Achados Econômicos

Opinião: Problema é a qualidade do emprego, não a quantidade
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Sílvio Guedes Crespo

Atualizado dia 22/01 às 11h05

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A economia brasileira sofreu uma forte desaceleração nos últimos anos e tem vários problemas a serem enfrentados. O número de empregos não é um deles.

Cada vez que são divulgados os dados do Ministério do Trabalho sobre empregos formais, temos a notícia de queda na geração de postos de trabalho. Nesta terça-feira, por exemplo, ficamos sabendo que a criação de empregos em 2013 foi a menor dos últimos dez anos.

Um desavisado poderia entender que o mercado de trabalho do país vive o seu pior momento desde 2003. Mas não é isso que os dados dizem.

Os números mostram uma queda no ritmo de aumento do emprego, e não uma redução da quantidade de pessoas empregadas. Em 2013, havia 1,1 milhão de trabalhadores com carteira assinada a mais do que em 2012. É isso o que diz o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), recém atualizado.

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Se contarmos desde 2002, data em que se iniciou a série de levantamentos feitos pelo Ministério do Trabalho, o mercado de trabalho nacional aumentou em 19 milhões de empregos formais (gráfico acima).

Não é surpreendente que a criação de postos de trabalho cresça em ritmo cada vez mais lento, uma vez que a população ativa do país está em desaceleração.

Se as empresas abrissem vagas a um ritmo superior ao do crescimento do número de pessoas que querem trabalhar, chegaríamos um dia a uma situação em que todos os brasileiros estariam empregados. Não sobrando mais ninguém para ser contratado, teríamos a notícia de que o mercado de trabalho estaria em crise, pois naquele momento não eram gerados mais empregos.

Emprego

Um recuo no ritmo de aumento dos empregos formais só representa uma deterioração do mercado de trabalho se a taxa de desemprego e o grau de informalidade estiverem altos ou em ascensão.

No caso da taxa de desemprego, as pesquisas divulgadas até agora indicam que ela caiu na década passada e depois se manteve no patamar mais baixo já registrado. O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) apontou que a desocupação ficou em 4,6% em novembro passado, menor número da série de dados, iniciada em 2002.

A OIT (Organização Internacional do Trabalho) calcula que a taxa de desemprego no Brasil caiu de 8,1%, em 2007, para 6,7% em 2013. O Dieese estima que o número tenha passado de 14%, em 2009, para 10,5%, em 2012, atingindo 9,5% em novembro do ano passado (número mais recente).

Uma pesquisa mais abrangente do IBGE, lançada na semana passada, apontou que existem hoje 61 milhões de pessoas fora da força de trabalho – outro dado que pode levar desavisados a uma interpretação errada.

Pelos novos conceitos do IBGE (que são os mesmo da OIT), “força de trabalho” é o grupo dos que estão trabalhando ou estão disponíveis para trabalhar. Ou seja, esses 61 milhões são pessoas que não estão disponíveis e, por isso, não são chamadas de desempregadas. Tirando os menores de 18 anos e os maiores de 60, há 30 milhões de brasileiros fora da força de trabalho por decisão própria.

Em relação à informalidade, dados do IBGE mostram que, apesar de alta, ela vem caindo continuamente desde pelo menos 2002.

Renda

Outro sinal de que o mercado de trabalho não está encolhendo é o fato de que a renda da população, em média, está acompanhando a inflação, o que é confirmado por diversos institutos de pesquisa.

O IBGE constatou que o rendimento médio das pessoas ocupadas era de R$ 1.608 em outubro de 2011, ou R$ 1.805 em valores atualizados pela inflação. Passou para R$ 1.801 no mesmo mês de 2012 (R$ 1.907 em valores atuais) e R$ 1.954 no penúltimo mês do ano passado (R$ 1.964, em número atualizado). Ou seja, houve uma alta de 6% acima da inflação em 2012 e de 3% em 2013.

O Dieese também constatou um aumento da renda média, mas em ritmo menor: 2,6% acima da inflação em 2012 e 1,3% nos 12 meses encerrados em outubro de 2013 (número mais atual).

A classe média não percebe o aumento da renda porque ele se concentra entre as camadas mais baixas e também entre mais ricos.

Uma pesquisa da consultoria Mercer constatou que, em 2013, os funcionários de cargos operacionais (os mais baixos da hierarquia) conseguiram um aumento salarial médio de 12,5% (nesse caso, sem descontar a inflação). Os presidentes de empresas tiveram reajuste médio de 5,2%. Todos os demais grupos, no entanto, ficaram com reajuste de 3,3% ou menos – ou seja, perderam dinheiro, já que a inflação chegou perto de 6%.

Uma dica para os que não acreditam em pesquisas é observar a experiência própria. Tente se lembrar de quanto você pagava para sua empregada doméstica há cinco anos e quanto paga hoje. Compare essa evolução com o seu próprio salário. Note como ficou difícil encontrar, em São Paulo, uma faxineira que cobre menos de R$ 90 por dia.

Qualidade

O problema do mercado de trabalho, hoje, não está relacionado ao número de pessoas empregadas ou desempregadas, mas sim ao fato de que a renda média não está mais crescendo no mesmo compasso dos anos 2000. Hoje, ela não sobe muito mais do que a inflação – e, considerando a desaceleração recente, é possível que logo o rendimento médio passe a cair, em comparação com o aumento dos preços de bens e serviços.

