Achados Econômicos

Arquivo : junho 2013

Governo não consegue mais agradar mercado e elevar gasto ao mesmo tempo
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Sílvio Guedes Crespo

Os protestos se espalham pelo Brasil num momento em que o governo já não consegue mais agradar o mercado e ao mesmo tempo manter o ritmo de expansão dos gastos sociais e ainda acomodar no orçamento as demandas da ampla coligação de partidos aliados, modelo que marcou os oito anos da administração Lula.

Nos dois mandatos do ex-presidente, o dinheiro que o governo federal tira do orçamento para pagar juros passou de R$ 59 bilhões em 2002 para R$ 92 bilhões em 2010 (valores corrigidos pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo, como os demais deste texto). A inflação anual caiu de 12,5% para 5,84% no mesmo período.

Enquanto isso, o câmbio oscilou sem grandes solavancos, com exceção de 2008, quando estourou a crise bancária dos Estados Unidos.

Esses três pontos – reserva de dinheiro para juros (o chamado superávit primário), inflação na meta e câmbio flutuante – são a receita básica para um governo se manter em paz com o mercado, ou seja, com bancos e grandes investidores. Os economistas chamam isso de “tripé” macroeconômico.

Paralelamente, o governo subsidia empresários. Toma dinheiro emprestado no mercado a juros altos e empresta a companhias a juros mais baixos, por meio do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Os desembolsos dessa instituição passaram de R$ 69 bilhões em 2002 para R$ 197 bilhões em 2010.

Investimento social

Mesmo agradando banqueiros e empresários, o governo Lula conseguiu colocar dinheiro na a área social.

O orçamento do programa Bolsa Família avançou de R$ 6 bilhões em 2003 para R$ 17 bilhões em 2010. O do Ministério da Saúde, de R$ 45 bilhões para R$ 70 bilhões; o da Educação, de R$ 42 bilhões para R$ 82 bilhões (sempre em valores atualizados pelo IPCA).

Ainda, o salário mínimo subiu 155% no governo Lula, bem acima da inflação, que foi de 60%. Com dinheiro para bancos, empresas e para a área social, Lula deixou a presidência em 1º de janeiro de 2011 com aprovação de 87%, um recorde mundial.

Chuva de dólares

Esse dinheiro todo começou a chegar ao Brasil pelas exportações. Produtos básicos, o ponto forte do país, ficaram mais caros no mercado internacional, em grande parte por causa do crescimento econômico da China. A venda de soja e de carne bovina ao exterior sextuplicou de 2001 a 2011, em valores. A do minério de ferro ficou 14 vezes maior.

A entrada de dólares no Brasil, combinada com a disciplina do governo para manter o tripé macroeconômico, animou investidores estrangeiros, que quintuplicaram seus aportes anuais no país na era Lula.

Ao mesmo tempo em que chegava dinheiro do exterior, o mercado interno crescia e gerava empregos formais e aumento de renda. Tudo isso facilitou a expansão do crédito e também o consumo das famílias. Consequentemente, a arrecadação de impostos também subiu.

Maus ventos

Hoje, a China já não cresce mais como antes, e a Europa, um dos grandes importadores de mercadorias brasileiras, não sai da crise.

Com isso, os produtos básicos ficaram mais baratos no mercado internacional. As exportações de minério de ferro, por exemplo, diminuíram 25% em 2012. Os investimentos estrangeiros diretos não caíram, mas também não subiram.

O emprego e a renda continuam em patamar historicamente alto. Mas, como a produtividade das empresas não aumentou na mesma proporção, a margem de lucro, especialmente da indústria, ficou prejudicada no ano passado. Investir na produção deixou de ser tão atraente.

Menos dinheiro

O consumo se mantém forte. Porém, a inflação aumentou e corrói o poder de compra de parte da população. Os preços medidos pelo IPCA subiram 6,59% nos 12 meses encerrados em março, sendo que o teto da meta do governo é de 6,5% no acumulado de janeiro a dezembro.

Contra esse problema, o Banco Central aplica seu remédio tradicional, que é o aumento de juros, o que significa mais despesas para o setor público.

O governo tentou reduzir o custo das empresas cortando tributos sobre a folha de pagamento. Só que a economia está demorando para reagir, de modo que a arrecadação de impostos sobe menos que as despesas públicas. União, Estados e municípios ficam relativamente com menos dinheiro.

