Achados Econômicos

Arquivo : junho 2014

Recursos contratados para a Copa em BH, onde o Brasil joga, somam R$ 2,4 bi
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Sílvio Guedes Crespo

mineirao REUTERS Leonhard Foeger 1

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Os recursos contratados para as obras da Copa do Mundo em Belo Horizonte, onde o Brasil joga neste sábado contra o Chile, somaram R$ 2,4 bilhões até agora, de acordo com dados da Controladoria-Geral da União.

Esse valor é a soma dos gastos públicos e privados na reforma do estádio e do aeroporto e em ações de mobilidade urbana.

Custo das obras para a Copa em BHValor contratado (R$ milhões)Percentual de conclusão física das obras
Estádio678100%
Aeroporto48045%
Mobilidade1.24472%
Total2.40175%
Fonte: Controladoria-Geral da União

Para a reforma do Estádio Magalhães Pinto, o Mineirão, foram contratados R$ 678 milhões, mas a previsão é de que os desembolsos ainda cheguem a R$ 695 milhões. Deste último valor, R$ 400 milhões foram financiados pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), R$ 255 milhões vieram do grupo concessionário e R$ 40,5 milhões saíram do governo do Estado de Minas Gerais.

Os R$ 400 milhões que o BNDES emprestou serão devolvidos ao banco com juros, a uma taxa abaixo da média do mercado. O dinheiro federal despendido no estádio, portanto, corresponde à diferença entre os juros que o governo paga ao tomar dinheiro emprestado e os que o BNDES cobra ao emprestar.

Na reforma do Aeroporto Internacional Tancredo Neves – Confins, os recursos contratados até agora somam R$ 480 milhões e ficaram sob responsabilidade da Infraero. Por enquanto, 45% das obras foram concluídas. Para a reforma do terminal de passageiros e do sistema viário, a previsão total de gastos era de R$ 238 milhões em 2010. Até agora, já foram contratados R$ 255 milhões e o percentual de execução da obra ainda está em 47%.

A reforma do aeroporto inclui também a ampliação da pista de pouso e do sistema de pátios (R$ 202 milhões contratados até agora, com 41% da obra pronta) e a construção do terminal de passageiros 3 (R$ 22 milhões, com 56% concluídos).

As ações de mobilidade urbana somaram R$ 1,2 bilhão, superando, portanto, os gastos com o estádio e com o aeroporto. Esse era o valor contratado até setembro de 2013, data da última atualização disponível no site da Controladoria-Geral da União. Naquele momento, 72% das obras estavam concluídas.

Entre as ações de mobilidade, as de BRT (Bus Rapid Transit) foram as maiores em termos de recursos contratados, com R$ 761 milhões. A porcentagem de execução concluída estava em 73% em setembro do ano passado.

As ações de mobilidade incluem, ainda a implantação do Boulevard Arrudas e o corredor na Avenida Pedro I, entre outras, e estão sendo pagas com dinheiro do governo do Estado de MG e da prefeitura de Belo Horizonte, sendo a maior parte financiada pela Caixa Econômica Federal.

 


Especulador cobre rombo de US$ 40 bi e equilibra contas externas do país
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Sílvio Guedes Crespo

dolar_istock_exchange

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O Brasil tem dependido de capital especulativo para cobrir o rombo nas suas contas externas, mostram dados do Banco Central.

A diferença entre o dinheiro que entrou no país e o que saiu por meio das exportações de bens e serviços e por gastos de turistas resultou em um saldo negativo de US$ 6,635 bilhões em maio e de US$ 40,074 bilhões no acumulado deste ano. Essa conta é chamada de transações correntes.

Ao mesmo tempo, a diferença entre o que entrou no país e o que saiu por meio de investimentos estrangeiros foi de US$ 45,773 bilhões, cobrindo o rombo das transações correntes, com uma sobra de US$ 5,698 bilhões.

Somando essa sobra com US$ 2,576 bilhões de “erros e omissões” do balanço, o país aumentou em US$ 8,274 bilhões as suas reservas internacionais neste ano.

balanco de pagamentos

Isso quer dizer que, nos cinco primeiros meses de 2014, entraram no país US$ 8,274 bilhões a mais do que o dinheiro que saiu. (No gráfico acima, as entradas de US$ 48,3 bilhões se referem à soma dos investimentos estrangeiros com o item “erros e omissões”.)

Olhando mais de perto para os números, vemos que, para manter esse balanço equilibrado, temos precisado de capital especulativo, aqui definido como aquele que pode sair do país em curto prazo, como as aplicações no mercado de ações ou em títulos da dívida do governo.

