Achados Econômicos

Arquivo : janeiro 2014

Salário mínimo cresce menos que preço de produtos básicos em 2013
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Sílvio Guedes Crespo

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O salário mínimo interrompeu a trajetória de aumento de poder de compra ante produtos básicos, de acordo com dados do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos).

A entidade calcula o salário mínimo necessário, com base em trecho da Constituição segundo o qual a remuneração de um trabalhador deve ser suficiente para suprir pelo menos as despesas básicas de uma família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social.

De acordo com o Dieese, o salário necessário em 2013 ficou em R$ 2.765, um valor 4,1 vezes maior do que o salário mínimo vigente no ano passado (R$ 678).

Em 2012, o salário necessário era 4 vezes maior que o mínimo. Isso quer dizer que este cresceu um pouco menos do que o preço dos produtos que o Dieese considera necessários para uma família.

Olhando para um prazo mais longo, no entanto, vemos que a vida de quem ganha o mínimo é hoje bem menos sofrida, ao menos materialmente, do que era há duas décadas.

Em 1994, o salário necessário era mais de 10 vezes o valor do mínimo. Ou seja, quem ganhava o piso nacional não conseguia comprar nem 10% das necessidades básicas para viver.

 AnoSalário mínimo
(R$)
Salário necessário
(R$)
Salário necessário dividido pelo salário mínimo
19946869110,1
1995907408,2
19961087957,4
19971178036,8
19981278786,9
19991349016,7
20001479676,6
200117310736,2
200219511896,1
200323014216,2
200425314835,9
200529015105,2
200633815014,4
200737316804,5
200840920024,9
200946120424,4
201051021104,1
201154422724,2
201262224644,0
201367827654,1

Dados industriais de novembro apontam pessimismo exagerado de analistas
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Sílvio Guedes Crespo

estimativas de analistas producao industrial 001

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A produção industrial em novembro foi 0,2% inferior à de outubro, o que pôs fim a uma série de três meses seguidos de crescimento, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Em comparação com novembro de 2012, a atividade cresceu 0,4% no penúltimo mês de 2013.

Os dados não são animadores, ainda mais por ter sido justamente o setor de bens de capital (máquinas usadas na produção – portanto, um indicativo de como andam os investimentos no país) o responsável pela retração da produção industrial de outubro para novembro.

Mesmo assim, os números representam um alívio diante das expectativas de analistas, pois mostram que houve um pessimismo exagerado nas projeções.

Antes da divulgação dos dados, o jornal “Valor Econômico” havia perguntado a 20 consultorias e instituições financeiras quais as estimativas delas para a produção industrial em novembro. Todas esperavam um quadro pior do que o registrado depois pelo IBGE.

Nenhuma das 20 casas consultadas – entre elas as mais importantes do país – estimava que a indústria havia crescido em relação a novembro de 2012, conforme indica o gráfico acima.

Analistas raramente acertam suas projeções com exatidão. Nem se espera que o façam. É normal que às vezes errem um pouco mais para cima, outras, mais para baixo. Mas um desvio como o atual, de todos apostarem em queda e depois o dado oficial indicar alta, não é tão  comum.

‘Guerra psicológica’

Até o começo do ano passado, a situação era inversa. Os analistas estavam otimistas além da conta. Em janeiro de 2012, eles previam alta de 4% na produção industrial de 2013. Um ano depois, a projeção caiu para 3%. Hoje, sabe-se que o setor dificilmente avançou 2%, pois de janeiro a novembro a alta foi de apenas 1,4%.

O pessimismo excessivo de que fala este post se refere apenas às estimativas para a produção industrial de novembro. Para constatar se, de fato, existe um descolamento contínuo e generalizado entre as análises econômicas e a realidade, seria necessário examinar as projeções ao longo de um período maior e incluir também outros indicadores.

Em relação ao que a presidente Dilma Rousseff chamou de “guerra psicológica” (que, nesse contexto, significa uma tentativa da oposição de difundir mais as notícias ruins do que as boas), o mais provável é que isso exista mesmo e que o governo também esteja envolvido na briga. É natural, esperado e até óbvio que quem está no poder queira valorizar os dados positivos e que quem está na oposição faça o inverso. Caberá à população colocar os dois lados na balança e fazer sua própria avaliação.


Queda da produção de máquinas trava indústria em novembro
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Sílvio Guedes Crespo

industria leonardo soares uol
A pesquisa sobre a produção industrial brasileira divulgada nesta quarta-feira trouxe uma notícia boa e uma ruim.

