Achados Econômicos

Arquivo : julho 2014

Obras para a Copa em Fortaleza, onde Brasil joga, somam R$ 1,7 bi
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Sílvio Guedes Crespo

castelao

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Os recursos para a Copa do Mundo em Fortaleza, onde o Brasil joga nesta sexta-feira contra a Colômbia, somaram até agora R$ 1,736 bilhão, entre reforma do estádio e do aeroporto, obras de mobilidade urbana e outras.

Dando continuidade a uma série de posts sobre os gastos com a Copa nas cidades-sedes do evento, este blog mostra quanto foi destinado às obras em Fortaleza, de onde veio o dinheiro, o que foi feito e quais obras ainda não foram terminadas. Os valores se referem a quanto foi contratado até o momento. Como alguns projetos ainda não terminaram, a quantia deve aumentar.

Obras da Copa em FortalezaValor contratado 
(R$ mi)
% concluída de execução da obraQuem paga
Estádio519100%Gov. do CE*
Aeroporto40516%Infraero
Mobilidade urbana61740%Prefeitura de Fortaleza e Gov. do CE**
Porto17520%Gov. Federal
Estrutura temp. p/ Copa das Conf.20100%Gov. do CE
TOTAL1736
* Recebeu empréstimo do BNDES
** Receberam empréstimo da Caixa
Fonte: Controladoria-Geral da União

Estádio

Para o estádio Governador Plácido Castelo, conhecido como Castelão, os recursos contratados foram de R$ 519 milhões, sendo que R$ 352 milhões foram financiados pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e R$ 167 milhões saíram direto do orçamento do Governo do Estado do Ceará.

Quem vai pagar os R$ 352 milhões emprestados pelo BNDES é o governo estadual. Como o banco cobra uma taxa de juros abaixo do mercado, a participação do governo federal nos gastos do estádio ocorre indiretamente. Ela consiste na diferença entre quanto o Tesouro Nacional paga quando toma dinheiro emprestado e quando está cobrando nesse empréstimo. O valor ainda não foi calculado.

Aeroporto

Os recursos contratados para a reforma do Aeroporto Internacional Pinto Martins somaram R$ 405 milhões e são de responsabilidade da Infraero, estatal que administra aeroportos. Dessa quantia, apenas R$ 62 milhões haviam sido desembolsados até fevereiro, data da última atualização dos dados que a Controladoria-Geral da União disponibiliza.

O projeto inclui reforma e ampliação do terminal de passageiros e adequação do sistema viário. Até fevereiro (dado mais atual), menos de um quinto da obra estava concluído.

Mobilidade

Foram traçadas seis ações de mobilidade urbana para a Copa em Fortaleza. Os recursos contratados até agora somam R$ 617 milhões, dos quais R$ 410 milhões financiados pela Caixa Econômica Federal.

Das seis ações, três são projetos para BRT (“Bus Rapid Transit”, espécie de corredores expressos de ônibus). Foram contratados R$ 179 milhões para essas obras, mas apenas R$ 62 milhões já foram pagos. O BRT mais adiantado é do da avenida Alberto Craveiro, com 97% da obra concluída em maio (dado mais recente). No da avenida Paulino Rocha, o percentual de execução física é de 64%, e o da avenida Dedé Brasil, de apenas 9%. Essas obras são de responsabilidade da Prefeitura de Fortaleza e o financiamento é da Caixa.

Outra obra de responsabilidade da prefeitura é o projeto Eixo Via Expressa/Raul Barbosa, que inclui reforma da avenida, construção de quatro túneis e um viaduto. Para isso, foram contratados R$ 218 milhões, mas somente R$ 696 milhões foram pagos. Do financiamento total, R$ 142 milhões, somente R$ 11 milhões foram liberados pela Caixa. O percentual de execução física da obra está em 13%.

A implantação de duas novas estações de metrô (Padre Cícero e JK) e o VLT (Veículo Leve sobre Trilho) ligando a estação e o Porto de Mucuripe ficaram sob responsabilidade do governo do Estado. Para a primeira obra, o valor contratado foi de R$ 20 milhões, dos quais R$ 9 milhões foram pagos até abril (dado mais recente). Somente 50% da execução foi concluída.