Nessas condições, o poder público não consegue mais agradar o setor financeiro e os grandes empresários ao mesmo tempo em que aumenta investimentos na área social. O governo, no fim do ano passado, teve que recorrer a uma manobra contábil para tentar cumprir a meta de dinheiro reservado para pagar juros – o que foi mal visto por investidores.

Partidos

Enquanto o governo atendia a todos, os partidos foram ficando mais parecidos. Quem era pró-mercado prometeu aumentar o Bolsa Família e teve vergonha de defender privatizações. Quem tinha histórico mais socialista seguiu uma política monetária ortodoxa.

O eleitor possivelmente se confundiu com isso nesses anos todos, mas a economia ia bem. Agora que não há mais dinheiro público sobrando, os partidos terão que definir melhor de que lado estão.

***

Falando nisso, uma palavra sobre os atos. É notável que tem se difundido entre os manifestantes, com força e agressividade, uma visão antipartidos. Não me parece uma postura democrática.

Impedir que partidos se expressem é típico de ditaduras. Engana-se quem pensa que pode haver democracia sem liberdade de expressão e de associação. Não existem hoje sistemas políticos sem partidos. Se achar que viu algum, é porque se trata de sistema de partido único, ou seja, é uma ditadura.


Gasto com transporte público sobe mais de 30% entre pobres e cai 15% entre ricos
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Sílvio Guedes Crespo

Uma pesquisa recente do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) ajuda a entender por que parte dos manifestantes que se juntaram às passeatas dos últimos dias não faz questão de que o transporte público continue sendo ponto central dos protestos.

O estudo mostra que os gastos com transporte público subiram mais de 30% ao longo de seis anos entre as famílias com renda per capita de até meio salário mínimo. Já entre as famílias com renda superior a oito salários mínimos, houve queda de mais de 15%.

Quando se trata de despesas com transporte privado, a situação é oposta: o gasto dos mais ricos nesse item subiu mais de 20%, enquanto o dos mais pobres caiu 20%, como aponta o gráfico abaixo, reproduzido do estudo do Ipea.

Variação real dos gastos das famílias com transporte urbano, por faixa de rendimento medida em número de salários mínimos per capita

Apesar de o estudo ser de setembro de 2012, os dados se referem ao período de 2003 a 2009 (último ano em que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística realizou a Pesquisa dos Orçamentos Familiares).

É preciso deixar claro que a pesquisa se refere à variação de gastos, não de preços. Uma pessoa pode aumentar ou reduzir as despesas com um bem ou serviço sem que ele tenha ficado mais caro ou mais barato.

No caso dos mais pobres, a renda subiu mais que o preço do bilhete (o salário mínimo avançou 132,5% no período, e a tarifa de ônibus, 63,2%, na média das nove regiões metropolitanas analisadas pelo Ipea). Consequentemente, essa população que se locomovia pouco porque não tinha dinheiro nem para o ônibus, passou fazer mais viagens e também a gastar mais.

Outro detalhe: os números correspondem à renda per capita, não familiar. Uma família de quatro pessoas com renda total de dois salários mínimos (hoje R$ 1.356) tem uma renda per capita de meio salário mínimo; portanto, entra para o segmento mais baixo no recorte da pesquisa.

Saída individual

Os dados mostram que, para os mais ricos, pode parecer não haver sentido em brigar por um serviço que eles usam cada vez menos.

Para a classe média, também. Até as famílias com renda per capita de apenas dois salários mínimos aumentaram mais as despesas com transporte privado do que com o público no período, como aponta o gráfico acima.

“Está havendo um deslocamento de gastos do transporte público para o privado em todas as faixas de renda, com exceção dos mais pobres (renda per capita de até meio salário mínimo)”, resume Carlos Henrique de Carvalho, um dos autores do estudo.

Dito de outra forma, um movimento pela redução ou fim das tarifas só manterá adeptos no médio prazo se aqueles que hoje gastam mais com o transporte privado notarem que eles próprios serão beneficiados se o transporte público ficar mais atrativo.

Por enquanto, a saída individual gerou ao menos um problema coletivo, que são os congestionamentos, como apontou um outro estudo, também do Ipea. Em São Paulo, onde há 38 automóveis para cada 100 pessoas, o tempo médio de deslocamento entre a casa e o trabalho é de 43 minutos.


