Achados Econômicos

Brasil gasta quase um Itaquerão por dia com juros da dívida pública
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Sílvio Guedes Crespo

itaquerao Friedemann Vogel Getty Images

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O Itaquerão, estádio que abrirá a Copa do Mundo de 2014 amanhã com jogo entre Brasil e Croácia, custou R$ 1,2 bilhão.

A cada dia útil, o setor público brasileiro gasta quase esse valor pagando juros aos seus credores. O governo destinou no ano passado R$ 249 bilhões a juros da dívida pública, o que dá uma despesa diária média de R$ 988 milhões, considerando um ano com 252 dias úteis.

Juntas, as construções ou reformas dos estádios a serem usados nas 12 cidades-sede da Copa custaram cerca de R$ 8 bilhões. Em nove dias úteis, o setor público do país gasta essa mesma quantia pagando juros.

As obras nos estádios começaram em 2010. Daquele ano até abril de 2014, enquanto foram gastos R$ 8 bilhões na construção ou reforma das arenas, o setor público entregou R$ 975 bilhões aos credores, como mostra o gráfico abaixo.

custo de estadios gastos com juros

Opinião

Os números mostram que a Copa não é, nem de longe, um problema econômico significativo para o país. Desde julho do ano passado, quando as manifestações por transporte e outras reivindicações deram lugar ao slogan “Não vai ter Copa”, os credores do setor público embolsaram R$ 211 bilhões, ou 24 Copas do Mundo, por meio dos juros da dívida.

Os críticos da realização da Copa no Brasil costumam cometer três erros básicos.

O primeiro é estimar os gastos da Copa em torno de R$ 30 bilhões. Na verdade, esse número junta o custo dos estádios (R$ 8 bilhões) com o de várias obras que pouco têm a ver com futebol.

Nesses R$ 30 bilhões estão incluídos, por exemplo, R$ 6,2 bilhões em reformas de aeroportos, segundo levantamento feito pela Folha, e outros projetos de infraestrutura, como o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) de Cuiabá (R$ 1,6 bilhão) e a Transcarioca, via expressa que liga o Aeroporto do Galeão à Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro (R$ 1,7 bilhão).

Outro erro está em supor que 100% dos gastos com estádio são estatais. Na verdade, há dinheiro público, mas a proporção exata ainda não foi calculada, porque os recursos federais estão saindo na forma de empréstimos via bancos públicos, ou seja, serão devolvidos.

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) fornece empréstimos com juros menores do que os bancos privados. Dessa forma, o gasto público não equivale ao valor do empréstimo, e sim à diferença entre os juros que o governo paga quando toma dinheiro emprestado e os que ele recebe quando empresta.

Já nos gastos dos Estados há dinheiro do próprio orçamento, ou seja, dos impostos pagos pela população.

Ainda, existem os incentivos fiscais que já custaram ao Tesouro R$ 1,3 bilhão até agora segundo o jornal ''Valor Econômico''.

O total de dinheiro público usado nos estádios corresponde a uma parcela, que ainda não foi calculada com precisão, dos R$ 8 bilhões.

Um terceiro erro comum dos críticos da Copa está em ignorar o retorno econômico da realização do evento. Tal cifra é muito difícil de precisar, pois exigiria que soubéssemos como estaria o país se o Mundial não ocorresse. Cada estudo desse tipo pode chegar a um valor diferente. No mais recente deles, Bráulio Borges, da consultoria LCA, calcula que a Copa pode contribuir com 1 ponto percentual no crescimento do PIB (produto interno bruto) do país neste ano.

O fato de haver todas essas ressalvas aos críticos da Copa não quer dizer que não se possa ser contra o evento ou à forma como ele foi organizado. Ao contrário, qualquer indício de superfaturamento, como foi apontado pelo Tribunal de Contas da União (TCU) no caso do Mané Garrincha, deve ser amplamente divulgado, de modo que os corruptos sejam punidos, e o dinheiro público, ressarcido. Para isso, a população deve acompanhar todos os desdobramentos de casos como esse – como deveria monitorar, aliás, qualquer gasto público, não só os da Copa.

Também, a decisão de gastar bilhões em estádios, mesmo que ocorra sem corrupção nenhuma, pode e deve ser legitimamente questionada, ainda mais que as despesas finais acabaram ficando três vezes maior do que a previsão inicial. Mesmo que os R$ 8 bilhões sejam uma fração dos gastos com juros, poucos projetos públicos têm valores tão altos, pois o orçamento é todo amarrado a um conjunto de despesas correntes.

O argumento econômico mais convincente dos críticos da Copa, a meu ver, está na comparação com outros países. Os estádios no Brasil custaram o dobro do verificado na Alemanha e na África do Sul.

Mesmo esse apontamento, no entanto, precisa de retoques. Tal comparação ignora o fato de que, no Brasil, dez estádios foram amplamente reformados ou construídos do zero, enquanto na Alemanha oito das 12 arenas já tinham boa estrutura e sofreram intervenções menores, como mencionou um estudo dos professores Sandro Cabral e Antonio Francisco Silva Júnior, da Universidade Federal da Bahia.