A boa: o setor não está tão mal quanto imaginavam muitos analistas. A ruim: a queda da atividade em novembro foi causada justamente pela retração do segmento de bens de capital, ou seja, de máquinas usadas na produção – sinal de redução nos investimentos.

O ramo de bens de capital encolheu 2,6% de outubro para novembro. Trata-se de um segmento em que se depositam parte das expectativas de retomada da indústria brasileira. Se há gente produzindo e vendendo máquinas para fábricas, há necessariamente alguém que pretende usá-las.

Essa categoria da indústria é importante especialmente neste momento, em que o país tenta passar de um modelo de crescimento baseado no consumo para outro fundado no investimento. (O primeiro, que caracterizou a era Lula, está se esgotando, pois a população já compromete com dívidas uma parte muito grande da sua renda, o que limita o crescimento do consumo.)

Mas o que vemos na mais recente pesquisa do IBGE é justamente uma interrupção, momentânea ou não, dessa trajetória.

Variação da produção industrial em novembro de 2013 (%)

CategoriaEm relação a outubroEm relação a novembro de 2012Acumulado jan-novAcumulado em 12 meses
Bens de capital-2,69,614,211,6
Bens intermediários1,21,30,20
Bens de consumo0,5-2,20-0,1
Indústria geral-0,20,41,41,1
  • Fonte: IBGE


Sente-se um alívio quando se observa que, na comparação com novembro de 2012, a produção de bens de capital cresceu 9,6%.

É preciso notar, no entanto, que pouco tempo atrás a situação era bem melhor. Em outubro do ano passado, o segmento havia avançado 18,4% em relação ao mesmo mês de 2012. Em setembro, a alta havia sido de 23,4%.

Trata-se, portanto, de uma desaceleração nada desprezível do setor de bens de capital, o que reduz a probabilidade de retomada da indústria.

Economistas têm afirmado que essa desaceleração se deve ao aumento dos estoques da indústria, o que leva o setor a não elevar a produção – ou mesmo a reduzi-la – até conseguir vender parte do que está guardado.

Pernas mancas

Os números da pesquisa do IBGE reforçam a hipótese, defendida neste blog em textos anteriores, que a economia brasileira neste momento não está nem diante de uma catástrofe, como querem fazer crer alguns, nem dá sinais de que vai deslanchar, como o governo tenta fazer crer. Tudo indica que estamos apenas medíocres.

Quem melhor descreveu nossa atual situação, surpreendentemente, foi o ministro Guido Mantega. Após várias projeções que se mostraram excessivamente otimistas e foram desmentidas pela realidade, ele recentemente resolveu ser menos exagerado e disse que o país cresce com as duas pernas mancas.


Preço de imóvel residencial no Brasil tem 2ª maior alta entre 23 países
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Sílvio Guedes Crespo

Atualizado às 23h16

foto sao paulo andre penner afp

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O Brasil registrou a segunda maior alta no preço de imóveis residenciais no ano passado, em uma lista de 23 países monitorados pela revista “The Economist”.

As moradias ficaram 12,8% mais caras em 2013, um aumento que só fica atrás ao dos Estados Unidos (13,6%).

Os preços no Brasil subiram mais do que, por exemplo, em Hong Kong e na China, onde, segundo a revista, há risco de bolha por causa dos baixos níveis de ocupação registrados recentemente.

Apesar de terem a segunda maior alta entre os países listados, os preços de residências no Brasil estão aumentando menos do que em anos anteriores.

Uma pesquisa da Fipe-Zap constatou que houve um reajuste médio de 12,7% no preço do metro quadrado em sete capitais no ano passado – mais brando, portanto, do que em 2012.

preco imoveis brasil paises economist 01

Diferentemente do que ocorre no Brasil, nos EUA, o primeiro país da lista na pesquisa da “Economist”, a alta de 2013 veio após uma forte queda verificada em anos anteriores.

Em 2012, por exemplo, o preço da moradia nos EUA caiu 5,9%. Com isso, o país acumula um aumento de apenas 11,3% desde 2010. No mesmo período, o Brasil registrou um reajuste de 67% – o mais alto entre os países listados. Hong Kong ficou em segundo (56,5%), muito à frente do terceiro, a Alemanha, com 19,7%.

Com exceção da Alemanha, nos países ricos os preços acumularam queda no período, ou uma alta muito pequena. Desde 2010, os imóveis residenciais caíram na Irlanda (-21,6%), Espanha (-19,5%), Holanda (-15%), Itália e Japão (-7,2% cada), entre outros. Tiveram leve alta no Reino Unido (3,9%) e na França (2,9%).