Mais de 90% dos fundos de renda fixa perdem para poupança e inflação
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Sílvio Guedes Crespo

Atualizado às 9h33 (acrescentado índice oficial de inflação)

Mais de 90% dos fundos de renda fixa oferecidos pelos grandes bancos de varejo às pessoas físicas renderam menos que a poupança e não acompanharam a inflação nos últimos 12 meses, segundo levantamento feito pelo blog Achados Econômicos.

Descontados a taxa de administração e o Imposto de Renda, somente três dos 232 fundos analisados cobriram a alta do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador oficial de inflação, que avançou 6,5% no período. Ou seja, menos de 2% das opções oferecidas aos clientes.

Em relação à poupança, que rendeu 6,2% nos 12 meses encerrados em maio, 12 fundos tiveram desempenho melhor (veja gráfico abaixo).

O fundo que ficou em primeiro lugar, da Caixa, obteve essa rentabilidade por um motivo excepcional: ganhou uma ação na Justiça e conseguiu recuperar parte de um dinheiro que havia investido em CDBs do falido Banco Santos.

Tendência é melhorar

Os números dão uma ideia do péssimo momento vivido pelos fundos de renda fixa. Leia abaixo a análise do professor de economia Pedro Raffy Vartanian, da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Para ele, a tendência é melhorar, com os aumentos recentes da taxa básica de juros, a Selic.

Do ponto de vista macroeconômico, os últimos 12 meses foram marcados por uma queda da taxa Selic justificada pela fraca atividade econômica e pela conjuntura internacional desfavorável.

O afrouxamento da política monetária associado aos reajustes salariais acima da inflação e aos choques de oferta resultou em elevação da inflação. Tivemos, portanto, um cenário pouco comum: uma queda acentuada da taxa de juros combinada com elevação dos preços.

Esta questão de ordem macroeconômica foi o principal determinante para que os fundos tivessem uma perda real.

Outra questão é que, com a taxa de juros em patamares baixos, a taxa de administração dos fundos corrói parte dos ganhos obtidos, reduzindo ainda mais a rentabilidade líquida.

Com o aumento da Selic, a situação irá melhorar. A rentabilidade dos fundos irá aumentar enquanto os preços cairão. Muito provavelmente os fundos terão um ganho líquido real. Ainda assim, não será muito significativo.

A recomendação para o investidor é atentar para a taxa de administração do fundo e tentar utilizar a tributação a seu favor, aplicando seus recursos para um período superior a dois anos e, assim, pagando 15% de imposto de renda.

Metodologia

O levantamento considerou todos os fundos de investimento de renda fixa (o que inclui as categorias Renda Fixa, Curto Prazo e Referenciado) para pessoas físicas, exceto os que fazem parte dos chamados “private banks”, voltados para grandes fortunas.

Entraram na pesquisa somente os fundos administrados pelos oito maiores bancos de varejo: Banco do Brasil, Itaú, Bradesco, Caixa Econômica Federal, Santander, HSBC, Citibank e Banrisul. Juntos, esses conglomerados têm 93% dos ativos dos bancos em operação no país.

A pesquisa contemplou o período de junho de 2012 a maio deste ano e descontou da rentabilidade a alíquota de Imposto de Renda de 17,5% para fundos de longo prazo e de 0,2% para os de curto prazo.


Grandes empresas gastam R$ 5 milhões para reter executivos após fusões
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Sílvio Guedes Crespo

As fusões e aquisições de empresas, que costumam provocar medo e apreensão em muitos funcionários, acabam sendo, também, uma oportunidade para um punhado de profissionais ganharem uma bolada, como aponta um estudo da consultoria Mercer.

Nas transações que envolvem valores acima de US$ 1 bilhão, as companhias têm destinado cerca de 0,25% desse valor (US$ 2,5 milhões, o que dá mais de R$ 5 milhões, pela cotação atual) em bônus para tentar reter os profissionais que consideram importantes.

Em operações menores, de até US$ 100 milhões, a proporção gasta para reter talentos é maior, ficando em torno de 2% desse valor (US$ 2 milhões, ou cerca de R$ 4 milhões).

Esse é o dinheiro gasto unicamente para evitar que os executivos considerados essenciais deixem a companhia antes de completar a fase de transição, sem contar possíveis aumentos no salário base e promoções.

Os valores se referem ao que é pago ao conjunto dos profissionais considerados importantes, e não a cada um deles.

A quantia que cada empregado recebe individualmente não foi divulgada. Porém, a pesquisa informa que os bônus para os profissionais considerados essenciais para o sucesso de longo prazo do negócio equivalem a nove vezes o salário mensal deles.

