Achados Econômicos

Arquivo : agosto 2013

Governo empresta mais hoje do que antes de privatizar bancos nos anos 2000
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Sílvio Guedes Crespo

Estado recuperou a fatia de mercado que havido perdido com a privatização de bancos estaduais. Na foto, prédio da antiga sede do Banespa, hoje do Santander

Os bancos públicos voltaram a ser os maiores credores dos brasileiros, o que não ocorria desde 2000. Com isso, o Estado recuperou toda a participação de mercado que havia perdido com a privatização de instituições estaduais como o Banespa (de São Paulo) e o Banestado (do Paraná).

Somadas, as pessoas físicas e jurídicas do país hoje estão devendo R$ 2,5 trilhões ao sistema financeiro, sendo 50,3% a instituições controladas pelo governo, segundo dados do Banco Central.

O percentual é ligeiramente superior ao de setembro de 2000 (48,3%), pouco antes da venda do Banestado ao Itaú, por R$ 1,8 bilhão, e do Banespa ao Santander, por R$ 7,2 bilhões.

Dito de outra forma, nesse aspecto o setor financeiro voltou ser tão estatal quanto era antes das duas desestatizações. Uma diferença é que hoje a atuação do Estado está mais concentrada em instituições federais do que naquela época.

O gráfico mostra uma mudança de tendência no final da década de 2000. A participação dos conglomerados estatais no estoque de crédito do país (a soma de todas as dívidas) caiu fortemente ao longo dos anos 1990, quando ocorreram as privatizações.

O percentual, que estava em quase 70% no final da década de 1980, atingiu a faixa dos 35% em 2001, permanecendo abaixo dos 40% até 2008, ano em que estourou a crise bancária dos Estados Unidos.

Nesse ponto, as administrações tucana e petista tomaram rumos opostos. Enquanto o governo Fernando Henrique Cardoso reduziu a presença do Estado no mercado de crédito, a gestão de Luiz Inácio Lula da Silva a manteve inalterada, num primeiro momento, e depois a elevou. O crescimento da participação estatal continua na administração Dilma Rousseff.

Crise

Depois que o banco americano Lehman Brothers quebrou, em setembro de 2008, o sistema financeiro de todo o mundo entrou em alerta. No Brasil, o governo determinou que os conglomerados financeiros públicos aumentassem os empréstimos para amenizar os efeitos da crise.

Além disso, as instituições estatais passaram a comprar participações e carteiras de crédito de instituições menores. Em 2009, o Banco do Brasil adquiriu 50% do Votorantim; a Caixa Econômica Federal, 30% do Panamericano.

De lá para cá, os bancos estatais continuaram com a missão não escrita de suprir a demanda por crédito que as instituições privadas estariam relutando em atender.

Em 2011, o governo determinou que eles reduzissem suas taxas de juros, de modo a forçar os rivais privados a fazerem o mesmo. Meses depois, veio a ordem para as instituições estatais baixarem também suas tarifas.

Ainda, o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) elevou seus empréstimos. Somente no ano passado, desembolsou R$ 156 bilhões, 346% mais do que em 2003.

Enquanto o governo tomava essas medidas, pessoas e empresas passaram a procurar os bancos públicos. A participação dos conglomerados estatais no estoque de crédito do país subiu sem parar. Saltou de 33,8% em fevereiro de 2008 (menor percentual já registrado) para os atuais 50,3%.


Com menos IPI, montadoras quintuplicam ritmo de investimento no exterior
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Sílvio Guedes Crespo

Atualizado às 18h48*

A indústria automobilística instalada no Brasil aumentou a produção e as vendas no país nos últimos anos, mas, em proporção bem maior, tem elevado os investimentos no exterior, mostram dados do Banco Central.

Desde 2009, o setor automotivo brasileiro investiu US$ 3,4 bilhões no exterior, o que dá uma média de US$ 64 milhões por mês saindo do país. Anos antes, de 2006 a 2008, essa média era de apenas US$ 12 milhões. Trata-se de um aumento de 429%.

Na mesma base de comparação, a produção subiu bem menos (20%), assim como o emprego nas montadoras (22%). O blog analisou apenas o período desde 2006 porque as planilhas do BC, antes disso, não informavam os investimentos diretos no exterior feitos especificamente pelo setor de veículos.