Uma vez que a taxa de desemprego está baixa, o desafio não é tanto gerar novos empregos, mas melhorar a qualidade dos que já existem. A renda média, na década de 2000, aumentou porque muita gente estava desempregada e foi absorvida pelo mercado de trabalho. Esse ganho foi puxado por uma economia que crescia com a expansão do crédito, com o aumento das exportações para a China e com a chegada de investimentos estrangeiros no país.

Agora que caiu muito a quantidade de pessoas à disposição dos empregadores, a saída é aumentar a produtividade dos empregos que já existem. O problema é que isso exige soluções de longo prazo, como a melhora da educação e da infraestrutura, além da diminuição da burocracia.

No curto prazo, no entanto, também há o que ser feito. O mais urgente talvez seja o governo recuperar a credibilidade junto a investidores. Por exemplo, cumprindo rigorosamente as metas de inflação e de economia para pagamento de juros. Ainda, é necessário permitir que a concorrência, não uma canetada do governo, defina os resultados dos processos de concessão da infraestrutura.

* No título, substituída a palavra 'número' por 'quantidade' no dia 22/01 às 11h05


IBGE muda pesquisa e apresenta taxa de desemprego maior
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Sílvio Guedes Crespo

Atualizado às 12h08

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O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) lançou uma nova série de pesquisas sobre o mercado de trabalho, com mudanças na metodologia e abrangência maior.

Nos seus primeiros resultados, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, ou simplesmente Pnad Contínua, indicou um desemprego maior do que o registrado pela tradicional Pesquisa Mensal de Emprego (PME), cuja metodologia havia sido alterada pela última vez em 2002.

A taxa de desocupação no país foi de 7,4% no segundo trimestre do ano passado, de acordo com o dado mais recente da Pnad Contínua. Já a PME registrara 5,8% em abril e maio, e 6% em junho, o que dá uma média de 5,9%.

O gráfico abaixo mostra a diferença entre as duas pesquisas, considerando a taxa média da PME em cada trimestre.

pnad continua e pme

 

Novos dados

A Pnad contínua mostrou, ainda, que existiam no país 90,6 milhões de pessoas ocupadas no segundo trimestre do ano passado, 1 milhão a mais do que em igual período de 2012. A população desocupada era de 7,3 milhões de pessoas no período de abril a junho de 2013, o mesmo número registrado um ano antes.

A região com maior taxa de desemprego foi o Nordeste (10% no segundo trimestre do ano passado), seguida pelo Norte (8,3%). A desocupação ficou abaixo da média nacional no Sudeste (7,2%), no Centro-Oeste (6%) e no Sul (4,3%).

Esses números são inéditos, uma vez que a pesquisa anterior trazia registros apenas de seis regiões metropolitanas.

Por outro lado, a Pnad Contínua ainda não traz informações sobre a renda da população, como faz a PME. O IBGE planeja divulgar até o final do ano.

Substituição

A Pnad Contínua vai substituir a PME e também a Pnad, que registra anualmente dados não apenas sobre mercado de trabalho, mas inclusive a respeito de temas como educação, migração e trabalho infantil. A nova pesquisa divulgará dados sobre o mercado de trabalho a cada trimestre e sobre os demais temas uma vez por ano.

A PME continuará sendo divulgada até o final do ano. A partir de 2015, ela deixará de existir, de modo que a Pnad Contínua se tornará a responsável por registrar a taxa oficial de desemprego do país.

Por enquanto, a nova pesquisa, que será trimestral, trouxe dados somente do período de janeiro de 2012 a junho de 2013. No dia 28 de março, serão divulgados os números referentes ao segundo semestre do ano passado. Em maio, os dados corresponderão ao primeiro trimestre de 2014. Em agosto, sairão os dados sobre o segundo trimestre.

Diferenças

Uma das principais diferenças entre as três pesquisas é a amplitude. A PME entrevistava pessoas em 44 mil domicílios localizados em seis regiões metropolitanas (Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre). A Pnad abrangia 147 mil domicílios em 1.100 municípios . Já a Pnad Contínua tem uma amostra de 211 mil domicílios em 3.500 municípios.

A PME era mensal, enquanto a Pnad era anual. A nova pesquisa divulgará trimestralmente dados sobre o mercado de trabalho a respeito do Brasil como um todo e das grandes regiões (Norte, Nordeste etc.) e anualmente os números sobre emprego e desemprego separados por Estado, além de disponibilizar o banco de dados para que o cidadão possa fazer pesquisas mais detalhadas. Também uma vez por ano, a Pnad Contínua vai apresentar os dados referentes a outros temas, como educação, migração e trabalho infantil.

As pesquisas têm diferenças também sobre os conceitos usados. Por exemplo, a PME e a Pnad consideravam que as pessoas de dez anos ou mais estavam em idade de trabalhar. Na nova metodologia, esse limite mínimo subiu para 14 anos.

Outra diferença importante é o conceito de desocupação. Na PME, só era considerada desempregada a pessoa que, além de estar sem trabalho e disponível para entrar no mercado, havia procurado emprego nos últimos 30 dias. Já na Pnad contínua, estar sem ocupação e ao mesmo tempo disponível para um emprego é o suficiente para a pessoa ser considerada desocupada.