Este é o nível mediano dos bônus pagos a esses funcionários, mas há quem gaste mais para reter talentos. Um quarto das empresas pesquisadas ofereceu a eles mais de 15 salários no período pesquisado, normalmente (em 71% dos casos) pagos em até duas vezes.

Os bônus altos se explicam justamente por causa do clima de insegurança gerado nos processos de fusão ou aquisição. “Os prêmios devem ser grandes o suficiente para dissuadir os participantes de buscar outras oportunidades, ante a incerteza e a percepção de risco relacionadas aos seus empregos e carreiras”, disse a consultoria em relatório.


Rentabilidade em fundos DI varia de 2,5% a mais de 7%; compare
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Sílvio Guedes Crespo

Texto atualizado às 15h36

Os fundos de renda fixa do tipo DI – uma opção para quem quer segurança – têm, na média, acompanhado a inflação, garantindo que o investidor não perca poder de compra, segundo um levantamento da Fundação Proteste.

No entanto, por causa das altas taxas de administração, houve fundos que não renderam nem 3%, de acordo com a pesquisa. Ou seja, não cobriram nem metade da inflação, que está acima de 6% nos últimos 12 meses.

A entidade analisou todos os fundos DI para pessoa física com aplicação mínima de até R$ 25 mil, no período de março do ano passado a fevereiro de 2013.

A melhor opção encontrada foi o MB Master FI Referenciado DI, administrado pelo Banco Mercantil do Brasil, diz a Proteste. Esse fundo teve uma rentabilidade de 7,1%, já descontados o Imposto de Renda e a taxa de administração (veja tabela abaixo).

Os piores resultados constatados pela Proteste foi o Santander Classic FIC Referenciado DI, com uma rentabilidade de apenas 2,5% em um ano, e o Bradesco Hiperfundo FIC Referenciado DI, com 3,2%.

Destaques entre os fundos DI

AdministradorFundoTaxa de administração (% ao ano)Rentabilidade em 12 meses (%)*
Mercantil do BrasilMB Master FI Referenciado DI LP0,37,1
BTG PactualBTG Pactual Yield FI Referenciado DI Crédito Privado0,36,6
Brasil PluralPlural Capital Yield FI Referenciado DI0,36,6
BanrisulBanrisul Master FI Referenciado DI LP0,56,5
MapfreMapfre CGD Securities FI Referenciado DI0,456,3
  • * Março de 2012 a fevereiro de 2013
  • Rentabilidades líquidas de taxa de administração e Imposto de Renda


A diferença entre os ganhos dos dois é explicada basicamente pela taxa de administração, que, no caso do Mercantil do Brasil é de 0,3% ao ano. Já no fundo do Santander, é de 5%.

Isso não quer dizer que todos os fundos do Mercantil do Brasil sejam bons, nem que todos os do Santander são ruins. As taxas de administração variam muito, inclusive dentro de um mesmo banco. Hoje, elas podem significar a diferença entre ganhar ou perder da inflação.

Mais rentabilidade

Se for descontada não só a taxa e o imposto, mas também a inflação, os ganhos oferecidos pelos fundos DI foram de apenas 0,125% em um ano, pouco mais do que a poupança (0,07%), ainda de acordo com o cálculo da Proteste.

No entanto, com o recente aumento da taxa básica de juros, a Selic, o retorno dos fundos DI tende a aumentar, explica Pedro Raffy Vartanian, professor de economia da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Os fundos DI acompanham a taxa de juros dos Certificados de Depósitos Interbancários (CDI), papéis que os bancos emitem quando emprestam dinheiro uns aos outros. Essa taxa é atrelada à Selic, que por sua vez caiu de 12,5% ao ano, em julho de 2011, para 7,25% ao ano, em outubro do ano passado.

Como a Selic voltou a subir – agora está em 8% ao ano – a taxa de juros do CDI e, consequentemente, a rentabilidade dos fundos DI devem subir, analisa Vartanian.


PIB do Brasil volta a crescer mais que o do México, mas fica abaixo do esperado
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Sílvio Guedes Crespo

Texto atualizado às 15h29

Com indústria fraca, PIB ainda cresceu mais do que há um ano; em outros países, desacelerou

A economia brasileira cresceu menos do que o esperado por muitos analistas, o que foi considerado “muito ruim” pelo próprio governo, mas, comparativamente a outros países, voltou a caminhar a um ritmo mais rápido do que o de alguns emergentes.