Do saldo de US$ 45,773 bilhões que entrou no país na forma de investimentos estrangeiros, apenas US$ 22,027 bilhões foram diretamente para o setor produtivo. O restante entrou como investimentos em ações, títulos públicos, derivativos etc, ou seja, são aplicações que podem sair do país muito rapidamente.

investimento estrangeiro

No segundo gráfico, os investimentos em carteira e outros são aqueles que podem sair do país em curto prazo, o que não quer dizer que eles necessariamente vão sair. Quem compra uma ação, por exemplo, pode guardá-la por anos ou vender imediatamente. Já quem constrói uma fábrica (caso do investimento direto) não consegue se desfazer dela tão rápido.

O Banco Central mais do que dobrou a sua previsão para investimentos em ações neste ano, de US$ 5 bilhões para US$ 12 bilhões. Para aplicações em títulos de renda fixa, o BC elevou sua previsão de US$ 15 bilhões para US$ 18 bilhões.

Opinião

O balanço de pagamentos, quando visto como um todo, tem sido favorável ao país neste ano, uma vez que acumulamos mais de US$ 8 bilhões em reservas nos primeiros cinco meses. Essa conta representa uma melhora em relação ao ano passado, quando saiu mais dinheiro do país do que entrou, de forma a perdemos reservas.

Quando olhamos para os detalhes, no entanto, percebemos que essa não é a melhor forma de equilibrar nossas contas externas. O ideal seria se não precisássemos depender de capital de curto prazo para fechar o balanço.

Em 2011 e 2012, por exemplo, o investimento estrangeiro direto, aquele que em tese vai para o setor produtivo, foi suficiente para cobrir todo o deficit de transações correntes.

Melhor ainda foi o que ocorreu de 2003 a 2007, quando tivemos um saldo positivo em transações correntes. Ou seja, para fechar o balanço de pagamentos, não dependíamos nem do capital estrangeiro especulativo nem do produtivo. Somente vendendo bens e serviços ao exterior já conseguíamos equilibrar nossas contas. Era uma época em que a China crescia mais de 10% ao ano e comprava cada vez mais matérias-primas brasileiras. Além disso, Europa e Estados Unidos não estavam em crise e também adquiriam produtos do Brasil.

Como entravam muito mais dólares no país do que saíam, sem precisar depender de especulação, o real foi se valorizando na década passada, ajudando a aumentar o poder aquisitivo dos brasileiros.

Hoje, no entanto, não há sinais de que a economia chinesa volte tão cedo ao ritmo daquele período. Vai ficar difícil usar o câmbio para aumentar o poder de compra dos brasileiros – ainda mais porque, quando mais o real sobe, mais difícil fica a situação da indústria, que compete com produtos estrangeiros.

Para que a população volte a elevar seu poder de compra sem precisar valorizar o real, é necessário que a economia brasileira fique mais produtiva. A agenda do governo, seja quem for o próximo presidente, precisa estar focada em reduzir os custos do produtor nacional sem mexer no câmbio. Isso se faz com, entre outras medidas, concessão da infraestrutura à iniciativa privada, redução da burocracia e melhora da relação entre governo e mercado.


Recursos para a Copa em Brasília, onde Brasil joga, somam R$ 2,6 bi
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Sílvio Guedes Crespo

Atualizado às 14h30*

Estádio Mané Garrincha (foto: divulgação)

Estádio Mané Garrincha (foto: divulgação)

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O dinheiro público e privado para as obras da Copa do Mundo em Brasília, onde o Brasil enfrenta Camarões nesta segunda-feira, soma R$ 2,613 bilhões e incluem reformas no estádio e no aeroporto e a ampliação da via DF-047.

O blog Achados Econômicos, com este texto, abre uma série na qual vai explicar quanto foi ou está sendo destinado às obras de cada cidade-sede da Copa.

Para o Estádio Mané Garrincha, o total de recursos contratados foi de R$ 1,437 bilhão, saído do governo do Distrito Federal. Em 2010, quando as obras começaram, a previsão era gastar R$ 745 milhões.

No Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek, foram realizadas três ações que somaram R$ 1,132 bilhão. Somente a concessão para ampliação, manutenção e uso custou R$ 1,106 bilhão, dinheiro que saiu do grupo de empresas concessionárias, em parte financiado pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Em 2012, a previsão era de que esse valor ficasse em R$ 642 milhões. (O valor total da concessão foi de R$ 4,5 bilhões; esse R$ 1,132 bilhão corresponde à parcela direcionada a projetos ligados à Copa.)

