Na crise, alemães são vistos como mais ‘confiáveis’ e ‘arrogantes’ da Europa
Sílvio Guedes Crespo
Mais uma pesquisa mostra que a crise econômica está dividindo a Europa em duas partes: a Alemanha e o resto.
O Pew Research Center, um instituto de pesquisa, tentou identificar o grau de otimismo ou pessimismo dos europeus em relação a seus próprios países e também à União Europeia como um todo.
Os alemães deram respostas completamente diferentes dos demais. Eles estão satisfeitos com os rumos de sua nação (57% pensam assim), acreditam que a integração econômica fortaleceu o bloco (54%), aprovam seu chefe de governo (74%) e são favoráveis à União Europeia (60%).
Ao mesmo tempo, os alemães são rotulados como os mais “confiáveis” da Europa, segundo a população de sete dos oito países pesquisados (só os gregos não os elegeram). No entanto, ele ganharam também outro estereótipo, o de mais “arrogantes”, na opinião dos cidadãos de cinco países.
Em todos os oito países em que foi feita a pesquisa, o número de pessoas que acreditam que a integração europeia fortaleceu a economia diminuiu. Somente na Alemanha a maioria ainda crê nessa hipótese.
Os dados mostram que mesmo na França, a segunda maior economia da Europa, a percepção é completamente diferente da Alemanha. Enquanto 91% dos franceses acham que vivem má situação econômica, somente 25% dos alemães pensam assim.
Em sete países onde foi feita a pesquisa, a maior parte da população acha que o seu presidente ou primeiro ministro não está sabendo lidar com a crise. A Alemanha é a única exceção: 74% aprovam a chefe do governo, Angela Merkel.
Do total da população alemã, 75% consideram que as condições econômicas atuais são boas. Além de o percentual ser, disparado, o maior entre os países pesquisados, é também o único que cresceu.
A crise veio como um balde de água fria na população dos demais países. Em 2007, nada menos que 65% dos espanhóis estavam satisfeitos com a situação econômica de seu país; hoje, só 4% estão. Na França, o percentual passou de 30% para 9%.
Mais austeridade
Apesar de a situação da Europa não ter melhorado depois que os governos resolveram cortar gastos para pagar dívidas, a maioria da população acredita que esse é o caminho para sair da crise.
Na França, 81% acreditam que reduzir despesas públicas para pagar juros é melhor do que aumentar gastos para estimular a economia. Já na Grécia, só 37% defendem que o governo continue cortando gastos. Essa diferença pode ser explicada porque o governo da França fez um esforço fiscal menor do que o da Grécia a partir de 2008. O setor público grego, que gastava mais antes da crise, fez um ajuste forte e hoje caminha para o sexto ano seguido de recessão.
Curiosamente, o apoio ao euro ainda é forte na população dos países. Nada menos que 69% dos gregos querem continuar com a moeda única; entre os espanhóis, a proporção é de 67%.