Isso ocorreu porque o PIB (produto interno bruto) do Brasil estava muito fraco e, nesse caso, qualquer melhora já faz diferença. Já com outras nações em desenvolvimento, aconteceu o oposto: a alta havia sido intensa no início do ano passado, então ficou mais difícil continuar no mesmo ritmo (veja tabela ao final deste texto).

No primeiro trimestre de 2013, a economia brasileira cresceu 0,6% em relação aos últimos três meses de 2012 e 1,9% ante o período de janeiro a março do ano passado.

Um ano atrás, o Brasil estava lanterna do ranking dos emergentes, por ter crescido apenas 0,8% em relação ao primeiro trimestre de 2011.

Essa foi a principal mudança na comparação entre a economia do Brasil e a de outros países que já divulgaram suas contas nacionais deste início de ano.

Outra modificação no cenário está no fato de que a taxa de expansão do Brasil no primeiro trimestre, em relação a igual período de 2012, alcançou a dos Estados Unidos (1,8%). No entanto, os dados sobre a economia americana são preliminares e podem mudar amanhã (dia 30), quando o país divulga sua revisão.

Em relação às nações de crescimento rápido e à Europa, a situação se manteve: o Brasil continua se expandindo em ritmo bem inferior ao dos emergentes asiáticos (com exceção da Coreia do Sul, que subiu 1,5%), mas ainda superior ao da União Europeia (que, na verdade, encolheu 0,7%). Também segue atrás dos latino-americanos Chile e Peru, sempre na comparação com o primeiro trimestre do ano passado.

Na comparação com o último trimestre do ano passado, em que a economia brasileira cresceu 0,6%, algumas posições do ranking mudam. A Folha fez um levantamento mostrando que, nesse tipo de medição, o país ficou abaixo da Coreia do Sul e do Japão (que avançaram 0,9%) e acima do Chile e do México (0,5% cada).

Freio global

O PIB brasileiro cresceu mais neste início de ano, mas a partir de uma base fraca. Em 2012, conforme levantou o blog Achados Econômicos, a economia do país havia caído 25 posições no ranking mundial de crescimento econômico, ficando em 128º lugar. Naquele ano, o Brasil cresceu menos do que a média dos emergentes, da América Latina e do mundo.

Em 2013, a melhora do Brasil vai na contramão das maiores economias do planeta. Estados Unidos, China, Japão e União Europeia tiveram no primeiro trimestre um desempenho pior do que há um ano. O Reino Unido foi uma exceção, conforme aponta a tabela abaixo.

Variação do PIB (%) em comparação com um ano antes

País1º trimestre de 20121º trimestre de 2013
Brasil0,81,9
África do Sul2,11,9
Alemanha1,2-0,3
Argentina4,82,7
Chile5,64,1
China8,17,7
EUA31,8
França0,3-0,4
Grécia-6,2-5,3
Japão3,40,2
México4,30,8
Peru64,8
Reino Unido00,6
Rússia4,91,6
  • Fonte: Escritórios oficiais de estatísticas e BBC


Brasileiros são os mais otimistas com a economia, segundo ranking global
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Sílvio Guedes Crespo

Os brasileiros aparecem em primeiro lugar em um ranking internacional de otimismo econômico.

Otimismo econômico em países selecionados

País% da população que crê em melhora nas finanças pessoais
Brasil88
Venezuela73
China71
México61
Chile48
África do Sul45
Estados Unidos43
Argentina38
Austrália36
Canadá34
Alemanha26
Reino Unido24
Itália15
França14
Grécia13
Japão12
Espanha12
  • Fonte: Pew Research Center

O Pew Research Center, um instituto americano de pesquisas, perguntou, em 39 países, o que as pessoas achavam que iria acontecer com a sua situação econômica pessoal nos próximos 12 meses (veja tabela ao lado).

No Brasil, 88% disseram que a situação vai melhorar, um nível de otimismo que não foi registrado em nenhum outro país.

No ranking, os países mais otimistas são emergentes ou pobres. Imediatamente abaixo do Brasil aparece a Nigéria, seguida por Senegal, Venezuela e China.

Entre as nações ricas, os americanos são os mais otimistas com suas finanças (43% acreditam em melhora); franceses, gregos, japoneses e espanhóis são os mais pessimistas.

