Achados Econômicos

Bolsa da Venezuela sobe mais de 600% em 12 meses, maior alta do mundo

Sílvio Guedes Crespo

O presidente Nicolás Maduro: parte dos investidores prevê mudança nos rumos políticos do país

O presidente Nicolás Maduro: parte dos investidores prevê mudança nos rumos políticos do país

 

A Bolsa de Valores de Caracas é a que mais sobe no mundo atualmente. O IBC, índice de referência do mercado de ações da Venezuela, acumula uma alta de 454% desde o início do ano e de 624% nos últimos 12 meses.

Na Argentina, o índice Merval, o principal da Bolsa de Buenos Aires, subiu 81% neste ano e 122% nos últimos 12 meses.

Mesmo que as moedas dos dois países tenham se enfraquecido, a elevação das ações mais do que compensou, do ponto de vista dos investidores estrangeiros. Quem chegou à Venezuela com dólares e comprou ações do IBC há um ano, acumula até hoje um rendimento de 395%.

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Os dois países são pródigos em medidas contra o livre mercado. Nacionalizações na Venezuela já nem ganham mais tanto destaque na imprensa estrangeira, dada a frequência com que ocorrem. A mais recente foi no dia de Finados último, quando o governo assumiu o controle de duas plataformas de petróleo pertencentes à empresa americana Superior Energy Services.

Embora menos incisiva, a Argentina também está em constante confronto com investidores. Dia sim, outro também, há notícias de medidas que de alguma forma restringem o mercado, seja por meio de protecionismo, de intervenção no câmbio, de uso de metodologias estatísticas questionadas, seja por meio de medidas mais duras, como a nacionalização da petrolífera YPF no ano passado.

Neste cenário, as Bolsas venezuelana e argentina subiram nos últimos 12 meses. Países latino-americanos que adotam uma postura mais amigável com o mercado, ao contrário, levaram investidores a perder dinheiro no mercado acionário este ano.

A Bolsa do Peru caiu 22% nos últimos 12 meses; a do Chile, 8%; a da Colômbia, 5%.

No Brasil, apesar de as intervenções do governo no mercado serem bem mais brandas do que na Venezuela e na Argentina, a Bolsa de Valores de São Paulo acumula queda de 11% no ano e 5% em 12 meses.

Dois motivos

A alta da Bolsa na Venezuela não é sinal de que os investidores estejam exatamente otimistas com as empresas do país.

Em reportagens recentes, o jornal local ''El Universal'' apresentou dois fatores que, combinados, podem explicar o desempenho do mercado de ações.

Primeiro, a renda fixa não está nada atraente. Com uma taxa de juros baixa demais, os investidores não conseguem mais do que um rendimento de 15% ao ano nesse tipo de investimento, sendo que a inflação nos últimos 12 meses foi de 49%, segundo o Banco Central.

Em segundo lugar, o país restringe o envio de dinheiro ao exterior. Sem poder expatriar recursos e com a certeza de perder dinheiro no caso de investir na renda fixa, as empresas buscam alternativas para protegerem seu caixa.

O Bank of America, em agosto, recomendou que as companhias estrangeiras considerem a possibilidade de investir na Bolsa parte do dinheiro que não podem expatriar.

Além da Bolsa, outro ramo que tem atraído investidores é o imobiliário. “Com uma inflação galopante e o risco de desvalorização do Bolívar, investir em imóveis tem sido a melhor solução para proteger o caixa [das empresas]”, afirmou o “Wall Street Journal’ em reportagem.

Fora do radar

O economista Samy Dana, professor da FGV e colunista da Folha, acrescenta que nem sempre o pessimismo dos investidores diante de determinados governos se confirma, o que eventualmente provoca alta nas Bolsas de países como Venezuela e Argentina.

“O presidente fica toda hora ameaçando [tomar medidas intervencionistas] e nem sempre a ameaça se concretiza. A cada catástrofe não confirmada, a Bolsa sobe”, diz o economista.

Ele pondera, no entanto, que a alta do mercado acionário venezuelano não significa que o país esteja atraindo novos investidores, ao contrário. “O volume de negócios na Bolsa de Caracas é muito pequeno. Ela não está no radar dos investidores internacionais.”

O avanço da oposição, que perdeu a última eleição presidencial por uma pequena margem, após a morte do ex-presidente Hugo Chávez, pode estar entre os sinais de que as políticas antimercado tenham limites.

“Há grandes possibilidades de um giro rumo a um sistema mais amigável com o mercado. A pergunta chave para os que investem na Venezuela é como proteger suas posições em moeda local até chegar este momento”, observou o Bank of America, em relatório de agosto.

Bolsas no mundo

Amanhã (quarta, 6), este blog vai trazer a posição da Bolsa brasileiro dentro do ranking mundial.