Achados Econômicos

Vale a pena viver de dividendos? Compare com o retorno de outras aplicações

Sílvio Guedes Crespo

Atualizado às 11h15*

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Depois que este blog publicou, na semana passada, um levantamento apontando quanto dinheiro é preciso juntar para viver de dividendos, surgiu nos comentários dos internautas uma discussão sobre se vale ou não a pena esse tipo de investimento.

Com colaboração da Gradual Investimentos, que reuniu um conjunto de dados especialmente para este blog, mostramos que, na média das 150 empresas mais negociadas da Bolsa, os proventos pagos aos acionistas em um ano equivalem a 3% do preço atual da ação.

Dessa forma, seria necessário investir R$ 1,2 milhão em ações dessas empresas, a preços de hoje, para ganhar proventos em torno de R$ 3.000 por mês.

Isso na média do mercado. Em diversas empresas, o retorno de dividendos é maior. No caso da Companhia Siderúrgica Nacional, por exemplo, os proventos pagos em um ano equivalem a 10% do preço da ação (CSNA3). Assim, é preciso investir apenas R$ 356 mil em ações para ganhar R$ 3.000 mensais em proventos – se a empresa continuar pagando no mesmo ritmo dos últimos quatro anos.

Alguns leitores consideram que, tendo uma grande quantia disponível para investir, vale mais a pena aplicar na poupança, em CDB ou outros instrumentos financeiros.

Essa comparação é muito difícil porque o mercado de ações não é renda fixa, mesmo para quem foca em dividendos, sem se preocupar em comprar na baixa e vender na alta.

Mas dada a quantidade de leitores interessada– foram mais de 50 comentários batendo nessa tecla – vale a pena dedicar mais algumas palavras ao assunto.

Em primeiro lugar, é preciso ter em mente que, para quem quer viver de renda, o importante é o rendimento real, ou seja, deve-se descontar a inflação.

Se a poupança render 7% nos próximos 12 meses, mas a inflação for de 6%, como projetam analistas consultados pelo Banco Central, então o poupador pode sacar apenas 1% daqui a um ano sem perder poder de compra.

No caso de quem vive de dividendos, a história muda um pouco. Quem tem ações pode gastar integralmente o dinheiro ganho com proventos e mesmo assim não perderá participação na empresa. Em quantidade de ações, seu patrimônio continuará sendo rigorosamente o mesmo.

Por outro lado, tais ações, após um ano, podem ficar mais caras ou mais baratas. Se o investidor vender os papéis, ele pode ganhar ou perder com a variação do preço. Mas se o objetivo é manter as ações com prazo a perder de vista, pouco importam as oscilações de curto e médio prazo na Bolsa.

Dito isso, vamos colocar lado a lado a rentabilidade de algumas modalidades de renda fixa e o retorno de dividendos.

AplicaçãoRendimento líquido real em 12 meses
Tesouro Direto (LFT)2,5%
CDB (90% do CDI)2,0%
Poupança1,0%
Fundos DI0,8%
Dividendos (média)3%
Dividendos CSN10,1%
Dividendos Vale8%
Dividendos Petrobras6%

Na tabela acima, as projeções para renda fixa foram feitas pelo economista Pedro Vartanian Raffy, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Elas mostram quanto devem render, nos próximos 12 meses, acima da inflação oficial, considerando que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) suba 6% no período.

No caso dos dividendos, as porcentagens indicam quanto o investidor ganhará com proventos em um ano se comprar as ações pelo preço atual e se as empresas continuarem com a política de distribuição de dividendos dos últimos quatro anos.

Os números já descontam o Imposto de Renda que o investidor paga após um ano.

O gráfico abaixo segue esses mesmos critérios e tem as mesmas fontes, só que troca o retorno em porcentagem por um retorno em dinheiro após aplicação de R$ 1 milhão durante um ano. Quem investir essa quantia no Tesouro Direto, por exemplo, deve ter um ganho líquido real de R$ 25,5 mil nos próximos 12 meses. Já quem aplicar a mesma quantia em ações da Vale receberá R$ 80 mil em proventos caso a empresa mantenha o ritmo de pagamento aos acionistas verificado desde 2011.

dividendos e renda fixa

O gráfico mostra, portanto, que o retorno de dividendos, tanto na média do mercado como nas empresas selecionadas, é maior do que o rendimento projetado dessas aplicações de renda fixa.

No entanto, cabe ao investidor decidir se está disposto a correr o risco do mercado de ações, sabendo que pode perder (ou ganhar) tanto com a variação do preço das ações quanto com eventuais mudanças na política de distribuição de dividendos da empresa.

* Acrescentado o gráfico às 11h15