O otimismo dos brasileiros com suas finanças pessoais pode ser explicado pelo fato de que, apesar de a economia estar crescendo pouco, o desemprego se mantém em patamar historicamente baixo e a renda da população continua subindo (em ritmo cada vez mais lento, mas subindo).

Perguntados sobre a situação econômica do país como um todo, os brasileiros também estão entre os mais otimistas: 79% disseram crer que o cenário vai melhorar nos próximos 12 meses. Eles dividem a liderança com a população da China, onde 80% preveem melhora na economia.

É assim que eles respondem quando questionados sobre o que acham que vai acontecer. Se a pergunta é sobre como a situação está agora, no entanto, os brasileiros não estão tão na frente: 59% avaliam que o cenário atual está bom.

Esse percentual é mais alto do que o registrado em vários países ricos, mas não de todos. Fica atrás de Alemanha (onde 75% consideram boa a situação econômica), Canadá (67%) e Austrália (67%).

Desigualdade

No Brasil, 50% das pessoas acreditam que a desigualdade aumentou nos últimos anos. Somente em quatro países, entre os 39 pesquisados, houve um porcentual menor: Venezuela (40%), El Salvador (38%), Bolívia e Malásia (ambos com 32%).

Entre os países ricos, 80% da população acha que a desigualdade social vai aumentar. Já nos emergentes, 59% pensam assim.

A pesquisa completa está no site do Pew Research Center.


Renda do trabalhador cresce no menor ritmo desde 2004
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Sílvio Guedes Crespo

Texto atualizado às 10h50 (acrescentado trecho sobre trabalho formal)

A renda da população ocupada continua crescendo acima da inflação, mas o ritmo de alta teve uma forte desaceleração no início deste ano.

Nos quatro primeiros meses de 2013, o rendimento dos trabalhadores subiu a um ritmo de 2% ao ano, metade do verificado em 2012 (alta de 4,3%) e o menor nível desde 2004, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

É um ponto positivo que a renda ainda esteja subindo em um momento de PIB (produto interno bruto) fraco. Aliás, dois outros importantes indicadores do mercado de trabalho continuam muito bem: a informalidade está diminuindo e o desemprego segue em nível baixo.

Mas esses números têm evoluído mais lentamente, o que gera dúvidas sobre a sustentabilidade desse quadro. Enquanto a economia não dá sinais seguros de que vai para frente ou para trás, os empresários hesitam. Não aumentam os investimentos, mas também não demitem.

Os economistas do mercado financeiro também se mostraram pouco convencidos de uma retomada. No início do ano, estimavam que o PIB cresceria 3,5% neste ano; agora, já reduziram a projeção para menos de 3%.

No exterior, no entanto, ainda há quem aposte no Brasil. Se não houvesse, a Petrobras não teria captado US$ 11 bilhões no mercado internacional com uma taxa de juros abaixo da esperada por analistas.

Não que eles estejam plenamente satisfeitos com o governo. Em artigos na imprensa, já manifestaram descontentamento com as intervenções do governo na economia. Mas ainda assim continuam com seus aportes no setor produtivo brasileiro. Eles trouxeram US$ 64,1 bilhões ao país nos últimos 12 meses, volume superior ao verificado um ano antes (US$ 63,8 bilhões), segundo o Banco Central.


Número de greves no país em 2012 é o maior em 16 anos
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Sílvio Guedes Crespo

Texto atualizado às 13h36

Protesto de metalúrgicos na Grande SP em março de 2012

O Brasil teve em 2012 o maior número de greves dos últimos 16 anos, segundo o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos).

Foram 873 ocorrências, número que não era alcançado desde 1996, quando a pesquisa identificou 1.228 greves. Em relação a 2011, o aumento foi de 58%.

O Dieese contou 87 mil horas paradas no ano passado, maior nível desde 1990, ano em que os trabalhadores acumularam 117 mil horas de greve.

Principais reivindicações

(% do total)

Reajuste salarial40,7
Alimentação26,9
Plano de Cargos e Salários23
Participação nos lucros19
Salários atrasados18,3
Piso salarial16,2
  • Os números somam mais de 100% porque na mesma greve pode haver mais de uma reivindicação
  • Fonte: Dieese

As principais reivindicações foram reajuste de salário e introdução, manutenção ou melhoria do auxílio alimentação (veja tabela ao lado).

Os dados incluem as paralisações, que os pesquisadores chamam de “greves de advertência”, aquelas que são iniciadas já com data para terminar e normalmente duram um dia.

