Achados Econômicos

Peso da indústria na economia brasileira volta ao nível de 1955

Sílvio Guedes Crespo

Atualizado às 15h19*

'Folha da Manhã' em 29 de setembro de 1956: Juscelino prometia amparar indústria automobilística

A indústria tem hoje um peso na economia brasileira tão grande quanto tinha em 1955, antes de Juscelino Kubitschek chegar à Presidência e anunciar seu Plano de Metas para o desenvolvimento do país.

A produção do setor corresponde, atualmente, a 13,3% do PIB (produto interno bruto); em 1955, eram 13,1%, segundo o estudo “Por que reindustrializar o Brasil?”, divulgado nesta quarta-feira (28) pela Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).

De acordo com o estudo, a desindustrialização no Brasil começou na década de 1980, após a participação do setor no PIB atingir um pico de 27,2%, como indica o gráfico abaixo, extraído da pesquisa. A projeção da Fiesp é de que, se a atual tendência continuar, a proporção tende a chegar a 9,3% em 2029 ou antes.

A princípio, os dados poderiam levar a crer que a indústria perdeu importância para o país, tornando-se uma atividade secundária para o crescimento econômico, uma vez que o setor de serviços gera mais da metade do PIB.

A Fiesp, no entanto, defende nesse estudo uma tese exatamente oposta, de que reforçar a área industrial será indispensável se o Brasil quiser se tornar um país rico. Afirma que, se a tendência de queda da participação da indústria no PIB se mantiver, junto com uma baixa taxa de investimento das empresas, “as perspectivas de o país atingir um nível de renda per capita minimamente compatível com o patamar dos países desenvolvidos se mostram cada vez mais distantes”.

A entidade argumenta que, nos países ricos, primeiro houve uma forte industrialização, gerando aumento da renda per capita, que por sua vez viabilizou os investimentos no setor de serviços. A desindustrialização das nações desenvolvidas ocorreu ''naturalmente'', diz o estudo, mas somente depois que o PIB per capita chegou a perto de US$ 20 mil.

Um ponto comum de todos os países com mais de 25 milhões de habitantes que conseguiram atingir aquela renda per capita é que, em todos eles, esse patamar foi alcançado quando a indústria representava mais de 20% do PIB, segundo a pesquisa.

Por isso, a Fiesp acredita que o Brasil teve uma “desindustrialização prematura” e “acelerada”. Os representantes da indústria paulista propõem que o governo crie as condições para que o segmento se desenvolva e ajude a aumentar a renda per capita do país.

O estudo calcula que para dobrar a renda per capita do país em 20 anos não é preciso crescer a taxas chinesas. Basta que o PIB avance 4% ao ano. Se a meta for dobrar a nossa renda per capita em 15 anos, a economia deveria se expandir 5,3% ao ano, diz a Fiesp.

Atualmente, o peso da indústria no PIB é maior no Brasil do que em alguns países ricos, como os EUA, conforme o gráfico abaixo.

Opinião

Embora apresente dados relevantes ao comparar a desindustrialização do Brasil com a de outros países, o estudo não consegue confirmar a sua principal hipótese – de que aumentar a participação da indústria no PIB, ou amenizar sua queda, é essencial para elevar a renda per capita a US$ 20 mil.

O fato de que nove países tinham um alto grau de industrialização quando ficaram ricos não garante que todos os demais tenham que fazer o mesmo caminho para chegar lá. Muito menos que hoje essa via seja a melhor.

Nessas nações apontadas como possíveis modelos, a renda per capita de US$ 20 mil veio na década de 1970, uma época em que os serviços ainda não tinham uma participação tão grande na economia mundial.

Se o alto nível de industrialização foi um ponto comum entre os países desenvolvidos, muitos outros também foram. Por exemplo, todas as nações citadas enriqueceram num momento histórico em que o setor de tecnologia da informação não tinha o peso que tem hoje. Poderíamos concluir, então, que primeiro devemos construir fábricas, para depois pensarmos em desenvolver os softwares que as linhas de montagem vão utilizar?

A Fiesp afirma que a desindustrialização no Brasil está ocorrendo “antes de a expansão do setor de serviços intensivo em conhecimento se tornar capaz de absorver a mão de obra desempregada pela indústria”. Mas a taxa de desemprego continua em patamar historicamente baixo, sendo que alguns setores, mesmo não sendo de ponta, têm dificuldade de encontrar profissionais qualificados.

“Provavelmente, parcela significativa da força de trabalho desempregada acaba sendo alocada em setores de baixa produtividade e baixos salários e/ou em subempregos”, diz o estudo. Só que hoje mesmo uma outra pesquisa, esta do IBGE, mostra que a produtividade está crescendo no setor de serviços, mais até do que os salários, que tiveram ganhos acima da inflação nos últimos quatro anos.

A entidade representante da indústria paulista defende políticas para “moderar ou escalonar a intensidade da desindustrialização durante um longo período de tempo com o intuito de aproveitar ao máximo os benefícios de uma participação elevada da indústria no PIB”. Só que uma indústria protegida pelo Estado tem pouco estímulo para inovar e, assim, não beneficia tanto o resto da sociedade.

Em vez de moderar a queda dos setores mais hábeis no lobby político, o governo poderia retirar gradativamente o protecionismo e permitir que o capital escolha os segmentos com maior potencial de crescimento.

* Acrescentados o item ''Opinião'' (às 13h24), a imagem de jornal (14h50) e o gráfico comparando países (15h19).