Achados Econômicos

Setor aeronáutico cresce quase 20% e evita queda maior da indústria

Sílvio Guedes Crespo

Embraer 190, um dos modelos mais caros da empresa. Este foi vendido para a China Southern Airlines. Foto: Fernando Donasci/ UOL

Enquanto a indústria brasileira mergulha em uma crise e luta por medidas do governo como desvalorização do real, queda de taxas juros e corte de impostos, vale a pena prestar atenção em um setor que, ao contrário, só tem crescido ultimamente.

O ramo de construção, montagem e conserto de aeronaves avançou 19,58% no acumulado dos últimos 12 meses, enquanto o restante da indústria caiu 2%.

Trata-se de um raro exemplo de segmento com uso de alta tecnologia em que o Brasil é competitivo no mercado internacional. É um setor que se beneficia pela mão de obra qualificada formada dentro do país com recursos públicos. A Embraer é o maior empregador privado de profissionais formados no ITA (Instituto Tecnológico Aeronáutico).

Há muito que se fala na importância de centros de excelência de ensino e pesquisa que atuam em sintonia com o mercado. Não há nenhuma novidade nisso, mas não custa lembrar mais uma vez, neste momento de crise industrial, que é justamente no ramo aeronáutico que o Brasil vai bem.

Quando se compara um determinado mês com o seu equivalente no ano anterior, a indústria de aeronaves está com resultado positivo há 27 meses seguidos, ou seja, desde janeiro de 2011.

Na outra ponta, os segmentos da indústria que mais encolheram nos últimos 12 meses foram os de “caminhões e ônibus” (-24%) e “outros veículos e equipamentos de transporte” (-26%; esse ramo inclui produção de motos e bicicletas).

Retomada

Analisando a indústria não mais por ramos de atividade (exemplo: veículos, alimentos, calçados etc), mas sim pelo que os especialistas chamam de “categorias de uso” (bens de capital, bens intermediários e bens de consumo), existe a esperança de melhora.

O setor de bens de capital (máquinas usadas na produção) é o que teve melhor resultado nas últimas pesquisas. Esse segmento subiu tanto de fevereiro para março (0,7%), quanto de março do ano passado para o mesmo mês deste ano (4,3%).

Considerando o primeiro trimestre deste ano, os bens de capital subiram 9,8% em relação a período equivalente de 2012, a maior alta entre todas as categorias de uso.

Se os industriais estão comprando máquinas, é sinal de que estão interessados em produzir. Pode ser o início de uma tímida retomada.

O gráfico abaixo mostra a variação da atividade industrial por categorias de uso, acumulada em 12 meses. Em 2010, houve uma forte recuperação do setor de bens de capital. Os empresários investiram em máquinas, mas os bens de consumo não cresceram no mesmo ritmo.

A partir de 2011, a produção de bens de capital foi se desacelerando e passou a ter desempenho negativo no início do ano passado. Desde então, foi caindo mês a mês até dezembro, quando a queda acumulada em 12 meses era de 11,8%.

Já em janeiro, o ritmo de queda desacelerou, até atingir uma perda acumulada de 6,7% em março. Se a curva do gráfico continuar nesse sentido, poderemos ver uma leve recuperação industrial este ano, confirmando a projeção de diversos economistas.