Os empréstimos do BNDES são feitos com juros subsidiados. Ou seja, dinheiro público envolvido nesse caso não é o valor total do empréstimo, mas a diferença entre os juros que o governo paga quanto toma dinheiro emprestado e o que cobra quando empresta.

Uma segunda ação no aeroporto foi a implantação do módulo operacional provisório, uma estrutura com salas de embarque e desembarque para receber os passageiros durante a Copa enquanto as obras estão em andamento. Esse módulo provisório custou R$ 7,8 milhões à estatal Infraero.

A mesma empresa destinou, ainda, R$ 18,8 milhões à reforma do corpo central do terminal de passageiros.

A ampliação da DF-047, também incluída no pacote de obras da Copa, o orçamento contratado somou R$ 43,4 milhões até o dia 30 de setembro do ano passado, data da última atualização disponível no site da Controladoria-Geral da União. Até o momento, 40% da obra estava concluída.

A Caixa Econômica Federal ofereceu, no total, R$ 98 milhões para o governo do Distrito Federal tocar esta obra, dos quais R$ 28 milhões foram liberados.

Todos esses dados têm como fonte a Controladoria-Geral da União e se referem aos recursos contratados, ou seja, aqueles que já foram confirmados, mas que não necessariamente foram pagos. Optei por usar essa informação porque dá uma ideia melhor de quanto custou cada obra. Caso usasse os recursos executados, o valor tenderia a ficar subestimado.

Esta série de posts sobre recursos contratados para a Copa nas cidades-sede não será contínua, ou seja, falarei também sobre outros assuntos entre um post e outro sobre o mundial.

* Acrescentada às 14h30 a informação de que a concessão do aeroporto de Brasília teve financiamento parcial do BNDES


Estrangeiros elevam compras na Bovespa em 81% em 4 anos e viram maioria
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Sílvio Guedes Crespo

Atualizado às 12h11*

bmfbovespa

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Os investidores estrangeiros aumentaram suas negociações na Bolsa de Valores de São Paulo em um ritmo mais rápido do que os demais nos últimos anos, de modo que, em 2014, se tornaram maioria, em termos de volume negociado.

A compra de ações por investidores estrangeiros somou R$ 343 bilhões nos cinco primeiros meses do ano, número 81% maior do que os R$ 190 bilhões registrados em igual intervalo de 2010.

A venda subiu a um ritmo menor do que as compras. Passou de R$ 192 bilhões no período de janeiro a maio de 2010 para R$ 333 bilhões em igual período de 2014 – alta de 73%.

compra e venda de acoes investidores estrangeiros

Em 2010 e 2011 – sempre considerando o período de janeiro a maio – as vendas de ações por estrangeiros eram ligeiramente maiores do que as compras. A partir de 2012, a situação se inverteu, e as compras passaram a superar as vendas.

Apesar de o volume de negócios por estrangeiros ainda continuar em alta, o ritmo de crescimento diminuiu fortemente. As compras aumentaram 19% em 2011, 32% no ano seguinte, 12% em 2013 e apenas 3% neste ano.

Como a movimentação financeira dos investidores residentes no país não aumentou na mesma velocidade, a participação dos estrangeiros no mercado brasileiro de ações saltou de 28%, em junho de 2010, para os atuais 50,5%, registrados em 9 de junho último.

participacao estrangeiros bolsa de valores

Enquanto isso, nos últimos quatro anos, o Ibovespa, índice que mede o preço médio das ações mais negociadas da Bolsa brasileira, acumula uma queda de 15%.

Entrevista

O professor de economia Otto Nogami, do Insper, concedeu a entrevista abaixo ao blog Achados Econômicos.

Por que a participação dos estrangeiros no mercado de ações do país aumentou tanto nos últimos anos?

Existem duas razões básicas. Primeiro, nosso mercado de ações está barato demais. Para quem acredita na evolução da Bolsa, é um bom momento para ingressar nela. O segundo aspecto, principalmente no caso do investidor europeu, vem do fato de que as bolsas na Europa estão andando de lado, por causa da crise. Então, o investidor busca um mercado onde existe uma perspectiva de ganho maior. O Brasil é uma alternativa interessante para eles.

Por que o volume de investimentos brasileiros não cresceu no mesmo ritmo?

O grande problema do investidor brasileiro é que, tirando os investidores institucionais, os aplicadores se chamuscaram principalmente em função da crise de 2008. O investidor brasileiro hoje tem medo da bolsa. Isso faz com que ele acabe buscando outras aplicações.

O volume negociado por estrangeiros, apesar de ainda estar aumentando, cresce a um ritmo cada vez menor. Qual o motivo dessa desaceleração?

Existe um estoque de investidores. Quanto maior esse estoque, menor é o incremento marginal.