Um estudo da consultoria KPMG aponta outro cuidado que deve ser feito quando se comparam custos de estádio: deve-se considerar o número de assentos, e não o valor total gasto. Por essa metodologia, o inglês Wembley é o mais caro do mundo, com um custo de R$ 32,4 mil por assento, seguido pelo Emirates Stadium, também em Londres (R$ 23,3 mil por assento).

O Mané Garrinha, de Brasília, é o terceiro (R$ 20,7 mil); o Maracanã, o sétimo (R$ 15,6 mil); o de Manaus está em 10ª, e o Itaquerão, em 12º (R$ 12,6 mil). Dos 20 estádios mais caros do mundo, dez estão no Brasil.

Questionar a quantia de dinheiro público gasta em estádios é legítimo e necessário. Mais ainda neste momento, em que o governo precisa conter despesas para evitar a inflação e poder reduzir os juros. Além disso, existem os impactos sociais das obras da Copa, em cujo mérito não vou entrar aqui.

Mas tais críticas devem ser feitas com fundamento. Do contrário, elas só servirão para encobrir o debate sobre os maiores desafios econômicos do país. Na minha visão, os problemas ocorridos na organização da Copa não podem ser ignorados, mas, no atacado, a decisão de realizar o evento no país é positiva. Sempre se poderá dizer que esse dinheiro poderia ser alocado em outros projetos. Porém, entretenimento, esporte e cultura também são importantes.

Maiakovski chegou a escrever: “Melhor morrer de vodka do que morrer de tédio”. Infelizmente, não poderei morrer de cachaça nesta Copa – minha esofagite não permitirá que eu chegue à terceira dose. Mas, se considerarmos o aspecto econômico, parece-me justo que o único país cuja seleção participou de todos os mundiais possa receber seus adversários em casa ainda neste início de século.


Vale a pena viver de dividendos? Compare com o retorno de outras aplicações
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Sílvio Guedes Crespo

Atualizado às 11h15*

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Depois que este blog publicou, na semana passada, um levantamento apontando quanto dinheiro é preciso juntar para viver de dividendos, surgiu nos comentários dos internautas uma discussão sobre se vale ou não a pena esse tipo de investimento.

Com colaboração da Gradual Investimentos, que reuniu um conjunto de dados especialmente para este blog, mostramos que, na média das 150 empresas mais negociadas da Bolsa, os proventos pagos aos acionistas em um ano equivalem a 3% do preço atual da ação.

Dessa forma, seria necessário investir R$ 1,2 milhão em ações dessas empresas, a preços de hoje, para ganhar proventos em torno de R$ 3.000 por mês.

Isso na média do mercado. Em diversas empresas, o retorno de dividendos é maior. No caso da Companhia Siderúrgica Nacional, por exemplo, os proventos pagos em um ano equivalem a 10% do preço da ação (CSNA3). Assim, é preciso investir apenas R$ 356 mil em ações para ganhar R$ 3.000 mensais em proventos – se a empresa continuar pagando no mesmo ritmo dos últimos quatro anos.

Alguns leitores consideram que, tendo uma grande quantia disponível para investir, vale mais a pena aplicar na poupança, em CDB ou outros instrumentos financeiros.

Essa comparação é muito difícil porque o mercado de ações não é renda fixa, mesmo para quem foca em dividendos, sem se preocupar em comprar na baixa e vender na alta.

Mas dada a quantidade de leitores interessada– foram mais de 50 comentários batendo nessa tecla – vale a pena dedicar mais algumas palavras ao assunto.

Em primeiro lugar, é preciso ter em mente que, para quem quer viver de renda, o importante é o rendimento real, ou seja, deve-se descontar a inflação.

Se a poupança render 7% nos próximos 12 meses, mas a inflação for de 6%, como projetam analistas consultados pelo Banco Central, então o poupador pode sacar apenas 1% daqui a um ano sem perder poder de compra.

No caso de quem vive de dividendos, a história muda um pouco. Quem tem ações pode gastar integralmente o dinheiro ganho com proventos e mesmo assim não perderá participação na empresa. Em quantidade de ações, seu patrimônio continuará sendo rigorosamente o mesmo.

Por outro lado, tais ações, após um ano, podem ficar mais caras ou mais baratas. Se o investidor vender os papéis, ele pode ganhar ou perder com a variação do preço. Mas se o objetivo é manter as ações com prazo a perder de vista, pouco importam as oscilações de curto e médio prazo na Bolsa.

Dito isso, vamos colocar lado a lado a rentabilidade de algumas modalidades de renda fixa e o retorno de dividendos.

AplicaçãoRendimento líquido real em 12 meses
Tesouro Direto (LFT)2,5%
CDB (90% do CDI)2,0%
Poupança1,0%
Fundos DI0,8%
Dividendos (média)3%
Dividendos CSN10,1%
Dividendos Vale8%
Dividendos Petrobras6%

Na tabela acima, as projeções para renda fixa foram feitas pelo economista Pedro Vartanian Raffy, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Elas mostram quanto devem render, nos próximos 12 meses, acima da inflação oficial, considerando que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) suba 6% no período.

No caso dos dividendos, as porcentagens indicam quanto o investidor ganhará com proventos em um ano se comprar as ações pelo preço atual e se as empresas continuarem com a política de distribuição de dividendos dos últimos quatro anos.

Os números já descontam o Imposto de Renda que o investidor paga após um ano.

