Achados Econômicos

Volume de dólares e libras no mundo mais que triplica desde 2008

Sílvio Guedes Crespo

Foto: Antônio Gaudério/Folhapress

O volume de dinheiro impresso pelos países ricos aumentou drasticamente desde que a crise internacional veio à tona, em setembro de 2008. O montante de dólares e de libras esterlinas em circulação, por exemplo, mais do que triplicou no período.

A emissão de moeda já nem ocupava mais as manchetes, de trivial que se tornou, mas voltou ao debate nos últimos meses porque o Japão resolveu adotar mais intensamente esse tipo de operação.

No país asiático, a chamada base monetária, que é a quantidade de dinheiro em circulação mais as reservas do banco central, subiu 11% nos últimos 12 meses e 46% desde janeiro de 2008.

Mas os EUA ainda são, de longe, os campeões de impressão de dinheiro. A base monetária americana aumentou de US$ 831 bilhões para US$ 2,7 trilhões em cinco anos.

Desde novembro de 2008, o país já fez diversas rodadas de afrouxamento quantitativo, processo que equivale a criar moeda. Atualmente, despeja até US$ 45 bilhões por mês no mercado.

Antes da crise, a base monetária dos EUA era praticamente estável, na faixa dos US$ 800 bilhões, como aponta o gráfico abaixo.

Em termos relativos, quem mais aumentou a base monetária foi o Reino Unido, de 73 bilhões de libras para 338 bilhões, uma alta de 362% desde janeiro de 2008. Na Europa, a expansão foi menor. A quantidade de euros em circulação subiu apenas 32%.

 

Evolução da base monetária desde 2008

PaísJan/08Jan/13Diferença (em moeda do país)Variação (%)
EUA (US$ bi)8312.7421911230
Eurolândia (€ tri)3,8485,0861,23832
Reino Unido (£ bi)73,24338,4265,16362
Japão (¥ tri)90131,941,947
  • Fonte: Bancos centrais

‘Tsunami monetário’

Se convertermos tudo para dólares, a base monetária somada de EUA, zona do euro, Reino Unido e Japão estava em US$ 7,5 trilhões em 2008. Hoje, superam US$ 11,6 trilhões. Ou seja, o mundo ganhou US$ 4,4 trilhões em moedas de países ricos desde a crise.

O governo brasileiro reclama dessas medidas porque o aumento do volume de moeda desses países no mundo tende a provocar uma valorização no real, o que prejudicaria empresas brasileiras que competem com produtos estrangeiros.

Mas nem todos concordam que o Brasil deveria tentar conter erguer uma barreira contra o que a presidente Dilma Rousseff chamou de “tsunami monetário”, ou que o ministro Guido Mantega (Fazenda) apelidou de “guerra cambial”. Para críticos do governo, o melhor a fazer seria buscar outras formas de melhorar a competitividade das empresas brasileiras e estimular investimentos no país.

O professor de economia Alcides Leite, da Trevisan Escola de Negócios, explica na entrevista abaixo:

Por que os países ricos estão aumentando a quantidade de dinheiro em circulação?

 

Porque a atividade econômica está deprimida. O aumento de liquidez monetária busca suprir as necessidades de pessoas e empresas que sofreram fortes restrições com a redução da disposição dos bancos em emprestar. O aumento da liquidez é uma forma de oxigenação da economia.

 

Quais são os efeitos do aumento, em ritmo acelerado, da base monetária em países ricos?

 

Enquanto não houver pressão inflacionária, a expansão da liquidez não causa efeitos negativos imediatos na economia real dos países. Os EUA, que emitem dólares, não têm dificuldade em expandir a dívida pública, uma vez que o mundo se dispõe a financiar essa expansão a um custo muito baixo. Na Europa, o problema maior reside nos países da periferia do euro, que, não podendo emitir moeda própria, dependem da disposição das nações centrais em aumentar a base monetária. O Japão tem uma dívida pública muito grande, mas não há outra saída para o crescimento da economia se o governo não continuar sua política de emissão de moeda e de desvalorização do iene.

 

No futuro, os problemas seriam a criação de bolhas nos diversos setores de atividade e a perda de confiança nas moedas dos países excessivamente endividados.

 

E os efeitos nos países emergentes?

 

O principal é a tendência de valorização das moedas locais. Isso encarece as exportações desses países e barateia suas importações, reduzindo o resultado da balança comercial.