Esses são os valores que as empresas transferiram a outros países na forma de investimento direto. Não se referem às remessas de lucro (que sempre foram grandes, e somaram US$ 16,4 bilhões desde 2009), e sim a gastos direcionados diretamente para a produção.

O volume ainda é bem inferior ao que as companhias enviaram para cá (US$ 6,2 bilhões desde 2009). Mas, enquanto o investimento das empresas brasileiras lá fora subiu 429%, como explicado acima, o das estrangeiras no Brasil avançou menos (114%, no mesmo tipo de comparação).

Corte de IPI

Coincidentemente, os US$ 3,4 bilhões, quando convertidos para reais de hoje, são R$ 8 bilhões, valor muito próximo dos R$ 8,2 bilhões que a Receita Federal estima ter deixado de arrecadar com os sucessivos cortes do imposto desde 2009 até junho deste ano.

Não se pode dizer que as empresas estão investindo no exterior por causa das desonerações. Além do mais, a redução do IPI, mesmo que por prazo determinado, é benéfica para os consumidores em geral, quando ela é repassada, ao menos em parte, ao preço do produto.

Mas é fato que os brasileiros, que chegam a pagar mais que o dobro por carros iguais ou inferiores aos vendidos em outros países, estão ajudando uma indústria que, cada vez mais, coloca seu dinheiro no exterior, justamente num momento em que a economia do país clama por investimentos.

Não é possível, nem desejável, que um fabricante seja impedido de faturar no país e investir lá fora. É necessário, no entanto, averiguar por que as companhias estão aumentando os aportes de capital lá fora, sendo que estão no quarto maior mercado consumidor de veículos do mundo, que por sinal é protegido por impostos anti-importação.

Procurada, a associação de montadoras não comentou o assunto.

Montadoras em ‘apuros’

Ao pagar caro pelos veículos, os brasileiros estão ajudando a gerar empregos também em outros países, segundo a professora Adriana Marotti de Mello, do curso de administração da USP. Leia entrevista abaixo.

Por que as montadoras instaladas no Brasil estão investindo em outros países?

O problema está relacionado aos apuros pelos quais as montadoras têm passando no exterior. Elas estão dando lucro em países como o Brasil, de modo que as filiais ganham importância em relação às matrizes. E a redução de IPI ajuda as empresas a recuperarem a lucratividade.

Ao pagar caro pelo carro, nós estamos ajudando a gerar produção e emprego também no exterior?

Sim. Temos um mercado grande e protegido, onde não existe uma competição real. As quatro maiores montadoras ainda dominam cerca de 60% do setor. Então a margem de lucro é bem mais alta do que em outros países. O setor automotivo sempre está entre os que fazem maiores remessas. Se estivessem investindo aqui, seria melhor. Mas isso só se resolveria se tivéssemos uma indústria nacional, ou seja, com empresas sediadas aqui, o que não vejo ocorrendo num futuro próximo.

* Acrescentada a informação de que, na forma de remessas de lucro ao exterior, o setor de veículos enviou US$ 16,4 bilhões desde 2009 (além dos US$ 3,4 bilhões, que deixaram o país na forma de investimento direto


Preço de carro de luxo antigo sobe mais de 400% em dez anos
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Sílvio Guedes Crespo

Um dos oito exemplares restantes desta Ferrari, ano 1957, vai a leilão dia 17. O preço estimado é de US$ 9 milhões a US$ 11 milhões

Os carros de luxo antigos se tornaram um dos melhores investimentos do mundo nos últimos dez anos, segundo um levantamento feito pela revista britânica “The Economist.

A publicação lançou um indicador de preços que chamou de “índice de bens valiosos”, que abrange mercadorias de colecionadores, como carros antigos, obras de arte, moedas, selos, vinhos e instrumentos musicais – somente com itens raros.

De todos esses grupos de bens, o de veículos foi, de longe, o que teve maior valorização nos últimos dez anos, com alta em torno de 450%.

Moedas antigas e selos aparecem quase empatados em segundo lugar, com valorização de 255% e 254%, respectivamente. Violinos subiram 191%,  e vinhos, 183%.

Os números mostram que esses bens, de modo geral, deram muito mais dinheiro do que as ações mais negociadas das Bolsas de Valores. O MSCI World, um índice que reúne papéis de empresas de 24 países, rendeu 147% no período, incluindo os ganhos que os investidores têm com dividendos.

