No Brasil, acesso a smartphones é menor que no Egito, Venezuela e China
Sílvio Guedes Crespo
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No Brasil, o acesso da população a smartphones é menor do que em países como China, África do Sul e Egito, segundo uma pesquisa do Pew Research Institute, dos Estados Unidos.
Embora mais de 80% dos brasileiros adultos tenham pelo menos um celular, apenas 15% possuem um smartphone, como o iPhone, o BlackBerry ou aparelhos que usem o sistema operacional Android.
A proporção de pessoas que têm smartphones é de 23% no Egito, 33% na África do Sul e de 37% na China. O acesso a smartphone é menor no Brasil apesar de aqui o PIB (produto interno bruto) per capita, de US$ 12,1 mil por ano, ser maior do que nesses três países.
País | % da pop. que tem celular | % da pop. que tem smartphone |
Líbano | 86 | 45 |
Chile | 91 | 39 |
Jordânia | 95 | 38 |
China | 95 | 37 |
Argentina | 83 | 34 |
África do Sul | 91 | 33 |
Rússia | 94 | 32 |
Malásia | 89 | 31 |
Venezuela | 86 | 31 |
Egito | 88 | 23 |
México | 63 | 21 |
Quênia | 82 | 19 |
Nigéria | 78 | 19 |
Turquia | 87 | 17 |
Filipinas | 71 | 17 |
Brasil | 80 | 15 |
Gana | 79 | 15 |
Senegal | 81 | 13 |
Tunísia | 88 | 12 |
Bolívia | 81 | 12 |
El Salvador | 79 | 11 |
Indonésia | 78 | 11 |
Uganda | 59 | 4 |
Paquistão | 53 | 3 |
O percentual das pessoas que têm celular ou smartphone deve ser visto com cautela porque o estudo, embora tenha sido divulgado em fevereiro deste ano, baseia-se em dados que haviam sido coletados em abril de 2013. De lá para cá, os 15% que têm smartphone no Brasil certamente cresceram, pois as vendas do produto no ano passado subiram muito.
O mais interessante da pesquisa é a posição relativa de cada país no ranking. Ainda que os 15% do Brasil tenham subido, a maior parte dos países emergentes estudados viveu um ''boom'' parecido.
Esta pesquisa traz dados muito diferentes de outros levantamentos sobre o assunto porque procura informar a quantidade de pessoas que têm smartphone, e não o número de aparelhos vendidos. Um smartphone comprado por uma empresa para ser emprestado a funcionários, por exemplo, não entra nessa pesquisa da Pew Research. Por isso, o número de pessoas que têm o produto é inferior ao de aparelhos vendidos.
Também não se pode confundir a comercialização em determinados períodos com a quantidade de aparelhos ativos. No segundo trimestre do ano passado, as vendas de smartphones superaram, pela primeira vez, a de celulares simples. Mas como já existiam muito mais aparelhos simples do que aqueles mais sofisticados, ainda precisam ser vendidos muito mais produtos deste segundo grupo para que sua presença na sociedade supere a do primeiro.
Entrevista
Luciano Pereira Soares, professor de Engenharia de Computação do Insper, comenta o assunto.
Pergunta: Por que o no Brasil o acesso da população a smartphone é mais baixo do que em alguns países com PIB per capita inferior?
Resposta: Luciano Pereira Soares: Uma das razões é o preço do aparelho, com taxas de importação e outros impostos. Aqui, não temos muita fabricação, e mesmo os smartphones produzidos aqui são caros. Na China, eles são incrivelmente baratos. O país é um grande fabricante do produto. Lá você acha muitos modelos a US$ 100, em marcas locais, desconhecidas.
Quais são as outras razões?
Outra razão é o preço não do aparelho, mas do serviço de acesso à internet. Nossa infraestrutura é precária e cara. Consequentemente, os valores são altos e os serviços são ruins.
De quem é a culpa?
Em grande parte, a culpa é das operadoras, mas o governo também tem certa culpa, porque os processos licitatórios atrasam. Para instalar uma antena, é muito mais complicado aqui do que na China. Tudo isso faz com que o preço não seja compatível com a renda do brasileiro.
Existe também uma questão que é o comportamento do consumidor. A população brasileira ainda não percebeu o potencial dos smartphones. Na África do Sul, o aparelho é muito usado para fazer compras. Aqui, não.