Achados Econômicos

Arquivo : agosto 2014

Em dez anos, custo dos empregados da indústria quase quadruplica
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Sílvio Guedes Crespo

Atualizado às 17h06*

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O custo dos empregados na indústria brasileira disparou 264% de 2002 a 2012, segundo um estudo elaborado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).

As empresas do setor gastavam, em média, US$ 3,08 por hora trabalhada com cada um dos seus funcionários em 2002, considerando o salário mais os impostos. Dez anos depois, em 2012, o valor atingiu US$ 11,20, quase quatro vezes mais.

custo do trabalho brasil historico cni

Os números se referem ao que tecnicamente se chama “custo de compensação”, um conceito que a OIT (Organização Internacional do Trabalho) utiliza como sinônimo de custo do trabalho. A CNI, no entanto, ressalta que esses dados não incluem algumas despesas também relacionadas aos empregados, como os processos de recrutamento e seleção, os programas de treinamento e também a manutenção de refeitório para os empregados.

Conforme aponta o gráfico, o custo dos empregados da indústria despencou 57% entre 1996 (dado mais antigo da série) e 2002.

A partir de 2003, o indicador passou a subir continuamente até 2008, registrando, depois, uma leve queda em 2009, que foi mais do que compensada pelos aumentos nos dois anos seguintes.

Nota-se, no entanto, que em 2012 (dado mais recente) o custo do trabalho voltou a cair.

Como os valores estão em dólares, a variação do custo do trabalho é fortemente influenciada pelo câmbio. Quando o real sobe, como no período de 2003 a 2008, o custo do trabalho também sobe. Quando a moeda brasileira cai, caso do período de 1998 a 2002, o preço da mão de obra também desce.

Porque a indústria compete globalmente – seja quando exporta, seja quando concorre com produtos importados –, o valor em dólares é o que interessa quando estudamos a competitividade do setor.

Comparando com outros países, vemos que a hora trabalhada, no Brasil, é mais cara do que a de algumas outras nações emergentes, como o México, e mais barata do que a de economias maduras, como a zona do euro.

custo do trabalho paises cni

O estudo foi elaborado pela CNI e, portanto, traz o ponto de vista dessa entidade, que representa os empresários industriais. Sendo assim, faz sentido que se fale em custo do trabalho, e não em ganho do trabalhador.

Em determinado momento da análise, os pesquisadores fazem uma observação em relação a isso, dizendo que é positivo que os salários cresçam, mas que, quando isso ocorre sem que a produtividade acompanhe no mesmo ritmo, o aumento do custo do trabalho pode até inviabilizar determinadas atividades.

Opinião

É necessário sempre levar em conta que, se de um lado temos o custo do trabalho, de outro temos o ganho do trabalhador – e mais os impostos, que podem ser revertidos em serviços para a população, desde que as pessoas se interessem por discutir questões públicas de forma racional.

O aumento do custo do trabalho de 2002 a 2012 foi fortemente influenciado pelo câmbio. A cotação do dólar, que encostou em R$ 4 em 2002, terminou o ano de 2012 a R$ 2,04.

Essa enorme valorização do real gerou um custo nada desprezível para empresas que concorrem globalmente.

Tal aumento de custo representou também uma melhora da renda dos trabalhadores, o que é desejável, especialmente em um país de enorme desigualdade social.

O caso é que, no período de 2004 a 2010, com uma interrupção em 2009 por causa da crise iniciada nos Estados Unidos, os empresários da indústria conseguiram dar aos trabalhadores aumentos acima da inflação e, mesmo assim, o setor continuou crescendo.

Naquela época, entravam muitos dólares no país, por meio de exportações crescentes para a China e por investimentos estrangeiros no Brasil. Consequentemente, o real foi se valorizando, de modo que os salários passaram a valer mais em dólares. Além disso, havia uma política econômica que deu confiança a investidores, pois as metas de inflação eram cumpridas e o governo reservava uma quantia para pagar juros que os investidores consideravam, quando não ideal, ao menos aceitável.

Quando a economia da China passou a desacelerar, é como se alguém tivesse tirado uma peça de uma máquina que até então estava funcionando. Os chineses diminuíram o ritmo de aumento das compras de produtos brasileiros. Para piorar, a Europa, um dos principais importadores das nossas mercadorias, não consegue se recuperar da crise. Os Estados Unidos ora parecem melhorar, ora dão sinais de que ainda vão mal. Adicionalmente, a Argentina, outro grande parceiro comercial do Brasil, ergueu barreiras para alguns de nossos produtos.

Internamente, em vez de arrumar a casa, criando um ambiente para tornar o país mais propício para investimentos, o governo preferiu adiar os ajustes – que certamente seriam impopulares – e fazer apenas remendos para segurar as pontas.

Por exemplo, o país precisaria cortar gastos públicos para poder pagar dívida e também para não pressionar tanto a inflação. Mas o governo preferiu não cortar gastos, provavelmente esperando que a situação internacional melhorasse e tudo voltasse a ficar mais parecido com os anos Lula. Ou então está só aguardando as eleições para tomar as medidas impopulares em 2015.

De qualquer maneira, o cenário internacional melhorou muito pouco. Como o governo não cortou gastos, a quantia que o setor público reserva para pagar juros (o chamado superavit primário) não atingiu as metas, o que gera desconfiança nos investidores.

Além disso, sem corte de gastos, a inflação está sendo segurada com decisões como a de obrigar a Petrobras a vender gasolina por um preço mais barato do que o que a empresa gasta para importar o combustível. (Essa questão é particularmente interessante, porque a Petrobras vende gasolina barata, mas os postos a vendem bem mais cara, seja por causa de impostos ou de lucro, mas esse assunto eu já discuti em outro post.) Tudo isso gera desconfiança no mercado e afugenta investidores. Não em todos os setores, mas em parte deles.