O gráfico abaixo segue esses mesmos critérios e tem as mesmas fontes, só que troca o retorno em porcentagem por um retorno em dinheiro após aplicação de R$ 1 milhão durante um ano. Quem investir essa quantia no Tesouro Direto, por exemplo, deve ter um ganho líquido real de R$ 25,5 mil nos próximos 12 meses. Já quem aplicar a mesma quantia em ações da Vale receberá R$ 80 mil em proventos caso a empresa mantenha o ritmo de pagamento aos acionistas verificado desde 2011.

dividendos e renda fixa

O gráfico mostra, portanto, que o retorno de dividendos, tanto na média do mercado como nas empresas selecionadas, é maior do que o rendimento projetado dessas aplicações de renda fixa.

No entanto, cabe ao investidor decidir se está disposto a correr o risco do mercado de ações, sabendo que pode perder (ou ganhar) tanto com a variação do preço das ações quanto com eventuais mudanças na política de distribuição de dividendos da empresa.

* Acrescentado o gráfico às 11h15


Quer viver de dividendos? Saiba quanto dinheiro é preciso juntar
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Sílvio Guedes Crespo

Texto atualizado às 10h45*

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Viver de dividendos é o sonho de muita gente. Comprar ações de uma empresa e esperar pingar na conta bancária o valor gerado pelo trabalho de milhares de funcionários.

Para saber quanto é preciso aplicar em ações para não precisar trabalhar – ou para complementar a aposentadoria – o blog Achados Econômicos e a corretora Gradual Investimentos levantaram quanto as empresas pagaram em proventos aos seus acionistas nos últimos quatro anos e calcularam qual montante deveria ser aplicado, a preços de hoje, para que o investidor possa obter uma renda mensal média de R$ 3.000, R$ 5.000 ou R$ 10 mil.

Os proventos considerados foram os dividendos (parte do lucro que é distribuída aos acionistas) e juros sobre capital próprio (outra maneira de a empresa repassar dinheiro aos donos das ações).

Entre as 150 ações mais negociadas da Bolsa, os proventos pagos a cada ano correspondem, em média, a 3% do valor atual das ações. Para chegar a esse número, usamos a média dos últimos quatro anos.

Se as empresas continuarem distribuindo seus ganhos nesse ritmo, o investidor precisará aplicar R$ 1,2 milhão em ações para ter uma renda mensal de R$ 3.000; ou R$ 2 milhões para ganhar R$ 5.000; ou, ainda, R$ 4 milhões para embolsar R$ 10 mil por mês – já descontados os impostos.

Mas esta é apenas a média do mercado. Nós selecionamos, também, 15 empresas que pagaram proventos maiores e fizemos as contas de quanto seria necessário aplicar em cada uma delas, hoje, para obter aqueles níveis de renda mensal. O resultado está no quadro no final deste post.

Não custa lembrar que o mercado de ações é arriscado, mesmo para quem vive de dividendos. Nada garante que as empresas manterão seus pagamentos sempre no mesmo ritmo. Elas podem reduzir os proventos a qualquer momento – como também aumentá-los.

A Oi, aliás, foi uma das companhias com melhor retorno de dividendos (ou “dividend yield”, como muitas vezes se diz, mesmo no Brasil) no período analisado. Mas decidimos não incluí-la na lista porque ela própria anunciou mudança na sua política e decidiu começar a pagar o valor mínimo exigido por lei.

Também não incluímos as elétricas na lista abaixo. O preço das ações nesse setor caiu muito ao longo dos quatro anos analisados, de modo que o “dividend yield” apresentado pode ter sido extraordinário, ou seja, tende a não se repetir.

A Eletropaulo, por exemplo, apresentou um retorno de 45% ao ano desde 2010. Isso quer dizer que o montante que a empresa pagou em dividendos em cada um desses anos, em média, equivale a quase metade do valor atual da ação. Mas o preço do papel caiu de R$ 37, em maio de 2010, para menos de R$ 10 atualmente. Houvesse se mantido na cotação inicial, o retorno de dividendo estaria em torno de 11%.

Dito de outra forma, quem comprou ações da Eletropaulo naquela época ganhou em dividendos 11% do valor investido, e não 45%.

Resumindo, oscilações muito fortes no preço das ações podem fazer com que o “dividend yield” apresente números excepcionais.

Abaixo, uma lista de 15 grandes empresas que deram retorno de dividendos acima da média do mercado nos últimos quatro anos.

Lê-se o quadro da seguinte forma: se a Cia Siderúrgica Nacional continuar distribuindo dividendos no mesmo ritmo dos últimos quatro anos, é preciso ter R$ 356 mil aplicados em ações da empresa para manter uma renda média de R$ 3.000 por mês; ou ter R$ 593 mil se quiser uma renda de R$ 5.000; ou ainda R$ 1,2 milhão para ganhar R$ 10 mil mensais em proventos – já descontados os impostos.

