Achados Econômicos

Bancos faturam mais de R$ 2 bi com fundos que perdem para a inflação

Sílvio Guedes Crespo

A maior parte das pessoas físicas tem perdido poder aquisitivo ao investir em fundos de renda fixa, mas nem por isso os bancos deixaram de faturar com esses clientes.

Os seis maiores conglomerados financeiros do país tiveram uma receita de pelo menos R$ 2 bilhões nos últimos 12 meses administrando fundos que registraram uma rentabilidade abaixo da inflação. São eles o Banco do Brasil, o Itaú, o Bradesco, a Caixa Econômica Federal, o Santander e o HSBC.

O número foi levantado pelo blog Achados Econômicos e inclui todos os fundos de Renda Fixa e DI abertos para pessoas físicas, com exceção daqueles da categoria “Private”, voltados para público de altíssima renda.

FUNDOS DE RENDA FIXA E DI DOS SEIS MAIORES BANCOS

Fundos que nos últimos 12 meses…Taxa média de administração (% ao ano)Receita média do banco administrador (R$ bilhões)Quantidade de fundos
… renderam abaixo da inflação1,362,034124
… renderam acima da inflação0,530,38631
Total de fundos1,082,420155

Foram desconsiderados os fundos classificados como Curto Prazo, uma vez que o objetivo do estudo era analisar a rentabilidade em 12 meses.

No total, o blog examinou 155 fundos dos seis maiores bancos. Desses, apenas 31 tiveram rentabilidade líquida acima da inflação. O indicador de preços utilizado foi o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), que teve uma alta de 5,86% nos últimos 12 meses.

Num período de inflação alta e juros relativamente baixos, uma taxa de administração pequena acabou se tornando determinante para que o fundo mantenha o poder de compra do investidor.

Em média, os fundos analisados têm uma taxa de administração de 1,09% ao ano. Se considerarmos apenas aqueles que bateram a inflação, a taxa média foi de 0,53%. Já entre os que perderam para o IPCA, o custo foi de 1,36%.

Na sexta-feira (18), o blog vai mostrar quais foram os bancos que conseguiram entregar os melhores rendimentos para os clientes. Vai ficar claro que somente os administradores que cobraram taxas baixas conseguiram bater a inflação.

Período difícil

Nos últimos meses, foi difícil, mesmo, conseguir um lugar seguro para o pequeno investidor manter o poder aquisitivo de suas reservas.

Primeiro, porque a inflação estava em aceleração até pouco tempo atrás, chegando a atingir 6,7% nos 12 meses encerrados em junho.

Em segundo lugar, porque a taxa básica de juros (a Selic) estava muito baixa e subiu de repente. Passou de 7,25% no final do ano passado para os atuais 9,5%.

Essa variação prejudica quem tem papéis prefixados – caso de vários fundos de investimento. Alguns títulos do Tesouro chegaram a cair mais de 20% por causa da elevação da Selic (navegue pelas imagens abaixo para entender).


Perspectiva melhor

Apesar do mau resultado dos fundos neste ano, é possível que nos próximos meses eles recuperem parte da rentabilidade perdida.

De um lado, a inflação sofreu uma desaceleração a partir de junho, quando comparada com um ano antes. Analistas acreditam que ela deva fechar este ano em 5,81%.

De outro, a taxa básica de juros deve continuar subindo até atingir 9,75% no fim do ano, segundo os mesmos analistas. Com isso, a taxa real de juros da economia brasileira tende a aumentar – consequentemente, os investidores da renda fixa podem ganhar mais.

Um levantamento recente feito pela consultoria ComDinheiro informou que, desde que a Selic chegou a 9,5%, na semana passada, os fundos DI pós-fixados com taxa de administração inferior a 1,9% passam a render 6,39% ao ano, superando a poupança e a inflação projetada.