No tempo em que a economia estava crescendo bem, o período entre 2004 e 2010 (com breve interrupção em 2009 por causa da crise bancária iniciada nos EUA), a inflação era tranquilamente controlada pelo câmbio. O real foi se valorizando devido à forte entrada de dólares, e isso deixou os produtos importados mais baratos.

Agora, no entanto, se o real continuasse subindo, a indústria seria sufocada, pois os custos, quando convertidos para dólares, iriam aumentar demais e tornar as empresas menos competitivas.

A CNI propõe o corte de impostos sobre salários, como forma de se tornar um pouco mais competitiva. Isso é positivo, mas devemos lembrar que toda redução impostos deve ser acompanhada de diminuição de despesas, ou seja, de medidas impopulares. A questão é de onde o governo tiraria dinheiro para pagar as aposentadorias, se a contribuição previdenciária que a indústria paga for cortada.

Se o preço das horas pagas cresce mais do que a produtividade, teríamos duas opções: reduzir o preço da hora ou aumentar a produtividade. O gráfico mostrado no estudo da própria CNI diz que na zona do euro o custo do trabalhador é mais do que o triplo daquele que existe no Brasil. Mesmo assim, a Europa é sede de inúmeras indústrias de ponta, dos aviões Airbus aos veículos BMW, passando por gigantes do petróleo como a Total e a BP, farmacêuticas como a Roche e muitas outras.

Verdade que muito do que essas companhias produzem está em países emergentes, mas uma parte ainda está no país sede, mesmo com trabalhadores ganhando bem mais do que os daqui. Sinal de que o foco das políticas para o setor tem que estar no aumento da produtividade, não na redução dos salários.

* Acrescentado o item ‘Opinião’ às 17h06


Há 20 anos, arroz custava R$ 0,64, e carro popular, R$ 7.200; relembre
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Sílvio Guedes Crespo

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O real completou no mês passado 20 anos em circulação. Em 1º de julho de 1994, quando a moeda foi lançada, o litro da gasolina custava R$ 0,55, e a passagem de ônibus em São Paulo, R$ 0,50.

Isso não quer dizer necessariamente que o brasileiro tenha perdido poder de compra. Ao contrário, muitos ganharam. O salário mínimo era de R$ 64,79 em julho de 1994 e atualmente é de R$ 724, ou seja, aumentou 1.017%. Já os preços ao consumidor subiram, em média, 362% no período, segundo o índice oficial de inflação (para quem não acredita no índice de inflação, recomendo ler isto antes de comentar: http://uol.com/bmdMrd).

Relembre o preço de 14 produtos em 1994.

1. Arroz: R$ 0,64 o quilo

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O quilo de arroz custava R$ 0,64 em julho de 1994, em São Paulo, segundo o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos). Já o feijão saía por R$ 1,11. Hoje, os produtos custam R$ 2,57 e R$ 3,81, respectivamente. Há 20 anos, o salário mínimo comprava 37 quilos de arroz e feijão; hoje, compra 113 quilos de cada.

2. Pão francês: R$ 0,09

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O pão francês saía, em média, por nove centavos cada unidade quando o real começou a circular, também de acordo com dados do Dieese. Hoje o produto é vendido por peso, e o quilo está cerca de R$ 9,66 em São Paulo. Considerando que uma unidade pese 50 gramas, o pão francês está em torno de R$ 0,50. O salário mínimo comprava 758 pães em 1994, e hoje compra 1.499.

3. Filé mignon: R$ 6,80 o quilo

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O preço do filé mignon subiu 438% desde julho de 1994, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Em uma busca em sites de supermercados, este blog encontrou filé fresco a R$ 28,90 (o mais barato) e a R$ 44,51 o quilo (o mais caro encontrado). Tirando a média e descontando a inflação, pode-se estimar que, em 1994 esse corte custava em torno de R$ 6,80 o quilo. O salário mínimo comprava, portanto, nove quilos de filé mignon; hoje, compra 20.

4. Gol 1.0: R$ 7.243

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Na foto, da esquerda para a direita, o modelo 1994 dos veículos: Escort Hobby 1.0 (R$ 7.386 à época), o Gol 1.000 (R$ 7.243), o Uno Mille (R$ 7.254) e o Corsa Wind 1.0 (R$ 7.350). Eles eram os carros mais baratos da Ford, Volkswagen, Fiat e Chevrolet. Na média, esses quatro veículos custavam R$ 7.308, ou 113 salários mínimos, em 1994. Atualmente, a versão mais simples dos modelos mais baratos de cada uma dessas montadoras custa, em média, R$ 30.444, ou 42 salários mínimos.

5. Uísque Jack Daniel’s: R$ 33,50

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As lojas Depósito Normal, em São Paulo,  anunciavam o Jack Daniel’s Tenessee Whiskey por R$ 33,50 há 20 anos. No site do supermercado Extra, o produto aparece hoje por R$ 99,65. O salário mínimo quase comprava duas garrafas no início do real e hoje compra sete.

6. Cinema: R$ 5

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O ingresso para o filme “Um tira da pesada 3”, com Eddie Murphy, custava R$ 5 no Shopping Iguatemi, em São Paulo, em um domingo à noite em 1994. Um salário mínimo comprava quase 12 ingressos. Hoje, no mesmo shopping e no mesmo horário, pode-se assistir a “Planeta dos macacos – o confronto”, por R$ 29 a entrada inteira. O atual salário mínimo adquire perto de 25 ingressos.

7. Show do Chitãozinho e Xororó: R$ 15

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Chitãozinho e Xororó, em agosto de 1994, fizeram um show no Palace, onde tocaram “Evidências” e “Fio de cabelo”. O ingresso mais barato saiu por R$ 15, e o mais caro, por R$ 35. O salário mínimo dava para quatro pessoas na pista ou uma no camarote. A comparação de preço de shows é sempre imprecisa, pois, com o tempo, alguns artistas passam a valer mais, e outros, menos. Mas não custa informar que, em 9 de agosto deste ano, a dupla se apresentou no Espaço das Américas, na Barra Funda, e o ingresso custou de R$ 75 a R$ 180. O salário mínimo atual compra nove entradas para o setor mais barato e quatro para o mais caro.