Os instrumentos musicais e as artes, no entanto, não tiveram uma performance tão boa no mercado. O preço de violões e guitarras antigos aumentou 116% (abaixo, portanto, do indicador mundial de ações). O de obras de arte subiu apenas 45%.

Preços

Para se ter uma ideia dos preços que os carros antigos atingiram, uma sugestão é acompanhar a Peeble Beach Automotive Week, exposição na Califórnia, EUA, em que serão leiloados diversos modelos.

Um dos destaques será a Ferrari 250 GT 14-Louver Berlinetta, ano 1957, com preço de referência de US$ 9 milhões a US$ 11 milhões.

Também está à venda um Alfa Romeo de 1948, a US$ 3,5 milhões. O carro mais antigo será um Bugatti de 1925, por US$ 3 milhões.


Comércio tem crescimento mais baixo dos últimos 10 anos
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Sílvio Guedes Crespo

Texto atualizado às 10h14*

O comércio, setor que continuava apresentando bons resultados apesar da fraqueza da economia em geral, perdeu fôlego e cresceu apenas 3% no período de janeiro a junho, menor variação dos últimos anos, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

A última vez em que o setor teve um desempenho pior em um primeiro semestre foi em 2003, quando houve uma retração de 5,6%, como indica o gráfico.

Depois disso, o varejo disparou e passou a crescer a uma média de 8% nesse período do ano, atingindo um pico de 11,5% em 2010, último ano do governo Lula.

O varejo continuou forte nos dois primeiros anos da gestão Dilma, tendo crescido 9% no primeiro semestre de 2012. Foi nos últimos meses que o setor começou a fraquejar.

Contrapeso

O desempenho do comércio, no ano passado, serviu como um contrapeso ao fraco resultado da atividade econômica como um todo.

O consumo das famílias, ao crescer 3,1%, ajudou a compensar a queda de 4% dos investimentos.

Mas os números do primeiro semestre de 2013 indicam que o consumo está perdendo fôlego. Nos 12 meses encerrados em janeiro, as vendas em supermercados, por exemplo, haviam subido 8,4% sobre igual período do ano anterior. Já nos 12 meses até junho de 2013, a alta foi de 4,4%.

Nesse mesmo tipo de comparação, o comércio de móveis, eletrodomésticos e artigos farmacêuticos também desacelerou, conforme o gráfico abaixo.

 

Houve um pequeno aumento do crescimento no setor de roupas, no mercado editorial e de papelaria, bem como no segmento que o IBGE classifica como “outros artigos de uso pessoal e doméstico”, mas não o suficiente para reverter a desaceleração geral do comércio.

Emprego

O comércio foi crucial para manter o nível de emprego nos últimos anos, em que a expansão do PIB passou de 7,5%, em 2010, para 2,7%, em 2011, e 0,9%, no ano passado.

Em 2011 e 2012, o comércio varejista gerou 715 mil empregos com carteira assinada, enquanto a indústria de transformação criou 316 mil, e a agricultura, apenas 92 mil.

No entanto, em 2013 está ocorrendo uma inversão. Em vez de abrir vagas, o comércio fechou 39 mil de janeiro a junho.

A boa notícia é que, no mesmo período, a indústria compensou essa perda. No primeiro semestre, gerou 187 mil empregos formais, mais que o dobro de todo o ano passado (91 mil).

Se a retomada da indústria se sustentar no longo prazo, isso pode ter impacto positivo no comércio, que poderia, mais à frente, se recuperar da atual desaceleração.

Título alterado de ‘Ritmo de crescimento do comércio cai à metade em três anos’ para ‘Comércio tem crescimento mais baixo dos últimos 10 anos’. Início do texto adaptado ao novo recorte


Em 19 anos, aplicação de R$ 100 vira R$ 2 mil, mas dívida atinge R$ 7 milhões
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Sílvio Guedes Crespo

Você sabe qual é a diferença entre os juros que você ganha do banco, quando empresta dinheiro, e os que você paga, quando toma emprestado?

Quando olhamos para os números no curto prazo, já enxergamos um abismo. O CDB (Certificado de Depósito Bancário), o papel que você recebe quando empresta ao banco, está rendendo atualmente 7,8% ao ano, em média.