 

 EmpresaQuanto é necessário aplicar, em reais, para ter uma renda de proventos de*:
R$ 3.000/mêsR$ 5.000/mêsR$ 10 mil/mês
Sid. Nacional                      356.083                      593.472                   1.186.944
Rossi Resid.                      370.752                      617.920                   1.235.839
Telefônica Brasil                      378.350                      630.583                   1.261.167
Bradespar                      420.561                      700.935                   1.401.869
Vale                      448.319                      747.198                   1.494.396
Santander BR                      455.408                      759.013                   1.518.027
Banco do Brasil                      455.840                      759.734                   1.519.468
Bansirul                      484.034                      806.723                   1.613.445
Multiplus                      510.457                      850.762                   1.701.524
Petrobras                      644.584                   1.074.306                   2.148.612
PDG Realt                      702.782                   1.171.303                   2.342.606
Gafisa                      742.268                   1.237.113                   2.474.227
Natura                      744.186                   1.240.310                   2.480.620
Ecorodovias                      750.000                   1.250.000                   2.500.000
Cia Hering                      762.308                   1.270.513                   2.541.027
Fonte: Gradual Investimentos. Elaboração: Achados Econômicos
* Se a empresa mantiver o nível de distribuição de proventos verificado nos últimos 48 meses

Entrevista

O analista-chefe da Gradual Investimentos, Flávio Conde, concedeu a entrevista abaixo ao blog Achados Econômicos.

Vale a pena viver de dividendos ou é melhor aplicar o dinheiro de outra forma?

Tudo depende da etapa da vida da pessoa. Pessoas de 25 a 40 anos não devem ter aplicações visando dividendos. Devem visar o aumento do preço de ação, porque elas provavelmente estão montando a carteira para usufruir a partir dos 60 anos de idade. Não faz sentido um rapaz de 30 anos comprar ações pensando em dividendos, porque na média o preço delas não sobe muito.

As empresas que pagam pouco dividendos são as que estão investindo para crescer. É o caso do Pão de Açúcar, da Brasil Foods, da MRV, da Hipermarcas, da Natura, da Fibria, da Suzano e outras.

As que pagam bons dividendos são as que estão perto da maturidade. A Souza Cruz e a AES Tietê são empresas que querem gerar caixa e pagar dividendos. No caso de pessoas acima de 65 anos, a carteira tem que ser todinha de dividendos.

O preço das ações das elétricas caiu muito nos últimos anos. Os investidores acreditam que elas pagarão menos dividendos?

Essa queda tem a ver com uma perspectiva de resultados menores. Mas elas recuperaram parte das perdas. As empresas tendem a continuar dando bons dividendos porque já se ajustaram aos problemas pelos quais passaram.

O atual governo diz que se a empresa quer renovar a concessão, deve baixar as tarifas, porque o investimento já foi depreciado. Essa lógica fez com que o preço das ações caísse bastante num primeiro momento, para em seguida se recuperar em parte.

Se entrar outro presidente, principalmente o Aécio Neves, existe a chance de essa lógica ser revista. Por isso o mais seguro, no caso do setor elétrico, é só se posicionar depois das eleições.

* Acrescentada a entrevista às 10h45


Argentina tem Bolsa Família maior que o do Brasil em relação ao PIB
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Sílvio Guedes Crespo

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Embora o programa Bolsa Família tenha se tornado conhecido internacionalmente, outros países gastam mais que o Brasil com esse tipo de política, proporcionalmente ao PIB (produto interno bruto), segundo um estudo da Organização Internacional do Trabalho (OIT).

O Bolsa Família consome 0,47% do PIB do Brasil, enquanto a Argentina gasta 0,54% de seu produto com um programa similar, o AUH (Asignación Universal por Hijo). O equivalente boliviano chega a nada menos que 0,64% do PIB do país.

custo bolsa familia america latina

Também em cobertura o Bolsa Família não é o maior programa de transferência de renda da América Latina. Ele atinge 28,5% da população, segundo a OIT. Já o Bono de Desarrollo Humano, do Equador, alcança 41%. Nesse quesito, outros programas maiores que o Bolsa Família são o da Colômbia, o de Honduras (ambos com alcance de mais de 30%) e o da República Dominicana (29%).

Considerando o valor total gasto, sem fazer relação com o PIB, o Bolsa Família é, evidentemente, o maior programa de transferência de renda da América Latina, pois o Brasil é o maior país da região. tanto em população quanto em tamanho da economia.

O país gastou US$ 10,6 bilhões com o programa em 2012, enquanto a Argentina destinou US$ 2,5 bilhões, e o México, US$ 2,6 bilhões, de acordo com dados da Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe), órgão das Nações Unidas.

“A criação de programas de transferência de renda focados em crianças ou famílias de baixa renda pode ser considerada umas das principais inovações dos últimos anos em países em desenvolvimento”, opinou a OIT no estudo.


Desemprego ainda é maior entre mulheres, mas diferença para homens diminui
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Sílvio Guedes Crespo

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A taxa de desemprego entre as mulheres é maior do que entre os homens em todas as regiões do país, mostram dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Na série antiga, chamada Pesquisa Mensal de Emprego (PME), não era feita essa medição porque ela só abrangia seis regiões metropolitanas. Já a Pnad Contínua, que vai substituir a PME a partir do ano que vem, chega a 3.500 municípios (conheça a diferença entre as pesquisas).

Do total da força de trabalho, ou seja, da população com mais de 14 anos de idade que tem interesse em trabalhar, 7,1% estão sem emprego atualmente. Entre os homens, no entanto, a proporção de desempregados é de 5,9%, enquanto entre as mulheres, é de 8,7%, de acordo com a pesquisa.

