Achados Econômicos

Arquivo : dezembro 2013

Preços em que o governo não põe a mão sobem mais de 7% em um ano
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Sílvio Guedes Crespo

A inflação no Brasil atualmente só é inferior ao teto da meta, que é de 6,5% ao ano, porque o governo tem forçado para baixo os preços que consegue controlar diretamente, conforme aponta um estudo da Tendências Consultoria Integrada, feito a pedido do blog Achados Econômicos.

Nos últimos 12 meses, os preços administrados pelo governo – como tarifas de energia elétrica, gasolina e transporte público – subiram apenas 0,94%.

Enquanto isso, os demais itens, os chamados preços livres, acumulam alta de 7,27% no mesmo período. Consequentemente, o índice geral da inflação ficou em 5,77%.

Caso o governo federal não tivesse reduzido as tarifas de energia elétrica, e caso os Estados e municípios não tivessem recuado da decisão de elevar preços do transporte público, os preços controlados teriam acumulado alta de 4,2%, segundo o estudo da Tendências.

Ainda, se a Petrobras não tivesse segurado o preço da gasolina, a inflação dos administrados chegaria a 5%.

O gráfico abaixo mostra que o governo põe cada vez mais a mão nos preços administrados. Nos 12 meses encerrados em janeiro do ano passado, eles tiveram um aumento de 5,1%. Já nos 12 meses até novembro de 2013, subiram menos de 1%.

precos livres administrados tendencias ibge achados economicos

A meta de inflação é de 4,5% para o período de janeiro a dezembro de 2013, com tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo.

Entrevista

Abaixo, Adriana Molinari, autora do estudo,  comenta o controle dos preços administrados.

Achados Econômicos: O que está acontecendo com os preços administrados?

Adriana Molinari: Há uma distorção completa. O que a gente observa não é uma melhora consistente da dinâmica da formação de preços. São questões pontuais que afetam o índice cheio. Por exemplo, a redução das tarifas de energia elétrica, a manutenção do preço do transporte público depois das manifestações, o não repasse ao consumidor pelos gastos das térmicas e outros.

Achados: Se o governo não estivesse segurando os preços administrados, a taxa básica de juros deveria ser mais alta?

Molinari: Certamente. O aperto monetário teria que ser mais contundente. Mas também temos que mencionar a deterioração fiscal, que acaba tendo impacto na inflação. Se o governo fizesse a lição de casa na parte fiscal, ajudaria a conter a inflação.


Indústria de máquinas cresce 10% em 12 meses, maior alta desde 2011
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Sílvio Guedes Crespo

A economia brasileira parece viver um momento de contradições. A mais conhecida talvez seja a combinação entre desemprego baixo e PIB (produto interno bruto) a passos de tartaruga.

Há, no entanto, outro dado intrigante. Enquanto a indústria brasileira sofre para crescer mísero 1% ao longo de um ano – e isso depois de já ter encolhido mais de 2% em 2012 – o setor de bens de capital (ou seja, de máquinas usadas na produção, assim como caminhões) está em forte aceleração. Nos últimos 12 meses, avançou 9,9%, melhor resultado desde maio de 2011.

O gráfico abaixo deixa isso claro.

bens de capital industria

A produção de bens de capital acumulava uma queda de mais de 10% no final do ano passado. Em janeiro, começou a reduzir essa perda. Agora em outubro, está em alta de quase 10%.

Ao mesmo tempo, a indústria em geral permanece praticamente estagnada, diferentemente do que ocorreu em períodos anteriores. No final de 2009, por exemplo, a produção de bens de capital acumulava queda de mais de 20%. Essa perda foi diminuindo e, ao contrário do que está acontecendo hoje, a indústria em geral foi se recuperando.

Se a indústria não está acompanhando a recuperação do setor de bens de capital, é possível que os empresários estejam aguardando o momento certo de retomar a produção dos bens de consumo. A hesitação dos investidores, aliás, é um dos aspectos que marcaram a economia brasileira em 2013, como reação a um cenário interno e externo incerto.


Blog Achados Econômicos ganha prêmio de jornalismo
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Sílvio Guedes Crespo

premio cnh jornalismo 2

O blog Achados Econômicos  foi contemplado no Prêmio CNH de Jornalismo Econômico, o único do país que coloca blogs e mídia impressa no mesmo patamar.

A Folha de S.Paulo também foi premiada, com a série de reportagens intitulada “Fora dos trilhos: as revelações do cartel ferroviário no Brasil”, sobre o cartel nos metrôs de São Paulo e do Distrito Federal.

O Prêmio CNH é uma iniciativa da Case New Holland, líder global no setor de bens de capital.

Os premiados

Veja abaixo os trabalhos escolhidos.

