Achados Econômicos

Diferença de importação e exportação da indústria sobe 11 vezes em 6 anos

Sílvio Guedes Crespo

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A diferença entre as importações e as exportações da indústria manufatureira aumentou 11,4 vezes nos últimos seis anos, de acordo com dados da Funcex (Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior) compilados pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).

As importações saltaram de US$ 93,2 bilhões, em 2007, para US$ 198,1 bilhões, no ano passado. No mesmo período, as exportações subiram bem menos, de 83,9 bilhões para US$ 93,1 bilhões. Resultado: o deficit dessa indústria passou de US$ 9,2 bilhões para US$ 105 bilhões naquele intervalo.

grafico exportacoes importacoes manufaturas

A Funcex classifica os produtos exportados de acordo com o seu grau de elaboração. Por exemplo, minério de ferro, laranja, soja e cana de açúcar são considerados básicos. Ferro fundido, suco de laranja, açúcar e óleo de soja, que já são um pouco mais trabalhados, são chamados de semimanufaturados. Já os bens manufaturados são aqueles que passaram por maiores transformações, como automóveis, produtos químicos, têxteis, televisores, chips de computador etc.

Juntos, os produtos básicos, semimanufaturados e manufaturados tiveram não um deficit no ano passado, mas um superavit de US$ 2,6 bilhões. Isso quer dizer que o dinheiro que entra no país por meio da exportação de produtos menos trabalhados compensa, com uma pequena folga, a quantia que sai com a importação de manufaturados.

O problema é que esse saldo positivo do comércio exterior diminuiu rapidamente nos últimos anos. Em 2011, chegou a US$ 29,8 bilhões; no ano seguinte, caiu a US$ 19,4 bilhões; em 2013, como dito acima, não chegou a US$ 3 bilhões.

Entrevista

A respeito do assunto, o professor Otto Nogami, do Insper, concedeu a entrevista abaixo ao blog Achados Econômicos.

Pergunta: Porque o déficit da indústria manufatureira está aumentando com essa intensidade?

Resposta: A falta de investimento no setor produtivo fez com que a oferta não atendesse a demanda. Primeiro, temos o velho problema dos juros altos. Muitas vezes vale mais a pena aplicar em renda fixa do que investir em produção. Em segundo lugar, temos o problema da infraestrutura, que não acompanhou as necessidades da economia. Em terceiro, a deterioração de indicadores econômicos como inflação, taxa de juros e taxa de câmbio leva o investidor estrangeiro a começar a sair do país. Gradativamente, ele volta para os Estados Unidos e a Europa, que estão se recuperando.

A recente alta do dólar tende a tornar os produtos brasileiros mais baratos do que hoje, em comparação com os estrangeiros. Isso muda a tendência de aumento do déficit das manufaturas?

Não. Tanto que, de 2010 a 2013, o dólar subiu de R$ 1,62 para R$ 2,32 e o volume de exportações não aumentou; ficou estabilizado. Hoje, ainda temos o agravante de que um importador significativo dos produtos brasileiros, a Argentina, está colocando barreiras comerciais.

O que o governo pode fazer para mudar essa tendência?

Pode incentivar investimentos no setor produtivo e em pesquisa e desenvolvimento, direcionando a política de empréstimos subsidiados para as micro e pequenas empresas, que mantêm a atividade econômica, pode realizar os investimentos necessários em infraestrutura e pode definir uma política industrial bem clara, para os empresários saberem onde o governo quer chegar.

Também é necessário melhorar a qualificação da mão de obra e dar segurança no fornecimento de energia. O governo precisa evitar controlar preço. Ele mantém a gasolina a um preço artificialmente barato, mas uma hora isso vai ter que se ajustar. Então o empresários ficam tentando adivinhar quando que essas coisas vão estourar.