Há 20 anos, arroz custava R$ 0,64, e carro popular, R$ 7.200; relembre
Sílvio Guedes Crespo
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O real completou no mês passado 20 anos em circulação. Em 1º de julho de 1994, quando a moeda foi lançada, o litro da gasolina custava R$ 0,55, e a passagem de ônibus em São Paulo, R$ 0,50.
Isso não quer dizer necessariamente que o brasileiro tenha perdido poder de compra. Ao contrário, muitos ganharam. O salário mínimo era de R$ 64,79 em julho de 1994 e atualmente é de R$ 724, ou seja, aumentou 1.017%. Já os preços ao consumidor subiram, em média, 362% no período, segundo o índice oficial de inflação (para quem não acredita no índice de inflação, recomendo ler isto antes de comentar: http://uol.com/bmdMrd).
Relembre o preço de 14 produtos em 1994.
1. Arroz: R$ 0,64 o quilo
O quilo de arroz custava R$ 0,64 em julho de 1994, em São Paulo, segundo o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos). Já o feijão saía por R$ 1,11. Hoje, os produtos custam R$ 2,57 e R$ 3,81, respectivamente. Há 20 anos, o salário mínimo comprava 37 quilos de arroz e feijão; hoje, compra 113 quilos de cada.
2. Pão francês: R$ 0,09
O pão francês saía, em média, por nove centavos cada unidade quando o real começou a circular, também de acordo com dados do Dieese. Hoje o produto é vendido por peso, e o quilo está cerca de R$ 9,66 em São Paulo. Considerando que uma unidade pese 50 gramas, o pão francês está em torno de R$ 0,50. O salário mínimo comprava 758 pães em 1994, e hoje compra 1.499.
3. Filé mignon: R$ 6,80 o quilo
O preço do filé mignon subiu 438% desde julho de 1994, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Em uma busca em sites de supermercados, este blog encontrou filé fresco a R$ 28,90 (o mais barato) e a R$ 44,51 o quilo (o mais caro encontrado). Tirando a média e descontando a inflação, pode-se estimar que, em 1994 esse corte custava em torno de R$ 6,80 o quilo. O salário mínimo comprava, portanto, nove quilos de filé mignon; hoje, compra 20.
4. Gol 1.0: R$ 7.243
Na foto, da esquerda para a direita, o modelo 1994 dos veículos: Escort Hobby 1.0 (R$ 7.386 à época), o Gol 1.000 (R$ 7.243), o Uno Mille (R$ 7.254) e o Corsa Wind 1.0 (R$ 7.350). Eles eram os carros mais baratos da Ford, Volkswagen, Fiat e Chevrolet. Na média, esses quatro veículos custavam R$ 7.308, ou 113 salários mínimos, em 1994. Atualmente, a versão mais simples dos modelos mais baratos de cada uma dessas montadoras custa, em média, R$ 30.444, ou 42 salários mínimos.
5. Uísque Jack Daniel’s: R$ 33,50
As lojas Depósito Normal, em São Paulo, anunciavam o Jack Daniel’s Tenessee Whiskey por R$ 33,50 há 20 anos. No site do supermercado Extra, o produto aparece hoje por R$ 99,65. O salário mínimo quase comprava duas garrafas no início do real e hoje compra sete.
6. Cinema: R$ 5
O ingresso para o filme “Um tira da pesada 3”, com Eddie Murphy, custava R$ 5 no Shopping Iguatemi, em São Paulo, em um domingo à noite em 1994. Um salário mínimo comprava quase 12 ingressos. Hoje, no mesmo shopping e no mesmo horário, pode-se assistir a “Planeta dos macacos – o confronto”, por R$ 29 a entrada inteira. O atual salário mínimo adquire perto de 25 ingressos.
7. Show do Chitãozinho e Xororó: R$ 15
Chitãozinho e Xororó, em agosto de 1994, fizeram um show no Palace, onde tocaram “Evidências” e “Fio de cabelo”. O ingresso mais barato saiu por R$ 15, e o mais caro, por R$ 35. O salário mínimo dava para quatro pessoas na pista ou uma no camarote. A comparação de preço de shows é sempre imprecisa, pois, com o tempo, alguns artistas passam a valer mais, e outros, menos. Mas não custa informar que, em 9 de agosto deste ano, a dupla se apresentou no Espaço das Américas, na Barra Funda, e o ingresso custou de R$ 75 a R$ 180. O salário mínimo atual compra nove entradas para o setor mais barato e quatro para o mais caro.