Essa diferença se repete em todas as cinco grandes regiões em que se divide o país, como mostra o gráfico abaixo.

taxa de desemprego no pais 1

Aqui, não estamos falando de donas de casa ou de pessoas que optam por não buscar um trabalho remunerado regular. Nesses 8,7% de mulheres desempregadas são consideradas apenas aquelas que querem entrar no mercado de trabalho.

A Pnad Contínua não investiga as razões da diferença de desemprego entre homens e mulheres. Não é possível deduzir diretamente se é resultado, por exemplo, de discriminação por parte dos empregadores ou por falta de qualificação das candidatas às vagas.

A boa notícia está em que, se olharmos desde o início da série histórica, iniciada em 2012, a diferença tem caído. No primeiro trimestre de 2012, a taxa de desemprego estava em 7,9% no país. Entre os homens, era de 6,2%, e entre as mulheres, de 10,3% – uma diferença de 4,1 pontos percentuais. Um ano depois, a diferença diminuiu para 3,5 pontos e agora está em 2,8 pontos.

Os dados indicam que a queda na taxa de desemprego nos últimos anos ocorreu ao mesmo tempo em que o mercado de trabalho passava a incorporar mais mulheres.

No primeiro trimestre de 2012, a população com trabalho remunerado era composta por 51,1 milhões de homens e 37 milhões de mulheres. Hoje, o número de homens aumentou em 1,2 milhão, e o de mulheres, em 1,9 milhão.

Em termos percentuais, o número de homens na força de trabalho subiu 2,4% em dois anos, enquanto o de mulheres aumentou 5,3%.


PIB do Brasil cresce mais que o dos EUA e menos que o de Chile e Alemanha
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Sílvio Guedes Crespo

Atualizado às 11h54*

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A economia do Brasil cresceu em um ritmo mais rápido que o de países como Estados Unidos, França e África do Sul no primeiro trimestre deste ano, em comparação com o último quarto de 2013. Ao mesmo tempo, avançou menos do que Alemanha, Chile e México.

O PIB (produto interno bruto) do país teve uma expansão de 0,2% no período de janeiro a março, em linha com as estimativas de analistas ouvidos pelo jornal Valor Econômico.

PIB 1q2014 4q2013

Em relação ao primeiro trimestre do ano passado, o PIB brasileiro cresceu 1,9%. Nesse tipo de comparação, a taxa de expansão no país é menor que nos EUA, mas maior que no México.

PIB 1q2014 1q2013

Rússia e Grécia divulgaram apenas a variação em relação ao primeiro trimestre do ano passado, não sendo possível incluir esses dois países no gráfico. Japão, Índia e outras grandes economias que não foram citadas ainda não informaram os dados do PIB de janeiro a março.

Comparação

Como toda comparação, esta também tem limitações. Cada país tem suas características e, portanto, diferentes potenciais. Não se espera, por exemplo, que a economia americana avance em ritmo chinês, nem que os países latino-americanos, da noite para o dia, passem a ter um desempenho asiático.

Mesmo assim, colocar lado a lado a taxa de variação do PIB dos países é importante como uma referência. Um leitor, por exemplo, disse que não se pode comparar a expansão econômica do Brasil com a dos EUA, pois o produto americano é muito maior. Na verdade, só de afirmar isso, acredito eu, ele já está fazendo uma comparação: nosso PIB é menor que o deles, logo, uma alta de 1% lá equivaleria, em dólares, a um aumento muitas vezes maior aqui.

Não considero inútil a informação de que uma economia madura como a alemã, da qual se espera um crescimento apenas moderado, ainda mais nessa época de crise europeia, tenha crescido 0,9% no trimestre, enquanto a brasileira, que é considerada emergente, tenha avançado somente 0,2%.

Isso posto, mantenho os dados aqui publicados, pois podem ter serventia para diversos leitores.

* Acrescentado o intertítulo 'Comparação' às 11h54


Após decisão do BC, saiba escolher as melhores aplicações de renda fixa
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Sílvio Guedes Crespo

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Depois que o Banco Central decidiu interromper o ciclo de alta da taxa básica de juros, a Selic, mantendo-a em 11% ao ano, alguns títulos do Tesouro Direto tendem a continuar com rendimento acima de diversas outras modalidades de aplicações de renda fixa.

O CDB (Certificado de Depósito Bancário) também segue como um bom negócio, mas apenas para quem consegue uma taxa perto de 90% do CDI, ou superior.

Já a poupança e os fundos DI devem apresentar uma rentabilidade menor do que a do Tesouro e do CDB.

A conclusão é de um estudo do economista Pedro Raffy Vartanian, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, feito a pedido do blog Achados Econômicos.

rentabilidade

As projeções do gráfico acima consideram a rentabilidade líquida de impostos e taxas de administração, com resgate após 12 meses. Elas foram feitas a partir da média que cada uma dessas aplicações teve desde que o BC aumentou a taxa básica de juros para 11% ao ano, em 3 de abril.

Em relação à poupança, a rentabilidade é mais previsível porque é definida por lei. Enquanto a taxa básica de juros se mantiver no atual patamar, a caderneta tende a render 7,1% anuais.