Além disso, o Brasil apresenta um certo grau de risco na visão do investidor estrangeiro, na medida em que o governo não adota as medidas para ajustar o aspecto macroeconômico.

* Acrescentada a entrevista às 12h11


Brasil gasta quase um Itaquerão por dia com juros da dívida pública
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Sílvio Guedes Crespo

itaquerao Friedemann Vogel Getty Images

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O Itaquerão, estádio que abrirá a Copa do Mundo de 2014 amanhã com jogo entre Brasil e Croácia, custou R$ 1,2 bilhão.

A cada dia útil, o setor público brasileiro gasta quase esse valor pagando juros aos seus credores. O governo destinou no ano passado R$ 249 bilhões a juros da dívida pública, o que dá uma despesa diária média de R$ 988 milhões, considerando um ano com 252 dias úteis.

Juntas, as construções ou reformas dos estádios a serem usados nas 12 cidades-sede da Copa custaram cerca de R$ 8 bilhões. Em nove dias úteis, o setor público do país gasta essa mesma quantia pagando juros.

As obras nos estádios começaram em 2010. Daquele ano até abril de 2014, enquanto foram gastos R$ 8 bilhões na construção ou reforma das arenas, o setor público entregou R$ 975 bilhões aos credores, como mostra o gráfico abaixo.

custo de estadios gastos com juros

Opinião

Os números mostram que a Copa não é, nem de longe, um problema econômico significativo para o país. Desde julho do ano passado, quando as manifestações por transporte e outras reivindicações deram lugar ao slogan “Não vai ter Copa”, os credores do setor público embolsaram R$ 211 bilhões, ou 24 Copas do Mundo, por meio dos juros da dívida.

Os críticos da realização da Copa no Brasil costumam cometer três erros básicos.

O primeiro é estimar os gastos da Copa em torno de R$ 30 bilhões. Na verdade, esse número junta o custo dos estádios (R$ 8 bilhões) com o de várias obras que pouco têm a ver com futebol.

Nesses R$ 30 bilhões estão incluídos, por exemplo, R$ 6,2 bilhões em reformas de aeroportos, segundo levantamento feito pela Folha, e outros projetos de infraestrutura, como o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) de Cuiabá (R$ 1,6 bilhão) e a Transcarioca, via expressa que liga o Aeroporto do Galeão à Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro (R$ 1,7 bilhão).

Outro erro está em supor que 100% dos gastos com estádio são estatais. Na verdade, há dinheiro público, mas a proporção exata ainda não foi calculada, porque os recursos federais estão saindo na forma de empréstimos via bancos públicos, ou seja, serão devolvidos.

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) fornece empréstimos com juros menores do que os bancos privados. Dessa forma, o gasto público não equivale ao valor do empréstimo, e sim à diferença entre os juros que o governo paga quando toma dinheiro emprestado e os que ele recebe quando empresta.

Já nos gastos dos Estados há dinheiro do próprio orçamento, ou seja, dos impostos pagos pela população.

Ainda, existem os incentivos fiscais que já custaram ao Tesouro R$ 1,3 bilhão até agora segundo o jornal “Valor Econômico”.

O total de dinheiro público usado nos estádios corresponde a uma parcela, que ainda não foi calculada com precisão, dos R$ 8 bilhões.

Um terceiro erro comum dos críticos da Copa está em ignorar o retorno econômico da realização do evento. Tal cifra é muito difícil de precisar, pois exigiria que soubéssemos como estaria o país se o Mundial não ocorresse. Cada estudo desse tipo pode chegar a um valor diferente. No mais recente deles, Bráulio Borges, da consultoria LCA, calcula que a Copa pode contribuir com 1 ponto percentual no crescimento do PIB (produto interno bruto) do país neste ano.

O fato de haver todas essas ressalvas aos críticos da Copa não quer dizer que não se possa ser contra o evento ou à forma como ele foi organizado. Ao contrário, qualquer indício de superfaturamento, como foi apontado pelo Tribunal de Contas da União (TCU) no caso do Mané Garrincha, deve ser amplamente divulgado, de modo que os corruptos sejam punidos, e o dinheiro público, ressarcido. Para isso, a população deve acompanhar todos os desdobramentos de casos como esse – como deveria monitorar, aliás, qualquer gasto público, não só os da Copa.

Também, a decisão de gastar bilhões em estádios, mesmo que ocorra sem corrupção nenhuma, pode e deve ser legitimamente questionada, ainda mais que as despesas finais acabaram ficando três vezes maior do que a previsão inicial. Mesmo que os R$ 8 bilhões sejam uma fração dos gastos com juros, poucos projetos públicos têm valores tão altos, pois o orçamento é todo amarrado a um conjunto de despesas correntes.