Já o crédito pessoal, aquele dinheiro que você toma emprestado sem nenhuma garantia, rende 73% ao ano para a instituição financeira.

Ao pensarmos em como isso ficaria no longo prazo, então, a diferença é muito mais gritante.

O banco que tomou emprestado R$ 100 de uma pessoa física (ou seja, que emitiu um CDB a esse preço) em 1º de julho de 1994, início do Plano Real, teria que devolver, hoje, R$ 2.038 a esse cliente. Descontado o Imposto de Renda, o pequeno investidor poderia resgatar R$ 1.733.

Considerando que a inflação foi de 333% no período, a rentabilidade real dessa aplicação foi de 370%.

No caminho inverso, se porventura uma pessoa física fizesse exatamente o mesmo que o banco fez, ou seja, tomado emprestados R$ 100 em 1994 e nada ter pagado nesse período e nem mesmo renegociado, sua dívida estaria hoje na casa dos milhões. Mais precisamente, ele deveria R$ 7.205.180,78.

A conta foi feita pelo economista Fabiano Guasti Lima, a pedido do blog Achados Econômicos. Ele é pesquisador do Instituto Assaf e professor da USP em Ribeirão Preto.

É claro que um banco jamais deixaria a situação chegar a esse ponto. Muito antes de a dívida atingir a casa do milhão, o credor já teria interpelado judicialmente o devedor, de modo que o saldo pudesse ser pago, ainda que após renegociação.

Mesmo assim, esses números são mais do que mera curiosidade. São uma forma de mostrar o que é o chamado “spread” bancário, a diferença entre quanto o banco paga para quem lhe empresta e quanto ele cobra quando empresta ao outros.

Os números mostram o enorme poder de barganha das instituições financeiras diante dos seus clientes. Considerando que houve uma forte concentração do setor bancário nos últimos anos, essa assimetria pode estar aumentando.

Conforme este blog noticiou anteriormente, os cinco maiores bancos guardam hoje 83% dos depósitos em conta corrente do país. Em 1995, a proporção era de 68%.

Aplicações

A rentabilidade real do CDB desde 1994, de 370%, foi uma das melhores, entre as aplicações disponíveis para pessoa física. A Bolsa, por exemplo, gerou ganhos de 201%, e a poupança, 181%.

Veja abaixo o rendimento acumulado de diversos tipos investimentos acessíveis para pessoas físicas no período.


Menos de 25% dos impostos miram especificamente classes média e alta
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Sílvio Guedes Crespo

Embora a carga tributária brasileira seja alta para a sociedade como um todo, os impostos voltados exclusivamente para atingir as classes média e alta são até baixos se comparados com outros países, segundo um estudo recente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

Os pesquisadores calcularam a “brecha fiscal” de diferentes países latino-americanos. Trata-se do excesso ou falta de impostos de uma nação em comparação com outras que tenham características semelhantes.

O Brasil tem a maior carga tributária da América Latina, uma vez que a arrecadação de impostos por aqui corresponde a 34% do PIB (produto interno bruto), segundo o BID, conforme o gráfico abaixo.

Dessa forma, calcula o BID, o Brasil tem uma carga tributária mais de cinco pontos percentuais superior à dos seus pares, ou seja, à de países com características semelhantes em termos de PIB per capita, de proporção da população com menos de 15 anos e mais de 65, entre outros indicadores.

Já quando se considera apenas os impostos sobre a renda, que são pensados para atingir mais as classes média e alta, e menos (ou nada) os pobres, nossos tributos são cerca de um ponto percentual inferior aos de países com características semelhantes às nossas, afirma o BID.

Os números fazem parte de um conjunto de estudos recentes sobre impostos, elaborado pelo banco de desenvolvimento.

Os principais resultados das várias pesquisas feita pelo BID nos últimos meses foram reunidos em um amplo estudo intitulado “Não basta arrecadar“.

Impostos sobre pobres

Em outra pesquisa, do economista José Roberto Afonso, mostra que apenas 3,4% (R$ 50,7 bilhões) da arrecadação de impostos no Brasil, nos níveis federal, estadual e municipal, vem de tributos sobre o patrimônio, e somente 21,3% saem de taxas sobre lucros e rendas.

