Expansão de 2,9% da indústria em janeiro é a maior em um ano
Sílvio Guedes Crespo
Atualizado às 11h58*
Receba atualizações do blog Achados Econômicos pelo Facebook
Logo depois de ter sofrido sua pior queda mensal desde a crise de 2008, a indústria brasileira agora registra a maior alta dos últimos 12 meses. Sinal de que o quadro de instabilidade verificado no ano passado – em que o setor alternava momentos de alta e de baixa – ainda não ficou para trás.
A produção industrial subiu 2,9% de dezembro para janeiro. Nesse tipo de medição – comparando a variação de um mês para o outro, sempre com ajuste sazonal – a última vez em que foi constatada uma expansão maior que essa foi na passagem de dezembro de 2012 para janeiro de 2013 (alta de 3,2%).
Os números, divulgados nesta terça-feira (11) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), mostram que o desempenho da indústria em janeiro foi suficiente para recuperar apenas parte das perdas de dezembro, quando a produção havia recuado 3,7%.
ANÁLISE
Por causa dessa instabilidade na produção industrial que temos visto nos últimos meses, com alternância entre breves fases de alta e de baixa, acredito que não se pode entender o que está acontecendo sem olhar para o desempenho do setor em um período um pouco mais longo. Sugiro analisar a variação da produção em períodos de 12 meses.
Nos 12 meses encerrados em janeiro, a produção industrial teve uma alta de 0,52%. Nesse tipo de cálculo, o desempenho tem ficado entre 0,5% e 1,2% desde julho do ano passado. Ou seja, o setor vem mantendo um crescimento fraco desde meados do ano passado.
Antes disso, no entanto, a situação estava pior. De janeiro de 2012 a maio de 2013, a variação da produção industrial em períodos de 12 meses ficou sempre negativa, variando entre -0,4% e -2,9%.
Isso quer dizer que o cenário, hoje, está melhor em comparação com a retração ocorrida naquele período, mas não está nem de longe no mesmo ritmo que tivemos no final da década de 2000.
A esperança de que o ritmo melhore – ou que pelo menos não voltemos a ver uma queda como a de 2012 – está no fato de que o único segmento da indústria que vai bem é o de bens de capital, ou seja, de equipamentos usados na própria produção.
Nos últimos 12 meses, os bens de capital tiveram um avanço de 12,1%, o maior desde abril de 2011.
Já os bens intermediários (produtos que são consumidos pela indústria, como combustíveis, peças usadas na linha de montagem etc) caíram 0,53%. Os bens de consumo, por sua vez, recuaram 0,83%, sempre considerando os últimos 12 meses.
O fato de os bens de capital serem, atualmente, o segmento que mais cresce – e disparado –indica que as empresas estão modernizando ou ampliando suas instalações. E ninguém faz isso se não tiver interesse de aumentar a produção ou melhorar o seu desempenho.
Alguns economistas têm observado que o ramo que mais cresce dentro do segmento de bens de capital é o de caminhões, não o de máquinas usadas nas fábricas. De fato, os equipamentos de transporte industrial tiveram uma alta de 16,1% nos últimos 12 meses.
Mas os demais bens de capital avançaram 9% no mesmo período, um resultado nada desprezível se considerarmos o histórico recente. Há um ano, em janeiro do ano passado, esse ramo havia encolhido 11,5%. Nos últimos 12 meses, portanto, a indústria de bens de capital recuperou ao menos parte do que havia perdido ao longo do fraco ano de 2012.
Conjuntura
É evidente que não se pode basear as expectativas econômicas apenas no histórico estatístico. Enquanto o aumento da produção de bens de capital representa uma esperança, se não de retomada, pelo menos de que não haverá retração neste ano, alguns fatores de conjuntura nacional e internacional geram preocupação.
Três dos principais clientes do Brasil estão longe da sua melhor forma. A China desacelerou seu ritmo de crescimento do PIB (produto interno bruto) nos últimos três meses. Em todo o ano passado, a expansão foi de 7,7%, muito abaixo da taxa de dois dígitos verificada na década de 2000.
A União Europeia, embora não esteja mais causando grandes turbulências nos mercados globais, também não está ajudando muito. Seu PIB subiu apenas 0,4% em 2013.
A Argentina, outro importante parceiro comercial, não só está em crise como não se cansa de erguer barreiras a produtos brasileiros.
Internamente, temos alguns problemas que podem afetar a disposição dos empresários em investir. Além dos entraves antigos (infraestrutura ruim, burocracia excessiva etc), temos este ano juros mais altos, inflação ainda acima do centro da meta.
No lado bom, temos a promessa, da presidente, de conter os gastos públicos (o que ameniza o endividamento do país e dá mais segurança a investidores) e a alta do dólar, que, embora prejudique parte da sociedade, para exportadores acaba ajudando.
A questão é se os juros altos e a inflação não vão ser um problema grande o bastante a ponto de anular todo o benefício que a queda do real poderia trazer para a indústria.
Acrescentado o item ''Conjuntura'' às 11h58*