Ao contrário do que se poderia pensar, o aumento do número de greves, neste momento, não está relacionado à piora do mercado de trabalho, mas justamente ao oposto disso. Com o desemprego em baixa, os assalariados se sentem mais seguros para se manifestar. Do outro lado, os empregadores têm mais dificuldade de substituir seus funcionários.

Essa tese fica evidente quando se olha para os resultados alcançados e para as reações das empresas. No balanço do Dieese, nota-se que a maior parte das reivindicações (75%) foi atendida pelo menos parcialmente, ao mesmo tempo em que medidas patronais como desconto de salário ou ameaça de demissão foram mínimas (8% do total).

Em outras palavras, o poder de barganha dos assalariados aumentou, fato que é reforçado também por uma outra pesquisa do Dieese, segundo a qual 95% das negociações coletivas de salários no ano passado terminaram com reajuste acima da inflação. Em 2003, apenas 19% delas tiveram esse resultado.

“Gente que antes não fazia greve porque tinha sensação de insegurança com o emprego, agora está fazendo. Se os salários atrasam, os trabalhadores param mesmo”, disse Rodrigo Linhares, do Dieese.

Setor privado lidera

Os empregados do setor privado fizeram mais greves (53% do total) e foram mais bem sucedidos. Nesse segmento, 85% dos movimentos foram ao menos parcialmente atendidos e em menos de 2% os pedidos foram inteiramente rejeitados. Ainda no setor privado, quase 30% das greves terminaram com o compromisso de que as negociações prosseguissem após a volta ao trabalho, como indica a tabela abaixo.

Greves nos setores público e privado

ResultadoSetor privadoServiço públicoEstataisTotal
Reivindicações atendidas integralmente32%16,4%0%25%
Reiv. atendidas parcialmente52,8%46,8%47,6%50,2%
Reiv. rejeitadas1,6%11,9%4,8%5,6%
Prosseguimento das negociações29,8%39,3%47,6%34%
  • Fonte: Dieese

As colunas somam mais de 100% porque algumas vezes as reivindicações são parcialmente atendidas durante a greve e, ao mesmo tempo, os empregadores dão prosseguimento às negociações após a volta ao trabalho.

O estudo também mostra que a reação dos empresários foi menos incisiva do que a das autoridades públicas. Apenas um terço dos casos registrados no setor privado foi parar na Justiça; no setor estatal, a proporção foi de 41%.

Investimentos

O fato de os assalariados terem obtido sucesso nas negociações coletivas de salário representa uma conquista no curto prazo. A dúvida é se tal situação é sustentável por um período mais longo.

Para que as empresas paguem bem aos funcionários e se mantenham competitivas, é necessário que a produtividade acompanhe os reajustes salariais. Do contrário, as companhias podem perder espaço no mercado internacional.

O governo cortou impostos sobre a folha pagamento de diversos setores, mas essas medidas não foram suficientes, pelo menos até o fim do ano passado, para estimular os empresários a investirem mais. Ao contrário, ao mesmo tempo em que os empregados conseguiram reajustes acima da inflação, os investimentos caíram de 19,3% do PIB (produto interno bruto), em 2011, para 18,1%, em 2012.


Gasto de brasileiros no exterior aumenta mais de 10 vezes desde 2003
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Sílvio Guedes Crespo

Atualizado às 15h30 (acrescentada análise a partir do 7º parágrafo)

Os gastos dos brasileiros no exterior continuam aumentando apesar da fraca atividade econômica nacional. Nos últimos 12 meses, atingiram US$ 23 bilhões, ou dez vezes mais do que em 2003 (US$ 2,1 bilhões).

Esse aumento não tem sido acompanhado, na mesma proporção, pelas exportações brasileiras (que quadruplicaram no período) nem pelos investimentos estrangeiros no país (que quintuplicaram).

Visto de outra forma, para cada US$ 10 que entraram no país por meio de exportações nos últimos 12 meses, US$ 1 saiu na forma de gastos de turistas. Ou ainda, para cada US$ 10 que chegaram como investimento de multinacionais, US$ 3,62 saíram nas viagens de  brasileiros ao exterior.

Os gastos do brasileiro lá fora contribuíram, junto com a queda das exportações, para que as transações do Brasil com o resto mundo ficassem negativas em US$ 70 bilhões nos últimos 12 meses.

O tema é delicado porque as despesas de turistas no exterior, ao mesmo tempo em que poderiam representar uma preocupação para o país do ponto de vista macroeconômico, são também uma conquista para os que conseguem, pela primeira vez na vida, conhecer outras nações.

