População ocupada para de crescer em fevereiro pela 1ª vez desde 2004
Sílvio Guedes Crespo
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O número de pessoas com ocupação remunerada parou de crescer. Esse contingente ficou estável no mês passado, em relação a período equivalente de 2013. É a primeira vez, desde pelo menos 2004, que o número de ocupados não cresce em meses de fevereiro – sempre em comparação com o mesmo mês do ano anterior.
Os números são da Pesquisa Mensal de Emprego, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Eles são relativamente baixos em comparação com o tamanho da população brasileira porque não abrangem todo o território nacional, mas apenas seis regiões metropolitanas.
Esta série histórica do IBGE começou em março de 2002, portanto, o primeiro dado para fevereiro é de 2003, e a primeira variação anual possível de ser calculada é a de 2004.
O gráfico abaixo talvez mostre mais claramente que houve, no último ano, uma interrupção abrupta da trajetória de aumento da ocupação. Ele apresenta não a quantidade total de ocupados, mas a variação, em milhares de pessoas, em relação a um ano antes.
O curioso é que essa interrupção não impediu que o desemprego atingisse 5,1% da população ativa, a menor taxa para meses de fevereiro desde que o IBGE adotou a atual metodologia, em março de 2002.
A queda do desemprego ocorreu, portanto, não porque aumentou o contingente de ocupados, e sim porque baixou o de desocupados, passando de 1,36 milhão em fevereiro de 2013 para 1,24 milhão no mês passado.
Só existem três formas de a população desempregada cair: ou essas pessoas morrem, ou conseguem trabalho, ou, ainda, decidem que não vão mais procurar emprego.
Não há indício de que elas morreram, pois a população com idade para trabalhar (maiores de 10 anos, no conceito dessa pesquisa) continua crescendo. Tampouco há sinal de que elas arrumaram emprego, pois, como mostram os dois gráficos, a população ocupada parou de crescer.
Logo, no caso do Brasil atual, o que está ocorrendo é a última hipótese: desempregados deixam de procurar trabalho e o contingente de inativos sobe. (Vale dizer que não são necessariamente as mesmas pessoas. Por exemplo, alguém que estava desocupado pode conseguir um emprego, enquanto outro que estava trabalhando se aposenta e, portanto, sai do mercado de trabalho. Nas estatísticas, no entanto, o resultado é o mesmo: queda do número de desempregados e aumento do de inativos.)
Poderíamos supor que essas pessoas deixaram de procurar emprego por desalento, isto é, por perderem a esperança. Mas uma das perguntas que os pesquisadores fazem aos que não estão trabalhando é se eles gostariam de arrumar uma ocupação. Em fevereiro deste ano, 17,1 milhões de pessoas disseram ''não'', 900 mil a mais do que há um ano.
Os números indicam que a decisão voluntária de muitas pessoas de não trabalhar é, neste momento, o que está mantendo o desemprego baixo. Para explicar o porquê dessa decisão, há muitas hipóteses.
Por exemplo, aumento do número de aposentados, queda da quantidade de aposentados que trabalham para complementar a renda (lembrando que muitos deles recebem o salário mínimo, que tem subido acima dos índices oficias e privados de inflação), aumento do contingente de estudantes que resolvem adiar sua entrada no mercado, crescimento relativo da população de mulheres solteiras que não têm onde deixar o filho pequeno enquanto trabalha etc. Essas e outras hipóteses foram discutidas em um post anterior.