Achados Econômicos

Dívida da Petrobras aumenta seis vezes desde 2007; entenda

Sílvio Guedes Crespo

Atualizado às 9h32

Rafael AndradeqFolhapress

Foto: Rafael Andrade/Folhapress

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A dívida da Petrobras aumentou mais de seis vezes desde 2007, segundo as demonstrações financeiras da companhia divulgadas na semana passada. O valor, que estava em R$ 39,7 bilhões em dezembro daquele ano, atingiu R$ 267,8 bilhões no final de 2013. Somente no ano passado, a alta foi de 36%.

Se considerarmos apenas a dívida líquida, ou seja, a diferença entre o que a empresa está devendo e o que ela tem em caixa, o aumento foi ainda mais forte, pois alcançou R$ 221,6 bilhões em 2013, oito vezes mais que em 2007 e 50% acima do registrado no final de 2012.

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Os dados foram levantados pela economista Paula Barbosa, da UFRJ, a pedido do blog Achados Econômicos. Ela é autora do estudo “O endividamento da Petrobras com o BNDES no período pós-2008”, publicado pela Fundação Getulio Vargas.

A economista observa que o crescimento da dívida tem sido maior do que a evolução dos lucros ou da capacidade da empresa de gerar caixa.

Em 2007, o endividamento da companhia correspondia a 185% do lucro líquido. Hoje, a relação é de 1.136%, o que quer dizer que a empresa precisaria de 11 anos de trabalho para chegar ao valor atualmente devido aos credores.

Mas o lucro líquido, embora seja um indicador fácil de ser compreendido, não é o melhor parâmetro para com a evolução da dívida, pois sofre influência de fatores que nada têm a ver com o bom funcionamento da empresa.

Por exemplo, quando um conglomerado vende uma de suas empresas, o dinheiro que entra, se não for gasto em seguida, é registrado como lucro. Então um desavisado pode olhar para a demonstração de resultados, notar que o lucro disparou e achar que a companhia está em ótima forma, quando na verdade ela pode estar se desfazendo de negócios justamente por viver uma crise.

Outro exemplo de como o lucro é uma medida enganadora: uma empresa pode aproveitar que está em ótimo momento e usar parte dos seus ganhos para fazer uma grande amortização de sua dívida. Nesse caso, quem olhar só para o lucro vai achar que a companhia não vai tão bem.

Por isso, Barbosa sugere que olhemos não só para o lucro, mas também para a relação entre a dívida líquida e o Ebitda ajustado. Ebitda é a sigla em inglês para “lucro antes do pagamento de juros, impostos, depreciações e amortizações”. O Ebitda ajustado, particularmente, elimina fatores extraordinários, como a compra ou venda de ativos da empresa.

Em 2010, a dívida líquida era igual ao Ebitda ajustado. Hoje, ela é 3,5 vezes maior, de acordo com dados levantados por Barbosa.

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A Petrobras destaca que os reajustes no preço dos combustíveis (20% no diesel e 11% na gasolina), o aumento da produção de derivados e a otimização dos custos  no ano passado contribuíram para um aumento de 11% no lucro líquido da empresa e de 18% no Ebitda ajustado – o que ameniza o fato de a dívida ter subido 36% em 2013.

Em outubro, a agência de classificação de risco Moody's rebaixou a nota da Petrobras, argumentando que a alavancagem (relação entre dívida e lucro) está alta e que o fluxo de caixa tende a ficar negativo nos próximos anos.

A favor da companhia, não podemos nos esquecer de que ela conseguiu tomar emprestados US$ 5,1 bilhões no exterior em janeiro, prova de que muitos investidores continuam apostando na empresa e acreditam na sua capacidade de pagar as dívidas.

A estatal diz que a dívida cresceu por causa da necessidade de investimentos com o pré-sal e acrescenta que a situação está sob controle. ''Com a maturação dos investimentos atuais (que contribuirá para a elevação da produção já em 2014 e nova capacidade de refino) e a consequente elevação da geração de caixa, haverá uma reversão desses indicadores. A nossa expectativa é  que em 24 meses nós tenhamos atingido os níveis indicados pelo Conselho de Administração: alavancagem menor do que 35% e dívida líquida/Ebitda menor do que 2,5 vezes'', afirmou a petrolífera, por meio de sua assessoria de imprensa.

Entrevista

De um lado, portanto, vemos diversos analistas apontando um aumento do risco da Petrobras, o que foi expresso na decisão da agência Moody's. De outro, temos que considerar que ao menos parte da elevação da dívida se deveu à necessidade de investimento, o que é positivo. Para ajudar a explicar o assunto, a economista Paula Barbosa deu a seguinte entrevista ao blog Achados Econômicos.

Pergunta: O que explica o aumento da dívida da Petrobras?

Resposta: Houve dois grandes fatores. Primeiro, com o pré-sal aumentou a necessidade de investir, por exemplo, em equipamentos, estudos, perfurações tc. A Petrobras hoje é uma das empresas de petróleo que mais investem em descobertas, o que é bom. Mas isso aumenta a necessidade de caixa.

Em segundo lugar, tivemos uma conjuntura nacional e internacional desfavorável. Com a crise de 2008, diversas ‘torneiras’ dos bancos estrangeiros se fecharam. A Petrobras teve que se socorrer com bancos públicos nacionais para cobrir despesas de curto prazo.

P: Então o crescimento da dívida ocorreu por um bom motivo, que foi a necessidade de investimento?

R: Sim. Mas depois, outros fatores entraram e não ajudaram, como a disparidade entre preços no Brasil e no exterior [o preço do petróleo aumentou no mundo, mas a Petrobras não repassou inteiramente essa elevação para seus clientes, de modo que ela perde dinheiro quando importa gasolina e vende-a mais barata]. Além disso, a gestão operacional não foi equacionada da melhor forma possível. Nos últimos dez anos, a empresa teve um crescimento muito forte dos projetos, mas deixou de atingir metas. As estimativas de gastos e custos ficaram sempre aquém do que foi efetivamente realizado.