Achados Econômicos

Após ‘boom’, Brasil vira o emergente que mais perde crédito internacional

Sílvio Guedes Crespo

Depois de ser um dos países emergentes onde o crédito vindo do exterior mais aumentou, o Brasil passou para o lado oposto em meados deste ano, tornando-se a nação em desenvolvimento onde mais se reduziram os empréstimos internacionais.

No segundo trimestre deste ano, as concessões de crédito externo para empresas e bancos brasileiros reduziram-se em US$ 20 bilhões, ou 6,2%, em comparação com o primeiro trimestre, segundo dados do BIS, entidade que reúne os principais bancos centrais do mundo.

De acordo com o estudo, a concessão de crédito piorou para diversos países emergentes por causa da possibilidade de os EUA decidirem parar de imprimir mensalmente US$ 85 bilhões. Em outras nações em desenvolvimento, no entanto, o crédito não diminuiu tanto como no Brasil, conforme o indica o gráfico abaixo.

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Nota-se que, entre os países listados, somente a China teve um aumento na captação de crédito externo, de US$ 54 bilhões.

O Brasil liderou a redução em valores absolutos. Em termos relativos, no entanto, alguns países tiveram resultado pior. Enquanto aqui a redução foi de 6,2%, na África do Sul ela atingiu 9%, e na Ucrânia, 11%.

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Em maio, por causa de um comentário feito pelo Federal Reserve (banco central dos EUA), investidores começaram a achar que as compras mensais de títulos no valor de US$ 85 bilhões iriam diminuir ou serem totalmente suspensas.

Com isso, a quantidade de dólares existente iria parar de aumentar. Consequentemente, a cotação da moeda americana subiria. Ainda, a retirada desse estímulo ocorrerá quando a economia dos EUA mostrar que está se recuperando firmemente. Nesse caso, os investidores tenderão a colocar mais dinheiro no mercado americano, em vez dos emergentes, o que colocaria mais pressão de alta do dólar.

É precisamente pela possibilidade de alta do dólar que os bancos internacionais reduziram seus empréstimos ao Brasil, na opinião do BIS.

O Brasil foi, nos últimos dez anos, um dos países mais beneficiados pelo aumento do crédito por parte de bancos internacionais.

Sendo assim, empresas brasileiras contraíram dívidas em dólar. Se a moeda americana subir, mais difícil ficará honrar esses compromissos, para as empresas que têm receita em reais.

Além disso, o BIS, para avaliar a vulnerabilidade dos países, considerou também a proporção entre a dívida em moeda estrangeira e as exportações do país. No caso do Brasil, essa relação é de 99%, ou seja, a dívida é quase do tamanho das exportações anuais. No Chile e no Peru, a proporção é de 50%; no México, de 20%.

Quanto maior esse número, mais vulnerável tende a ser o país a uma eventual subida do dólar.

'Boom'

Nos últimos anos, a posição do Brasil era inversa. O país estava entre os que mais absorviam crédito internacional, de acordo com o próprio BIS. Do início de 2009 até junho de 2013, os empréstimos tomados por empresas e bancos brasileiros no exterior mais do que dobrou, atingindo US$ 237 bilhões.