O argumento econômico mais convincente dos críticos da Copa, a meu ver, está na comparação com outros países. Os estádios no Brasil custaram o dobro do verificado na Alemanha e na África do Sul.

Mesmo esse apontamento, no entanto, precisa de retoques. Tal comparação ignora o fato de que, no Brasil, dez estádios foram amplamente reformados ou construídos do zero, enquanto na Alemanha oito das 12 arenas já tinham boa estrutura e sofreram intervenções menores, como mencionou um estudo dos professores Sandro Cabral e Antonio Francisco Silva Júnior, da Universidade Federal da Bahia.

Um estudo da consultoria KPMG aponta outro cuidado que deve ser feito quando se comparam custos de estádio: deve-se considerar o número de assentos, e não o valor total gasto. Por essa metodologia, o inglês Wembley é o mais caro do mundo, com um custo de R$ 32,4 mil por assento, seguido pelo Emirates Stadium, também em Londres (R$ 23,3 mil por assento).

O Mané Garrinha, de Brasília, é o terceiro (R$ 20,7 mil); o Maracanã, o sétimo (R$ 15,6 mil); o de Manaus está em 10ª, e o Itaquerão, em 12º (R$ 12,6 mil). Dos 20 estádios mais caros do mundo, dez estão no Brasil.

Questionar a quantia de dinheiro público gasta em estádios é legítimo e necessário. Mais ainda neste momento, em que o governo precisa conter despesas para evitar a inflação e poder reduzir os juros. Além disso, existem os impactos sociais das obras da Copa, em cujo mérito não vou entrar aqui.

Mas tais críticas devem ser feitas com fundamento. Do contrário, elas só servirão para encobrir o debate sobre os maiores desafios econômicos do país. Na minha visão, os problemas ocorridos na organização da Copa não podem ser ignorados, mas, no atacado, a decisão de realizar o evento no país é positiva. Sempre se poderá dizer que esse dinheiro poderia ser alocado em outros projetos. Porém, entretenimento, esporte e cultura também são importantes.

Maiakovski chegou a escrever: “Melhor morrer de vodka do que morrer de tédio”. Infelizmente, não poderei morrer de cachaça nesta Copa – minha esofagite não permitirá que eu chegue à terceira dose. Mas, se considerarmos o aspecto econômico, parece-me justo que o único país cuja seleção participou de todos os mundiais possa receber seus adversários em casa ainda neste início de século.


Vale a pena viver de dividendos? Compare com o retorno de outras aplicações
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Sílvio Guedes Crespo

Atualizado às 11h15*

cofre-porquinho-economia-financas-poupanca-dinheiro getty images

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Depois que este blog publicou, na semana passada, um levantamento apontando quanto dinheiro é preciso juntar para viver de dividendos, surgiu nos comentários dos internautas uma discussão sobre se vale ou não a pena esse tipo de investimento.

Com colaboração da Gradual Investimentos, que reuniu um conjunto de dados especialmente para este blog, mostramos que, na média das 150 empresas mais negociadas da Bolsa, os proventos pagos aos acionistas em um ano equivalem a 3% do preço atual da ação.

Dessa forma, seria necessário investir R$ 1,2 milhão em ações dessas empresas, a preços de hoje, para ganhar proventos em torno de R$ 3.000 por mês.

Isso na média do mercado. Em diversas empresas, o retorno de dividendos é maior. No caso da Companhia Siderúrgica Nacional, por exemplo, os proventos pagos em um ano equivalem a 10% do preço da ação (CSNA3). Assim, é preciso investir apenas R$ 356 mil em ações para ganhar R$ 3.000 mensais em proventos – se a empresa continuar pagando no mesmo ritmo dos últimos quatro anos.

Alguns leitores consideram que, tendo uma grande quantia disponível para investir, vale mais a pena aplicar na poupança, em CDB ou outros instrumentos financeiros.

Essa comparação é muito difícil porque o mercado de ações não é renda fixa, mesmo para quem foca em dividendos, sem se preocupar em comprar na baixa e vender na alta.

Mas dada a quantidade de leitores interessada– foram mais de 50 comentários batendo nessa tecla – vale a pena dedicar mais algumas palavras ao assunto.

Em primeiro lugar, é preciso ter em mente que, para quem quer viver de renda, o importante é o rendimento real, ou seja, deve-se descontar a inflação.

Se a poupança render 7% nos próximos 12 meses, mas a inflação for de 6%, como projetam analistas consultados pelo Banco Central, então o poupador pode sacar apenas 1% daqui a um ano sem perder poder de compra.