No caso das LFTs (Letras Financeiras do Tesouro), que são títulos do Tesouro Direto, a chance de erro de uma projeção também é pequena, pois esses papéis são indexados à taxa Selic. Eles devem render 8,75% anuais enquanto o juro básico continuar em 11%.

Já para os demais títulos do Tesouro, não vale a pena fazer uma previsão porque eles variam muito ao longo do ano, conforme as expectativas dos investidores. Como foi dito neste blog, as NTN-B (Notas do Tesouro Nacional B), por exemplo, chegaram a subir 11% em apenas 30 dias, depois de caírem mais de 20% em meses anteriores.

A expectativa em relação aos fundos DI foi feita com base na média desta categoria encontrada nos cinco maiores bancos. No caso dos fundos da categoria Renda Fixa, Raffy considerou prudente não fazer uma previsão porque eles tiveram perdas acentuadas no ano passado e podem ter ganhos atípicos este ano, como parte da recuperação, o que os torna menos previsíveis. O mais provável é que eles tenham melhores resultados em 2014.

A boa notícia é que, diferentemente do ano passado, em 2014 as quatro modalidades de investimento aqui estudadas devem render acima do índice oficial de inflação. A projeção mediana de analistas é de que o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) avance em torno de 6% nos próximos 12 meses.

Como escolher

A escolha da melhor aplicação depende não apenas da rentabilidade apresentada, mas também do prazo desejado pelo investidor.

Para quem tem certeza de que não vai precisar usar o dinheiro em menos de dois anos, uma boa aplicação é o Tesouro Direto, em que não há taxa de administração, como ocorre com os fundos de investimento.

Existe somente uma taxa de custódia, de apenas 0,3% ao ano, e a corretagem, que varia de zero a 2% ao ano, mas normalmente fica em torno de 0,5% (veja aqui quanto o seu banco cobra).

A vantagem do Tesouro Direto é a boa rentabilidade. A NTN-B com vencimento em maio de 2019, por exemplo, hoje está pagando inflação mais 5,89%. A desvantagem é o prazo: para obter esse rendimento, o investidor tem que aguardar cinco anos sem mexer no dinheiro. Se retirar antes, corre o risco de ter uma rentabilidade nula ou até negativa.

Quem vai precisar do dinheiro nos próximos meses pode investir em um título pós-fixado, como a Letra Financeira do Tesouro. O risco desse papel é de o Banco Central reduzir a taxa básica de juros. Se isso ocorrer, o investidor ganha menos. Porém, não há perspectiva de que isso ocorra nos próximos 12 meses. Ao contrário, analistas consultados pelo BC acreditam que o juro básico suba de 11% para 11,25% ainda em 2014 e atinja 12% no final do ano que vem.

Para quem quer mais segurança, a poupança se tornou uma opção razoável, pois deve pagar 7,1% nos próximos 12 meses, ou seja, ficará acima do índice oficial de inflação. A desvantagem é que o rendimento é mensal, não diário, como nos fundos de investimento. O poupador só ganha a cada mês completado.

Os fundos de investimento ainda não vêm apresentando uma boa performance. Perderam muito no ano passado e recuperaram apenas parte. No caso dos fundos DI, a projeção do economista Pedro Vartanian é de uma alta média de apenas 6,8% em 12 meses (já descontado o IR), a menor das quatro modalidades estudadas.


Títulos do Tesouro Direto chegam a render 11% em um mês; conheça os papéis
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Sílvio Guedes Crespo

dinheiro Alex Almeida Folha Imagem

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Quem comprou títulos do Tesouro Direto atrelados à inflação há 30 dias teve uma das melhores rentabilidades que se pode obter com renda fixa hoje.

Alguns papéis chegaram a render mais de 5% em um único mês, sendo que um deles – a NTN-B Principal com vencimento em 2035 – teve uma alta de 11,12%.

O motivo foi a sinalização, pelo Banco Central, de que deve parar de aumentar a taxa básica de juros, a Selic, explica o economista Pedro Raffy Vartanian, professor na Universidade Presbiteriana Mackenzie (leia entrevista abaixo).

Mas antes de sair comprando os papéis, é preciso ter em mente que essa taxa de rentabilidade não ocorre sempre. Ao contrário, varia muito. No ano passado, alguns títulos chegaram a cair mais de 20%. O mesmo papel que rendeu 11,12% nos últimos 30 dias ainda acumula uma queda de 21% em 12 meses.

De qualquer maneira, para quem faz um investimento de longo prazo, vale a pena manter os papéis em mãos mesmo quando eles caem, porque, na data de vencimento, o aplicador vai recuperar o dinheiro e ganhará os juros.

O gráfico abaixo compara as variações de preço dos dois títulos do Tesouro que tiveram o maior rendimento no mês com outras aplicações financeiras.

Se a pessoa comprou o papel há 30 dias e vendeu ontem (portanto, antes do vencimento), ela pagou 22,5% de Imposto de Renda e teve o rendimento apontado no gráfico. No entanto, para quem carregar os títulos do Tesouro até o prazo final, a alíquota passa a ser de 15% e incidirá sobre a rentabilidade total que o investidor teve desde o momento da compra e, dessa forma, não dá para calcular com antecedência.

