Volume de dólares e libras no mundo mais que triplica desde 2008
Sílvio Guedes Crespo
O volume de dinheiro impresso pelos países ricos aumentou drasticamente desde que a crise internacional veio à tona, em setembro de 2008. O montante de dólares e de libras esterlinas em circulação, por exemplo, mais do que triplicou no período.
A emissão de moeda já nem ocupava mais as manchetes, de trivial que se tornou, mas voltou ao debate nos últimos meses porque o Japão resolveu adotar mais intensamente esse tipo de operação.
No país asiático, a chamada base monetária, que é a quantidade de dinheiro em circulação mais as reservas do banco central, subiu 11% nos últimos 12 meses e 46% desde janeiro de 2008.
Mas os EUA ainda são, de longe, os campeões de impressão de dinheiro. A base monetária americana aumentou de US$ 831 bilhões para US$ 2,7 trilhões em cinco anos.
Desde novembro de 2008, o país já fez diversas rodadas de afrouxamento quantitativo, processo que equivale a criar moeda. Atualmente, despeja até US$ 45 bilhões por mês no mercado.
Antes da crise, a base monetária dos EUA era praticamente estável, na faixa dos US$ 800 bilhões, como aponta o gráfico abaixo.
Em termos relativos, quem mais aumentou a base monetária foi o Reino Unido, de 73 bilhões de libras para 338 bilhões, uma alta de 362% desde janeiro de 2008. Na Europa, a expansão foi menor. A quantidade de euros em circulação subiu apenas 32%.
Evolução da base monetária desde 2008
País | Jan/08 | Jan/13 | Diferença (em moeda do país) | Variação (%) |
EUA (US$ bi) | 831 | 2.742 | 1911 | 230 |
Eurolândia (€ tri) | 3,848 | 5,086 | 1,238 | 32 |
Reino Unido (£ bi) | 73,24 | 338,4 | 265,16 | 362 |
Japão (¥ tri) | 90 | 131,9 | 41,9 | 47 |
- Fonte: Bancos centrais
‘Tsunami monetário’
Se convertermos tudo para dólares, a base monetária somada de EUA, zona do euro, Reino Unido e Japão estava em US$ 7,5 trilhões em 2008. Hoje, superam US$ 11,6 trilhões. Ou seja, o mundo ganhou US$ 4,4 trilhões em moedas de países ricos desde a crise.
O governo brasileiro reclama dessas medidas porque o aumento do volume de moeda desses países no mundo tende a provocar uma valorização no real, o que prejudicaria empresas brasileiras que competem com produtos estrangeiros.
Mas nem todos concordam que o Brasil deveria tentar conter erguer uma barreira contra o que a presidente Dilma Rousseff chamou de “tsunami monetário”, ou que o ministro Guido Mantega (Fazenda) apelidou de “guerra cambial”. Para críticos do governo, o melhor a fazer seria buscar outras formas de melhorar a competitividade das empresas brasileiras e estimular investimentos no país.
O professor de economia Alcides Leite, da Trevisan Escola de Negócios, explica na entrevista abaixo:
Por que os países ricos estão aumentando a quantidade de dinheiro em circulação?
Porque a atividade econômica está deprimida. O aumento de liquidez monetária busca suprir as necessidades de pessoas e empresas que sofreram fortes restrições com a redução da disposição dos bancos em emprestar. O aumento da liquidez é uma forma de oxigenação da economia.
Quais são os efeitos do aumento, em ritmo acelerado, da base monetária em países ricos?
Enquanto não houver pressão inflacionária, a expansão da liquidez não causa efeitos negativos imediatos na economia real dos países. Os EUA, que emitem dólares, não têm dificuldade em expandir a dívida pública, uma vez que o mundo se dispõe a financiar essa expansão a um custo muito baixo. Na Europa, o problema maior reside nos países da periferia do euro, que, não podendo emitir moeda própria, dependem da disposição das nações centrais em aumentar a base monetária. O Japão tem uma dívida pública muito grande, mas não há outra saída para o crescimento da economia se o governo não continuar sua política de emissão de moeda e de desvalorização do iene.
No futuro, os problemas seriam a criação de bolhas nos diversos setores de atividade e a perda de confiança nas moedas dos países excessivamente endividados.
E os efeitos nos países emergentes?
O principal é a tendência de valorização das moedas locais. Isso encarece as exportações desses países e barateia suas importações, reduzindo o resultado da balança comercial.