Preço de produtos básicos que tiveram corte de imposto não cai nem 1%
Sílvio Guedes Crespo
Inflação de itens da cesta básica desonerados
Produto | Variação em março (%) |
Açúcar cristal | -1,91 |
Carnes | -1,63 |
Óleo | -0,62 |
Pasta de dente | -0,41 |
Café moído | -0,38 |
Sabonete | 0,48 |
Carnes e peixes industrializados | 0,75 |
Manteiga | 1,4 |
Aves e ovos | 1,42 |
Café solúvel | 1,51 |
Pescados | 1,78 |
Papel higiênico | 1,92 |
Média ponderada | -0,54 |
- Fonte: IBGE
Os produtos da cesta básica que ficaram isentos de impostos federais em março tiveram uma redução de apenas 0,54% em seus preços no mês, segundo cálculo deste Achados Econômicos a partir de dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
No dia 8 do mês passado, a presidente Dilma Rousseff anunciou o fim do PIS-Cofins e do IPI para os produtos da cesta que ainda não estavam isentos. Até então, eles eram tributados em pelo menos 9,25% (veja tabela ao final deste texto).
A queda de preço nos produtos desonerados em março foi puxada pelas carnes (-1,63%). Dentro desse grupo, o destaque foi o contrafilé, com redução de 3,6%, e a alcatra, de 2,84%. O filé mignon recuou 1,66%, segundo o IBGE.
Outros itens, no entanto, aumentaram de preço, especialmente os peixes. A tilápia saltou 15%, e a corvina, 4,76%.
Os números mostram quanto os preços variaram no mês do corte de impostos, e não qual foi o impacto da desoneração. Para saber isso, seria necessário projetar qual seria o aumento ou redução caso os tributos tivessem sido mantidos.
A tabela abaixo mostra quanto variou, em março e nos últimos 12 meses, os itens da cesta básica que tiveram isenção de impostos federais em março. O açúcar cristal teve uma queda maior do que a das carnes, mas, como tem peso menor no orçamento das famílias, sua variação contribui menos para o índice de inflação.
Veja também quanto se pagava de impostos federais sobre os itens da cesta básica, conforme listou o Dieese (Departamento Internsindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos).
Energia e carro
Ainda em relação aos produtos em cujo preço o governo interveio, a pesquisa do IBGE informa que a energia elétrica residencial caiu 18,04% desde o início do ano. O automóvel novo, que teve o corte de IPI prorrogado, subiu 0,35% em março, mas acumula queda de 3,22% nos últimos 12 meses.
Repasse
Os tributos são apenas um dos vários fatores que influenciam no preço dos produtos. O professor de economia Alcides Leite, da Trevisan Escola de Negócios, explica por que a pesquisa não aponta uma queda dos valores na mesma proporção do corte de impostos.
Primeiro porque, até chegar ao consumidor, o desconto precisa passar por toda uma cadeia produtiva. Não adianta o produtor fazer o repasse, e os intermediários, não.
Em segundo lugar, os comerciantes podem esperar o estoque terminar e só baixar o preço quando começarem a vender o produto novo, que eles compraram sem imposto.
Um terceiro motivo é a limitação da própria pesquisa do IBGE, que não foi feita especialmente para detectar a variação dos preços da cesta. Ela abrange locais específicos e é realizada ao longo de todo o mês, não apenas após o dia 8, quando foram cortados os impostos.
Ainda, os preços de alguns produtos sofrem variações sazonais.