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Conheça os papéis

Os títulos do Tesouro Direto podem ser indexados a um índice de inflação, podem ser pré-fixados ou podem ser pós-fixados.

Os papéis indexados à inflação são a NTN-B (Nota do Tesouro Nacional tipo B), que oferece um rendimento acima do índice oficial de inflação (o IPCA), e a NTN-C, que paga uma taxa acima do IGP-M, o indicador de preços calculado pela Fundação Getulio Vargas.

Existem dois tipos de NTN-B: a chamada ''Principal'', que paga os juros somente na data de vencimento, e a comum, que remunera o investidor de seis em seis meses. Ambos são bons para quem busca um rendimento acima da inflação e pode carregar o papel até a data de vencimento.

Os papéis pré-fixados são as LTN (Letras do Tesouro Nacional)  e as NTN-F. Eles pagam uma taxa superior à Selic no momento da compra. A mesma taxa é mantida até a data de vencimento, mesmo que, ao longo do tempo, o Banco Central altere a Selic.

Por fim, os títulos pós-fixados são as LFTs (Letras Financeiras do Tesouro), que variam conforme a taxa Selic. Quem escolhe esses papéis ganha mais quando a taxa Selic sobe. Já se a Selic cai, os mais beneficiados são os que escolhem os papéis atrelados à inflação ou os pré-fixados.

Como ninguém sabe, ao certo, o que vai acontecer com a Selic até o vencimento dos títulos (há papéis que só vencem em 2050), o mais recomendado para pequenos investidores é diversificar.

Entrevista

O economista Pedro Vartanian, do Mackenzie, concedeu a entrevista abaixo ao blog Achados Econômicos.

Por que alguns títulos públicos subiram tanto nos últimos 30 dias?

Eles subiram em função de uma expectativa menor da taxa Selic nos próximos meses. Os títulos que subiram mais são os títulos que têm um prazo mais longo. Isso tudo por causa de uma sinalização do BC de interromper o ciclo de alta da Selic.

Qual a perspectiva o senhor tem para os títulos do Tesouro Direto?

Nos próximos meses, deve haver uma relativa estabilidade nos preços, com uma remunerção muito próxima à da taxa Selic ao mês.

Para quem pode carregar o título até a data do vencimento, quais papéis você recomenda?

É importante fazer uma diversificação com os títulos. Tudo depende dos objetivos do investimento. Se o investidor tem certeza de que não vai precisar do dinheiro no curto prazo, vale a pena misturar tudo, comprando um terço de títulos indexados à Selic, um terço dos indexados à inflação e um terço em pré-fixado.

Se precisar do dinheiro no curto prazo, é mais recomendável privilegiar os títulos indexados à taxa Selic, ou como alternativa, a NTN-B com vencimento em 2019.


Ações da Petrobras caem 37% em 5 anos, enquanto as de rivais sobem 70%
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Sílvio Guedes Crespo

Texto atualizado às 12h26*

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As ações da Petrobras caíram 37% nos últimos cinco anos, enquanto as dos seus rivais internacionais subiram mais de 70%.

No dia 19 de maio de 2009, os papéis preferenciais da petrolífera brasileira estavam cotados a US$ 12,85. Em dia equivalente de 2014, as mesmas ações eram negociadas a US$ 8,11.

Os números, calculados pela consultoria Economatica, estão ajustados por proventos, ou seja, já embutem o que os acionistas ganharam com dividendos e juros sobre o capital próprio.

No mesmo período, o NYSE Arco Oil Index, um indicador que reúne os papéis de gigantes do petróleo internacional, como Chevron, ExxonMobil e Shell, registrou uma alta de mais de 70%. A Chevron subiu 87% e puxou a média para cima, enquanto a ExxonMobil avançou 43%, e a Shell, 58%.

petrobras nyse arca oil index

Essa queda de 37% das ações da Petrobras é medida em dólares, para poder ser comparada com os papéis dos concorrentes internacionais. Em reais, o recuo foi de 32%.

Se olharmos para a variação dos papéis nos últimos dez anos, no entanto, vemos que a Petrobras havia subido muito mais que as concorrentes em anos anteriores, por causa da alta do real (estamos comparando sempre os preços das ações em dólares) e também das descobertas do pré-sal.

O gráfico abaixo mostra um pico em 2008, quando foi confirmado que o país tinha potencial para se tornar um dos grandes exportadores de petróleo do mundo.

petrobras nyse arca oil index 2004 2009

Por este segundo gráfico, vemos que a queda das ações da Petrobras nos últimos cinco anos não foi forte o suficiente para anular a alta registrada nos cinco anos anteriores. Desde 19 de maio de 2004, os papéis preferenciais da estatal subiram 333% em dólares, enquanto o índice das empresas rivais aumentou 172%. Em reais, a alta acumulada da estatal em dez anos é de 208%, de acordo com a Economática, valor que já considera os ganhos dos acionistas com dividendos e juros sobre capital próprio.

O economista Flávio Conde, analista chefe da Gradual Investimentos, concedeu ao blog Achados Econômicos a entrevista abaixo, a respeito do assunto.

Sílvio Crespo: As ações da Petrobras caíram quase 40% em cinco anos, enquanto as dos concorrentes subiram 70%. Isso é um sinal de que os papéis da estatal podem estar baratos?

