Preços de 78 produtos sobem mais que o dobro da inflação; veja lista
Sílvio Guedes Crespo
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Os preços de 78 produtos e serviços, nos últimos 12 meses, subiram mais do que o dobro da inflação, que foi de 5,59% no período, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
No total, o IBGE pesquisa, em seu índice oficial, 373 produtos e serviços, dos quais 331 ficaram mais caros nos últimos 12 meses e outros 42 tiveram queda de preço.
Entre os produtos que mais subiram, a maior parte é de alimentos. O pão francês e o macarrão ficaram 15% mais caros em um ano. A farinha de trigo aumentou 27%, e a tangerina, item com maior alta de todos os pesquisados, disparou 70%.
Acima da inflação – produtos selecionados | Variação em 12 meses (%) |
TANGERINA | 69,94 |
CHÁ | 60,76 |
FARINHA DE TRIGO | 27,36 |
CENOURA | 22,25 |
ABACAXI | 19,91 |
MELANCIA | 16,83 |
MACARRÃO | 15,07 |
PÃO FRANCÊS | 14,78 |
AZEITE DE OLIVA | 14,04 |
ESTACIONAMENTO | 13,01 |
CIGARRO | 12,9 |
QUEIJO | 12,78 |
Na outra ponta, entre os bens e serviços com maior redução de preço estão o feijão-mulatinho (-25%, maior queda entre as mercadorias pesquisadas), a passagem aérea (-14%) e o açúcar refinado (-12%).
Abaixo da inflação – produtos selecionados | Variação em 12 meses (%) |
FEIJÃO-MULATINHO | -25,49 |
FEIJÃO-CARIOCA (RAJADO) | -24,59 |
TOMATE | -18,54 |
PASSAGEM AÉREA | -14,06 |
AÇÚCAR REFINADO | -11,81 |
AUTOMÓVEL USADO | -2,16 |
TELEVISOR | -1,81 |
TELEFONE FIXO | -0,95 |
ÔNIBUS URBANO | -0,3 |
METRÔ | 0,01 |
PEDÁGIO | 0,21 |
A lista completa pode ser baixada no site do IBGE.
Opinião
Os preços que mais têm subido são os dos produtos que as pessoas compram diária ou semanalmente, como o pão, o queijo e outros alimentos, a refeição fora de casa, o estacionamento etc.
Já os preços que, segundo o IBGE, caíram ou subiram menos que a média, são os de mercadorias ou serviços com os quais a gente se depara menos, como passagem aérea (-14,06%), automóvel novo (alta de 2,68% em 12 meses) e usado (queda de 2,16%), moto (+1,14%), televisão (-1,81%) e outros.
Há, ainda, os preços controlados pelo governo, entre os quais se incluem emplacamento e licença de veículos (-3,39%), multa (0%), pedágio (0,21%), correio (1,66%) e telefone fixo (-0,95%). De acordo com a Tendências Consultoria Integrada, os preços administrados variaram em média 2,13% em um ano, enquanto os livres subiram 6,63%.
Esta pode ser uma explicação para a sensação, que em geral temos, de que a inflação é muito maior do que dizem os institutos de pesquisas. Quando vamos ao supermercado, à padaria e aos restaurantes, vemos reajustes bem maiores do que 5,59%.
É verdade que há alimentos na lista das maiores quedas, como o tomate. Mas o preço de determinadas frutas varia muito, tanto para cima quanto para baixo. O próprio tomate, no começo do ano passado, era um dos líderes de inflação, segundo o mesmo IBGE.
Tenho notado que, a cada notícia sobre inflação publicada no UOL, muitos leitores dizem que os dados estão errados. Acredito que a grande dispersão dos resultados, com os preços do dia a dia subindo mais que o dobro da inflação e outros bens em queda, provoque essa sensação.
Quando converso com economistas, não vejo a mesma desconfiança que os leitores têm em elação aos índices de preços. Há críticas quanto a outros dados do governo, particularmente aqueles relativos ao superavit primário – dinheiro que o governo destina ao pagamento de juros da dívida pública.
Existem, ainda, reclamações em relação à forma de classificar os desempregados. Por exemplo, as pessoas que não têm emprego e deixaram de procurar trabalho porque perderam a esperança são consideradas inativas pelo IBGE, e não desempregadas. (Tal metodologia, por sinal, está sendo revista.)
Mas em relação à inflação, vejo economistas de diferentes matizes ideológicas trabalhando com os dados do IBGE. Investidores, analistas e consultores usam esses números para tomar decisões ou fazer recomendações aos seus clientes.
O Fundo Monetário Internacional (FMI), que fez uma reclamação formal sobre o cálculo da inflação na Argentina, usa os índices de preços do Brasil em seus estudos, sem objeções.
A revista “The Economist”, que deixou de publicar semanalmente a inflação da Argentina, por desconfiar dos dados, não fez questionamentos aos números oficiais do Brasil.
A primeira coisa que se deve fazer para saber se o IBGE está ou não informando corretamente os preços é comparar seus dados com os de outras instituições.
Enquanto o IPCA registrou alta de 5,59% nos últimos 12 meses, o IGP-M e o IPC-S, ambos calculados pela Fundação Getulio Vargas (FGV), marcaram aumento de 5,66% e de 5,61%, respectivamente.
O IPC da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), que mede a inflação em São Paulo, constatou reajuste de 3,66% no mesmo período. O Índice do Custo de Vida (ICV), do Dieese, marcou alta de 6,04% nos preços.
Temos, então, os indicadores da FGV, da Fipe e do Dieese registando uma variação próxima à do IBGE. A diferença entre o índice oficial e os demais é pequena, se considerarmos que as pesquisas têm metodologias diferentes e, por isso mesmo, não devem trazer resultados idênticos.
É preciso lembrar, ainda, que os índices de inflação refletem o que os institutos acreditam ser o hábito de consumo médio das pessoas. Por exemplo, o IBGE considera que a alimentação em casa representa 16% dos gastos mensais de uma família, e que as refeições fora correspondem a 8,5%.
Se uma pessoa almoça e janta fora todo dia, e quase não come em casa, a inflação dos produtos que ela consome certamente vai ser maior, pois a refeição fora de casa subiu mais. Se ela sempre deixa o carro em estacionamentos, também vai sentir um pacto maior no bolso.
Para saber, definitivamente, se as pesquisas de inflação refletem ou não o que cada um vê no dia a dia, a melhor dica é de um leitor que assina como Dinto:
“Esse índice é confiável ou não? Depende! Cada família tem o seu 'índice de inflação próprio'. Dá um pouco de trabalho, mas é muito simples: em um mês, anote TUDO MESMO em que você gastou o seu rico dinheirinho. No mês seguinte, faça a mesma coisa e compare, mas com a mesma quantidade de produtos. Essa é a SUA inflação, sem viés e sem categorização por classe de consumo.”