8. Ônibus: R$ 0,29 a R$ 0,54
Teresina e João Pessoa tinham o passe de ônibus mais barato entre as capitais do país em julho de 1994: R$ 0,29. A passagem mais cara era em Brasília, R$ 0,54. O salário mínimo comprava 129 passes em São Paulo e hoje, a R$ 3, compra 241.
9. Gasolina: R$ 0,55 o litro
O litro da gasolina estava R$ 0,55, em média, nos postos de São Paulo no dia 18 de julho de 1994, segundo uma reportagem da Folha à época. O álcool saía por R$ 0,44. Hoje, a gasolina está R$ 2,815, e o etanol, R$ 1,839. O salário mínimo, portanto, comprava 117 litros de gasolina e hoje compra 257.
10. Rodízio: R$ 13 a R$ 24
Uma refeição na churrascaria Fogo de Chão, em São Paulo, saía entre R$ 13 e R$ 24 por pessoa em 1994, segundo a Revista da Folha. O salário mínimo bancava, então, entre duas e cinco pessoas. Já no Almanara, gastava-se até R$ 12 por pessoa, e no Bargaço, de R$ 25 a R$ 35. Hoje, o rodízio na Fogo de Chão está R$ 112 por pessoa. O atual salário mínimo paga refeição para até seis pessoas na churrascaria.
11. Apartamento de três dormitórios: R$ 94.340
A imagem acima é da planta de um apartamento que estava sendo anunciado por R$ 94.340, no dia 7 de agosto de 1994, o que dava 1.456 salários mínimos na época. O imóvel ficava no primeiro andar de um edifício no bairro do Morumbi, em São Paulo. Quem fechasse o negócio ganharia uma viagem para Nova York. A área somava 211 metros quadrados. O apartamento tinha três dormitórios (sendo uma suíte), varanda com churrasqueira e duas vagas na garagem. Hoje, fazendo uma busca no site Zap por apartamentos de três quartos (sendo uma suíte), com cerca de 200 metros quadrados de área, duas vagas, no mesmo bairro, surgiram 17 unidades cujos proprietários pedem entre R$ 600 mil e R$ 800 mil, o que dá algo entre 800 e 1.100 salários mínimos. Mas não é possível dizer se aumentou ou não poder de compra do salário mínimo em relação a imóveis apenas com esses dados, pois cada apartamento traz características muito peculiares, como a localização exata, a vista, as instalações do prédio, o andar etc.
12. Óculos Ambervision: R$ 39,95
Os óculos Ambervision, produto que “bloqueia até 100% dos raios ultravioleta” e tem um “design avançado unissex”, custavam URV 39,95. Para quem nasceu depois, a URV, Unidade Real do Valor, era uma moeda imaterial que serviu para as pessoas irem se acostumando com o real antes de este ser lançado. As pessoas recebiam e pagavam em cruzeiros reais, mas o comércio informava também qual era o preço em URV, unidade que depois daria lugar ao real. Em tese, tudo o que custava URV 1 em 30 de junho de 1994 deveria passar a custar R$ 1 a partir de 1º de julho. Mas vários comerciantes aumentaram os preços na virada do mês. Caso o Grupo Imagem Teleshop, responsável pelo Ambervision, não tenha sido um deles, o salário mínimo comprava apenas um óculos. Mas se ligasse “agora mesmo”, pagaria um e levaria dois. O Ambervision não existe mais.
13. Tele-Amizade: R$ 3,49 por minuto
Em 1994, quem quisesse conhecer pessoas poderia ligar para o Tele-Amizade, pagando R$ 3,49 por minuto (interurbano grátis). Com um salário mínimo, era possível falar durante 18 minutos. Hoje, as pessoas fazem amigos e marcam encontros pela internet, pagando um preço fixo pelo acesso, independentemente do tempo gasto.
14. Dólar: R$ 1,00
O dólar era vendido a R$ 1,00 em 1º de julho de 1994, pela Ptax, uma forma de calcular a cotação, elaborada pelo Banco Central. Exatos 20 anos depois, a moeda americana saía por R$ 2,2054. No início do real, o salário mínimo valia US$ 64,79. Hoje, está em US$ 328,29. Aqui, cabe uma observação: o dólar também perde poder de compra com o tempo. Portanto, US$ 64,79 há 20 anos valiam mais do que os mesmos US$ 64,79 hoje. Em outra ocasião, calculei o ganho do salário mínimo do Brasil convertido para dólares e descontando a inflação dos Estados Unidos (http://uol.com/bhdRqR).