Esse ajuste deve pôr fim a uma das principais críticas que a PME sofria, a de chamar de ''inativo'' o trabalhador que havia desistido de procurar emprego, mas continuava interessado em voltar ao mercado.

Conceitos

A Pnad Contínua também mudou alguns conceitos com o objetivo de se encaixar em um padrão definido na OIT (Organização Internacional do Trabalho).

A pesquisa trocará a expressão ''População Economicamente Ativa'' (PEA), que se refere à soma das pessoas ocupadas e desocupadas, por Força de Trabalho. O termo ''População em Idade Ativa'' (PIA) será substituído por ''População em Idade de Trabalhar''.

Vale destacar, ainda, que a Pnad Contínua introduzirá o conceito de subocupação, referente às pessoas que estão ocupadas, mas com um número de horas de trabalho insuficiente para serem consideradas ocupadas.

A taxa de desocupação ainda não foi divulgada, mas o IBGE promete lançá-la dentro da Pnad Contínua.


Indústria reduz pagamento a trabalhador pela 1ª vez desde 2010
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Sílvio Guedes Crespo

Atualizado às 13h08*

industria shutterstock

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Após anos de aumento contínuo de salários sem uma elevação correspondente da produtividade, a indústria reduziu o pagamento aos trabalhadores.

Em novembro, cada funcionário recebeu, em média, 2% menos do que em igual mês de 2012. Nesse tipo de comparação, os gastos dos industriais por trabalhador não caíam desde maio de 2010 (veja gráfico abaixo).

Os números foram divulgados nesta terça-feira pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e se referem ao pagamento real, ou seja, corrigido pela inflação.

folha de pagamento por trabalhador industrial

Como a inflação foi de quase 6% no ano passado, pode-se deduzir que os gastos por trabalhador não diminuíram nominalmente. O que ocorreu foi uma perda do poder aquisitivo. Dito de forma mais clara, a inflação está corroendo o salário do funcionário industrial.

Ao mesmo tempo, essa situação pode permitir ao patrão realizar um ajuste que vem buscando há meses. Se a empresa consegue aumentar o preço dos seus produtos sem elevar na mesma proporção os gastos por trabalhador, ela melhora sua produtividade e tem mais chance de se manter no mercado ou mesmo se expandir futuramente.

Emprego

A indústria vem cortando empregos desde 2011. O número de trabalhadores ocupados no setor diminuiu em todos os meses desde outubro daquele ano, sempre na comparação com igual período do ano anterior. Porém, os gastos das empresas com salários não caíam (gráfico abaixo).

pessoal ocupado industria

Esta aparente contradição – corte de empregos combinado com aumento de gastos com salários – ocorreu possivelmente porque os demitidos encontraram trabalho no setor de serviços.

Outro possível motivo da contradição está no custo da demissão. Os encargos trabalhistas pagos após os cortes entram na estatística como parte da folha de pagamento.

O que está havendo

A indústria brasileira está em crise. De janeiro a novembro do ano passado (dado mais recente), a produção aumentou apenas 1,4%, segundo o IBGE – crescimento insuficiente para compensar a queda de 2,5% registrada em igual período de 2012.

Permanecem os velhos problemas que as empresas sempre tiveram no país, como a infraestrutura precária, a burocracia excessiva, os juros altos (que apesar de terem caído em comparação com 20 anos atrás, ainda são elevados em relação à maioria dos países) e outros.

Mais recentemente, acrescentou-se a isso outro fator: o aumento de salários. Em 2003, somente 19% dos acordos coletivos entre patrões e empregados resultou em reajuste acima da inflação, segundo o Dieese. Já em 2012, a proporção saltou para 95%.

O setor de serviços consegue mais facilmente repassar esse aumento salarial para os preços. Não dá para importar, por exemplo, um corte de cabelo. Quando o dono do salão se vê obrigado a dar reajuste para o funcionário, ele pode simplesmente subir o preço do corte, se houver quem pague. E tem havido.

Já a indústria, que enfrenta a concorrência externa, não pode fazer o mesmo. Se a mercadoria nacional fica mais cara que a estrangeira, o cliente simplesmente opta pelo produto importado.

Para se adaptar, no ano passado a indústria passou por um ajuste. O setor reduziu seu quadro de pessoal e investiu em máquinas. De janeiro a novembro, a produção de bens de capital (equipamentos usados na produção) cresceu 14%. Ao mesmo tempo, as empresas demitiram funcionários, como aponta o gráfico acima.

O ajuste pode não ter terminado ainda, de modo que tenhamos mais cortes na indústria nos próximos meses. O movimento pode beneficiar o setor, sem um custo social alto, pois a taxa de desemprego continua no patamar mais baixo desde 2002.

Ao mesmo tempo, a recente alta do dólar, por causa da recuperação americana, também pode ajudar a indústria. Mas aqui existem dois “poréns”. Primeiro, muitas das máquinas usadas no setor são importadas, de modo que a desvalorização do real aumenta parte dos custos. Em segundo lugar, ao mesmo tempo em que o dólar alto barateia os produtos nacionais, a inflação os encarece. Os ganhos de competitividade gerados pelo câmbio são parcialmente comidos pela alta dos preços.

