Alta do dólar faz país queimar US$ 7,5 bilhões em reservas no semestre
Sílvio Guedes Crespo
O Brasil queimou US$ 7,5 bilhões em reservas internacionais no primeiro semestre deste ano, segundo dados do Banco Central.
O país tinha US$ 378,6 bilhões no final do ano passado e encerrou o primeiro semestre com US$ 371,1 bilhões.
A queda é pequena, em comparação com o tamanho das reservas, mas mostra uma mudança de tendência. Desde meados da década de 2000 até o final de 2012, as reservas subiram fortemente e quase sem interrupção, com exceção dos meses imediatamente após a crise bancária dos Estados Unidos, que estourou em setembro de 2008.
A queima de reservas ocorreu porque o Banco Central vendeu dólares mais do que comprou, em uma reação à especulação de investidores, segundo o professor de economia Alcides Leite, da Trevisan Escola de Negócios:
“Isso [a queima de reservas] foi feito porque antes vinha muito dólar [para o Brasil]. Agora não está vindo muito. Não é verdade que saiu mais que do que entrou no semestre, tanto que o balanço de pagamentos ficou positivo. Mas fica aquele medo, aquela expectativa: ‘Será que vai subir?’. Então o próprio mercado interno começa a valorizar o dólar; começa a comprar para guardar.”
A referência que ele faz ao balanço de pagamentos é a seguinte: dados do BC mostram que entrou mais dinheiro no Brasil do que saiu no primeiro semestre. A diferença foi de US$ 6,3 bilhões.
Com isso, as reservas poderiam ter aumentado em US$ 6,3 bilhões. Mas o BC optou por atender a demanda dos que queriam comprar moeda estrangeira, vendendo dólares das reservas. Caso não o fizesse, a cotação tenderia a subir mais.
No final do ano passado, o dólar comercial saía por R$ 2,04; terminado o primeiro semestre de 2013, estava em R$ 2,22, alta de 9%.
“Aquele momento de crescimento de reservas não existe mais”, disse Leite. “Nesse nível, a queda não é preocupante, mas a gente vai passar por um momento de manutenção ou até redução.”
A fase de forte crescimento das reservas que o Brasil viveu na segunda metade da década passada foi impulsionada, primeiro, pelo aumento do preço de matérias-primas que o país vende ao exterior, como o minério de ferro.
Em seguida, aumentaram os investimentos estrangeiros diretos no país, porque as empresas e bancos estrangeiros estavam com muito dinheiro e queriam colocá-lo em mercados emergentes, que crescem mais que os ricos. Encontraram no Brasil um ambiente favorável, com uma rara combinação de democracia, mercado consumidor em crescimento e política econômica relativamente pró-mercado (em comparação a outros países latino-americanos).
Hoje, no entanto, a situação mudou. O preço das matérias-primas parou de subir (em alguns casos, até caiu) por causa, principalmente, do crescimento mais fraco na China. Os investimentos estrangeiros diretos também, pois aumentaram as chances de bancos e empresas lucrarem nos EUA, onde a economia está se recuperando.