Quer viver de dividendos? Saiba quanto dinheiro é preciso juntar
Sílvio Guedes Crespo
Texto atualizado às 10h45*
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Viver de dividendos é o sonho de muita gente. Comprar ações de uma empresa e esperar pingar na conta bancária o valor gerado pelo trabalho de milhares de funcionários.
Para saber quanto é preciso aplicar em ações para não precisar trabalhar – ou para complementar a aposentadoria – o blog Achados Econômicos e a corretora Gradual Investimentos levantaram quanto as empresas pagaram em proventos aos seus acionistas nos últimos quatro anos e calcularam qual montante deveria ser aplicado, a preços de hoje, para que o investidor possa obter uma renda mensal média de R$ 3.000, R$ 5.000 ou R$ 10 mil.
Os proventos considerados foram os dividendos (parte do lucro que é distribuída aos acionistas) e juros sobre capital próprio (outra maneira de a empresa repassar dinheiro aos donos das ações).
Entre as 150 ações mais negociadas da Bolsa, os proventos pagos a cada ano correspondem, em média, a 3% do valor atual das ações. Para chegar a esse número, usamos a média dos últimos quatro anos.
Se as empresas continuarem distribuindo seus ganhos nesse ritmo, o investidor precisará aplicar R$ 1,2 milhão em ações para ter uma renda mensal de R$ 3.000; ou R$ 2 milhões para ganhar R$ 5.000; ou, ainda, R$ 4 milhões para embolsar R$ 10 mil por mês – já descontados os impostos.
Mas esta é apenas a média do mercado. Nós selecionamos, também, 15 empresas que pagaram proventos maiores e fizemos as contas de quanto seria necessário aplicar em cada uma delas, hoje, para obter aqueles níveis de renda mensal. O resultado está no quadro no final deste post.
Não custa lembrar que o mercado de ações é arriscado, mesmo para quem vive de dividendos. Nada garante que as empresas manterão seus pagamentos sempre no mesmo ritmo. Elas podem reduzir os proventos a qualquer momento – como também aumentá-los.
A Oi, aliás, foi uma das companhias com melhor retorno de dividendos (ou “dividend yield”, como muitas vezes se diz, mesmo no Brasil) no período analisado. Mas decidimos não incluí-la na lista porque ela própria anunciou mudança na sua política e decidiu começar a pagar o valor mínimo exigido por lei.
Também não incluímos as elétricas na lista abaixo. O preço das ações nesse setor caiu muito ao longo dos quatro anos analisados, de modo que o “dividend yield” apresentado pode ter sido extraordinário, ou seja, tende a não se repetir.
A Eletropaulo, por exemplo, apresentou um retorno de 45% ao ano desde 2010. Isso quer dizer que o montante que a empresa pagou em dividendos em cada um desses anos, em média, equivale a quase metade do valor atual da ação. Mas o preço do papel caiu de R$ 37, em maio de 2010, para menos de R$ 10 atualmente. Houvesse se mantido na cotação inicial, o retorno de dividendo estaria em torno de 11%.
Dito de outra forma, quem comprou ações da Eletropaulo naquela época ganhou em dividendos 11% do valor investido, e não 45%.
Resumindo, oscilações muito fortes no preço das ações podem fazer com que o “dividend yield” apresente números excepcionais.
Abaixo, uma lista de 15 grandes empresas que deram retorno de dividendos acima da média do mercado nos últimos quatro anos.
Lê-se o quadro da seguinte forma: se a Cia Siderúrgica Nacional continuar distribuindo dividendos no mesmo ritmo dos últimos quatro anos, é preciso ter R$ 356 mil aplicados em ações da empresa para manter uma renda média de R$ 3.000 por mês; ou ter R$ 593 mil se quiser uma renda de R$ 5.000; ou ainda R$ 1,2 milhão para ganhar R$ 10 mil mensais em proventos – já descontados os impostos.
Empresa | Quanto é necessário aplicar, em reais, para ter uma renda de proventos de*: | ||
R$ 3.000/mês | R$ 5.000/mês | R$ 10 mil/mês | |
Sid. Nacional | 356.083 | 593.472 | 1.186.944 |
Rossi Resid. | 370.752 | 617.920 | 1.235.839 |
Telefônica Brasil | 378.350 | 630.583 | 1.261.167 |
Bradespar | 420.561 | 700.935 | 1.401.869 |
Vale | 448.319 | 747.198 | 1.494.396 |
Santander BR | 455.408 | 759.013 | 1.518.027 |
Banco do Brasil | 455.840 | 759.734 | 1.519.468 |
Bansirul | 484.034 | 806.723 | 1.613.445 |
Multiplus | 510.457 | 850.762 | 1.701.524 |
Petrobras | 644.584 | 1.074.306 | 2.148.612 |
PDG Realt | 702.782 | 1.171.303 | 2.342.606 |
Gafisa | 742.268 | 1.237.113 | 2.474.227 |
Natura | 744.186 | 1.240.310 | 2.480.620 |
Ecorodovias | 750.000 | 1.250.000 | 2.500.000 |
Cia Hering | 762.308 | 1.270.513 | 2.541.027 |
Fonte: Gradual Investimentos. Elaboração: Achados Econômicos | |||
* Se a empresa mantiver o nível de distribuição de proventos verificado nos últimos 48 meses |
Entrevista
O analista-chefe da Gradual Investimentos, Flávio Conde, concedeu a entrevista abaixo ao blog Achados Econômicos.
Vale a pena viver de dividendos ou é melhor aplicar o dinheiro de outra forma?
Tudo depende da etapa da vida da pessoa. Pessoas de 25 a 40 anos não devem ter aplicações visando dividendos. Devem visar o aumento do preço de ação, porque elas provavelmente estão montando a carteira para usufruir a partir dos 60 anos de idade. Não faz sentido um rapaz de 30 anos comprar ações pensando em dividendos, porque na média o preço delas não sobe muito.
As empresas que pagam pouco dividendos são as que estão investindo para crescer. É o caso do Pão de Açúcar, da Brasil Foods, da MRV, da Hipermarcas, da Natura, da Fibria, da Suzano e outras.
As que pagam bons dividendos são as que estão perto da maturidade. A Souza Cruz e a AES Tietê são empresas que querem gerar caixa e pagar dividendos. No caso de pessoas acima de 65 anos, a carteira tem que ser todinha de dividendos.
O preço das ações das elétricas caiu muito nos últimos anos. Os investidores acreditam que elas pagarão menos dividendos?
Essa queda tem a ver com uma perspectiva de resultados menores. Mas elas recuperaram parte das perdas. As empresas tendem a continuar dando bons dividendos porque já se ajustaram aos problemas pelos quais passaram.
O atual governo diz que se a empresa quer renovar a concessão, deve baixar as tarifas, porque o investimento já foi depreciado. Essa lógica fez com que o preço das ações caísse bastante num primeiro momento, para em seguida se recuperar em parte.
Se entrar outro presidente, principalmente o Aécio Neves, existe a chance de essa lógica ser revista. Por isso o mais seguro, no caso do setor elétrico, é só se posicionar depois das eleições.
* Acrescentada a entrevista às 10h45