Ainda, deve-se considerar que o crédito tende a se expandir em ritmo mais lento em 2014 – de forma que as pessoas terão menos dinheiro para consumir bens industriais. Para piorar, a taxa de juros está subindo, o que desestimula os investimentos.

Não me parece que exista uma saída, portanto, que não passe pelo aumento da produtividade do país como um todo, por meio de mais leilões de infraestrutura. Eles não só trazem dinheiro ao Brasil, como barateiam os custos das empresas. As concessões precisam acelerar.

* Incluído comentário sobre emprego às 11h52 e o item 'O que está havendo' às 13h08


Inflação anual de Dilma é próxima à de Lula e inferior à de FHC
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Sílvio Guedes Crespo

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Embora a presidente Dilma Rousseff seja duramente acusada de leniência com a inflação, o ritmo de aumento de preços durante o seu governo é próximo ao do período Luiz Inácio Lula da Silva e inferior ao da gestão Fernando Henrique Cardoso.

A inflação foi de 6,5% em 2011, 5,84% em 2012 e 5,91% em 2013, o que dá uma média anual de 6,1%. Na era Lula (2003 a 2010), os preços subiram 5,8% ao ano. Já na gestão FHC (1995 a 2002), o aumento médio foi de 9,1%.

Os dados se referem ao Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), principal indicador oficial de inflação, calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

inflacao fhc lula dilma ibge

As críticas à presidente Dilma provavelmente resultam da avaliação, por parte de analistas, de que neste momento histórico existem condições para o governo manter a inflação em um nível mais baixo.

Tanto Lula quanto FHC tiveram que enfrentar a inércia de uma inflação alta deixada por seus respectivos antecessores.  Em 1994, um ano antes de o tucano chegar à Presidência, os preços haviam subido 917%, de modo que a alta de 22% no ano seguinte – que seria um escândalo nos dias atuais – foi vista como um alívio.

Em 2002, antes da posse de Lula, a inflação havia sido de 12,5%. O resultado de 9,3% no primeiro ano do petista também foi, portanto, um avanço.

Com Dilma, ocorreu o contrário. O gráfico acima mostra que a inflação vinha caindo gradativamente em cada mandato presidencial até chegar o governo atual, que interrompeu essa trajetória.

Para recordar, a inflação foi de 135% ao ano com Figueiredo, 586% com Sarney, 735% com Collor e 1.519% com Itamar. Justiça seja feita, foi no governo Itamar Franco que a hiperinflação acabou. O IPCA subiu 757% no primeiro semestre de 1994 e apenas 19% no segundo, época em que FHC era ministro da Fazenda.

FHC

Fernando Henrique Cardoso passou o primeiro mandato combatendo fortemente a inflação, pois essa postura o havia colocado na Presidência e disso dependeria a sua reeleição.

De 22% em 1995, o IPCA passou a 10%, 5% e 2% em cada um dos anos seguintes, respectivamente. O gráfico abaixo deixa clara a redução drástica da inflação a partir de 1995.

inflacao no brasil 1980 - 2013

Desde o início, FHC usou intensamente o câmbio como uma das armas do combate ao aumento de preços, em vez de conter com mais força os gastos públicos. Mantendo o real forte em relação ao dólar, os produtos importados ficaram baratos para os brasileiros ao longo de todo o primeiro mandato.

A estratégia gerou um rombo nas contas externas do país e provocou críticas dentro do próprio governo. Chamada de ''âncora cambial'', a política foi classificada de ''populismo cambial'' pelo então ministro José Serra.

Com o real caro, o preço dos produtos brasileiros fica alto e a nossa indústria tem dificuldade para competir com os estrangeiros. Resultado: as importações aceleram e as exportações pisam no freio. A âncora cambial fez o saldo comercial do Brasil (diferença entre exportações e importações) acumular uma perda de US$ 22 bilhões durante o primeiro mandato de FHC. Analistas passaram a desconfiar que, cedo ou tarde, faltariam dólares no país.

Após crises em países emergentes, investidores observaram os fracos fundamentos da nossa economia à época e especularam contra o real. Em janeiro de 1999, o governo teve que fazer uma forte desvalorização da moeda nacional e abandonar a âncora cambial.

Com a queda do real, o saldo comercial melhorou, mas a inflação aumentou. Um ajuste fiscal forte, que poderia ter sido feito no primeiro mandato, acabou tendo que ser feito no segundo, paralelamente a uma elevação considerável da taxa básica de juros.

Num contexto de impostos altos, corte de gastos públicos e juros elevados, a economia travou, provocando aumento do desemprego e queda da renda da população. Dessa forma, FHC fechou as portas do Planalto para os tucanos por pelo menos 12 anos.

Lula

A política de combate à inflação no governo Lula começou com uma carta aberta do recém empossado presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, ao ministro da Fazenda, Antonio Palocci, pedindo para ajustar a meta de aumento de preços de 4% para 8,5%.

Meirelles explicava que a inércia da inflação do ano anterior seria responsável, sozinha, por 4 pontos percentuais da alta de preços em 2003. Dessa forma, o primeiro mandato do governo Lula começou com uma inflação de 9,3%, em 2003, e terminou com uma de 3,14%, em 2006.

Diferentemente do que ocorreu no segundo mandato de FHC, no governo Lula o câmbio ajudou a segurar a inflação, pois os preços de matérias-primas – que são o forte do Brasil – dispararam no mercado internacional. As exportações batiam recorde anualmente, o que permitiu ao país importar cada vez mais produtos baratos sem causar um rombo nas contas externas.