No caso de quem vive de dividendos, a história muda um pouco. Quem tem ações pode gastar integralmente o dinheiro ganho com proventos e mesmo assim não perderá participação na empresa. Em quantidade de ações, seu patrimônio continuará sendo rigorosamente o mesmo.

Por outro lado, tais ações, após um ano, podem ficar mais caras ou mais baratas. Se o investidor vender os papéis, ele pode ganhar ou perder com a variação do preço. Mas se o objetivo é manter as ações com prazo a perder de vista, pouco importam as oscilações de curto e médio prazo na Bolsa.

Dito isso, vamos colocar lado a lado a rentabilidade de algumas modalidades de renda fixa e o retorno de dividendos.

AplicaçãoRendimento líquido real em 12 meses
Tesouro Direto (LFT)2,5%
CDB (90% do CDI)2,0%
Poupança1,0%
Fundos DI0,8%
Dividendos (média)3%
Dividendos CSN10,1%
Dividendos Vale8%
Dividendos Petrobras6%

Na tabela acima, as projeções para renda fixa foram feitas pelo economista Pedro Vartanian Raffy, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Elas mostram quanto devem render, nos próximos 12 meses, acima da inflação oficial, considerando que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) suba 6% no período.

No caso dos dividendos, as porcentagens indicam quanto o investidor ganhará com proventos em um ano se comprar as ações pelo preço atual e se as empresas continuarem com a política de distribuição de dividendos dos últimos quatro anos.

Os números já descontam o Imposto de Renda que o investidor paga após um ano.

O gráfico abaixo segue esses mesmos critérios e tem as mesmas fontes, só que troca o retorno em porcentagem por um retorno em dinheiro após aplicação de R$ 1 milhão durante um ano. Quem investir essa quantia no Tesouro Direto, por exemplo, deve ter um ganho líquido real de R$ 25,5 mil nos próximos 12 meses. Já quem aplicar a mesma quantia em ações da Vale receberá R$ 80 mil em proventos caso a empresa mantenha o ritmo de pagamento aos acionistas verificado desde 2011.

dividendos e renda fixa

O gráfico mostra, portanto, que o retorno de dividendos, tanto na média do mercado como nas empresas selecionadas, é maior do que o rendimento projetado dessas aplicações de renda fixa.

No entanto, cabe ao investidor decidir se está disposto a correr o risco do mercado de ações, sabendo que pode perder (ou ganhar) tanto com a variação do preço das ações quanto com eventuais mudanças na política de distribuição de dividendos da empresa.

* Acrescentado o gráfico às 11h15


Quer viver de dividendos? Saiba quanto dinheiro é preciso juntar
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Sílvio Guedes Crespo

Texto atualizado às 10h45*

cofre poupanca porquinho shutterstock

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Viver de dividendos é o sonho de muita gente. Comprar ações de uma empresa e esperar pingar na conta bancária o valor gerado pelo trabalho de milhares de funcionários.

Para saber quanto é preciso aplicar em ações para não precisar trabalhar – ou para complementar a aposentadoria – o blog Achados Econômicos e a corretora Gradual Investimentos levantaram quanto as empresas pagaram em proventos aos seus acionistas nos últimos quatro anos e calcularam qual montante deveria ser aplicado, a preços de hoje, para que o investidor possa obter uma renda mensal média de R$ 3.000, R$ 5.000 ou R$ 10 mil.

Os proventos considerados foram os dividendos (parte do lucro que é distribuída aos acionistas) e juros sobre capital próprio (outra maneira de a empresa repassar dinheiro aos donos das ações).

Entre as 150 ações mais negociadas da Bolsa, os proventos pagos a cada ano correspondem, em média, a 3% do valor atual das ações. Para chegar a esse número, usamos a média dos últimos quatro anos.

Se as empresas continuarem distribuindo seus ganhos nesse ritmo, o investidor precisará aplicar R$ 1,2 milhão em ações para ter uma renda mensal de R$ 3.000; ou R$ 2 milhões para ganhar R$ 5.000; ou, ainda, R$ 4 milhões para embolsar R$ 10 mil por mês – já descontados os impostos.

Mas esta é apenas a média do mercado. Nós selecionamos, também, 15 empresas que pagaram proventos maiores e fizemos as contas de quanto seria necessário aplicar em cada uma delas, hoje, para obter aqueles níveis de renda mensal. O resultado está no quadro no final deste post.

Não custa lembrar que o mercado de ações é arriscado, mesmo para quem vive de dividendos. Nada garante que as empresas manterão seus pagamentos sempre no mesmo ritmo. Elas podem reduzir os proventos a qualquer momento – como também aumentá-los.

