Achados Econômicos

Com Dilma, ritmo de expansão do comércio cai quase à metade

Sílvio Guedes Crespo

Atualizado às 13h35*

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O comércio varejista brasileiro continua crescendo, mas a um ritmo cada vez mais lento, mostram dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Depois de saltar 12% em 2010, o volume de vendas do setor teve uma expansão de 7% no ano seguinte, 8% em 2012 e apenas 4% em 2013.

Com isso, o comércio vem crescendo no governo Dilma a uma média de 6% anuais, pouco mais que a metade dos 11% ao ano registrados durante o segundo mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Os números se referem ao grupo que o IBGE chama de “comércio varejista ampliado”, que inclui os setores de materiais de construção e veículos, além dos demais, como supermercados, postos de combustíveis, lojas de móveis e eletrodomésticos etc.

comercio varejista ampliado 1

Como a série de dados começa em 2004, não é possível saber o ritmo de crescimento do comércio ampliado durante todo o primeiro mandato de Lula. No período de 2004 a 2006, a expansão foi de 7% ao ano.

Se considerarmos apenas o comércio restrito, que abrange todos os setores do varejo menos veículos e construção, a série histórica disponível no IBGE é maior. Nesse caso, o ritmo de alta foi de 6,4% ao ano no governo Dilma, 8,9% no segundo mandato de Lula e 4% no primeiro.

O desempenho de Dilma, portanto, caiu em relação ao do segundo período de seu antecessor, mas não a ponto de voltar ao que era na primeira etapa do governo Lula.

A pesquisa do comércio restrito começou em 2001, de modo que, em relação ao governo Fernando Henrique Cardoso, só temos os resultados dos seus dois últimos anos: queda de 1,6% e de 0,7%, respectivamente. Naquele biênio, o comércio encolheu, em média, 1,1% ao ano.

comercio varejista restrito

 

Este post faz parte de uma série de comparações da evolução dos principais indicadores econômicos durante os mandatos de cada presidente.

Nesta série, o blog já escreveu sobre balança comercial, inflação, indústria, renda e política fiscal.

Todos sabemos que os números macroeconômicos não devem ser a única nem a principal forma de mensurar a competência de um governante – até porque os resultados não dependem só deles, mas também de fatores internos e externos que estão fora de seu alcance.

Mesmo assim, Achados Econômicos tem feito as comparações por entender que os dados ajudam a dar uma ideia de quais foram os principais desafios de cada mandatário.

Opinião

Não se pode dizer que está em crise um setor que cresce 4% ao ano. Seria um ótimo resultado se todo o resto da economia também estivesse caminhando nesse ritmo.

O problema é que, enquanto a indústria andava devagar, o comércio continuava avançando a taxas chinesas e ajudava a assegurar o crescimento econômico do país. Em 2012, quando o PIB (produto interno bruto) subiu apenas 0,9%, o varejo ampliado saltou nada menos que 8%.

No ano passado, no entanto, a situação mudou. O comércio passou a se expandir em taxas mais brandas, reforçando o diagnóstico já conhecido de que o modelo de crescimento baseado no consumo, que marcou a era Lula, esgotou-se.

De 2003 a 2010, a indústria avançou 4% ao ano, enquanto o consumo aumentou 5%, de acordo com a pesquisa das Contas Nacionais, do IBGE. Nos dois primeiros anos do governo Dilma, o setor industrial ficou estagnado, mas o consumo continuava bem, com alta de 4%.

A indústria, com a valorização do real, além dos velhos problemas conhecidos como “custo Brasil” (burocracia excessiva, infraestrutura precária etc), não conseguiu crescer em 2011 e 2012. Mas o comércio se dava bem, vendendo produtos importados para uma população cuja renda ainda crescia (ainda que em ritmo mais lento do que no passado) e que ainda tinha bom acesso ao crédito.

Em 2013, a renda da população teve uma desaceleração. Ao mesmo tempo, os consumidores ainda estavam pagando dívidas contraídas em anos anteriores, o que dificultava a abertura de novos crediários. Como se esperava, o comércio também acabou sofrendo desaceleração.

Com a desvalorização do real nos últimos meses, e também com o aumento das taxas de juros, que o Banco Central aumentou para conter a inflação, as chances de que o comércio volte a crescer como na década passada ficam menores.  Os produtos importados tendem a ficar mais caros e, consequentemente, mais difíceis de serem vendidos.

A boa notícia é que a inadimplência do consumidor tem caído. Em dezembro do ano passado, dado mais recente disponível, ela estava no menor valor desde 2011, quando o Banco Central começou a coletar esses dados pela metodologia atual.

A baixa inadimplência pode ser um alento para o comércio nos curto ou médio prazo. Indica que o setor tem chance de se manter no ritmo atual por algum tempo.

“A inadimplência, agora, está até jogando a favor do varejo. As pessoas se endividaram muito na década passada, e agora estão organizando suas contas”, disse Fábio Bentes, economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC), à jornalista Juliana Elias, do site ''Mais Guide''.

Mas, com o dólar mais alto e com a renda e o crédito crescendo menos, não há o que sustente, por enquanto, uma aceleração do varejo.

Uma retomada mais sólida da economia – e, também, do comércio – vai depender, nos próximos anos, não do consumo, mas do investimento. Para os empresários voltarem a investir, o governo precisa recuperar sua credibilidade – por exemplo, mostrando que leva a sério as metas de inflação e das contas públicas. Ou então esperar por uma nova onda de bonança internacional.

* Incluído o item 'Opinião' às 13h35