8. Ônibus: R$ 0,29 a R$ 0,54

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Teresina e João Pessoa tinham o passe de ônibus mais barato entre as capitais do país em julho de 1994: R$ 0,29. A passagem mais cara era em Brasília, R$ 0,54. O salário mínimo comprava 129 passes em São Paulo e hoje, a R$ 3, compra 241.

9. Gasolina: R$ 0,55 o litro

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O litro da gasolina estava R$ 0,55, em média, nos postos de São Paulo no dia 18 de julho de 1994, segundo uma reportagem da Folha à época. O álcool saía por R$ 0,44. Hoje, a gasolina está R$ 2,815, e o etanol, R$ 1,839. O salário mínimo, portanto, comprava 117 litros de gasolina e hoje compra 257.

10. Rodízio: R$ 13 a R$ 24

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Uma refeição na churrascaria Fogo de Chão, em São Paulo, saía entre R$ 13 e R$ 24 por pessoa em 1994, segundo a Revista da Folha. O salário mínimo bancava, então, entre duas e cinco pessoas. Já no Almanara, gastava-se até R$ 12 por pessoa, e no Bargaço, de R$ 25 a R$ 35. Hoje, o rodízio na Fogo de Chão está R$ 112 por pessoa. O atual salário mínimo paga refeição para até seis pessoas na churrascaria.

11. Apartamento de três dormitórios: R$ 94.340

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A imagem acima é da planta de um apartamento que estava sendo anunciado por R$ 94.340, no dia 7 de agosto de 1994, o que dava 1.456 salários mínimos na época. O imóvel ficava no primeiro andar de um edifício no bairro do Morumbi, em São Paulo. Quem fechasse o negócio ganharia uma viagem para Nova York. A área somava 211 metros quadrados. O apartamento tinha três dormitórios (sendo uma suíte), varanda com churrasqueira e duas vagas na garagem. Hoje, fazendo uma busca no site Zap por apartamentos de três quartos (sendo uma suíte), com cerca de 200 metros quadrados de área, duas vagas, no mesmo bairro, surgiram 17 unidades cujos proprietários pedem entre R$ 600 mil e R$ 800 mil, o que dá algo entre 800 e 1.100 salários mínimos. Mas não é possível dizer se aumentou ou não poder de compra do salário mínimo em relação a imóveis apenas com esses dados, pois cada apartamento traz características muito peculiares, como a localização exata, a vista, as instalações do prédio, o andar etc.

12. Óculos Ambervision: R$ 39,95

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Os óculos Ambervision, produto que “bloqueia até 100% dos raios ultravioleta” e tem um “design avançado unissex”, custavam URV 39,95. Para quem nasceu depois, a URV, Unidade Real do Valor, era uma moeda imaterial que serviu para as pessoas irem se acostumando com o real antes de este ser lançado. As pessoas recebiam e pagavam em cruzeiros reais, mas o comércio informava também qual era o preço em URV, unidade que depois daria lugar ao real. Em tese, tudo o que custava URV 1 em 30 de junho de 1994 deveria passar a custar R$ 1 a partir de 1º de julho. Mas vários comerciantes aumentaram os preços na virada do mês. Caso o Grupo Imagem Teleshop, responsável pelo Ambervision, não tenha sido um deles, o salário mínimo comprava apenas um óculos. Mas se ligasse “agora mesmo”, pagaria um e levaria dois. O Ambervision não existe mais.

13. Tele-Amizade: R$ 3,49 por minuto

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Em 1994, quem quisesse conhecer pessoas poderia ligar para o Tele-Amizade, pagando R$ 3,49 por minuto (interurbano grátis). Com um salário mínimo, era possível falar durante 18 minutos. Hoje, as pessoas fazem amigos e marcam encontros pela internet, pagando um preço fixo pelo acesso, independentemente do tempo gasto.

14. Dólar: R$ 1,00

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O dólar era vendido a R$ 1,00 em 1º de julho de 1994, pela Ptax, uma forma de calcular a cotação, elaborada pelo Banco Central. Exatos 20 anos depois, a moeda americana saía por R$ 2,2054. No início do real, o salário mínimo valia US$ 64,79. Hoje, está em US$ 328,29. Aqui, cabe uma observação: o dólar também perde poder de compra com o tempo. Portanto, US$ 64,79 há 20 anos valiam mais do que os mesmos US$ 64,79 hoje. Em outra ocasião, calculei o ganho do salário mínimo do Brasil convertido para dólares e descontando a inflação dos Estados Unidos (http://uol.com/bhdRqR).


Bovespa tem 3ª maior alta, entre 50 países, após queda na aprovação a Dilma
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Sílvio Guedes Crespo

Atualizado às 15h37*

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O principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo, o Ibovespa, subiu 18% desde o dia 26 de março, véspera da publicação da primeira pesquisa CNI/Ibope que registrou a primeira queda da aprovação ao governo Dilma Rousseff neste ano, até o fechamento de 6 de agosto.

A alta é a terceira mais forte de um ranking de 50 países analisados pelo blog Achados Econômicos. À frente da Bolsa brasileira ficaram a da Argentina, que subiu 33% no mesmo período, e a do Peru, com aumento de 20%.

bolsas no mundo

O ranking abrange um total de 53 índices de ações, porque inclui três dos Estados Unidos e um que reúne empresas de diversos países da Europa (veja lista completa ao final deste post).

Nas três últimas posições ficaram as Bolsas da Venezuela (-13%), Grécia (-18% cada) e Portugal (-26%). Os dois países europeus estão entre os que mais preocupam investidores por conta da dívida pública. A Grécia chegou a dar o maior calote da história, em 2012, quando investidores privados que tinham títulos emitidos por aquele país aceitaram uma perda de 53,5% (cerca de € 107 bilhões) no valor dos seus papéis. 