O cenário permitiu ao Banco Central baixar drasticamente a taxa básica de juros sem pressionar a inflação.

O bom resultado das exportações gerou confiança dos investidores internacionais e os estimulou a colocar dinheiro no setor produtivo brasileiro. A entrada de dólares permitiu ao país passar de devedor a credor externo. Em um cenário mais estável, o crédito pôde avançar, gerando consumo, emprego e renda.

Com a crise financeira internacional em 2008, a atividade econômica brasileira esfriou, e o presidente Lula passou a injetar dinheiro na economia por meio de empréstimos de bancos públicos.

A inflação, então, voltou a subir e terminou o ano de 2010 em 5,91% – mesmo número alcançado por Dilma em 2013. Porém, naquele momento a economia brasileira cresceu 7,5% (contra os cerca de 2% no ano passado), de modo que Lula terminou seu segundo mandato como o presidente mais popular do mundo e, diferentemente de FHC, elegeu sua sucessora.

Dilma

A presidente Dilma Rousseff pegou um cenário internacional mais difícil do que Lula. Ela não pode contar com o câmbio para controlar a inflação, como fizeram Lula e FHC em seu primeiro mandato.

Com o real valorizado, as importações avançariam muito e não haveria como elevar as exportações o suficiente para compensar a saída de dólares. A China e a Europa, dois de nossos principais clientes, desaceleraram o ritmo de compra de produtos brasileiros.

Ainda, a concessão de crédito aumentou. Ao mesmo tempo, a taxa básica de juros, um dos principais instrumentos de controle de preços, foi reduzida pelo Banco Central nos dois primeiros anos do governo Dilma. Esses dois movimentos fizeram crescer a quantidade de dinheiro disponível na economia, sem a contrapartida do aumento dos investimentos e da produtividade. A consequência foi uma inflação acima do centro da meta por três anos seguidos.

A acusação à presidente de leniência com a inflação parte da ideia de que o governo não deveria aumentar a circulação de dinheiro no país sem que houvesse um aumento de produtividade. Seria melhor respeitar as metas ainda que isso gerasse algum custo social de curto ou médio prazo – como o aumento do desemprego.

Ainda, o uso de métodos não convencionais para segurar os preços – por exemplo, o subsídio à energia elétrica e à gasolina e também o baixo reajuste aos preços administrados – é uma postura que gera desconfiança no mercado.

Cumprir a promessa oficial de uma inflação de 4,5% seria uma das medidas para dar previsibilidade ao mercado e ganhar a confiança de investidores. Combinado com outras decisões – como a de não maquiar os dados das contas públicas e realizar mais concessões de infraestrutura ao setor privado –, o controle dos preços ajudaria a atividade econômica a se recuperar no longo prazo.

***

Com este post, o blog Achados Econômicos dá continuidade a uma série de comparações entre os indicadores econômicos registrados durante os mandatos dos últimos presidentes do país. O tema será abordado cada vez que um número conjuntural sobre o ano fechado de 2013 for divulgado. O primeiro foi sobre a balança comercial, cujo saldo caiu á metade no governo Dilma.


Salário mínimo cresce menos que preço de produtos básicos em 2013
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Sílvio Guedes Crespo

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O salário mínimo interrompeu a trajetória de aumento de poder de compra ante produtos básicos, de acordo com dados do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos).

A entidade calcula o salário mínimo necessário, com base em trecho da Constituição segundo o qual a remuneração de um trabalhador deve ser suficiente para suprir pelo menos as despesas básicas de uma família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social.

De acordo com o Dieese, o salário necessário em 2013 ficou em R$ 2.765, um valor 4,1 vezes maior do que o salário mínimo vigente no ano passado (R$ 678).

Em 2012, o salário necessário era 4 vezes maior que o mínimo. Isso quer dizer que este cresceu um pouco menos do que o preço dos produtos que o Dieese considera necessários para uma família.

Olhando para um prazo mais longo, no entanto, vemos que a vida de quem ganha o mínimo é hoje bem menos sofrida, ao menos materialmente, do que era há duas décadas.

Em 1994, o salário necessário era mais de 10 vezes o valor do mínimo. Ou seja, quem ganhava o piso nacional não conseguia comprar nem 10% das necessidades básicas para viver.

 AnoSalário mínimo
(R$)
Salário necessário
(R$)
Salário necessário dividido pelo salário mínimo
19946869110,1
1995907408,2
19961087957,4
19971178036,8
19981278786,9
19991349016,7
20001479676,6
200117310736,2
200219511896,1
200323014216,2
200425314835,9
200529015105,2
200633815014,4
200737316804,5
200840920024,9
200946120424,4
201051021104,1
201154422724,2
201262224644,0
201367827654,1

Dados industriais de novembro apontam pessimismo exagerado de analistas
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Sílvio Guedes Crespo

estimativas de analistas producao industrial 001

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A produção industrial em novembro foi 0,2% inferior à de outubro, o que pôs fim a uma série de três meses seguidos de crescimento, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Em comparação com novembro de 2012, a atividade cresceu 0,4% no penúltimo mês de 2013.