Em outras palavras, menos de 25% do dinheiro público do país vem de impostos progressivos, aqueles que, em tese, são feitos para atingir mais os mais ricos.

De outro lado, os tributos sobre bens e serviços geram 41,6% da arrecadação. Ao contrário dos anteriores, eles podem ser chamados de regressivos, pois atingem mais os mais pobres, proporcionalmente. A alíquota que incide, por exemplo, sobre a venda de um móvel é a mesma para qualquer pessoa que o compre, não importa se ela é rica ou não. Digamos que os impostos sobre a venda de determinado sofá somem R$ 100. Se a pessoa ganha R$ 1.000, eles correspondem a 10% da renda. Se ganha R$ 10 mil, chegam a apenas 1%.

O restante da arrecadação vem de tributos sobre mão de obra e outros, como indica o gráfico abaixo.

 

O professor Fernando Botelho, da FEA-USP, comenta o estudo.

Os impostos progressivos geram menos de 25% da arrecadação. O que isso diz para o senhor?

O Imposto de Renda no Brasil é baixo. Em países ricos, existem alíquotas que chegam a 50% para os muito ricos. É preciso rebalancear a distribuição dos impostos. Temos que ter mais tributos diretos (por exemplo, sobre a renda, lucro e propriedade), mas diminuindo assustadoramente os indiretos (sobre o consumo), de modo que a carga tributária caia. Os impostos indiretos oneram proporcionalmente os mais pobres e ainda atrapalham a competitividade do país.

A desoneração da cesta básica e da folha de pagamento das empresas de alguns setores ajuda?

A desoneração da cesta básica, sim. Mas essa mania de mexer um pouquinho aqui e depois ali, não. O governo substituiu o imposto sobre a folha de trabalho por um outro sobre faturamento. O problema é que isso ajuda mais as empresas que gastam muito com pessoal. Quem investiu em máquinas, dançou.


Tributo sobre o trabalho é quase o dobro do que incide sobre o capital
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Sílvio Guedes Crespo

Os tributos que incidem sobre o trabalho no Brasil são quase o dobro daqueles que recaem sobre o capital, segundo um estudo recente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

É uma situação bem diferente da verificada na maior parte dos países ricos. Na Austrália, por exemplo, o quadro é o inverso: a carga tributária sobre o trabalho é metade da carga sobre o capital, conforme indica o gráfico abaixo.

O BID elaborou 20 pesquisas nos últimos meses sobre a tributação na América Latina, que deram origem a um grande trabalho consolidado chamado “Não basta arrecadar”, divulgado em maio.

Achados Econômicos passou um pente fino nesse conjunto de pesquisas sobre a região e extraiu os dados que considerou mais interessantes. Os números sairão em posts desse blog nos próximos dias.

A informação de que o tributo sobre o trabalho, no Brasil, é quase o dobro daquele sobre o capital está na pesquisa “Há uma inclinação antilaboral nos impostos na América Latina?”, um dos 20 trabalhos que deram origem ao “Não basta arrecadar”.

Carga efetiva

O estudo considera a carga tributária efetiva, ou seja, o que as pessoas físicas e jurídicas efetivamente pagam de impostos.

Alguns tributos têm alíquotas altas, mas os contribuintes acabam pagando menos, seja porque pertencem a algum setor com incentivo, seja porque encontram brechas para não contribuir como o governo gostaria.

Para calcular a carga tributária efetiva, os pesquisadores pegaram o total arrecadado com determinados tributos e dividiram pela base de cálculo.

Por exemplo, carga tributária do trabalho é o dinheiro arrecadado com os impostos sobre os salários dividido pelo total dos salários do país, o que resultou em uma relação de pouco mais de 40%, segundo o estudo. Já a carga sobre o capital é a soma dos impostos pagos por empresas e pessoas físicas sobre a renda, os lucros e a propriedade dividida pela soma da receita das empresas e pessoas físicas provenientes de fontes que não o trabalho. Essa relação, no Brasil, está perto de 20%, de acordo com o BID.

O problema de um quadro como o brasileiro, no qual a tributação é muito maior sobre os salários do que sobre o capital, é que isso tende a desestimular a formalização do trabalho.

No caso brasileiro, a formalização aumentou fortemente durante a década de 2000, com o crescimento econômico e a consequente queda do desemprego. Os empregadores teriam um estímulo a mais para assinar carteira se a estrutura tributária pesasse menos sobre a folha de pagamento.