Portugal não chegou a dar calote, mas, como a Grécia e a Irlanda, pediu ajuda ao Comissão Europeia, ao Banco Central Europeu e ao Fundo Monetário Internacional, em 2011. Mais tarde, em 2014, Portugal e Irlanda conseguiram se livrar do programa de resgate.

Já no caso da Venezuela, a Bolsa caiu após um período de forte alta. Em 2013, o principal índice de ações do país subiu 502%. Segundo analistas, existia a expectativa de mudanças na política venezuelana rumo a uma abordagem mais amigável ao mercado.

Considerando o acumulado do ano, o Ibovespa teve alta de 10% até 6 de agosto, ficando em 15º lugar na mesma lista de países.

O levantamento foi feito a partir de dados do site Yahoo! Finance e da agencia Bloomberg.

Entrevista

O analista Lucas Marins, da corretora Ativa, concedeu a entrevista abaixo ao blog Achados Econômicos.

O que explica a alta de 18% do Ibovespa no período analisado? É só essa questão das pesquisas eleitorais ou existem outros fatores?

É essa questão da pesquisa, mesmo. Se quiser procurar outro fator para explicar isso, não vai achar. A cada semana, a gente vê a pesquisa Focus [que reúne previsões econômicas feitas por cerca de 100 instituições financeiras] reduzindo sua projeção de crescimento do PIB [produto interno bruto]. A projeção para a inflação está em 6,26%, quase no teto da meta [que é de 6,5%]. Enfim, não tem nenhum fundamento econômico que possa motivar essa alta do Ibovespa, nem os resultados das empresas.

Caso a presidente Dilma vença ou volte a subir nas pesquisas, o que tende a acontecer com a Bolsa?

Se Dilma vier a vencer, grande parte dessa alta [do Ibovespa] deve se perder, a não ser que ela anuncie alguma mudança na política econômica, como fez o Lula em 2002, quando lançou a Carta ao Povo Brasileiro.

Ranking

Abaixo, o ranking completo com os 53 índices analisados.

PaísVariação desde 26/3Var. acum. em 2014
Argentina33%51%
Peru20%7%
Brasil18%10%
Turquia17%17%
Índia16%21%
Hong Kong12%5%
Tailândia12%17%
México12%4%
Romênia10%7%
EUA – Nasdaq8%8%
Noruega8%12%
África do Sul7%10%
Indonésia7%18%
Chile6%6%
China6%3%
Cingapura6%5%
Coeria do Sul5%2%
Japão5%-7%
Taiwan5%6%
Canadá5%12%
Dinamarca5%15%
EUA – S&P 5004%4%
Croácia3%1%
Hungria2%-7%
Austrália2%3%
Malásia2%0%
Finlândia2%1%
Emirados Árabes1%15%
EUA – DJ1%-1%
Espanha1%3%
Reino Unido0%-2%
Holanda0%-1%
Suécia0%3%
Luxemburgo0%4%
Colômbia0%-3%
Suíça-1%1%
Nova Zelândia-1%7%
Israel-1%5%
Rússia-1%-11%
Bélgica-1%5%
Marrocos-2%4%
Polônia-2%-1%
Europa-3%-2%
Alemanha-3%-4%
França-4%-2%
República Tcheca-5%-4%
Itália-8%3%
Irlanda-9%1%
Áustria-10%-12%
Bulgária-10%10%
Venezuela-13%-20%
Grécia-18%-6%
Portugal-26%-15%

 

* Acrescentada a entrevista às 15h37


Por que os bancos se calariam diante de reclamações do governo?
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Sílvio Guedes Crespo

Atualizado às 19h40*

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Poucas empresas estão se saindo tão bem no Brasil atual quanto os grandes bancos. As 1.555 instituições que compõem o sistema financeiro nacional lucraram R$ 37,2 bilhões no primeiro trimestre deste ano. Desse valor, R$ 7,8 bilhões, ou 44%, correspondem aos ganhos dos três maiores conglomerados financeiros privados. O Itaú teve lucro de R$ 3,8 bilhões; o Bradesco, de R$ 3,5 bilhões, e o Santander, de R$ 553 milhões. Nada mal para uma época de crescimento econômico baixo e inflação alta no país.

Neste momento em que os bancos que operam no país gozam a maior opulência de sua história e o restante da economia lamenta um crescimento do PIB (produto interno bruto) que deve ficar em torno de 1% neste ano, há quem acredite que o sistema financeiro seja vítima de uma “postura bolivariana” do governo.

A polêmica começou depois de uma reação efusiva de petistas a um acontecimento não muito mais do que banal. Uma analista do Santander, que, segundo o banco, não tinha autorização para fazer publicamente associações entre política e preço das ações, escreveu que, se a presidente Dilma Rousseff “subir nas pesquisas […] o índice da Bovespa cairia”. Tal opinião, que já circulava há meses no mercado e na imprensa, foi enviada junto com o extrato bancário a 1,7% dos clientes do Santander – aqueles com renda mensal acima de R$ 10 mil ou aplicações superiores a R$ 100 mil.

Em resposta, Dilma disse que aquela atitude era “inadmissível”. O presidente do PT, Rui Falcão, acusou o banco de fazer “terrorismo eleitoral”, e o prefeito de Osasco, o também petista Jorge Lapas, anunciou que iria rescindir um convênio entre o município e o Santander para pagamento de tributos. O banco publicou em seu site um pedido de desculpas e demitiu a analista.

Foram precisamente o pedido de desculpas e a demissão que provocaram medo em parte dos profissionais do mercado. Alguns falaram abertamente com a imprensa sobre o assunto, mas outros só aceitaram dar entrevistas se não tivessem seus nomes revelados. Os do último grupo diziam temer represálias do governo caso se expusessem.

Mais recentemente, a agência Bloomberg noticiou que “o pedido de desculpas por parte do Santander […] desencadeou medidas em pelo menos dois dos maiores bancos do país sobre o que seus analistas podem e não podem dizer”. Anteontem, o ex-ministro Antonio Delfim Netto afirmou, em entrevista à Band, que, depois da politização do caso pelo governo e da demissão da analista pelo Santander, “ninguém mais vai acreditar em qualquer informe de banco sobre a economia brasileira”.

