Achados Econômicos

Brasil sobe 23 posições em ranking de melhores países para fazer negócios

Sílvio Guedes Crespo

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O Brasil subiu 23 posições em um ranking de melhores países para fazer negócios, elaborado pela agência de informações financeiras Bloomberg.

O país passou do 61º lugar, na edição do ano passado, para o 38º, no ranking atual. Com isso, o Brasil superou países emergentes como Rússia e Índia, mas manteve-se atrás da China, do Peru e do Chile, assim como de todas as nações desenvolvidas e de algumas em crise, como a Grécia.

Hong Kong se manteve em primeiro lugar, seguido pelo Canadá, que subiu quatro posições, e pelos Estados Unidos, que caíram duas.

A Bloomberg analisou 157 países e deu uma nota de 0 a 100 nos seguintes quesitos: “grau de integração econômica” (peso 10), “custo de iniciar um negócio” (peso 20), ''custo do trabalho e do material'' (peso 20), “custo de transporte de bens” (peso 20), “custos menos tangíveis” (20) e “mercado consumidor” (10).

Melhores países para fazer negócios

Posição em 2014PaísPosição em 2013Nota
1Hong Kong183.4
2Canadá681.5
3Estados Unidos280.2
4Cingapura880.1
5Austrália679.9
5Alemanha579.9
7Reino Unido1079.4
8Holanda478.0
9Espanha1677.0
10Suécia1276.2
21Chile2672.8
28China2469.6
37Peru5063.3
38Brasil6163.2


Análise

A olho nu, o ranking da Bloomberg parece destoar de muito do que vem sendo constatado historicamente no Brasil.

No quesito “grau de integração econômica”, em que o Brasil teve a maior nota (75,6 pontos), o estudo avalia, entre outras coisas, se as tarifas de importação são baixas e se o grau de “codependência com o mercado global” é alto.

Nossos números não corroboram nem o primeiro nem o segundo ponto. Segundo a Câmara de Comércio Internacional, o Brasil é o país mais protecionista do G-20 (grupo que reúne sete dos países mais ricos, 12 emergentes e a União Europeia).

Em relação ao “custo de iniciar um negócio”, item em que o Brasil teve sua segunda maior nota (68,1 pontos), a Bloomberg analisa o custo não só para abrir uma empresa, como também para financiar um negócio e para trazer dinheiro ao país na forma de investimento estrangeiro direto.

O Banco Mundial, quando examina o custo de abrir uma empresa, em um estudo chamado Doing Business, coloca o Brasil em 130º lugar. Vale notar que a metodologia do BM é criticada por diversos especialistas, inclusive pela Organização Internacional do Trabalho.

Mesmo se descartarmos totalmente o trabalho do Banco Mundial, ainda teremos diversos indícios de que a burocracia no Brasil é excessiva. Nos demais itens analisados, também não há sinais de uma melhora tão abrupta.

O que, então, justificaria uma elevação tão considerável do Brasil no ranking de fazer negócios da Bloomberg?

Variação do dólar em 2013

PaísVariação do dólar (%)Variação do dólar descontada a inflação local (%)
Argentina32,515,5
Brasil14,68,2
Chile9,86,6
Peru9,46,9
Colômbia8,56,5
México0,9-2,9
  • Fonte: Economática

Uma hipótese está na taxa de câmbio. Diferentemente do Doing Business, o ranking da Bloomberg é muito focado em custos, não tanto em tempo gasto. Custo de abrir uma empresa, custo do trabalho e dos insumos (bens usados na produção), custo de mobilidade dos bens etc.

Quando o real se desvaloriza, os custos no Brasil ficam mais baixos, do ponto de vista dos estrangeiros. Mesmo que a eficiência dos nossos portos e aeroportos não melhore, mesmo que os preços do transporte não caiam, mesmo que o custo da mão de obra não baixe, para quem vem de fora o Brasil fica mais barato quando o real perde valor.

No ano passado, o dólar subiu cerca de 15% em relação ao real, o que representou uma alta considerável em comparação com outros países.

A tabela ao lado contém um levantamento da consultoria Economática e mostra a variação da moeda dos EUA em seis países da América Latina. Aponta, ainda, a variação do dólar descontada a inflação do país. Por exemplo, no Brasil, o poder de compra da moeda americana aumentou 8% no ano passado.