo que Lula terminou seu segundo mandato como o presidente mais popular do mundo e, diferentemente de FHC, elegeu sua sucessora.

Dilma

A presidente Dilma Rousseff pegou um cenário internacional mais difícil do que Lula. Ela não pode contar com o câmbio para controlar a inflação, como fizeram Lula e FHC em seu primeiro mandato.

Com o real valorizado, as importações avançariam muito e não haveria como elevar as exportações o suficiente para compensar a saída de dólares. A China e a Europa, dois de nossos principais clientes, desaceleraram o ritmo de compra de produtos brasileiros.

Ainda, a concessão de crédito aumentou. Ao mesmo tempo, a taxa básica de juros, um dos principais instrumentos de controle de preços, foi reduzida pelo Banco Central nos dois primeiros anos do governo Dilma. Esses dois movimentos fizeram crescer a quantidade de dinheiro disponível na economia, sem a contrapartida do aumento dos investimentos e da produtividade. A consequência foi uma inflação acima do centro da meta por três anos seguidos.

A acusação à presidente de leniência com a inflação parte da ideia de que o governo não deveria aumentar a circulação de dinheiro no país sem que houvesse um aumento de produtividade. Seria melhor respeitar as metas ainda que isso gerasse algum custo social de curto ou médio prazo – como o aumento do desemprego.

Ainda, o uso de métodos não convencionais para segurar os preços – por exemplo, o subsídio à energia elétrica e à gasolina e também o baixo reajuste aos preços administrados – é uma postura que gera desconfiança no mercado.

Cumprir a promessa oficial de uma inflação de 4,5% seria uma das medidas para dar previsibilidade ao mercado e ganhar a confiança de investidores. Combinado com outras decisões – como a de não maquiar os dados das contas públicas e realizar mais concessões de infraestrutura ao setor privado –, o controle dos preços ajudaria a atividade econômica a se recuperar no longo prazo.

***

Com este post, o blog Achados Econômicos dá continuidade a uma série de comparações entre os indicadores econômicos registrados durante os mandatos dos últimos presidentes do país. O tema será abordado cada vez que um número conjuntural sobre o ano fechado de 2013 for divulgado. O primeiro foi sobre a balança comercial, cujo saldo caiu á metade no governo Dilma.