Metodologia

A pesquisa da revista The Economist deve ser vista com cautela porque ela não converte os preços para uma mesma moeda nem desconta a inflação de cada país. No Brasil, houve queda do real em 2013, de modo que a variação dos preços em dólar foi certamente menor, ou mesmo negativa.

Desse modo, a pesquisa não serve, por exemplo, para investidores internacionais que estão em dúvida se compram imóvel no Brasil ou em outro país.

Por não descontar a inflação, também não dá conta de explicar quanto, em cada local analisado, os imóveis subiram em comparação com o preço de outros bens.

Ainda assim, serve para dar uma ideia da diferença de tendência de preço de imóveis em vários países, do ponto de vista da população local. Por exemplo, os italianos estão hoje pagando menos pelos imóveis do que há um ano, enquanto os brasileiros e americanos estão pagando mais.

Alguns leitores disseram, ainda, que este texto comparou dados da FipeZap com índices de outros países. Não. Conforme está claro no gráfico, a fonte dos dados citados na comparação internacional é uma só: a revista The Economist, que monitora os preços de imóveis desses países.

A FipeZap é uma outra pesquisa, separada, sem comparação internacional, que citei neste texto como informação complementar porque foi divulgada hoje (6) e aponta uma desaceleração nos preços.

* Acrescentada explicação sobre metodologia às 23h16


Em dólar, valor da Petrobras encolhe 57% desde a capitalização, em 2010
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Sílvio Guedes Crespo

Atualizado às 15h53*

plataforma petrobras divulgacao

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A Petrobras encerrou o ano de 2013 cotada, em dólares, por menos da metade do que valia no final de 2010, quando fez o maior processo de capitalização da história do mercado financeiro.

No dia 24 de setembro de 2010, dia em que captou US$ 70 bilhões, a empresa encerrou o pregão com um valor de mercado de US$ 211,9 bilhões, segundo cálculo da consultoria Economática.

Já em 30 de dezembro de 2013, a petrolífera estava avaliada em US$ 91,7 bilhões, um valor 57% menor.

O investidor estrangeiro que comprou ações da companhia no momento da capitalização pensando no longo prazo, se vender os papéis hoje terá menos da metade dos dólares que possuía inicialmente. Ele perde tanto na variação das ações quanto na do câmbio.

Em reais, a Petrobras está avaliada em R$ 214,7 bilhões, o que representa uma queda de 41% em relação aos US$ 362,8 bilhões no dia da capitalização.

Vale notar que, com todos esses problemas, a companhia não voltou ao seu valor de uma década atrás. Em janeiro de 2004, estava avaliada em US$ 30,7 bilhões, ou R$ 88,7 bilhões.

valor de mercado petrobras desde capitalizacao

O gráfico mostra a trajetória do valor de mercado da Petrobras, em dólares e reais.

Desde pelo menos janeiro de 2010, a empresa já vinha caindo na Bolsa. Ela começou aquele ano avaliada em US$ 199 bilhões, ou R$ 347 bilhões e dali em diante foi descendo.

No dia 23 de outubro de 2010, era avaliada em US$ 147 bilhões (R$ 264 bilhões). Ao final do dia seguinte, data em que foi feita a capitalização, houve um salto no valor de mercado, para US$ 212 bilhões (R$ 363 bilhões).

A partir dali, o valor subiu um pouco, até o primeiro semestre de 2011. Desde então, no entanto, a trajetória passou a ser predominantemente de queda. até o momento atual.

Valor de mercado

O valor de mercado é a soma do preço de todas as ações de uma empresa. É um reflexo, portanto, de como os investidores avaliam o futuro da companhia. Analistas projetam a capacidade do negócio de gerar caixa e calculam, dessa forma, o seu valor.

Essa queda, de 41% em reais e 57% em dólares, não significa que o dinheiro que entrou na Petrobras durante a capitalização desapareceu, e sim que os investidores acreditam que a empresa não será capaz de gerar tanto caixa como se esperava em 2010.

Autossuficiência

A Petrobras está mal das pernas, segundo analistas, porque tem comprado combustível caro no exterior e vendido mais barato aqui.

Essa afirmação está correta, mas, pelos comentários de leitores que tenho lido, vejo que ainda há duas dúvidas. Primeiro, alguns leitores se perguntam como a empresa vende gasolina mais barata se o combustível no Brasil é mais caro do que em vários outros países. Em segundo lugar, vem outra dúvida: nós não éramos autossuficientes em petróleo?

