Bolsa brasileira tem a 3ª maior queda do mundo em 2013
Sílvio Guedes Crespo
* Atualizado às 9h54
As Bolsas de Valores mostraram-se um excelente investimento neste ano na maior parte do mundo, com exceção de alguns países emergentes – entre eles, o Brasil.
O Ibovespa, indicador de referência das ações brasileiras, acumulou uma queda de 10,99% nos dez primeiros meses do ano. Apenas em outros dois países o mercado acionário recuou mais: no Chipre (-16,73%) e no Peru (-20,88%). A maior alta encontrada foi na Venezuela, de 454%.
O blog Achados Econômicos analisou 76 países, totalizando 77 índices de ações, uma vez que considerou dois para os Estados Unidos (Nasdaq e Dow Jones).
Dos indicadores examinados, 62 estão positivos no ano, enquanto os demais 15 acumulam baixa.
Ricos
Países ricos, fortemente afetados pela crise internacional, estão vivendo um momento de recuperação do preço das ações.
Tirando uma média simples, os principais índices de ações do G-7, grupo que reúne sete países desenvolvidos e altamente influentes, subiram 20% neste ano. Em todos os 24 mercados maduros pesquisadas, o aumento médio foi de 18%. Em nenhum delas houve queda.
A chamada periferia da Europa, que gerou turbulência nas Bolsas mundiais no ano passado por causa de problemas de endividamento, teve forte aumento de preço das ações. Na Grécia, a alta acumulada em 2013 é de 31%; na Irlanda, de 30%; na Espanha, 21%; em Portugal, 11%.
Emergentes
Entre os principais emergentes, o desempenho não foi tão bom. A média dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) ficou em apenas 0,97%, devido ao desempenho negativo de Brasil, China e Rússia.
Excluindo a Venezuela, que teve uma alta excepcional e distorceria a média, as Bolsas da América Latina avançaram 5% neste ano, considerando as seis maiores economias da região. A queda em Brasil, México, Colômbia e Peru puxou a média para baixo.
Recuperação no Brasil
A forte queda da Bolsa brasileira ocorreu no primeiro semestre. Em julho, iniciou-se uma trajetória de alta e, desde então, o Ibovespa subiu 14,33% até o fim de outubro.
Nestes últimos quatro meses, as ações nacionais passaram a acompanhar a alta verificada no mercado mundial. Para o economista Ricardo Mollo, professor de Finanças do Insper, o avanço recente do Ibovespa reflete notícias pontuais e tende a não se sustentar. Leia entrevista abaixo.
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Achados Econômicos: A Bolsa brasileira subiu nos últimos quatro meses. Essa tendência deve continuar?
Ricardo Mollo: Parece que as informações recentes fizeram a Bolsa reagir. Mas não dá para dizer que isso é uma coisa contínua, porque os indicadores dos fundamentos da economia não dizem isso.
Nós teremos um crescimento do PIB (produto interno bruto) em torno de 2% neste ano, muito abaixo do que se esperava no final de 2012.
As pessoas esperavam que a balança comercial ficasse positiva, e estamos vendo uma balança baixa ou mesmo negativa. A taxa de câmbio está bastante volátil; A taxa de juros está subindo. O que aconteceu na Bolsa recentemente é reflexo de notícias pontuais, então pode não continuar.
Quais notícias?
A continuação dos estímulos econômicos nos EUA e o leilão de Libra, por exemplo. Houve algumas aberturas de capital importantes, sendo duas no setor de educação, que é um segmento que todo mundo tem acompanhado e gostado. Isso traz dinheiro de fora.
Outro ponto é que o impacto negativo da OGX na Bolsa aconteceu principalmente no primeiro semestre. Agora ela sai do Índice Bovespa.
As eleições de 2014 já têm algum impacto na Bolsa?
Ainda não vejo evidências disso. O que tem impacto é a interferência do governo nas empresas. Esta gestão interfere muito, usa as estatais de encontrar formas ou de desenvolver o Brasil ou de encontrar soluções para problemas que o governo não conseguiu resolver. O mercado de capitais está relacionado a expectativas. É necessário que o governo mantenha as regras do jogo sempre firmes.
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* Acrescentados gráficos e entrevista