Achados Econômicos

Arquivo : fevereiro 2014

Indústria demite 2,5% dos empregados em 2 anos e ganha produtividade
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Sílvio Guedes Crespo

foto industria fernando donasci uol

Após dois anos seguidos de demissões, a indústria brasileira voltou a ganhar produtividade, de acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

O setor reduziu seu pessoal ocupado em 1,4% em 2012 e em 1,1% no ano passado, o que dá uma diminuição acumulada de 2,5% nos últimos dois anos.

Ao mesmo tempo, a produção industrial caiu 2,5% em 2012 e cresceu 1,2% em 2013, ou seja, acumulou uma queda de 1,4% no período.

O emprego diminuiu mais do que a produção. Isso quer dizer que a indústria aumentou a produtividade do trabalho, ou seja, que hoje cada funcionário industrial produz, em média, um pouco mais do que há dois anos.

Uma visão mais precisa da produtividade nós temos quando analisamos não a quantidade de trabalhadores, mas o número de horas pagas.

Em 2010, a produção industrial cresceu 10,5%, enquanto o número de horas pagas aumentou apenas 4,1%. O crescimento da produtividade do trabalho – que é quanto a produção avançou a mais do que as horas pagas – foi de 6,1%.

A partir de 2011, no entanto, o setor murchou. A produção cresceu 0,4% naquele ano, e as horas pagas, 0,3%. A produtividade ficou praticamente estagnada.

Em 2012, quando a produção caiu 2,5%, as horas pagas caíram 1,9%. Logo, a produtividade caiu 0,6%.

No ano passado, a indústria aumentou a produção em apenas 1,2%, de modo que a produtividade do trabalho cresceu 2,4%.

Existem várias formas de aumentar a produtividade. A melhor delas é fazer a produção crescer mais do que o número de horas pagas, como ocorreu em 2010. A pior é fazer o número de horas pagas diminuir mais do que a produção – foi o que aconteceu no biênio 2012-2013.

A opção por reduzir o trabalho mais do que a produção é uma tentativa de se adaptar à nova realidade do país, de crescimento econômico baixo. Como os custos de demissão são altos por causa da legislação trabalhista, as demissões indicam que os empresários preveem uma atividade fraca por mais algum tempo.

Folha de pagamento

O curioso é que, mesmo reduzindo o número de horas pagas, a folha de pagamento da indústria continuou aumentando. Subiu 1,2% no ano passado e acumulou uma alta de 5,7% desde 2012.

Isso ocorreu porque o desemprego seguiu em baixa em 2013. O que a indústria demitia, os serviços absorviam. Portanto, a pressão sobre os não diminuiu. Os reajustes salariais que a indústria se viu forçada a conceder mais do que compensaram a economia que as empresas industriais tentava, fazer por meio do corte de custos.

Em novembro do ano passado, no entanto, a indústria conseguiu reduzir, pela primeira vez desde 2010, reduzir a folha de pagamento por trabalhador.


Preços de 78 produtos sobem mais que o dobro da inflação; veja lista
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Sílvio Guedes Crespo

Com alta de 61%, o preço do chá é um dos que mais subiram

Com alta de 61%, o preço do chá é um dos que mais subiram

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Os preços de 78 produtos e serviços, nos últimos 12 meses, subiram mais do que o dobro da inflação, que foi de 5,59% no período, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

No total, o IBGE pesquisa, em seu índice oficial, 373 produtos e serviços, dos quais 331 ficaram mais caros nos últimos 12 meses e outros 42 tiveram queda de preço.

Entre os produtos que mais subiram, a maior parte é de alimentos. O pão francês e o macarrão ficaram 15% mais caros em um ano. A farinha de trigo aumentou 27%, e a tangerina, item com maior alta de todos os pesquisados, disparou 70%.