Os dados não são animadores, ainda mais por ter sido justamente o setor de bens de capital (máquinas usadas na produção – portanto, um indicativo de como andam os investimentos no país) o responsável pela retração da produção industrial de outubro para novembro.

Mesmo assim, os números representam um alívio diante das expectativas de analistas, pois mostram que houve um pessimismo exagerado nas projeções.

Antes da divulgação dos dados, o jornal ''Valor Econômico'' havia perguntado a 20 consultorias e instituições financeiras quais as estimativas delas para a produção industrial em novembro. Todas esperavam um quadro pior do que o registrado depois pelo IBGE.

Nenhuma das 20 casas consultadas – entre elas as mais importantes do país – estimava que a indústria havia crescido em relação a novembro de 2012, conforme indica o gráfico acima.

Analistas raramente acertam suas projeções com exatidão. Nem se espera que o façam. É normal que às vezes errem um pouco mais para cima, outras, mais para baixo. Mas um desvio como o atual, de todos apostarem em queda e depois o dado oficial indicar alta, não é tão  comum.

'Guerra psicológica'

Até o começo do ano passado, a situação era inversa. Os analistas estavam otimistas além da conta. Em janeiro de 2012, eles previam alta de 4% na produção industrial de 2013. Um ano depois, a projeção caiu para 3%. Hoje, sabe-se que o setor dificilmente avançou 2%, pois de janeiro a novembro a alta foi de apenas 1,4%.

O pessimismo excessivo de que fala este post se refere apenas às estimativas para a produção industrial de novembro. Para constatar se, de fato, existe um descolamento contínuo e generalizado entre as análises econômicas e a realidade, seria necessário examinar as projeções ao longo de um período maior e incluir também outros indicadores.

Em relação ao que a presidente Dilma Rousseff chamou de ''guerra psicológica'' (que, nesse contexto, significa uma tentativa da oposição de difundir mais as notícias ruins do que as boas), o mais provável é que isso exista mesmo e que o governo também esteja envolvido na briga. É natural, esperado e até óbvio que quem está no poder queira valorizar os dados positivos e que quem está na oposição faça o inverso. Caberá à população colocar os dois lados na balança e fazer sua própria avaliação.


Queda da produção de máquinas trava indústria em novembro
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Sílvio Guedes Crespo

industria leonardo soares uol
A pesquisa sobre a produção industrial brasileira divulgada nesta quarta-feira trouxe uma notícia boa e uma ruim.

A boa: o setor não está tão mal quanto imaginavam muitos analistas. A ruim: a queda da atividade em novembro foi causada justamente pela retração do segmento de bens de capital, ou seja, de máquinas usadas na produção – sinal de redução nos investimentos.

O ramo de bens de capital encolheu 2,6% de outubro para novembro. Trata-se de um segmento em que se depositam parte das expectativas de retomada da indústria brasileira. Se há gente produzindo e vendendo máquinas para fábricas, há necessariamente alguém que pretende usá-las.

Essa categoria da indústria é importante especialmente neste momento, em que o país tenta passar de um modelo de crescimento baseado no consumo para outro fundado no investimento. (O primeiro, que caracterizou a era Lula, está se esgotando, pois a população já compromete com dívidas uma parte muito grande da sua renda, o que limita o crescimento do consumo.)

Mas o que vemos na mais recente pesquisa do IBGE é justamente uma interrupção, momentânea ou não, dessa trajetória.

Variação da produção industrial em novembro de 2013 (%)

CategoriaEm relação a outubroEm relação a novembro de 2012Acumulado jan-novAcumulado em 12 meses
Bens de capital-2,69,614,211,6
Bens intermediários1,21,30,20
Bens de consumo0,5-2,20-0,1
Indústria geral-0,20,41,41,1
  • Fonte: IBGE


Sente-se um alívio quando se observa que, na comparação com novembro de 2012, a produção de bens de capital cresceu 9,6%.

É preciso notar, no entanto, que pouco tempo atrás a situação era bem melhor. Em outubro do ano passado, o segmento havia avançado 18,4% em relação ao mesmo mês de 2012. Em setembro, a alta havia sido de 23,4%.

Trata-se, portanto, de uma desaceleração nada desprezível do setor de bens de capital, o que reduz a probabilidade de retomada da indústria.

Economistas têm afirmado que essa desaceleração se deve ao aumento dos estoques da indústria, o que leva o setor a não elevar a produção – ou mesmo a reduzi-la – até conseguir vender parte do que está guardado.

Pernas mancas

Os números da pesquisa do IBGE reforçam a hipótese, defendida neste blog em textos anteriores, que a economia brasileira neste momento não está nem diante de uma catástrofe, como querem fazer crer alguns, nem dá sinais de que vai deslanchar, como o governo tenta fazer crer. Tudo indica que estamos apenas medíocres.

Quem melhor descreveu nossa atual situação, surpreendentemente, foi o ministro Guido Mantega. Após várias projeções que se mostraram excessivamente otimistas e foram desmentidas pela realidade, ele recentemente resolveu ser menos exagerado e disse que o país cresce com as duas pernas mancas.


Preço de imóvel residencial no Brasil tem 2ª maior alta entre 23 países
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Sílvio Guedes Crespo

Atualizado às 23h16

foto sao paulo andre penner afp

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O Brasil registrou a segunda maior alta no preço de imóveis residenciais no ano passado, em uma lista de 23 países monitorados pela revista ''The Economist''.