Que o governo teve uma reação descabida e que parte dos profissionais do mercado ficou morrendo de medo, já se falou amplamente na imprensa. O que ainda ficou faltando explicar é: por que os grandes bancos se calariam diante de uma reclamação do governo?

Quando este blog entrevistou profissionais do mercado que disseram estar com medo e não quiseram se identificar, perguntou quais seriam os meios de o governo pressionar os bancos. Duas hipóteses foram levantadas pelos entrevistados.

Uma foi a de que órgãos como a Receita Federal, o Banco Central e a Comissão de Valores Mobiliários poderiam perseguir as instituições que criticassem o governo, intensificando a fiscalização sobre elas (as três negam). A outra hipótese foi a de que os grandes bancos fazem muitas operações com o setor público e não querem correr o risco de perder negócios.

Ora, se essas duas hipóteses estiverem certas, então não teríamos um Estado oprimindo o setor financeiro, e sim um acordo tácito entre as duas partes. As pessoas que disseram ter medo, no entanto, não levantaram outra suposição sobre a forma com que o governo pudesse retaliar o mercado. De qualquer modo, a exposição negativa da marca Santander na imprensa e nas redes sociais, após o episódio, já é um motivo nada desprezível para uma empresa desse porte querer ficar quieta.

Nenhum dos grandes bancos fala sobre o assunto abertamente. Mas um executivo de uma das maiores instituições financeiras do país aceitou falar com o blog desde que não tivesse seu nome divulgado.

Ele defendeu seus pares e mostrou-se predominantemente satisfeito com a forma como o Estado e o setor bancário se relacionam no Brasil.

“É óbvio que ninguém gostaria de ter uma relação difícil com o governo”, disse, “[mas] eu jamais vi alguma ação do governo que seja de retaliação, inclusive porque não tem instrumentos legais para fazer”.

No meio de toda a confusão, quem realmente saiu ganhando foi a Empiricus Research, uma consultoria que compara o PT com o antigo Partido Nacional-Socialista da Alemanha e havia publicado, antes do episódio do Santander, um anúncio que dizia: “Saiba como proteger seu patrimônio no caso de reeleição de Dilma”. O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) obrigou a empresa a retirar do ar a publicidade, a pedido da campanha de Dilma, que alegava ser um anúncio com finalidade eleitoral.

A proibição, por si só, fez a consultoria ser citada em diversas reportagens em jornais e na internet. Com o episódio do Santander, a Empiricus rapidamente se pronunciou dizendo que tinha “simpatia” pela profissional do banco que foi demitida, declaração que ajudou a empresa a continuar aparecendo nas reportagens e ainda reforçou na consultoria uma imagem de lutadora contra eventuais tentativas de oprimir o mercado. A Empiricus disse ter dobrado o número de clientes e já está famosa no seu nicho de mercado, que inclui, certamente, as pessoas que temem uma revolução ao estilo “bolivariano” no país.

* As informações sobre lucro dos bancos, que até as 19h40 se referiam a 2013, foram atualizadas para o primeiro trimestre de 2014.


Bancos aumentam juros mesmo após BC parar de elevar a taxa
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Sílvio Guedes Crespo

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Os bancos continuaram elevando as taxas de juros às pessoas físicas em diversas modalidades, apesar de a taxa básica, a Selic, estar parada no patamar de 11% ao ano desde o dia 3 de abril.

Naquele mês, o cheque especial custava, em média, 161,8% ao ano. Em maio, esse tipo de empréstimo subiu para 168,5% ao ano. Em junho, atingiu 171,5%.

juros cheque especial

O crédito pessoal não consignado passou por um movimento um pouco diferente. Depois que a taxa básica (Selic) atingiu 11%, o juro nessa modalidade caiu (de 99,2% ao ano, em abril, para 97,5%, em maio) e depois subiu em junho, para 100,3% ao ano.

No caso do crédito consignado, aquele em que o tomador paga por meio de um desconto automático em seu salário, houve um pequeno aumento, passando de 25,3% para 25,6%.

Para comprar de veículos, as taxas de juros tiveram uma pequena alta, de 22,6% em abril para 23% em maio e junho. Já para aquisição de outros bens houve um aumento de abril para maio (77,3% para 28,2%) e depois uma ligeira queda, para 77,8% em junho.

No caso do financiamento imobiliário, os bancos cobravam 9,2% em abril, passaram para 9,5% em maio e agora voltaram aos 9,2% em junho.

Todas essas taxas são médias, ou seja, cada tomador pode ter obtido um custo maior ou menor, dependendo da disposição da instituição financeira em emprestar e do relacionamento que cada cliente tem com o banco.

Entrevista

O economista Pedro Raffy Vartanian, professor na Universidade Presbiteriana Mackenzie, concedeu a entrevista abaixo ao blog.

É normal que os bancos continuem elevando as taxas de juros, mesmo depois de o Banco Central decidir interromper o ciclo de alta?

Não vou dizer que isso é comum, mas, dado o contexto econômico atual, é compreensível.  A taxa básica de juros [Selic] é o principal determinante desse tipo de operação [empréstimo bancário]. Mas tem outras variáveis que também influenciam, como o baixo crescimento econômico e a inflação alta, que podem gerar problemas de emprego e renda – e, consequentemente, maior inadimplência.

É um cenário que leva os ofertantes de crédito a serem mais restritivos. Eles acabam optando ou por emprestar menos ou emprestar com uma taxa maior.

Mas a taxa de inadimplência continua controlada.

Sim, a inadimplência por enquanto está controlada. O que faz com que os bancos emprestem menos é o receio de aumento da inadimplência. É uma postura preventiva.