O turismo, dentro ou fora do país, é uma atividade que gera um retorno pessoal incomensurável, algo que não pode ser medido apenas pelos gastos no cartão de crédito. Não é desejável que as viagens sejam desestimuladas apenas para o país colocar equilibrar suas contas externas. Mas é necessário que esse equilíbrio seja alcançado por outros meios.

Por que ficou mais fácil viajar

Passear no exterior se tornou uma atividade acessível a cada vez mais brasileiros à medida que melhoravam as contas externas do país, entre outros fatores. Mais especificamente, à medida que aumentavam os preços dos produtos básicos no mercado internacional.

Como a soja, a carne e o minério de ferro ficaram mais caros, os exportadores brasileiros nem precisariam aumentar a produção se quisessem ganhar mais dinheiro. Mas eles produziram mais e, com isso, passaram a ganhar muitas vezes mais.

Em volume, as exportações de soja dobraram de 2001 a 2011; em dólares, sextuplicaram. Com a carne bovina ocorreu o mesmo. No caso dos minérios de ferro, a alta em volume foi de 112%, e em dólares, de 1.326%.

Vendas ao exterior trazem dólares para o país. Como elas subiram com muita força na década de 2000, contribuíram para um ciclo virtuoso de desenvolvimento que durou pelo menos até 2011, mas se desacelerou no ano passado.

Os dólares trazidos pelas exportações mais do que compensavam os que saíam por causa das importações e dos gastos com serviços no exterior. Em outras palavras, o volume que entrava era superior ao que saía.

Esse equilíbrio das transações do Brasil com o resto do mundo contribuiu para dar segurança aos empresários internacionais, que passaram a colocar cada vez mais dinheiro no país. Os investimentos estrangeiros diretos subiram de US$ 10 bilhões, em 2003, para US$ 67 bilhões, em 2011.

Todo dinheiro do exterior que chega ao Brasil é imediatamente trocado por reais para circular aqui dentro. A demanda pela moeda nacional, portanto, aumentou mais do que a oferta nesse período em que choviam dólares na forma de investimento estrangeiro e de aumento das exportações.

O real, em consequência, passou a valer mais. Comprar produtos estrangeiros ficou mais barato; viajar ao exterior, também. Isso para não falar que os investimentos estrangeiros contribuíram para gerar emprego e renda no país. A taxa de desemprego caiu para patamares historicamente baixos, e a renda média da população subiu acima da inflação.

Mudança de rumo

A boa fase das contas externas brasileiras nos últimos meses deu lugar a um momento de apreensão. Os preços dos produtos que o Brasil exporta já não sobem mais como naquele tempo. Em 2012, a exportação de minério de ferro foi igual à do ano anterior em volume; mas, em dólares, diminuiu em US$ 10 bilhões (ou 25%). (No caso de soja e carne, houve aumento, mas de US$ 1,5 bilhão no total, não compensando as perdas com minério).

Ao mesmo tempo, as importações continuam fortes porque a indústria nacional é pouco competitiva no atual cenário. E os turistas, como citamos aqui, continuam gastando bastante no exterior.

Esses e outros fatores fizeram com que a saída de dólares passasse a aumentar mais do que a entrada. Até alguns meses atrás, isso não era um grande problema, pois os investimentos estrangeiros ainda compensavam o dinheiro que saía por meio das importações de bens e de serviços. Porém, já não são mais suficientes.

As empresas de outros países investiram US$ 64 bilhões no Brasil nos últimos 12 meses, mas outros US$ 70 bilhões deixaram o país por meio do comércio de bens e serviços.

O Brasil é capaz de aguentar um rombo desse tipo nas contas externas por algum tempo, pois tem US$ 379 bilhões em reservas. Além disso, o país continua sendo capaz de atrair capital especulativo. Mas não é recomendável que queime reservas ou alimente especuladores para compensar o que os brasileiros  gastam em viagens ou com produtos importados. Nem que continuemos dependentes dos preços dos produtos básicos no mercado internacional.

Mais adequada será uma política que torne o país mais atraente para investimentos estrangeiros diretos (a concessão dos serviços de infraestrutura pode contribuir para isso) e reduza custos para o setor produtivo nacional. Ainda, a exploração do petróleo da camada pré-sal também pode ajudar a trazer dólares ao país ou diminuir a dependência de importação desse produto.