As moradias ficaram 12,8% mais caras em 2013, um aumento que só fica atrás ao dos Estados Unidos (13,6%).

Os preços no Brasil subiram mais do que, por exemplo, em Hong Kong e na China, onde, segundo a revista, há risco de bolha por causa dos baixos níveis de ocupação registrados recentemente.

Apesar de terem a segunda maior alta entre os países listados, os preços de residências no Brasil estão aumentando menos do que em anos anteriores.

Uma pesquisa da Fipe-Zap constatou que houve um reajuste médio de 12,7% no preço do metro quadrado em sete capitais no ano passado – mais brando, portanto, do que em 2012.

preco imoveis brasil paises economist 01

Diferentemente do que ocorre no Brasil, nos EUA, o primeiro país da lista na pesquisa da ''Economist'', a alta de 2013 veio após uma forte queda verificada em anos anteriores.

Em 2012, por exemplo, o preço da moradia nos EUA caiu 5,9%. Com isso, o país acumula um aumento de apenas 11,3% desde 2010. No mesmo período, o Brasil registrou um reajuste de 67% – o mais alto entre os países listados. Hong Kong ficou em segundo (56,5%), muito à frente do terceiro, a Alemanha, com 19,7%.

Com exceção da Alemanha, nos países ricos os preços acumularam queda no período, ou uma alta muito pequena. Desde 2010, os imóveis residenciais caíram na Irlanda (-21,6%), Espanha (-19,5%), Holanda (-15%), Itália e Japão (-7,2% cada), entre outros. Tiveram leve alta no Reino Unido (3,9%) e na França (2,9%).

Metodologia

A pesquisa da revista The Economist deve ser vista com cautela porque ela não converte os preços para uma mesma moeda nem desconta a inflação de cada país. No Brasil, houve queda do real em 2013, de modo que a variação dos preços em dólar foi certamente menor, ou mesmo negativa.

Desse modo, a pesquisa não serve, por exemplo, para investidores internacionais que estão em dúvida se compram imóvel no Brasil ou em outro país.

Por não descontar a inflação, também não dá conta de explicar quanto, em cada local analisado, os imóveis subiram em comparação com o preço de outros bens.

Ainda assim, serve para dar uma ideia da diferença de tendência de preço de imóveis em vários países, do ponto de vista da população local. Por exemplo, os italianos estão hoje pagando menos pelos imóveis do que há um ano, enquanto os brasileiros e americanos estão pagando mais.

Alguns leitores disseram, ainda, que este texto comparou dados da FipeZap com índices de outros países. Não. Conforme está claro no gráfico, a fonte dos dados citados na comparação internacional é uma só: a revista The Economist, que monitora os preços de imóveis desses países.

A FipeZap é uma outra pesquisa, separada, sem comparação internacional, que citei neste texto como informação complementar porque foi divulgada hoje (6) e aponta uma desaceleração nos preços.

* Acrescentada explicação sobre metodologia às 23h16


Em dólar, valor da Petrobras encolhe 57% desde a capitalização, em 2010
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Sílvio Guedes Crespo

Atualizado às 15h53*

plataforma petrobras divulgacao

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A Petrobras encerrou o ano de 2013 cotada, em dólares, por menos da metade do que valia no final de 2010, quando fez o maior processo de capitalização da história do mercado financeiro.

No dia 24 de setembro de 2010, dia em que captou US$ 70 bilhões, a empresa encerrou o pregão com um valor de mercado de US$ 211,9 bilhões, segundo cálculo da consultoria Economática.

Já em 30 de dezembro de 2013, a petrolífera estava avaliada em US$ 91,7 bilhões, um valor 57% menor.

O investidor estrangeiro que comprou ações da companhia no momento da capitalização pensando no longo prazo, se vender os papéis hoje terá menos da metade dos dólares que possuía inicialmente. Ele perde tanto na variação das ações quanto na do câmbio.

Em reais, a Petrobras está avaliada em R$ 214,7 bilhões, o que representa uma queda de 41% em relação aos US$ 362,8 bilhões no dia da capitalização.

Vale notar que, com todos esses problemas, a companhia não voltou ao seu valor de uma década atrás. Em janeiro de 2004, estava avaliada em US$ 30,7 bilhões, ou R$ 88,7 bilhões.

valor de mercado petrobras desde capitalizacao

O gráfico mostra a trajetória do valor de mercado da Petrobras, em dólares e reais.

Desde pelo menos janeiro de 2010, a empresa já vinha caindo na Bolsa. Ela começou aquele ano avaliada em US$ 199 bilhões, ou R$ 347 bilhões e dali em diante foi descendo.

No dia 23 de outubro de 2010, era avaliada em US$ 147 bilhões (R$ 264 bilhões). Ao final do dia seguinte, data em que foi feita a capitalização, houve um salto no valor de mercado, para US$ 212 bilhões (R$ 363 bilhões).

A partir dali, o valor subiu um pouco, até o primeiro semestre de 2011. Desde então, no entanto, a trajetória passou a ser predominantemente de queda. até o momento atual.

Valor de mercado

O valor de mercado é a soma do preço de todas as ações de uma empresa. É um reflexo, portanto, de como os investidores avaliam o futuro da companhia. Analistas projetam a capacidade do negócio de gerar caixa e calculam, dessa forma, o seu valor.

