Brasil e Chile têm maior mobilidade econômica da América Latina, diz Banco Mundial
Sílvio Guedes Crespo
O Brasil e o Chile revezam-se na liderança dos rankings de países com maior mobilidade econômica na América Latina, segundo um estudo do Banco Mundial, que analisou o período do início dos anos 1990 até o final da década de 2000.
A depender do critério usado para definir mobilidade econômica, ora um país ora o outro aparece no topo, conforme aponta a pesquisa intitulada “Mobilidade econômica e ascensão da classe média latino-americana”.
O Banco Mundial divide a população em pobres (pessoas que vivem com até US$ 4 por dia), vulneráveis (de US$ 4 a US$ 10), classe média (de US$ 10 a US$ 50) e ricos (acima de US$ 50). Dessa forma, uma família de cinco pessoas, por exemplo, precisa ter uma renda de R$ 15 mil mensais para ser considerada rica.
No Chile, 60% da população subiu de classe nas duas décadas analisadas, maior percentual de toda a América Latina. Nesse ranking, a Costa Rica aparece em segundo lugar (56,2%), e o Brasil, em terceiro (54,8%).
Esse critério é importante porque mostra quantas pessoas subiram de classe, mas ao mesmo tempo é insuficiente porque não diz qual foi o tamanho dessa subida.
Por isso, o Banco Mundial analisou, também, a variação do rendimento de diferentes segmentos sociais. No Brasil, o crescimento da renda mediana dos que eram pobres e subiram para a classe dos vulneráveis foi de 45,42% entre 1990 e 2009, maior alta da América Latina. Por esse critério, Honduras fica em segundo lugar (39,2%), e o Chile, em terceiro (32,6%).
Em outras palavras, enquanto no Chile mais pessoas deixaram de ser pobres, no Brasil os ex-pobres, digamos assim, tiveram um aumento mais significativo de renda.
O estudo considera a cotação internacional do dólar por paridade do poder de compra. Isso quer dizer que, se a inflação ou o câmbio variariam mais ou menos em cada país, isso tem impacto limitado no resultado final, pois o cálculo já procura descontar a diferença e trabalha com o poder de compra que o dólar tem nos diferentes locais.
Segundo o Banco Mundial, na América Latina e no Brasil a pobreza se manteve estável na década de 1990, atingindo mais de 40% da população. Esse porcentual começou a cair a partir de 2004, até chegar aos atuais 31% no continente e 28% no país, como indicam os gráficos abaixo. Os vulneráveis são hoje 38% da população brasileira; a classe média, 32%, e os ricos, 3%, de acordo com a pesquisa.
Entre gerações
Os números mostram que o Brasil teve uma boa mobilidade econômica entre pessoas de uma mesma geração. Já entre gerações diferentes, não se pode dizer o mesmo.
Nesse quesito, o Banco Mundial não fez um ranking da América Latina. Apenas apresentou uma comparação entre alguns países desta e de outras regiões, usando um critério chamado de “elasticidade intergeracional de ganhos”.
Trata-se de um indicador que varia entre 0 e 1. Zero seria uma situação em que todas as pessoas, ao nascerem, teriam a mesma chance de ganhar dinheiro. Um significaria o outro extremo, em que, entre duas pessoas, a mais rica seria sempre a que teria os pais mais abastados. No caso do Brasil, indicador marcou 0,6, atrás de Chile e Argentina (0,5 cada).
Entrevista
O blog Achados Econômicos conversou com um dos autores do estudo, o brasileiro Francisco H. G. Ferreira. Ele é economista líder do departamento de pesquisas do Banco Mundial para a América Latina.
Qual foi a principal constatação do estudo?
Foi o enorme crescimento da classe média na América Latina como um todo no período de 2002 a 2010. Até 2002 ou 2003, a linha [que indica o nível de pobreza] ficou estável. A partir de então, houve uma queda de 15 pontos porcentuais na pobreza [de 45% da população para 30%] e, ao mesmo tempo, a classe média aumentou de 20% para 30% da população. Isso se deve à aceleração do crescimento econômico, junto com a redução da desigualdade.
Também observamos a formalização do trabalho, o aumento dos níveis educacionais dos trabalhadores, uma queda na taxa de fecundidade e o aumento na participação da mulher na força de trabalho.
Pelos dados, o Brasil ainda não é um país de classe média, e sim de “vulneráveis”?
É mais preciso dizer que está em vias de se transformar em um país de classe média. A classe média está aumentando na América Latina e o mesmo vale para o Brasil.
Quem são os vulneráveis?
São pessoas que escaparam da pobreza, mas que têm maior probabilidade de voltar a ela. É uma população com taxas de informalidade maiores. Ainda é o maior grupo no continente.
Como está a mobilidade social no Brasil?
Em alguns critérios, o Brasil é o país com maior mobilidade para fora da pobreza. Um deles é o crescimento da renda mediana. Olhando desde 1990, o Brasil teve uma taxa de mobilidade dentro da geração muito alta. Mas continua com taxa entre gerações muito baixa. Quer dizer, não é um cenário róseo, em que o país é super móvel.