Nos últimos anos, houve uma série de incentivos nesse sentido (corte de tributos sobre o trabalho) em setores específicos, sem desonerar o mercado de trabalho como um todo.


Cliente pode economizar até 78% após pesquisar seguro residencial
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Sílvio Guedes Crespo

Quem busca um seguro residencial, para evitar uma perda, por exemplo, de um patrimônio de R$ 250 mil de uma hora para a outra, vai encontrar uma enorme variação nos preços cobrados pelas seguradoras.

Um estudo da Fundação Proteste mostrou que, para a mesma residência, uma empresa chega a cobrar até quatro vezes mais que sua concorrente mais barata.

Para cobrir perdas de até R$ 230 mil em um determinado imóvel em Porto Alegre, por exemplo, um seguro pela Mapfre custa R$ 4.211 por ano, enquanto pela ACE sai por R$ 940, ou 78% menos.

Veja abaixo os preços mais caros e os mais baratos em cinco diferentes cenários pesquisados. Foram consultadas 13 seguradoras.

 

SÃO PAULO, SP
Apartamento habitual, bairro Vila Clementino. CEP: 04026-001
Cobertura inclusa: R$ 250 mil (prédio + conteúdo)
Mais caro: Bradesco (R$ 931)
Mais barato: Zurich Minas (R$ 431)

RIO DE JANEIRO, RJ
Apartamento habitual, Recreio. CEP: 22631-000
Cobertura inclusa: R$ 180 mil (prédio + conteúdo)
Mais caro: Itaú Seguros (R$ 659)
Mais barato: Zurich Minas (R$ 315)

PORTO ALEGRE
Casa habitual, Bela Vista. CEP: 90440-080
Cobertura inclusa: R$ 230 mil (prédio + conteúdo)
Mais caro: Mapfre (R$ 4.211)
Mais barato: ACE (R$ 940)

BELO HORIZONTE
Casa habitual, Parque Copacabana. CEP: 31550-130
Cobertura inclusa: R$ 130 mil (prédio + conteúdo)
Mais caro: Marítima (R$ 1.353)
Mais barato: Zurich Minas (R$ 560)

RECIFE
Apartamento veraneio, Boa Viagem. CEP: 51011-000
Cobertura inclusa: R$ 100 mil (prédio + conteúdo)
Mais caro: Porto Seguro (R$ 1.520)
Mais barato: Itaú Seguros (R$ 429)

Qualidade

Antes de fechar o contrato, no entanto, não basta olhar os preços. É preciso saber se não existem pegadinhas nos contratos.

Os clientes podem ser pegos de surpresa se não prestarem atenção, por exemplo, na franquia, que é a parte do prejuízo que o próprio dono paga.

Outro problema é o limite de indenização, valor mínimo do prejuízo para dar direito a recorrer à seguradora.

Um terceiro é o valor total coberto. Nem sempre a seguradora cobre o valor que o cliente quer.

O quarto ponto em que é preciso prestar atenção é o próprio alcance da cobertura. Por exemplo, somente duas das 13 empresas pesquisadas (Bradesco e Mapfre) cobrem prejuízos causados por alagamento.

É preciso ter consciência, portanto, de que pagar um preço menor às vezes pode significar um prejuízo um pouco maior no futuro. Vai de cada cliente decidir se assume esse risco ou não.

A tabela abaixo mostra a avaliação da qualidade feita pela Proteste. A fundação analisou três aspectos das seguradoras: a franquia (quanto mais alta, menor a nota), o limite mínimo de indenização (idem) e o valor da coberta (quanto maior, mais alta é a nota).

Na coluna Incêndio, queda de raio e explosão, apenas três empresas apresentaram conceito “muito bom” – a Bradesco Seguros, a Porto Seguro e a Caixa Seguros. Elas tiveram nota máxima porque não cobraram franquia nem limite mínimo de indenização, e ainda ofereceram a cobertura de 100% do capital que a Proteste solicitou.


Lucro do Itaú Unibanco sobe 76% após fusão
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Sílvio Guedes Crespo

O Itaú Unibanco fechou o primeiro semestre de 2013 com o  maior lucro da história do setor bancário nacional – pelo menos por enquanto, já que outro gigante, o Banco do Brasil, ainda não divulgou seus resultados sobre o segundo trimestre deste ano.

