Achados Econômicos

Proporção de acordos salariais acima da inflação quintuplicou desde 2003

Sílvio Guedes Crespo

O Dieese publicou em seu site um interessante infográfico sobre as negociações coletivas de salário desde 1996. São todos dados históricos e nenhum deles é inédito, porém, da forma como foram organizados, permitem enxergar com muita clareza como aumentou o poder de barganha dos sindicatos a partir de 2004.

O ano de 2003 foi o pior para os empregados, em todo o período estudado. Apenas 18,8% dos acordos ou convenções analisados resultaram em aumento acima da inflação.

Em 2012, essa proporção foi cinco vezes maior e atingiu 94,6% do total, no melhor ano para as negociações coletivas, do ponto de vista dos assalariados.

O indicador de inflação utilizado foi o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

 

Ao clicar no botão ''play'', nota-se que as colunas da esquerda – que mostram as categorias que tiveram aumento abaixo da inflação – vão diminuindo gradativamente a partir de 2004, de modo que, em 2012, elas praticamente sumiram, dando lugar à azuis, dos grupos que tiveram reajuste real.

A mesma pesquisa calcula que, em média, o aumento médio real foi de 1,96%. Mas é possível que tenha sido até maior. As negociações que terminaram com reajuste apenas no piso salarial não entraram no estudo, sendo que, nesses acordos, são os empregados com menor remuneração que costumam ganham o maior aumento.

O Dieese concluiu que, em 2013, o atual padrão de aumento deve se manter ou mesmo avançar, porque a “situação econômica é claramente mais positiva”, com uma expansão do PIB (produto interno bruto) que pode chegar a 3% ou 4%, diz a entidade.

Peço licença para dizer por que não tenho uma visão tão otimista. No mesmo estudo, uma das tabelas, que reproduzo abaixo, mostra que os aumentos só foram fortes no primeiro semestre do ano passado, quando muitos analistas ainda previam que o PIB brasileira cresceria cerca de 3% no ano passado.

Com o passar do tempo, as perspectivas foram piorando, e o aumento salarial, também. A partir de julho, o reajuste médio foi caindo mês a mês. Se essa tendência continuar – e os dados de fevereiro da indústria mostra que não há muitos motivos para otimismo – será difícil que esse padrão de reajuste salarial se mantenha neste ano.