O baixo nível de atividade industrial, o baixo crescimento econômico, a incerteza em relação ao mercado de trabalho, a desaceleração da geração de empregos, os números ruins da indústria automobilística e a própria política monetária atual, que é contracionista, tudo isso combinado, gera receio de que aumente a inadimplência.

Como a economia tem alguns preços represados, isso poderá contaminar a inflação de 2014 – portanto, existe ainda uma possibilidade de aumento da taxa Selic. Isso tudo pode afetar a inadimplência. Não estou dizendo que a inadimplência esteja descontrolada ou que ela vá aumentar. Mas o receio de que isso ocorra já é suficiente para restringir a concessão de crédito.

O BC anunciou na sexta-feira a liberação de R$ 45 bilhões para os bancos emprestarem. Esse é um dinheiro que os bancos captaram e ficava parado em uma conta no BC (o chamado depósito compulsório). Com esse volume entrando no mercado, os empréstimos tendem a aumentar, e as taxas de juros, a cair?

O objetivo é esse, mas não necessariamente vai acontecer. Os bancos estão num cenário de concessão criteriosa e rigorosa de crédito por aqueles motivos que eu citei. O banco só vai emprestar a uma taxa menor para quem ele realmente tem certeza de que não vai ser inadimplente. Dessa forma, o impacto dessa medida no custo do cheque especial e do cartão não vai ser notado pelo tomador.

Nós estamos num cenário não tão grave, mas parecido com aquele após a crise de 2008, em que o governo incentivou os bancos a emprestarem, mas os bacos, preventivamente , preferiram não emprestar. Preferiram aplicar em títulos públicos.


Com Copa, gastos de estrangeiros somam US$ 797 mi em junho e batem recorde
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Sílvio Guedes Crespo

Atualizado às 14h09*

Fifa Fan Fest em São Paulo

Fifa Fan Fest em São Paulo

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Os gastos de estrangeiros no Brasil somaram US$ 797 milhões em junho, mês em que se iniciou a Copa do Mundo no país.

Em dólares correntes (sem atualizar pela inflação da economia americana), esse é o maior valor, para um único mês, de toda a série histórica que o Banco Central coloca à disposição no site, iniciada em 1969. É o maior também se comparado com uma série anterior, de 1947 a 1968, que foi desativada.

Até então, o recorde era de janeiro de 2013 (US$ 696 milhões).

O valor do mês passado ficou bem acima do que costuma entrar no países nessa época do ano. Na média dos meses de junho de 2009 a 2013, os gastos de estrangeiros ficaram em  US$ 437 milhões. Em junho de 2013, foram US$ 453 milhões. O impacto da Copa no turismo no mês passado ficou, portanto, na faixa dos US$ 350 milhões.

Os números fazem parte do balanço de pagamentos, que é o registro de todo o dinheiro que entra e sai do país, divulgado pelo BC.

historico gastos estrangeiros brasil junho

Ao analisar a evolução dos gastos de turistas, é sempre bom comparar com a mesma época do ano, uma vez que esse mercado tem uma variação sazonal muito grande. Por isso, o gráfico acima informação apenas os dados de junho de cada ano.

Mas não deixa de ser curioso reparar que em um mês de junho, as despesas dos estrangeiros no Brasil superaram o recorde dos meses de janeiro, época de alta temporada, em que o país registra as maiores entradas de dólares via turismo.

Nas últimas semanas, foram divulgadas diversas pesquisas sobre as despesas de turistas no país durante a Copa. Tais dados se diferem destes apresentados pelo Banco Central. Algumas dessas pesquisas eram apenas estimativas e outras se limitavam à receita de determinadas empresas de cartão de crédito. Já os dados do BC são o registro efetivo das despesas de todos os que entram no país e gastam legalmente.

Outra diferença está no fato de que o número do BC se refere a junho, enquanto outras pesquisas abrangem todo o período da Copa (12 de junho a 13 de julho). Além disso, algumas das pesquisas recentes somam os gastos de estrangeiros com o de turistas brasileiros, ao passo que o dado do BC só se refere aos não residentes no país.

Brasileiros no exterior

Apesar do resultado excepcional, as despesas dos não residentes no país não fizeram nem cócegas no deficit da conta de viagens.

É que, no total, os estrangeiros gastam muito menos quando vêm para cá do que os brasileiros quando saem do país. Enquanto os primeiros trouxeram aqueles US$ 797 milhões para o Brasil em junho, os brasileiros deixaram US$ 2 bilhões em outros países. Isso resultou em um saldo negativo de US$ 1,2 bilhão na conta de viagens.

No primeiro semestre, o deficit dessa conta ficou em US$ 8,8 bilhões, maior do que os US$ 8,7 bilhões registrados no mesmo período do ano passado, quando não houve Copa do Mundo.

gastos viagens brasileiros estrangeiros historico

* Acrescentados o segundo gráfico às 11h25 e mais informações às 14h10


Bolsa Família é exemplo de política em que todos ganham, diz estudo da ONU
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Sílvio Guedes Crespo

Atualizado às 16h04*

Sueli Dumont, de Jaboatão dos Guararapes (PE), beneficiária do Bolsa Família

Sueli Dumont, de Jaboatão dos Guararapes (PE), beneficiária do Bolsa Família

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O mais recente Relatório para o Desenvolvimento Humano, da Organização das Nações Unidas, defende um conjunto de medidas de proteção social e regulação estatal para combater a pobreza e a desigualdade no mundo.

O estudo afirma que os programas Bolsa Família, do Brasil, e Oportunidades, do México, são “exemplos de políticas ganha-ganha”.

Para a ONU, as iniciativas tiveram um duplo papel após 2008. No curto prazo, suavizaram os efeitos negativos da crise internacional sobre o poder de compra dos mais pobres, ajudando a manter o nível de consumo. Adicionalmente, trouxeram benefícios de longo prazo uma vez que as famílias, para receberem o benefício, precisam manter os filhos na escola.

Programas de transferência de renda, diz o estudo, foram importantes para diminuir o impacto que a população sofreu com o aumento dos preços de alimentos que se seguiu à crise de 2008.

