Em movimento raro, brasileiros reduzem importações no primeiro semestre
Sílvio Guedes Crespo
Após um aumento da cotação do dólar, os brasileiros diminuíram os gastos com produtos importados no primeiro semestre deste ano, em um movimento raro na história recente do país.
As importações feitas por todos os moradores do país de janeiro a junho, incluindo pessoas físicas, empresas, instituições diversas e setor público, somaram US$ 113 bilhões – portanto, US$ 4,5 bilhões a menos do que na primeira metade do ano passado.
Nos últimos 10 anos, só houve queda nas importações semestrais duas vezes – em 2009 e agora. Nas duas últimas décadas, isso ocorreu apenas outras três vezes: em 1996, 1999 e 2002.
Em média, no primeiro semestre do ano passado a cotação do dólar ficou em R$ 2,03. Já no período de janeiro a junho de 2014, a média registrada foi de R$ 2,30, de acordo com o Banco Central. Com o dólar mais alto, produtos importados ficam mais caros.
Como consequência da redução das compras de bens estrangeiros, a balança comercial – registro de todas as exportações e importações feitas pelo país – ficou um pouco menos desequilibrada. O deficit passou de US$ 3,07 bilhões no primeiro semestre do ano passado para US$ 2,5 bilhões em igual período de 2014.
A balança comercial, portanto, dá sinais de que está começando a se ajustar. O ideal seria que isso ocorresse por meio do aumento das exportações. Mas, para isso, seria preciso que nossos produtos se tornassem mais competitivos no mercado internacional. Quanto mais exportamos, maior tende a se tornar nossa capacidade de importar. Como nossa indústria tem dificuldade de competir no exterior, e como o preço das matérias-primas parou de subir, nossas exportações começaram a cair em 2012, conforme o gráfico abaixo.
O gráfico mostra que as exportações brasileiras eram muito superiores às importações na primeira metade da década de 1990. Após o Plano Real, em que o real se valorizou e passou a ser usado para controlar a inflação, os produtos estrangeiros ficaram caros e as importações dispararam, sem que as exportações também o fizessem. O resultado foi que, de 1995 a 2002, o saldo comercial ficou praticamente inexistente, o que é mostrado pela pequena distância entre as linhas vermelha e verde.
A partir de 2004, as exportações dispararam, com a forte demanda da China por matérias-primas. As importações também subiram muito, mas até 2011, se mantiveram bem abaixo das vendas ao exterior, levando o Brasil a registrar o melhor saldo comercial da sua história, em termos absolutos. Com a desaceleração da China, a crise na Europa (um importador de peso dos produtos brasileiros) e as barreiras da Argentina (outro parceiro comercial importante), nossas exportações passaram a crescer em ritmo cada vez menor, até começarem a diminuir, a partir de 2012.
O gráfico, bem como os demais números apresentados aqui, se referem somente ao primeiro semestre de cada ano, para que se possa fazer comparações livres de influências sazonais.