A Oi, aliás, foi uma das companhias com melhor retorno de dividendos (ou “dividend yield”, como muitas vezes se diz, mesmo no Brasil) no período analisado. Mas decidimos não incluí-la na lista porque ela própria anunciou mudança na sua política e decidiu começar a pagar o valor mínimo exigido por lei.

Também não incluímos as elétricas na lista abaixo. O preço das ações nesse setor caiu muito ao longo dos quatro anos analisados, de modo que o “dividend yield” apresentado pode ter sido extraordinário, ou seja, tende a não se repetir.

A Eletropaulo, por exemplo, apresentou um retorno de 45% ao ano desde 2010. Isso quer dizer que o montante que a empresa pagou em dividendos em cada um desses anos, em média, equivale a quase metade do valor atual da ação. Mas o preço do papel caiu de R$ 37, em maio de 2010, para menos de R$ 10 atualmente. Houvesse se mantido na cotação inicial, o retorno de dividendo estaria em torno de 11%.

Dito de outra forma, quem comprou ações da Eletropaulo naquela época ganhou em dividendos 11% do valor investido, e não 45%.

Resumindo, oscilações muito fortes no preço das ações podem fazer com que o “dividend yield” apresente números excepcionais.

Abaixo, uma lista de 15 grandes empresas que deram retorno de dividendos acima da média do mercado nos últimos quatro anos.

Lê-se o quadro da seguinte forma: se a Cia Siderúrgica Nacional continuar distribuindo dividendos no mesmo ritmo dos últimos quatro anos, é preciso ter R$ 356 mil aplicados em ações da empresa para manter uma renda média de R$ 3.000 por mês; ou ter R$ 593 mil se quiser uma renda de R$ 5.000; ou ainda R$ 1,2 milhão para ganhar R$ 10 mil mensais em proventos – já descontados os impostos.

 

 EmpresaQuanto é necessário aplicar, em reais, para ter uma renda de proventos de*:
R$ 3.000/mêsR$ 5.000/mêsR$ 10 mil/mês
Sid. Nacional                      356.083                      593.472                   1.186.944
Rossi Resid.                      370.752                      617.920                   1.235.839
Telefônica Brasil                      378.350                      630.583                   1.261.167
Bradespar                      420.561                      700.935                   1.401.869
Vale                      448.319                      747.198                   1.494.396
Santander BR                      455.408                      759.013                   1.518.027
Banco do Brasil                      455.840                      759.734                   1.519.468
Bansirul                      484.034                      806.723                   1.613.445
Multiplus                      510.457                      850.762                   1.701.524
Petrobras                      644.584                   1.074.306                   2.148.612
PDG Realt                      702.782                   1.171.303                   2.342.606
Gafisa                      742.268                   1.237.113                   2.474.227
Natura                      744.186                   1.240.310                   2.480.620
Ecorodovias                      750.000                   1.250.000                   2.500.000
Cia Hering                      762.308                   1.270.513                   2.541.027
Fonte: Gradual Investimentos. Elaboração: Achados Econômicos
* Se a empresa mantiver o nível de distribuição de proventos verificado nos últimos 48 meses

Entrevista

O analista-chefe da Gradual Investimentos, Flávio Conde, concedeu a entrevista abaixo ao blog Achados Econômicos.

Vale a pena viver de dividendos ou é melhor aplicar o dinheiro de outra forma?

Tudo depende da etapa da vida da pessoa. Pessoas de 25 a 40 anos não devem ter aplicações visando dividendos. Devem visar o aumento do preço de ação, porque elas provavelmente estão montando a carteira para usufruir a partir dos 60 anos de idade. Não faz sentido um rapaz de 30 anos comprar ações pensando em dividendos, porque na média o preço delas não sobe muito.

As empresas que pagam pouco dividendos são as que estão investindo para crescer. É o caso do Pão de Açúcar, da Brasil Foods, da MRV, da Hipermarcas, da Natura, da Fibria, da Suzano e outras.

As que pagam bons dividendos são as que estão perto da maturidade. A Souza Cruz e a AES Tietê são empresas que querem gerar caixa e pagar dividendos. No caso de pessoas acima de 65 anos, a carteira tem que ser todinha de dividendos.

O preço das ações das elétricas caiu muito nos últimos anos. Os investidores acreditam que elas pagarão menos dividendos?

Essa queda tem a ver com uma perspectiva de resultados menores. Mas elas recuperaram parte das perdas. As empresas tendem a continuar dando bons dividendos porque já se ajustaram aos problemas pelos quais passaram.