Segundo o relatório, o Bolsa Família contribuiu com 20% a 25% da redução da desigualdade no país em 2008 e 2009, ao custo de 0,3% do PIB (Produto Interno Bruto).

Mas os programas de transferência de renda, como o Bolsa Família, são apenas uma das iniciativas possíveis para combater a pobreza, reduzir a vulnerabilidade da população e construir resiliência na sociedade, afirma a entidade.

Os governos devem atuar, também, por meio de regulação financeira e de políticas macroeconômicas que possibilitem diminuição da pobreza, segundo o estudo. Ainda, o relatório defende que os países ofereçam à população acesso universal à saúde e à educação e também uma rede de proteção social.

“Todos os indivíduos têm igual valor e têm o mesmo direto de proteção e ajuda. Portanto, é preciso haver um amplo reconhecimento de que aqueles mais expostos a riscos e ameaças, as crianças ou pessoas com deficiência podem requerer apoio adicional para que suas chances na vida sejam iguais às dos demais”, afirmou o estudo.

Salário mínimo

Outro ponto defendido no relatório é o aumento do salário mínimo, apesar de vários economistas no Brasil afirmarem que tal política provocou redução da produtividade das empresas.

“O salário mínimo deve ser aumentado para estimular [a economia] a se mover na direção de atividades de produtividade mais alta”, afirma o texto. Essa frase remete a uma nota de rodapé que diz: “O aumento do salário mínimo foi uma resposta à crise no Brasil e contribuiu para aumentar os salários e a distribuição de renda”.

Em seguida, o texto acrescenta: “As reformas do modelo neoliberal no mercado de trabalho precisam ser cuidadosamente reavaliadas da perspectiva da redução da vulnerabilidade do emprego”.

Opinião

Já manifestei, neste blog, que sou favorável ao Bolsa Família, como política emergencial, para que as pessoas que não tiveram oportunidades possam ao menos se alimentar e tenham um incentivo para não tirar os filhos da escola.

Programas de transferência de renda são necessários e devem ser executados ao mesmo tempo em que se tomam medidas liberalizantes, até que estas produzam seus efeitos de longo prazo. O objetivo tem que ser o de precisarmos cada vez menos de iniciativas como o Bolsa Família.

É perfeitamente viável manter esse tipo de programa social ao mesmo tempo em que se controlam as contas públicas, afinal, o Bolsa Família não custa muito caro. Se conseguimos reservar cerca de R$ 100 bilhões por ano das receitas públicas para pagar juros, vale a pena fazer um esforço a mais para destinar mais R$ 25 bilhões para pessoas em situação de extrema pobreza. Principalmente porque os beneficiários são obrigados a manter seus filhos na escola.

Também já defendi, neste espaço, a importância de saúde e educação pagas pelo conjunto dos contribuintes, como forma de amenizar os impactos negativos da desigualdade de oportunidades.

Mesmo assim, fiquei surpreso com o Relatório para o Desenvolvimento Humano da ONU. Não apenas pela ênfase que seus autores dão às políticas sociais, mas, principalmente, por terem batido de frente com uma ideia que tem sido sustentada por parte dos economistas brasileiros, a de que é preciso impedir o aumento real do salário mínimo para evitar a perda de produtividade no país.

É verdade que os salários nos estratos sociais mais baixos têm subido mais do que a produtividade das empresas. O setor de serviços conseguiu, nos últimos anos, repassar para os preços parte da elevação de custos com pessoal – pressionando, portanto, a inflação. E a indústria, que não consegue fazer esse repasse porque concorre com produtos importados, sofre com isso e demite trabalhadores.

Apesar disso, acredito que a solução para o baixo crescimento econômico do país não deva se basear no congelamento do salário mínimo nem em decisões que levem ao aumento do desemprego.

O problema da baixa produtividade do país pode ser resolvido com outras medidas. Destaco a necessidade de o Estado abrir caminho para o setor privado deslanchar.

Se o governo tratar com respeito o tripé macroeconômico, acelerar o programa de concessões da infraestrutura e parar com intervenções diversas, como no caso da política de preços da Petrobras e da conta de luz, já tornará o cenário um pouco menos hostil ao investimento.

Ainda, temos um consumo do governo que correspondeu a 22% do PIB (produto interno bruto) no ano passado. Se conseguirmos reduzir gradativamente essa participação do Estado na economia, permitindo o desenvolvimento do setor privado, que é mais eficiente (desde que as empresas não vivam da proteção estatal), faremos, aos poucos, uma transição rumo a um ambiente econômico mais produtivo.

Reduzindo o peso da burocracia estatal, permitiremos que o setor privado se torne relativamente mais atraente, tanto para investidores como para trabalhadores, a ponto de voltar a crescer, gerar mais impostos e também serviços públicos melhores.

O problema é que essa transição provavelmente terá um custo social de curto ou médio prazo e, ainda por cima, contraria interesses de empresas que vivem de protecionismo estatal ou de ajuda pública. Até agora, nenhum dos candidatos explicou detalhadamente como vai fazer para reduzir o tamanho do Estado, ou seja, quais gastos eles pretendem cortar – se nos postos de saúde, nas salas de aula, nos cargos de confiança, nos concursos públicos (e em quais concursos) etc.

* Acrescentado o item ‘Opinião’ às 16h04


Mundo tem 1,5 bilhão de pessoas na pobreza, diz estudo da ONU
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Sílvio Guedes Crespo

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Existem hoje 1,5 bilhão de pessoas vivendo na pobreza, segundo o mais recente Relatório para o Desenvolvimento Humano da ONU (Organização das Nações Unidas), divulgado nesta quinta-feira.

Quase metade delas está na Índia, de acordo com o estudo. São 632 milhões de pessoas pobres no país asiático, o que equivale a 55% da população local.

Os números se referem ao que a ONU chama de pobreza multidimensional, um conceito que leva em conta não apenas a renda, mas o acesso dos indivíduos e famílias a serviços básicos como educação e saúde.

