Achados Econômicos

Arquivo : fevereiro 2013

Sozinho, Bolsa Família não elimina miséria, diz Banco Mundial
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Sílvio Guedes Crespo

Texto atualizado às 11h44 (acrescentada foto abaixo)

Sueli Dumont recebe Bolsa Família e trabalha em lixão em Jaboatão dos Guararapes, PE (MAIS)

A presidente Dilma Rousseff disse há duas semanas que o país vai erradicar a pobreza extrema até o início de 2014. Na última sexta-feira, ela reiterou o compromisso e pediu ajuda aos prefeitos para cadastrar a população no programa Bolsa Família.

Num momento de economia fraca, vale acrescentara informação de que o dinheiro que as famílias miseráveis recebem diretamente do governo teve papel secundário na elevação da renda dos que saíram dessa situação, conforme aponta um estudo recente do Banco Mundial.

Diferentemente do que aconteceu no México e em alguns outros países da América Latina, no Brasil o fator que mais contribuiu para que 17 milhões de pessoas saíssem da pobreza extrema na década passada foi o aumento da renda obtida no próprio trabalho, mostra a pesquisa.

Intitulado “A renda do trabalho é responsável pela redução da pobreza?”, o estudo identificou de onde veio o aumento da renda das pessoas que saíram da situação de miséria – entendidas pelo Banco Mundial como aquelas que vivem com menos de US$ 2,50 por dia.

No caso do Brasil, 52% desse aumento veio do rendimento que as famílias obtiveram com o trabalho; 32% vieram de doações e programas de transferência de renda (como o Bolsa Família). Os 16% restantes se referem a mudanças na composição da família – por exemplo, quando um filho atinge idade de trabalhar e passa a colaborar com a renda do domicílio.

“O que contribuiu mais expressivamente [para a redução da pobreza extrema no Brasil] foi a renda do trabalho”, disse ao blog o brasileiro João Pedro Azevedo, economista sênior do Banco Mundial e um dos autores da pesquisa.

Segundo ele, as famílias que receberam o benefício, mas não conseguiram ao mesmo tempo aumentar a renda do trabalho, não saíram da miséria; apenas reduziram o grau de extrema pobreza, mas sem superar a faixa de ganhos de US$ 2,50 por dia.

Nesse estudo, o Banco Mundial não analisou os possíveis efeitos indiretos das políticas de transferência de renda. Por exemplo, se um vendedor passou a ganhar mais porque seus clientes receberam Bolsa Família e passaram a gastar mais, esse aumento de renda foi registrado apenas como uma conquista dele por meio do próprio trabalho.

Pelas contas da instituição, o número de pessoas que vivem com menos de US$ 2,50 por dia passou de 45,5 milhões em 2000 para 28,4 milhões em 2010.

América Latina

As outras grandes economias da América Latina que reduziram a pobreza seguiram um caminho um pouco diferente do Brasil, segundo o estudo. No México e na Argentina, a renda não proveniente do trabalho teve uma importância igual ou até maior do que aquela que vem do emprego, conforme mostra o gráfico abaixo. El Salvador foi o país onde as políticas de transferência de renda tiveram maior impacto.

 

De onde veio o dinheiro das pessoas que saíram da miséria*

 

PaísRenda do trabalhoRenda não proveniente do trabalho (doações, transferências, programas sociais)Renda obtida com mudanças na composição da família
Panamá56359
Colômbia553510
Honduras55837
Brasil523216
Paraguai50-757
Equador472825
Argentina403921
Costa Rica344125
Chile284032
México194932
El Salvador-126844
  • * Os números mostram quanto cada um dos três grupos de fonte de renda contribuiu para o aumento dos ganhos daqueles de saíram da condição de pobreza extrema
  • Fonte: Azevedo e outros. “Is Labor Income Responsible for Poverty Reduction? A decomposition approach”


Dívida de brasileiro dobra em 8 meses, mas poupança leva 14 anos para duplicar
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Sílvio Guedes Crespo

Texto atualizado às 10h44 (acrescentado cálculo sobre poupança antiga)

Se dever, o juro pega; se poupar, a inflação come

Quando o brasileiro fica devendo no cartão de crédito, ele pode ver a sua dívida dobrar em apenas oito meses. Já quando põe dinheiro na poupança, o tipo de aplicação mais popular, tem que esperar nada menos que 14 anos e um mês para ver o seu capital multiplicar por dois.

Mesmo depois de toda essa espera, o poupador não teria muito o que comemorar. Seu rendimento já teria sido superado, com folga, pelo aumento dos preços, que, pela taxa de inflação atual, duplicariam em menos tempo.

Considerando os juros praticados em dezembro, veja quanto tempo alguns tipos de dívida levariam para dobrar.

Tipos de dívidas

Juros (% ao ano)Juros (% ao mês)Quantos meses leva para dobrar
Cartão de crédito192,949,378
Cheque especial146,837,829
Empréstimo pessoal em financeiras124,216,9610
Comércio61,224,0617
Empréstimo pessoal em bancos41,422,9324

A linha referente ao comércio pode ser lida da seguinte forma: quando o consumidor parcela uma compra em 17 vezes, com os juros citados, ele paga o dobro pelo produto, em comparação com o preço à vista.

Poupança versus inflação

A poupança tem hoje uma rentabilidade de 5,075% ao ano (0,41% ao mês) e assim ficará enquanto o Banco Central mantiver a Selic, taxa básica de juros, nos atuais 7,25% ao ano. A instituição já disse que o juro básico continuará nesse patamar por um tempo “suficientemente prolongado”.

A taxa básica de juros em um nível baixo, quando em tempo de preços comportados, é claramente um dado favorável para a economia. No entanto, não se pode esquecer que a poupança hoje está rendendo menos que a inflação. No ano passado, o IPCA, índice oficial de preços, teve alta de 5,84%ritmo que, se fosse mantido, faria o custo de vida dobrar em 12 anos e quatro meses.

Segundo analistas consultados pelo Banco Central, esse cenário não deve mudar muito no curto prazo. A expectativa é de que a inflação atinja 5,67% em 2013 e 5,5% em 2014.

É verdade que a situação já foi pior para os devedores. Em janeiro de 2011, por exemplo, o juro no cartão de crédito estava em 238,3% ao ano, o que fazia uma dívida dobrar em sete meses e mais que triplicar em um ano. Mas as condições do poupador também já foram melhores. Naquele mesmo ano, a poupança rendeu 7,5%, com um ganho de 0,94% acima da inflação.

Em tempo: quem ainda tem aplicação na poupança feita na época da regra antiga (até 3 de maio) conseguiu um ganho real. A rentabilidade, no ano passado, foi de 6,47%, ou 0,6% mais que a inflação, segundo cálculos da consultoria Economatica. Nos últimos dez anos, diz a empresa, o melhor momento do poupador foi em 2006, quando o ganho real atingiu 5,1%.

Veja quais foram os produtos e serviços que mais subiram

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