Respondendo a primeira pergunta: sim, a Petrobras paga mais caro no produto importado e vende mais barato aqui, só que ela não vende diretamente para o consumidor, e sim para as distribuidoras.

Do preço que o consumidor paga na bomba, apenas 35% vão para a Petrobras, informa a empresa em seu site. Outros 17% vão para as empresas de distribuição e revenda (postos); 13% vão para as companhias que venderam o etanol, que é misturado à gasolina; 27% são de imposto estadual e 8% são de tributos federais, conforme o gráfico abaixo, reproduzido do site da Petrobras.

precos petrobras

Respondendo agora a segunda pergunta: por que nós importamos gasolina, se o governo diz que somos autossuficientes?

Porque nós somos autossuficientes em petróleo, não em derivados. A Petrobras bateu recorde de refino, mas ainda assim não conseguiu dar conta de acompanhar o enorme aumento da demanda pela gasolina, por conta da expansão da frota de veículos. Por isso, a estatal compra o combustível no exterior.

Nos últimos anos, a importação disparou. Em 2012, gastamos o valor recorde de US$ 3 bilhões importando gasolina, número 42 mil vezes maior que os US$ 71 mil registrados em 2009, segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).

A situação deve melhorar quando ficarem prontas a refinaria de Abreu e Lima, em Pernambuco (em 2014), o Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro, previsto para 2016) e mais duas refinarias no Maranhão e no Ceará (em 2017 e 2018), conforme explicou recentemente o professor do Insper Ricardo Mollo.

 

* Acrescentado trecho sobre autossuficiência (às 13h33) e valor de mercado em 2004 (às 15h53)


Diferença entre exportações e importações cai à metade no governo Dilma
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Sílvio Guedes Crespo

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O saldo da balança comercial do Brasil – diferença entre as exportações e as importações – caiu à metade nos três primeiros anos do governo Dilma Rousseff, em comparação com a média anual registrada nos dois mandatos do seu antecessor, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

No ano passado, o valor ficou em apenas US$ 2,6 bilhões – inferior, portanto, aos US$ 19,4 bilhões de 2012 e aos US$ 29,8 bilhões de 2011. Com isso, nos três primeiros anos do governo Dilma, o resultado médio foi de US$ 17,3 bilhões.

Já nos oito anos de Lula, a balança comercial teve um superávit médio anual de US$ 32,5 bilhões, praticamente o dobro em comparação com o período Dilma. Nos dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso, o saldo médio ficou negativo em US$ 1,1 bilhão.

balanca comercial por presidente em dolares 01

Se considerarmos apenas os três primeiros anos de cada mandato presidencial, o saldo comercial ficou em US$ 34 bilhões no primeiro mandato de Lula e US$ 30 bilhões no segundo.

Com FHC, os valores foram de US$ 5,2 bilhões negativos no primeiro mandato e US$ 251 milhões positivos no segundo.

Nos três primeiros anos de Sarney, a média foi de US$ 10,7 bilhões. Nos três de Figueiredo, o saldo ficou negativo em US$ 1,5 bilhão.

Em porcentagem do PIB

É de se esperar que, conforme a economia de um país cresça, suas exportações e importações também avancem.

Dessa forma, quando se compara o saldo comercial atual entre períodos tão distantes uns dos outros, é preciso observar também o comportamento do PIB (produto interno bruto), conforme aponta o gráfico abaixo.

balanca comercial brasileira por presidente em porcentagem do pib

Como não foi divulgado ainda o PIB de 2013, usei a projeção do FMI (Fundo Monetário Internacional), de US$ 2,2 trilhões. Nesse caso, o saldo de US$ 2,6 bilhões no ano passado equivaleu a 0,1% do PIB. A média no governo foi, até agora, de 0,72% do PIB.

Comparações

Com esta postagem, este blog inicia uma série de comparações dos indicadores econômicos por presidente da República.

De hoje até 27 de fevereiro, quando sai o PIB de 2013, você vai encontrar no Achados Econômicos um histórico dos principais indicadores, dividido por período presidencial.

Sabemos que os números macroeconômicos não devem ser a única nem a principal forma de mensurar a competência de um governante – até porque os resultados não dependem só deles, mas também de fatores internos e externos que estão fora de seu alcance.

Mesmo assim, Achados Econômicos fará as comparações por entender que os dados ajudam a dar uma ideia de quais foram os principais desafios de cada mandatário.

Abaixo, o saldo da balança comercial desde 1970.

historico balanca comercial brasileira bc 01 historico balanca comercial brasileira bc 02