Categoria Blogs: Achados Econômicos, de Sílvio Crespo, no UOL.

Categoria Jornal: “Fora dos trilhos: as revelações do cartel ferroviário no Brasil”, de Catia Seabra, Julianna Sofia, Dimmi Amora e Flávio Ferreira, na Folha de S.Paulo.

Categoria Revista: “A China escolheu seu caminho, e nós?”, de Roberta Paduan, Alexa Salomão, Luiza Dalmazo, Guilherme Manechini, Patrick Cruz e Patrícia Ikeda, na revista “Exame”.

Categoria Excelência Jornalística: “Descaminhos”, de Roberta Soares, no “Jornal do Commercio”.

Menções Honrosas: “Caos do Campo ao Porto”, de Henrique Gomes Batista, Danielle Nogueira, no jornal “O Globo”, e “Qual o efeito do BNDES”, de Cristiane Barbieri, na revista “Época”.

Agradeço aos leitores que deixam comentários construtivos e educados, mandam e-mails e me fazem refletir sobre o conteúdo de cada texto que publico. Agradeço também a toda a equipe do UOL, especialmente Rodrigo Flores, Irineu Machado e Armando Pereira, que acreditaram no blog antes mesmo de ele existir e me deram as condições para tocar este trabalho.


PIB no trimestre perde para países em crise; em um ano, bate EUA e México
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Sílvio Guedes Crespo

Marcha lenta: PIB brasileiro teve variação pior do que o de Itália, Portugal e Espanha

Marcha lenta: PIB brasileiro caiu mais que o da Itália e o da França no 3º trimestre

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Depois de registrar um crescimento surpreendente no segundo trimestre, a economia brasileira teve, de julho a setembro, um desempenho pior do que o de diversos países que estão mergulhados em crise desde 2009, como Portugal, Espanha, Itália e França.

O PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil no terceiro trimestre foi 0,5% menor do que no segundo, de acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Na comparação com o terceiro trimestre do ano passado, a economia brasileira aumentou 2,2%, superando o desempenho de importantes países ricos e emergentes, como os Estados Unidos e o México, mas mantendo-se abaixo das nações asiáticas de crescimento rápido, como a China e a Coreia do Sul.

pib brasil paises terceiro trimestre ante segundo achados economicos 1

pib paises terceiro trimestre 2013 2012 achados economicos uol

Os dados citados se referem à variação percentual do PIB. Se considerássemos a variação em dinheiro, seja na moeda local ou em dólares, o ranking seria bem diferente. Para os EUA, que têm uma economia de US$ 15 trilhões anuais, uma pequena variação no PIB já significaria muitos bilhões de dólares, o que o tornaria incomparável com a maioria dos países.

Opinião

Os números mostram que a economia brasileira não conseguiu manter o mesmo ritmo de produção verificado no segundo trimestre, mas a piora não foi tanta a ponto de voltarmos ao fraco ritmo verificado no ao passado.

A queda de 0,5% do PIB em relação ao segundo trimestre confirma que a forte produção no período de abril a junho foi um caso pontual, motivado por uma safra recorde.

No terceiro trimestre, a leve recuperação da indústria e dos serviços (0,1% de crescimento em cada) não compensou a forte queda da agropecuária (-3,5%).

Não há sinais, entre os números mais recentes, de que no último trimestre do ano recuperaremos o ritmo de alta do segundo trimestre. Aquele período foi, muito provavelmente, o melhor de 2013. (Curiosamente, foi logo naquela época que as manifestações se espalharam pelas ruas do país.)

A retomada econômica, do Brasil, portanto, perdeu ritmo. O encolhimento do PIB do segundo para o terceiro trimestre nos coloca no mesmo patamar de países que já têm uma renda per capita alta e uma rede de proteção social muito melhor do que a nossa, como a França e a Itália. Que esses países, já ricos e atolados em dívidas, não cresçam, é de se esperar. No caso do Brasil, uma nação ainda chamada de “emergente”, deveria estar avançado a um ritmo maior, a exemplo dos latino-americanos Peru e Chile, ou dos asiáticos Coreia do Sul e Indonésia.

Não podemos nos esquecer de que ainda estamos crescendo mais do que o México, a segunda maior economia da América Latina e um concorrente direto do Brasil na busca por capital estrangeiro. Mesmo assim, há sinais de que temos espaço para melhorar. O diagnóstico econômico está dado: o país precisa recuperar a confiança do mercado internacional, respeitando, sem subterfúgios, as metas de inflação e de superávit primário (dinheiro que o país reserva para pagar juros da dívida). O problema é criar as condições políticas para que isso ocorra, considerando que teremos eleições em menos de 12 meses.