Achados Econômicos

Arquivo : maio 2013

Setor aeronáutico cresce quase 20% e evita queda maior da indústria
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Sílvio Guedes Crespo

Embraer 190, um dos modelos mais caros da empresa. Este foi vendido para a China Southern Airlines. Foto: Fernando Donasci/ UOL

Enquanto a indústria brasileira mergulha em uma crise e luta por medidas do governo como desvalorização do real, queda de taxas juros e corte de impostos, vale a pena prestar atenção em um setor que, ao contrário, só tem crescido ultimamente.

O ramo de construção, montagem e conserto de aeronaves avançou 19,58% no acumulado dos últimos 12 meses, enquanto o restante da indústria caiu 2%.

Trata-se de um raro exemplo de segmento com uso de alta tecnologia em que o Brasil é competitivo no mercado internacional. É um setor que se beneficia pela mão de obra qualificada formada dentro do país com recursos públicos. A Embraer é o maior empregador privado de profissionais formados no ITA (Instituto Tecnológico Aeronáutico).

Há muito que se fala na importância de centros de excelência de ensino e pesquisa que atuam em sintonia com o mercado. Não há nenhuma novidade nisso, mas não custa lembrar mais uma vez, neste momento de crise industrial, que é justamente no ramo aeronáutico que o Brasil vai bem.

Quando se compara um determinado mês com o seu equivalente no ano anterior, a indústria de aeronaves está com resultado positivo há 27 meses seguidos, ou seja, desde janeiro de 2011.

Na outra ponta, os segmentos da indústria que mais encolheram nos últimos 12 meses foram os de “caminhões e ônibus” (-24%) e “outros veículos e equipamentos de transporte” (-26%; esse ramo inclui produção de motos e bicicletas).

Retomada

Analisando a indústria não mais por ramos de atividade (exemplo: veículos, alimentos, calçados etc), mas sim pelo que os especialistas chamam de “categorias de uso” (bens de capital, bens intermediários e bens de consumo), existe a esperança de melhora.

O setor de bens de capital (máquinas usadas na produção) é o que teve melhor resultado nas últimas pesquisas. Esse segmento subiu tanto de fevereiro para março (0,7%), quanto de março do ano passado para o mesmo mês deste ano (4,3%).

Considerando o primeiro trimestre deste ano, os bens de capital subiram 9,8% em relação a período equivalente de 2012, a maior alta entre todas as categorias de uso.

Se os industriais estão comprando máquinas, é sinal de que estão interessados em produzir. Pode ser o início de uma tímida retomada.

O gráfico abaixo mostra a variação da atividade industrial por categorias de uso, acumulada em 12 meses. Em 2010, houve uma forte recuperação do setor de bens de capital. Os empresários investiram em máquinas, mas os bens de consumo não cresceram no mesmo ritmo.

A partir de 2011, a produção de bens de capital foi se desacelerando e passou a ter desempenho negativo no início do ano passado. Desde então, foi caindo mês a mês até dezembro, quando a queda acumulada em 12 meses era de 11,8%.

Já em janeiro, o ritmo de queda desacelerou, até atingir uma perda acumulada de 6,7% em março. Se a curva do gráfico continuar nesse sentido, poderemos ver uma leve recuperação industrial este ano, confirmando a projeção de diversos economistas.


Recuperação econômica nos EUA é só para os 7% mais ricos
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Sílvio Guedes Crespo

O patrimônio líquido das famílias americanas (diferença entre o valor dos bens e as dívidas) aumentou, em média, 14% de 2009 a 2011, passando de US$ 35,2 trilhões para US$ 40,2 trilhões, o que poderia dar a entender que a maior parte da população do país está recuperando o padrão de vida perdido na crise de 2008.

 

No entanto, um estudo da Pew Research mostra que essa recuperação abrange apenas os 7% mais ricos, ou seja, as 8 milhões de famílias com patrimônio líquido superior a US$ 836 mil. O valor médio das posses desse grupo aumentou 28% no período, de US$ 2,5 milhões para US$ 3,2 milhões.

 

Já o restante da população – 111 milhões de famílias, que são 93% do total – viu seu patrimônio líquido diminuir em 4% desde 2009. Em média, esses lares possuíam bens no valor de US$ 140 mil em 2009. Hoje, eles têm US$ 134 mil, como informa o gráfico abaixo.

 

Como consequência dessa variação, houve aumento da desigualdade econômica nos EUA. Os 7% mais ricos eram donos de 56% do patrimônio líquido do total das famílias em 2009. Dois anos depois, essa proporção pulou para 63%.

 

Todos esses dados se referem a médias. Claro que pode haver famílias ricas que perderam patrimônio e pobres que ganharam. Mas, de modo geral, o grupo dos 7% mais abastado concentra a população que teve maior crescimento no valor de suas posses.

 

Ações vs imóveis

 

O empobrecimento dos 93% é explicado basicamente pela desvalorização dos imóveis. Nas famílias de classe média, o principal item do patrimônio costuma ser a casa própria, que tem perdido valor.

 

Os preços de residências nos EUA estão hoje 29% abaixo do pico registrado em 2006, segundo o índice S&P Case Shiller.

 

Entre as famílias com patrimônio abaixo de US$ 500 mil, a casa própria corresponde a mais de 65% de suas posses.

 

Para os que têm patrimônio acima desse valor, a residência significa apenas 50% de seus bens, enquanto os ativos no mercado financeiro equivalem a 33%. Como a Bolsa de Nova York tem subido fortemente, essas famílias conseguem aumentar o patrimônio. O índice S&P 500, uma das referências do mercado de ações nova-iorquino, avançou 34% de 2009 a 2011.

 

Ainda se poderia dizer que esses 93% representam uma fatia muito grande da sociedade e que, nesse grupo, pode haver muitos subgrupos em que o patrimônio subiu.

 

Mas o Census Bureau, órgão estatístico oficial, fez outro recorte dos mesmos dados e constatou que, de fato, apenas uma minoria no topo da pirâmide teve melhora de vida.

 

A instituição dividiu as famílias americanas em nove grupos, segundo o tamanho do patrimônio. Apenas a faixa mais elevada, dos que têm posses acima de US$ 500 mil, aumentou suas riquezas, conforme indica a tabela abaixo.

 

Variação do patrimônio líquido médio das famílias americanas (em US$)

Faixa de patrimônio% do total de famíliasPatrimônio médio em 2009Patrimônio médio em 2011Variação do patrimônio (%)
Todas100297.729338.95014
Negativo ou zero*18-34,777-35,472-2
US$ 1 a US$ 4.99992.0161.899-6
US$ 5.000 a US$ 9.99957.4337.248-2
US$ 10.000 a US$ 24.999717.34216.586-4
US$ 50.000 a 99.9991077,02873,099-5
US$ 100.000 a US$ 249.99918173,100164.345-5
US$ 250.000 a US$ 499.00013370.148354,668-4
US$ 500 mil ou mais131.585.4411.920.956+21
  • Fonte: Census Bureau
  • * Patrimônio líquido de uma família é negativo quando a dívida é maior do que o valor dos bens