Queda da produção de máquinas trava indústria em novembro
Sílvio Guedes Crespo
A pesquisa sobre a produção industrial brasileira divulgada nesta quarta-feira trouxe uma notícia boa e uma ruim.
A boa: o setor não está tão mal quanto imaginavam muitos analistas. A ruim: a queda da atividade em novembro foi causada justamente pela retração do segmento de bens de capital, ou seja, de máquinas usadas na produção – sinal de redução nos investimentos.
O ramo de bens de capital encolheu 2,6% de outubro para novembro. Trata-se de um segmento em que se depositam parte das expectativas de retomada da indústria brasileira. Se há gente produzindo e vendendo máquinas para fábricas, há necessariamente alguém que pretende usá-las.
Essa categoria da indústria é importante especialmente neste momento, em que o país tenta passar de um modelo de crescimento baseado no consumo para outro fundado no investimento. (O primeiro, que caracterizou a era Lula, está se esgotando, pois a população já compromete com dívidas uma parte muito grande da sua renda, o que limita o crescimento do consumo.)
Mas o que vemos na mais recente pesquisa do IBGE é justamente uma interrupção, momentânea ou não, dessa trajetória.
Variação da produção industrial em novembro de 2013 (%)
Categoria | Em relação a outubro | Em relação a novembro de 2012 | Acumulado jan-nov | Acumulado em 12 meses |
Bens de capital | -2,6 | 9,6 | 14,2 | 11,6 |
Bens intermediários | 1,2 | 1,3 | 0,2 | 0 |
Bens de consumo | 0,5 | -2,2 | 0 | -0,1 |
Indústria geral | -0,2 | 0,4 | 1,4 | 1,1 |
- Fonte: IBGE
Sente-se um alívio quando se observa que, na comparação com novembro de 2012, a produção de bens de capital cresceu 9,6%.
É preciso notar, no entanto, que pouco tempo atrás a situação era bem melhor. Em outubro do ano passado, o segmento havia avançado 18,4% em relação ao mesmo mês de 2012. Em setembro, a alta havia sido de 23,4%.
Trata-se, portanto, de uma desaceleração nada desprezível do setor de bens de capital, o que reduz a probabilidade de retomada da indústria.
Economistas têm afirmado que essa desaceleração se deve ao aumento dos estoques da indústria, o que leva o setor a não elevar a produção – ou mesmo a reduzi-la – até conseguir vender parte do que está guardado.
Pernas mancas
Os números da pesquisa do IBGE reforçam a hipótese, defendida neste blog em textos anteriores, que a economia brasileira neste momento não está nem diante de uma catástrofe, como querem fazer crer alguns, nem dá sinais de que vai deslanchar, como o governo tenta fazer crer. Tudo indica que estamos apenas medíocres.
Quem melhor descreveu nossa atual situação, surpreendentemente, foi o ministro Guido Mantega. Após várias projeções que se mostraram excessivamente otimistas e foram desmentidas pela realidade, ele recentemente resolveu ser menos exagerado e disse que o país cresce com as duas pernas mancas.