No caso do VLT, o valor contratado é de R$ 200 milhões, dos quais apenas R$ 54 milhões foram pagos. O percentual de execução física da obra era de 49% em maio.

Porto

No setor portuário, o projeto para a Copa em Fortaleza foi a construção do Terminal Marítimo de Mucuripe, que inclui a construção de um terminal de passageiros e de um cais, a pavimentação dos acessos e o estacionamento.

As informações dessa obra que ficam disponíveis para o público no Portal da Transparência do governo federal não estão atualizadas, o que dificulta o acompanhamento pelos cidadãos. Os dados mais recentes são de janeiro de 2013. Naquele momento, os recursos contratados chegaram a R$ 176 milhões e 20% da obra havia sido executada.

Estrutura temporária

Em Fortaleza, foi construída uma estrutura temporária para a Copa das Confederações, na qual o Governo do Estado do Ceará gastou R$ 20 milhões, já considerada também a desmontagem.


Em movimento raro, brasileiros reduzem importações no primeiro semestre
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Sílvio Guedes Crespo

Após um aumento da cotação do dólar, os brasileiros diminuíram os gastos com produtos importados no primeiro semestre deste ano, em um movimento raro na história recente do país.

As importações feitas por todos os moradores do país de janeiro a junho, incluindo pessoas físicas, empresas, instituições diversas e setor público, somaram US$ 113 bilhões – portanto, US$ 4,5 bilhões a menos do que na primeira metade do ano passado.

Nos últimos 10 anos, só houve queda nas importações semestrais duas vezes – em 2009 e agora. Nas duas últimas décadas, isso ocorreu apenas outras três vezes: em 1996, 1999 e 2002.

Em média, no primeiro semestre do ano passado a cotação do dólar ficou em R$ 2,03. Já no período de janeiro a junho de 2014, a média registrada foi de R$ 2,30, de acordo com o Banco Central. Com o dólar mais alto, produtos importados ficam mais caros.

Como consequência da redução das compras de bens estrangeiros, a balança comercial – registro de todas as exportações e importações feitas pelo país – ficou um pouco menos desequilibrada. O deficit passou de US$ 3,07 bilhões no primeiro semestre do ano passado para US$ 2,5 bilhões em igual período de 2014.

A balança comercial, portanto, dá sinais de que está começando a se ajustar. O ideal seria que isso ocorresse por meio do aumento das exportações. Mas, para isso, seria preciso que nossos produtos se tornassem mais competitivos no mercado internacional. Quanto mais exportamos, maior tende a se tornar nossa capacidade de importar. Como nossa indústria tem dificuldade de competir no exterior, e como o preço das matérias-primas parou de subir, nossas exportações começaram a cair em 2012, conforme o gráfico abaixo.

exportacoes importacoes

O gráfico mostra que as exportações brasileiras eram muito superiores às importações na primeira metade da década de 1990. Após o Plano Real, em que o real se valorizou e passou a ser usado para controlar a inflação, os produtos estrangeiros ficaram caros e as importações dispararam, sem que as exportações também o fizessem. O resultado foi que, de 1995 a 2002, o saldo comercial ficou praticamente inexistente, o que é mostrado pela pequena distância entre as linhas vermelha e verde.

A partir de 2004, as exportações dispararam, com a forte demanda da China por matérias-primas. As importações também subiram muito, mas até 2011, se mantiveram bem abaixo das vendas ao exterior, levando o Brasil a registrar o melhor saldo comercial da sua história, em termos absolutos. Com a desaceleração da China, a crise na Europa (um importador de peso dos produtos brasileiros) e as barreiras da Argentina (outro parceiro comercial importante), nossas exportações passaram a crescer em ritmo cada vez menor, até começarem a diminuir, a partir de 2012.

O gráfico, bem como os demais números apresentados aqui, se referem somente ao primeiro semestre de cada ano, para que se possa fazer comparações livres de influências sazonais.