Quase cinco anos após a fusão, ocorrida no final de 2008 – que, logo ficou claro, foi muito mais uma aquisição do Unibanco pelo Itaú – Achados Econômicos faz uma breve seleção de dados sobre o maior conglomerado financeiro privado do país.

Lucro

O lucro líquido do Itaú Unibanco no primeiro semestre deste ano foi de R$ 7,2 bilhões, um recorde do setor bancário.

Nos cinco anos anteriores à fusão (2004 a 2008), o lucro somado dos dois bancos era bem mais baixo. Na média dos primeiros semestres, ficou em R$ 3,648 bilhões. De 2009 a 2013, a média de lucro do Itaú Unibanco foi de R$ 6,4 bilhões por semestre, um salto de 76%.

No Bradesco, seu principal concorrente privado, o aumento foi de 68%. No Santander, a alta foi bem mais expressiva, de 131%, mas deve-se considerar que nesse intervalo houve a compra do ABN Amro e do Real. Ainda assim o banco espanhol está bem atrás do Itaú; seu lucro foi de R$ 2,9 bilhões no primeiro semestre de 2013.

Agências

Em número de agências, o Itaú Unibanco avançou pouco depois da fusão. Hoje tem 3.871 unidades, apenas 8% mais do que antes da fusão. Seus concorrentes foram mais longe nesse aspecto.

Funcionários

O Itaú Unibanco chegou a aumentar o número de funcionários nos primeiros anos depois da fusão, mas em 2012 teve uma redução, diferentemente dos concorrentes, que elevaram o contingente ano após ano.

 


País volta a depender de especulador para equilibrar contas externas
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Sílvio Guedes Crespo

Atualizado às 15h52 (acrescentados dois parágrafos na conclusão)

O Brasil voltou a depender dos especuladores internacionais para compensar o dinheiro que sai do país com importação de bens e serviços.

No primeiro semestre, saíram das nossas fronteiras US$ 3 bilhões por meio do comércio (exportações menos importações), US$ 22 bilhões por meio de serviços prestados no exterior (como viagens) e US$ 20 bilhões na forma de rendas, de acordo com dados do Banco Central. Por outro lado, entraram US$ 2 bilhões por meio de remessas feitas por brasileiros que moram no exterior.

Esses quatro números se referem ao fluxo líquido, ou seja, à diferença entre as entradas e saídas. Eles formam o grupo de dados que o BC chama de transações correntes. Em conjunto, essas operações ficaram negativas em US$ 43 bilhões no primeiro semestre, ou seja, essa foi a quantia que deixou o país por meio do comércio de bens e serviços, e também por meio de renda e das remessas feitas por pessoas físicas.

Nos últimos anos, o deficit das transações correntes não trazia problemas para o país porque, ao mesmo tempo em que esse dinheiro saía, uma quantia muito maior entrava na forma de investimento estrangeiro direto (investimento em produção, como construção e reforma de fábricas).

Na primeira metade deste ano, no entanto, isso mudou. Os investimentos diretos líquidos somaram US$ 37 bilhões. Ficaram faltando, portanto, US$ 6 bilhões para compensar o deficit nas transações correntes. Essa diferença foi coberta pelo capital especulativo, aqui entendido como os investimentos que não vão para o setor produtivo, e sim para o mercado financeiro (por exemplo, títulos de renda fixa).

A última vez em que o país teve que recorrer a especuladores internacionais para equilibrar as contas externas em um semestre foi na primeira metade de 2010.

O gráfico abaixo mostra a necessidade de capital especulativo do país em cada ano. Quando o resultado é negativo, significa que as transações correntes e os investimentos diretos foram mais do que suficientes para trazer dólares ao país, de modo que nesses casos não dependemos de capital em setores não produtivos.

Como se pode ver, desde a década de 2000 foram raras as vezes em que o gráfico deu positivo, ou seja, em que precisamos recorrer a capital especulativo para equilibrar as contas externas.

Dependência do dólar

Os brasileiros precisam de dólares porque o real não é uma moeda aceita mundialmente. Quando compramos algum bem importado, normalmente temos que usar a moeda americana.