O atual governo diz que se a empresa quer renovar a concessão, deve baixar as tarifas, porque o investimento já foi depreciado. Essa lógica fez com que o preço das ações caísse bastante num primeiro momento, para em seguida se recuperar em parte.

Se entrar outro presidente, principalmente o Aécio Neves, existe a chance de essa lógica ser revista. Por isso o mais seguro, no caso do setor elétrico, é só se posicionar depois das eleições.

* Acrescentada a entrevista às 10h45


Argentina tem Bolsa Família maior que o do Brasil em relação ao PIB
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Sílvio Guedes Crespo

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Embora o programa Bolsa Família tenha se tornado conhecido internacionalmente, outros países gastam mais que o Brasil com esse tipo de política, proporcionalmente ao PIB (produto interno bruto), segundo um estudo da Organização Internacional do Trabalho (OIT).

O Bolsa Família consome 0,47% do PIB do Brasil, enquanto a Argentina gasta 0,54% de seu produto com um programa similar, o AUH (Asignación Universal por Hijo). O equivalente boliviano chega a nada menos que 0,64% do PIB do país.

custo bolsa familia america latina

Também em cobertura o Bolsa Família não é o maior programa de transferência de renda da América Latina. Ele atinge 28,5% da população, segundo a OIT. Já o Bono de Desarrollo Humano, do Equador, alcança 41%. Nesse quesito, outros programas maiores que o Bolsa Família são o da Colômbia, o de Honduras (ambos com alcance de mais de 30%) e o da República Dominicana (29%).

Considerando o valor total gasto, sem fazer relação com o PIB, o Bolsa Família é, evidentemente, o maior programa de transferência de renda da América Latina, pois o Brasil é o maior país da região. tanto em população quanto em tamanho da economia.

O país gastou US$ 10,6 bilhões com o programa em 2012, enquanto a Argentina destinou US$ 2,5 bilhões, e o México, US$ 2,6 bilhões, de acordo com dados da Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe), órgão das Nações Unidas.

“A criação de programas de transferência de renda focados em crianças ou famílias de baixa renda pode ser considerada umas das principais inovações dos últimos anos em países em desenvolvimento”, opinou a OIT no estudo.


Desemprego ainda é maior entre mulheres, mas diferença para homens diminui
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Sílvio Guedes Crespo

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A taxa de desemprego entre as mulheres é maior do que entre os homens em todas as regiões do país, mostram dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Na série antiga, chamada Pesquisa Mensal de Emprego (PME), não era feita essa medição porque ela só abrangia seis regiões metropolitanas. Já a Pnad Contínua, que vai substituir a PME a partir do ano que vem, chega a 3.500 municípios (conheça a diferença entre as pesquisas).

Do total da força de trabalho, ou seja, da população com mais de 14 anos de idade que tem interesse em trabalhar, 7,1% estão sem emprego atualmente. Entre os homens, no entanto, a proporção de desempregados é de 5,9%, enquanto entre as mulheres, é de 8,7%, de acordo com a pesquisa.

Essa diferença se repete em todas as cinco grandes regiões em que se divide o país, como mostra o gráfico abaixo.

taxa de desemprego no pais 1

Aqui, não estamos falando de donas de casa ou de pessoas que optam por não buscar um trabalho remunerado regular. Nesses 8,7% de mulheres desempregadas são consideradas apenas aquelas que querem entrar no mercado de trabalho.

A Pnad Contínua não investiga as razões da diferença de desemprego entre homens e mulheres. Não é possível deduzir diretamente se é resultado, por exemplo, de discriminação por parte dos empregadores ou por falta de qualificação das candidatas às vagas.

A boa notícia está em que, se olharmos desde o início da série histórica, iniciada em 2012, a diferença tem caído. No primeiro trimestre de 2012, a taxa de desemprego estava em 7,9% no país. Entre os homens, era de 6,2%, e entre as mulheres, de 10,3% – uma diferença de 4,1 pontos percentuais. Um ano depois, a diferença diminuiu para 3,5 pontos e agora está em 2,8 pontos.

Os dados indicam que a queda na taxa de desemprego nos últimos anos ocorreu ao mesmo tempo em que o mercado de trabalho passava a incorporar mais mulheres.

No primeiro trimestre de 2012, a população com trabalho remunerado era composta por 51,1 milhões de homens e 37 milhões de mulheres. Hoje, o número de homens aumentou em 1,2 milhão, e o de mulheres, em 1,9 milhão.

Em termos percentuais, o número de homens na força de trabalho subiu 2,4% em dois anos, enquanto o de mulheres aumentou 5,3%.


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