Achados Econômicos

Inflação fica 3 anos e meio acima do centro da meta e bate recorde

Sílvio Guedes Crespo

Atualizado às 14h40

reais sergio moraes reuters

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O índice oficial de inflação no Brasil, quando medido em intervalos de 12 meses, está acima do centro da meta do governo, que é de 4,5% ao ano, há três anos e meio.

A última vez em que o indicador ficou abaixo daquele marco foi no período de 12 meses encerrado em agosto de 2010 (4,49%). Desde então, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) tem avançado em média 6% ao ano e atingiu seu pico em setembro de 2011 (7,31%). Nos 12 meses encerrados em fevereiro, ficou em 5,7%.

Desde que o sistema de metas de inflação foi adotado, em 1999, o IPCA nunca se manteve por tantos meses seguidos acima do objetivo. O segundo maior período de inflação acima da meta foi registrado entre janeiro de 2001 e março de 2004 (39 meses).

Se compararmos a atuação de cada presidente, Dilma Rousseff foi, até agora, quem manteve a inflação por mais tempo acima do centro da meta, como proporção ao tamanho do mandato. O IPCA ficou acima de 4,5% durante 100% do período em que ela está no cargo.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso aparece em segundo. Dos 48 meses em que seu governo teve que obedecer ao sistema de metas, em 36 a inflação ficou acima do número prometido, ou 75% do tempo.

Luiz Inácio Lula da Silva foi, portanto, quem manteve o melhor desempenho nesse aspecto até agora. O IPCA ficou acima do centro da meta em 67 meses, ou 70% dos 98 meses em que o ex-presidente esteve no cargo.

De 1999 até hoje, a inflação ficou acima do centro da meta em 77% do tempo.

Para essa análise, considerei as metas ajustadas de 8,5% em 2003 e 5,5% em 2004. No ano de 2002, a inflação atingiu 12,53%, sendo que a meta para o ano seguinte seria de 3,25%. Recém empossado presidente do Banco Central, em janeiro de 2003, Henrique Meirelles escreveu uma carta aberta ao Ministério da Fazenda argumentando que o governo anterior havia excedido a meta em nove pontos percentuais e, por isso, seria impossível fazer os preços convergirem para uma alta de 3,25% em apenas um ano. Meirelles calculou somente a inflação inercial herdada de 2002 teria um impacto de 4,2 pontos percentuais no IPCA.

Teto da meta

O sistema de metas de inflação define também um teto e um piso de tolerância, hoje em 6,5% e 2,5%, respectivamente.

Nosso histórico mostra que temos respeitado o limite superior na maior parte das vezes. Desde 1999, a inflação medida em intervalos de 12 meses só ficou acima do teto da meta em 27% do tempo.

Com esse tipo de medição, durante o governo Dilma, o IPCA superou o limite em apenas 9 dos seus 38 primeiros meses no cargo, ou 24% do período.

Com Lula, a inflação estourou o teto em 16 de 96 meses (17%). Como Meirelles não explicitou, na carta, qual seria o teto da meta ajustada em 2003 e 2004, considerei uma tolerância de 2,5 pontos percentuais acima do centro, que havia sido definida pelo governo anterior na resolução de 27 de junho de 2002.

No período FHC, houve o pior desempenho por esse tipo de medição. O IPCA ficou acima do teto em 24 dos 48 meses que compuseram o segundo mandato, ou 50% do período.

Regras

Pelas regras definidas no Conselho Monetário Nacional, as metas de inflação servem apenas para o ano cheio. Por exemplo, no ano passado, o IPCA chegou a atingir 6,7% nos 12 meses encerrados em junho. Mas isso não conta como um descumprimento da meta. Só contaria se ficasse acima de 6,5% no período de janeiro a dezembro.

Considerando apenas os anos cheios, a inflação só não ficou acima do centro da meta em 2000, 2006, 2007 e 2009. Ela superou o teto em 2001, 2002 e 2003.

Os simpatizantes de cada presidente costumam ter seus argumentos para justificar as metas estouradas. Por exemplo, partidários de FHC podem dizer que o culpado pela inflação de 12,5% em 2002 foi Lula, pois naquela ocasião muitos investidores temiam a chegada do petista ao poder e retiraram seu dinheiro do país, provocando uma desvalorização do real e a consequente aceleração de preços.

Já quem apoia Dilma pode citar a retirada dos estímulos dos Estados Unidos como motivo da recente alta do dólar e, consequentemente, do IPCA.

De qualquer maneira, os dados citados até aqui mostram que, historicamente, a inflação no Brasil tem ficado entre o centro e o teto da meta.