Indústria no governo Dilma tem pior desempenho desde Collor
Sílvio Guedes Crespo
Atualizado às 14h15*
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A indústria brasileira encolheu em média 0,3% ao ano desde 2011, de acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
O setor cresceu 0,4% em 2011, recuou 2,5% em 2012 e recuperou parte das perdas no ano passado, ao avançar 1,2%.
Comparando a evolução da indústria dentro do período de cada um dos recentes presidentes da República, a média anual do governo Dilma Rousseff é a pior desde Fernando Collor de Mello.
O número referente ao período Collor inclui apenas o ano de 1992, quando se iniciou a medição da produção industrial pela atual metodologia.
De toda a série histórica da pesquisa, o ano de maior queda da indústria foi 2009, quando a produção encolheu 7,4%. Na época, o mundo sofria as consequências da crise bancária dos Estados Unidos.
Em 2010, no entanto, a indústria brasileira teve uma forte recuperação, crescendo 10,5% – melhor desempenho desde o início da coleta de dados, em 1992.
Com isso, o crescimento médio do setor ao longo dos oito anos de governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi de 3,2% ao ano. Nos dois mandatos do período Fernando Henrique Cardoso, a alta anual foi de 1,9%. Nos dois anos de Itamar Franco, a indústria cresceu 7,5% ao ano.
Análise
A produção industrial é mais um indicador que confirma o fim do ciclo de crescimento que o Brasil conheceu na década de 2000.
Com exceção do mercado de trabalho, que continua aquecido, a maior parte dos indicadores econômicos apresentou piora nos últimos anos.
A indústria brasileira, especificamente, vem perdendo espaço para outros setores há décadas. O crescimento registrado nas décadas de 1990 e 2000 foi muito inferior ao restante da economia. A decadência se acentuou nos últimos anos.
Em meados da década de 1980, a indústria era responsável por 27% do PIB (produto interno bruto) do país. Desde então, a proporção está praticamente em queda livre, como indica o gráfico abaixo, extraído de um estudo recente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
Houve um voo de galinha no início da década de 2000, mas em seguida o setor voltou a perder importância em comparação com a economia geral, de modo que hoje a indústria equivale a cerca de 13% do PIB – mesmo patamar de 1955, quando o então presidente Juscelino Kubitschek lançou um plano de industrialização do país.
Aqui, vale uma explicação: a indústria brasileira não é, hoje, menor do que em 1960, 1980 e nem do que em 2009. É maior, mas tem crescido menos que os demais setores, de modo a perder participação no PIB.
Tem avançado menos, também, em comparação com a indústria de outros países emergentes. Em 1980, as exportações de produtos brasileiros correspondiam a 0,9% de todos os produtos comercializados mundialmente, proporção superior à de mercadorias chinesas (0,7%), mexicanas (0,4%) e coreanas (0,3%).
Hoje, as exportações brasileiras equivalem a 1,3% do comércio mundial, número inferior ao dos produtos chineses (11%), coreanos (3%) e mexicanos (2%).
“Isso mostra que os ministros da Fazenda não resistem à tentação de controlar a inflação por meio do câmbio”, disse recentemente o economista Antônio Delfim Netto, ele próprio um ex-ministro da Fazenda, de 1967 a 1974.
De fato, quando a hiperinflação foi eliminada, em 1994, o governo manteve o real forte enquanto pôde, para deixar os produtos importados mais baratos. O problema é que, consequentemente, os produtos nacionais ficam mais caros, em comparação com os estrangeiros. Os consumidores, nesses casos, acabam optando pelo que vem de fora, minando a indústria nacional.
O governo só conseguiu segurar o câmbio por quatro anos. Nossa indústria não conseguia exportar no mesmo ritmo em que as importações aumentavam. Resultado: saíam mais dólares do que entravam no país. Investidores perceberam que, cedo ou tarde, faltaria moeda americana no Brasil e resolveram especular contra o real. Em 1999, o mercado venceu, e o real foi desvalorizado.
No início da década de 2000, no entanto, a China acelerava seu crescimento e importava cada vez mais matérias-primas brasileiras. Nossas exportações dispararam. Avançaram bem mais do que as importações, de modo que os dólares voltaram a chegar. Consequentemente, o real se fortaleceu, e os produtos importados ficaram mais baratos. Assim, o câmbio ajudou a controlar a inflação durante o governo Lula. A situação estava tão boa, com expansão do crédito, que a indústria cresceu um pouco mesmo assim – mas menos do que a economia do país como um todo.
Hoje, como a China já não cresce mais tanto, e a Europa está em crise, ficou mais difícil exportar produtos brasileiros. Os dólares, em vez de entrarem, têm saído do país, aos poucos. Para piorar, os EUA estão emitindo cada vez menos moeda no mercado, pois acreditam que estão se recuperando da crise.
A consequência é que o dólar está subindo, o que tem seu lado positivo. Se por um lado o governo não consegue mais usar o câmbio para segurar a inflação, por outro os produtos nacionais ficam mais baratos, no comércio internacional. Isso pode significar uma ajuda para a indústria.
Há quem reclame que os salários dos operários estejam altos demais no Brasil. Outros põem a culpa na carga tributária. Mas a indústria alemã, por exemplo, paga salários mais altos, tem a mesma carga tributária que a nossa e convive com uma moeda forte – e a Alemanha é um dos maiores exportadores do mundo.
O que nos falta, provavelmente, é eficiência – dentro e fora da fábrica. Fora, devemos melhorar a infraestrutura do país, a burocracia e a qualificação profissional. Para aumentar a produtividade dentro da fábrica, no entanto, é preciso que o país se abra para a concorrência externa. Quem vive protegido pelo Estado tem menos estímulos para trabalhar melhor.
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