Quando o dólar está em falta, a cotação sobe. Ou então o Banco Central vende parte das suas reservas, mesmo que com compromisso de recomprar no futuro. Para não queimar reservas, é bom que entre no país pelo menos a mesma quantidade de dólares que sai. Ou seja, as contas externas precisam ficar equilibradas.

Historicamente, as contas externas são um desafio importante na economia brasileira. Já estivemos melhor do que hoje, mas também já tivemos fases bem piores.

Como disse o economista Samy Dana, o capital especulativo não é necessariamente ruim. Problema maior seria se nem esse tipo de investimento chegasse ao país, como já ocorreu em outros tempos.

Maus tempos

Hoje, o Brasil voltou a depender de capital especulativo, mas pelo menos os especuladores ainda colocam dinheiro aqui. No final da década de 1990, ao contrário, o país não só não atraía investimento direto suficiente como também não convencia nem os especuladores.

Em 1998, por exemplo, saíram do país US$ 33 bilhões nas transações correntes. Juntos, os investimentos diretos (que ficaram em US$ 26 bilhões) e o capital estrangeiro não produtivo (US$ 4 bilhões) chegaram apenas a US$ 30 bilhões. Faltaram, portanto, US$ 3 bilhões para fechar a conta.

O resultado foi a queima de grande parte das reservas internacionais do país (pressionada não só por esses resultados, mas também pelas especulações contra o real, gerando uma bola de neve).

De 1996 a 2000, tais reservas caíram praticamente à metade, como aponta o gráfico abaixo. Só voltaram a subir com força a partir de 2006 (e no início de 2013 voltaram a ter leve queda).

Bons tempos

O clima melhorou, e muito, quando o preço das matérias-primas que o Brasil exporta subiu, por conta da China, que crescia absurdamente e não parava de comprar bens como minério de ferro e produtos agrícolas.

As exportações aumentaram tanto que, de 2003 a 2007, o país chegou a ter superavit nas transações correntes, como indica o gráfico abaixo. Ou seja, não dependia nem dos especuladores nem dos investidores do setor produtivo para equilibrar as contas externas.

Depois, as importações foram aumentando mais do que as exportações, de maneira que, a partir do final da década de 2000, o comércio de bens e serviços voltou a ficar deficitário.

Mas isso não se tornou um problema, uma vez que entrava muito dinheiro na forma de investimento estrangeiro direto. Eram banqueiros e empresários de países ricos colocando seu capital no setor produtivo brasileiro.

Dependência

Hoje, no entanto, os preços das matérias-primas não sobem mais, só que as importações continuaram aumentando. Nós passamos de um superávit de US$ 3 bilhões na balança comercial, no primeiro semestre do ano passado, para um déficit de US$ 7 bilhões na primeira metade de 2013.

Os investimentos estrangeiros diretos continuam altos, mas não o suficiente para cobrir o crescente déficit nas transações correntes, que aumentou de US$ 25 bilhões nos seis primeiros meses de 2012 para nada menos que US$ 43 bilhões em período equivalente de 2013.

Nos restou a sede dos especuladores. Para não descermos mais um degrau, voltando à situação do final da década de 1990, em que nem os especuladores queriam colocar dinheiro no país, é preciso que nossa economia se torne mais atraente para os investidores do setor produtivo ou mais favorável para os exportadores.

Nesse aspecto, temos duas boas notícias. A recente desvalorização do real pode tornar nossa indústria mais competitiva, favorecendo as exportações e também melhorando a capacidade de concorrer com os produtos importados. Ainda, os leilões de infraestrutura, se obtiverem sucesso, devem trazer grandes investimentos estrangeiros ao país.

Mas o câmbio, sozinho, não resolve, segundo diversos economistas têm afirmado. Primeiro porque a queda do real pode gerar inflação, uma vez que os importados ficam mais caros. Depois, porque o custo dos produtos nacionais precisa cair. Isso pode ser feito, entre outras coisas, pela redução da carga tributária (que, por sua vez, exigiria maior controle de gastos públicos).

Por último, é preciso que o mercado internacional ajude. A Europa, um dos grandes clientes dos exportadores brasileiros, está afundada em uma crise. A China, que compra nossas matérias-primas, vive uma desaceleração.

Como disse Samuel Pessôa, da FGV, no Valor: “A vida do próximo presidente será dura”. Diria mais, que a situação de Dilma Rousseff já não está fácil.