Se for considerada apenas a renda, o mundo tem hoje 1,2 bilhão de pessoas vivendo com menos de US$ 1,25 por dia e 2,7 bilhões com menos de US$ 2,50.

Na maior parte dos países, diz a ONU, a pobreza é maior quando medida de forma multidimensional, uma vez que a pessoa pode viver com mais de US$ 1,25 por dia mas não ter acesso à escolarização e a serviços médicos básicos.

No caso do Brasil, no entanto, acontece o contrário. O país tem 6,1% de sua população (cerca de 12 milhões de pessoas) vivendo com menos de US$ 1,25 por dia. Mas, como uma parte dessas pessoas têm algum acesso à escola e a serviços de saúde, o número de brasileiros que se enquadram no conceito de pobreza multidimensional é menor, atingindo 3,1% dos habitantes do país, ou 6,1 milhões de pessoas.

De acordo com a ONU, apenas um terço dos países – onde vivem 28% da população mundial – a provê proteção social estatal para seus habitantes.

A ONU constatou, ainda, que 842 milhões de pessoas (12% da população mundial) passam fome cronicamente, 200 milhões estão desempregadas e mais de 1,5 bilhão têm emprego informal ou precário.


Em 15 anos, matérias-primas dobram presença nas exportações e viram maioria
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Sílvio Guedes Crespo

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As matérias-primas têm aumentado fortemente sua participação nas exportações do país e, no primeiro semestre de 2014, tornaram-se maioria entre os bens vendidos ao exterior.

No primeiro semestre de 2002, os produtos básicos corresponderam a 25% das exportações brasileiras, enquanto os industrializados ficaram com 75%. Já na primeira metade de 2014, mais da metade (50,8%) das vendas ao exterior foi de mercadorias básicas.

A classificação das mercadorias usada pelo Ministério do Desenvolvimento, que provê esses dados, divide os bens em dois grandes grupos: o de produtos básicos (matérias-primas) e o dos industrializados. Esta segunda categoria tem ainda duas subdivisões: semimanufaturados e manufaturados.

Os semimanufaturados são produtos que passaram por uma transformação industrial simples. Dentro desse grupo, os bens que o Brasil mais exporta são açúcar bruto (o refinado já é considerado manufaturado), celulose, couro e ligas de ferro.

Já no conjunto dos manufaturados, as mercadorias mais exportadas “made in Brazil” são combustíveis, automóveis e aviões. Porém, dentro desse grupo estão também bens menos sofisticados industrialmente, como açúcar refinado, suco de laranja, café solúvel e outros.

participacao produtos basicos semi manufaturados exportacoes

A trajetória de aumento da importância das matérias-primas nas exportações pode ser dividida em duas fases.

Na primeira, de 2003 a 2011, as vendas de produtos industrializados ao exterior cresceram fortemente (230%), mas as de bens básicos avançaram ainda mais (798%).

Já na segunda fase, de 2012 para cá, as exportações de matérias-primas ficaram estagnadas, enquanto as de bens industrializados caíram 12,5%.

exportacoes produtos basicos industrializados

O segundo gráfico mostra a evolução das exportações em dólares. Elas variaram pouco entre 1995 e 2002. Os produtos básicos oscilaram entre US$ 5 bilhões e US$ 7 bilhões, enquanto os industrializados ficaram US$ 16 bilhões e US$ 22 bilhões.

A partir de 2003, houve um aumento forte das exportações de ambos os grupos, como fica claro pela inclinação das linhas verde e vermelha do gráfico.

Em 2009, com a crise financeira iniciada nos Estados Unidos, ocorreu uma queda acentuada das exportações, principalmente de produtos industrializados. Os dois anos seguintes foram de recuperação, mas, depois de 2011, as vendas de produtos básicos ficaram estagnadas e as dos demais bens têm caído.


Após disparar, salário mínimo em dólar cai e volta ao nível de 2010
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Sílvio Guedes Crespo

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O salário mínimo brasileiro, quando convertido para dólares, teve um aumento brutal de 2003 até 2011. Depois disso, no entanto, ele inverteu o sentido e passou a cair gradativamente, voltando agora ao nível de 2010.

Desde o início do ano, o mínimo está em R$ 724. Pela cotação média do dólar no primeiro semestre, de R$ 2,297, quem recebe esse salário ganhou, por mês, o equivalente a US$ 315 de janeiro a junho.

Em 2010, o salário mínimo tinha esse mesmo poder de compra quando convertido para dólares. Em reais, era R$ 510. Passando para dólar pela cotação média anual e atualizando pela inflação, o mínimo naquele ano tinha o mesmo poder de compra que US$ 315 têm hoje.

Isso quer dizer que uma pessoa que ganhava o salário mínimo em 2010, se fosse gastar tudo nos Estados Unidos, teria exatamente o mesmo poder aquisitivo que tem hoje. Esse dado serve para dar uma ideia da capacidade do trabalhador pobre de obter produtos importados.

O gráfico abaixo mostra a situação com mais clareza.

salario minimo reais dolares 1994-2014

A linha vermelha representa o salário mínimo em reais de hoje, ou seja, atualizado pelo índice oficial de inflação, o IPCA. A linha verde corresponde ao salário mínimo convertido para dólar, pela cotação média de cada ano, e atualizado pelo CPI, o índice oficial de preços dos Estados Unidos.

Em todo o período abrangido pelo gráfico, o salário mínimo em reais quase sempre foi reajustado acima da inflação.

Já quando olhamos para o mínimo em dólares, vemos que ele subiu de 1994 a 1997 e depois despencou, atingindo o fundo do poço em 2002. Em seguida, disparou 292% até chegar a US$ 343 em 2011. Depois disso, caiu 8%, para os atuais US$ 315.

Os números são um sinal de que, de 2003 a 2011, quem recebia o mínimo aumentou significativamente sua capacidade de obter produtos importados. Já de 2012 para cá, essas pessoas perderam poder de adquirir bens estrangeiros.