Essa queda, de 41% em reais e 57% em dólares, não significa que o dinheiro que entrou na Petrobras durante a capitalização desapareceu, e sim que os investidores acreditam que a empresa não será capaz de gerar tanto caixa como se esperava em 2010.

Autossuficiência

A Petrobras está mal das pernas, segundo analistas, porque tem comprado combustível caro no exterior e vendido mais barato aqui.

Essa afirmação está correta, mas, pelos comentários de leitores que tenho lido, vejo que ainda há duas dúvidas. Primeiro, alguns leitores se perguntam como a empresa vende gasolina mais barata se o combustível no Brasil é mais caro do que em vários outros países. Em segundo lugar, vem outra dúvida: nós não éramos autossuficientes em petróleo?

Respondendo a primeira pergunta: sim, a Petrobras paga mais caro no produto importado e vende mais barato aqui, só que ela não vende diretamente para o consumidor, e sim para as distribuidoras.

Do preço que o consumidor paga na bomba, apenas 35% vão para a Petrobras, informa a empresa em seu site. Outros 17% vão para as empresas de distribuição e revenda (postos); 13% vão para as companhias que venderam o etanol, que é misturado à gasolina; 27% são de imposto estadual e 8% são de tributos federais, conforme o gráfico abaixo, reproduzido do site da Petrobras.

precos petrobras

Respondendo agora a segunda pergunta: por que nós importamos gasolina, se o governo diz que somos autossuficientes?

Porque nós somos autossuficientes em petróleo, não em derivados. A Petrobras bateu recorde de refino, mas ainda assim não conseguiu dar conta de acompanhar o enorme aumento da demanda pela gasolina, por conta da expansão da frota de veículos. Por isso, a estatal compra o combustível no exterior.

Nos últimos anos, a importação disparou. Em 2012, gastamos o valor recorde de US$ 3 bilhões importando gasolina, número 42 mil vezes maior que os US$ 71 mil registrados em 2009, segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).

A situação deve melhorar quando ficarem prontas a refinaria de Abreu e Lima, em Pernambuco (em 2014), o Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro, previsto para 2016) e mais duas refinarias no Maranhão e no Ceará (em 2017 e 2018), conforme explicou recentemente o professor do Insper Ricardo Mollo.

 

* Acrescentado trecho sobre autossuficiência (às 13h33) e valor de mercado em 2004 (às 15h53)


Diferença entre exportações e importações cai à metade no governo Dilma
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Sílvio Guedes Crespo

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O saldo da balança comercial do Brasil – diferença entre as exportações e as importações – caiu à metade nos três primeiros anos do governo Dilma Rousseff, em comparação com a média anual registrada nos dois mandatos do seu antecessor, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

No ano passado, o valor ficou em apenas US$ 2,6 bilhões – inferior, portanto, aos US$ 19,4 bilhões de 2012 e aos US$ 29,8 bilhões de 2011. Com isso, nos três primeiros anos do governo Dilma, o resultado médio foi de US$ 17,3 bilhões.

Já nos oito anos de Lula, a balança comercial teve um superávit médio anual de US$ 32,5 bilhões, praticamente o dobro em comparação com o período Dilma. Nos dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso, o saldo médio ficou negativo em US$ 1,1 bilhão.

balanca comercial por presidente em dolares 01

Se considerarmos apenas os três primeiros anos de cada mandato presidencial, o saldo comercial ficou em US$ 34 bilhões no primeiro mandato de Lula e US$ 30 bilhões no segundo.

Com FHC, os valores foram de US$ 5,2 bilhões negativos no primeiro mandato e US$ 251 milhões positivos no segundo.

Nos três primeiros anos de Sarney, a média foi de US$ 10,7 bilhões. Nos três de Figueiredo, o saldo ficou negativo em US$ 1,5 bilhão.

Em porcentagem do PIB

É de se esperar que, conforme a economia de um país cresça, suas exportações e importações também avancem.

Dessa forma, quando se compara o saldo comercial atual entre períodos tão distantes uns dos outros, é preciso observar também o comportamento do PIB (produto interno bruto), conforme aponta o gráfico abaixo.

balanca comercial brasileira por presidente em porcentagem do pib

Como não foi divulgado ainda o PIB de 2013, usei a projeção do FMI (Fundo Monetário Internacional), de US$ 2,2 trilhões. Nesse caso, o saldo de US$ 2,6 bilhões no ano passado equivaleu a 0,1% do PIB. A média no governo foi, até agora, de 0,72% do PIB.

Comparações

Com esta postagem, este blog inicia uma série de comparações dos indicadores econômicos por presidente da República.

De hoje até 27 de fevereiro, quando sai o PIB de 2013, você vai encontrar no Achados Econômicos um histórico dos principais indicadores, dividido por período presidencial.

Sabemos que os números macroeconômicos não devem ser a única nem a principal forma de mensurar a competência de um governante – até porque os resultados não dependem só deles, mas também de fatores internos e externos que estão fora de seu alcance.

Mesmo assim, Achados Econômicos fará as comparações por entender que os dados ajudam a dar uma ideia de quais foram os principais desafios de cada mandatário.

Abaixo, o saldo da balança comercial desde 1970.

historico balanca comercial brasileira bc 01 historico balanca comercial brasileira bc 02