Flávio Conde: Não. Para saber se está barata ou cara, é preciso comparar o lucro esperado de cada uma. O que esses dados mostram é que os investidores gostaram do que aconteceu com os resultados das petrolíferas estrangeiras e não gostaram dos resultados da Petrobras ao longo desses anos analisados.

SC: Qual a perspectiva que vocês traçam para os papéis da Petrobras?

FC: A gente acha que a perspectiva agora é melhor do que há quatro ou cinco anos. Independentemente de quem vai ser o próximo presidente, a companhia tende a apresentar resultados melhores, porque a produção está crescendo. A empresa projeta aumento de 7,5% em 2014 e nós consideramos factível. 

Além disso, a capacidade de refino da Petrobras vem crescendo, depois de ficar parada um bom tempo. Isso também deve continuar em 2014 e 2015, não importa quem será o presidente.

SC: E o preço da gasolina?

FC: Essa é a parte preocupante. A gasolina e o diesel precisam subir cerca de 20% para ficar no mesmo nível do mercado externo.

Com a eleição, então, a gente tem três cenários. Se a Dilma ganha, a política deve continuar a mesma, ou seja, a gasolina e o diesel continuam com preço baixo. Se o Aécio ganha, o preço dos combustíveis deve subir, e isso é bom para os acionistas da empresa. Se o Eduardo Campos ganha, existe uma esperança de que o preço suba um pouco mais do que se o atual governo continuar.

SC: O que vocês recomendam aos investidores?

FC: Considerando tudo isso – a perspectiva de aumento da produção e também os três cenários possíveis na eleição – nossa recomendação é manter as ações da Petrobras, com viés de alta, ou seja, achamos que a chance de subir é maior do que de cair.

A gasolina e o diesel não vão subir antes da eleição, mas isso já está embutido no preço das ações.

Para quem não tem ações e está pensando em comprar, então tem que decidir com base no que acha que vai acontecer nas eleições. Quem acha que a Dilma vai perder, pode comprar Petrobras. Se a pessoa não sabe, sugiro que compre só metade do que gostaria de comprar. Mas se ela tem certeza de que a Dilma vai ser reeleita, não deve comprar.

* Acrescentado o segundo gráfico às 12h26


Brasil sobe 20 posições em ranking mundial de crescimento do PIB e é 119º
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Sílvio Guedes Crespo

Atualizado às 12h31*

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O Brasil subiu 20 posições no ranking de crescimento econômico que inclui os 188 países sobre os quais o Fundo Monetário Internacional (FMI) tem dados disponíveis.

A taxa de expansão do PIB (produto interno bruto) brasileiro foi de 2,3% no ano passado, o que o coloca em 119º lugar no ranking, à frente de países como Estados Unidos, México e Alemanha, mas atrás de Austrália, Coreia do Sul e China.

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O primeiro e o último do ranking foram incluídos no gráfico apenas por curiosidade. Países muito instáveis política e economicamente costumam ter grandes variações do PIB. Não à toa, o Sudão do Sul, hoje em guerra civil, teve a maior retração do mundo em 2012 (-47,6%) e no ano seguinte liderou a lista.

Aqui, estamos falando do ranking de variação do PIB, não da lista das maiores economias do mundo. Nesta última, o país está na sétima posição.

A melhora da economia brasileira no ranking mundial ocorreu um ano depois de o país ter caído 20 posições. O Brasil havia ficado em 119º lugar em 2011, desceu para 139º no ano seguinte e voltou a subir para 119º em 2013.

O ranking mundial de crescimento do PIB é apenas um ponto de partida para entendermos como está a economia brasileira em relação ao resto do planeta.

Como toda comparação entre países, esta também tem limitações, pois cada nação tem suas particularidades. Não se espera, por exemplo, que a economia americana avance em ritmo chinês, nem que os países latino-americanos tenham um desempenho asiático.

Por isso, é necessário olhar também para outros dados. Se compararmos o Brasil com a América Latina, os países emergentes e a média mundial, começaremos a enxergar melhor o cenário atual.

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O gráfico acima mostra que houve uma melhora da posição do Brasil em relação ao resto do mundo, quando comparados os anos de 2012 e 2013.

Em 2012, o PIB do país aumentou apenas 1% – número inferior ao registrado na América Latina e Caribe, nos países em desenvolvimento, no G-7 (grupo que inclui EUA, Japão, Alemanha, França, Reino Unido, Itália e Canadá).

No ano passado, o crescimento de 2,3% do PIB brasileiro foi maior do que o verificado nos países do G-7. Aproximou um pouco mais da média do mundo, da América Latina e dos emergentes, sem alcançar nenhum desses três blocos.

Olhando do ponto de vista histórico, vemos que o mais comum tem sido crescer menos do que o resto do mundo. Nos últimos 20 anos, apenas sete vezes o país obteve uma taxa de expansão superior à da média do planeta: em 1994, 1995, 2004, 2007, 2008, 2009, 2010.

brasil mundo crescimento pib

Todas essas comparações consideram o PIB a preços constantes, ou seja, a variação percentual já desconta a inflação.

* Acrescentado às 11h31 o gráfico com histórico do crescimento econômico do Brasil e do mundo