 

Acima da inflação – produtos selecionadosVariação em 12 meses (%)
 TANGERINA69,94
 CHÁ60,76
 FARINHA DE TRIGO27,36
 CENOURA22,25
 ABACAXI19,91
 MELANCIA16,83
 MACARRÃO15,07
 PÃO FRANCÊS14,78
 AZEITE DE OLIVA14,04
 ESTACIONAMENTO13,01
 CIGARRO12,9
 QUEIJO12,78

 

Na outra ponta, entre os bens e serviços com maior redução de preço estão o feijão-mulatinho (-25%, maior queda entre as mercadorias pesquisadas), a passagem aérea (-14%) e o açúcar refinado (-12%).

 

Abaixo da inflação – produtos selecionadosVariação em 12 meses (%)
 FEIJÃO-MULATINHO-25,49
 FEIJÃO-CARIOCA (RAJADO)-24,59
 TOMATE-18,54
 PASSAGEM AÉREA-14,06
 AÇÚCAR REFINADO-11,81
 AUTOMÓVEL USADO-2,16
 TELEVISOR-1,81
 TELEFONE FIXO-0,95
 ÔNIBUS URBANO-0,3
 METRÔ0,01
 PEDÁGIO0,21

 

A lista completa pode ser baixada no site do IBGE.

Opinião

Os preços que mais têm subido são os dos produtos que as pessoas compram diária ou semanalmente, como o pão, o queijo e outros alimentos, a refeição fora de casa, o estacionamento etc.

Já os preços que, segundo o IBGE, caíram ou subiram menos que a média, são os de mercadorias ou serviços com os quais a gente se depara menos, como passagem aérea (-14,06%), automóvel novo (alta de 2,68% em 12 meses) e usado (queda de 2,16%), moto (+1,14%), televisão (-1,81%) e outros.

Há, ainda, os preços controlados pelo governo, entre os quais se incluem emplacamento e licença de veículos (-3,39%), multa (0%), pedágio (0,21%), correio (1,66%) e telefone fixo (-0,95%). De acordo com a Tendências Consultoria Integrada, os preços administrados variaram em média 2,13% em um ano, enquanto os livres subiram 6,63%.

Esta pode ser uma explicação para a sensação, que em geral temos, de que a inflação é muito maior do que dizem os institutos de pesquisas. Quando vamos ao supermercado, à padaria e aos restaurantes, vemos reajustes bem maiores do que 5,59%.

É verdade que há alimentos na lista das maiores quedas, como o tomate. Mas o preço de determinadas frutas varia muito, tanto para cima quanto para baixo. O próprio tomate, no começo do ano passado, era um dos líderes de inflação, segundo o mesmo IBGE.

Tenho notado que, a cada notícia sobre inflação publicada no UOL, muitos leitores dizem que os dados estão errados. Acredito que a grande dispersão dos resultados, com os preços do dia a dia subindo mais que o dobro da inflação e outros bens em queda, provoque essa sensação.

Quando converso com economistas, não vejo a mesma desconfiança que os leitores têm em elação aos índices de preços. Há críticas quanto a outros dados do governo, particularmente aqueles relativos ao superavit primário – dinheiro que o governo destina ao pagamento de juros da dívida pública.

Existem, ainda, reclamações em relação à forma de classificar os desempregados. Por exemplo, as pessoas que não têm emprego e deixaram de procurar trabalho porque perderam a esperança são consideradas inativas pelo IBGE, e não desempregadas. (Tal metodologia, por sinal, está sendo revista.)

Mas em relação à inflação, vejo economistas de diferentes matizes ideológicas trabalhando com os dados do IBGE. Investidores, analistas e consultores usam esses números para tomar decisões ou fazer recomendações aos seus clientes.

O Fundo Monetário Internacional (FMI), que fez uma reclamação formal sobre o cálculo da inflação na Argentina, usa os índices de preços do Brasil em seus estudos, sem objeções.

A revista “The Economist”, que deixou de publicar semanalmente a inflação da Argentina, por desconfiar dos dados, não fez questionamentos aos números oficiais do Brasil.

A primeira coisa que se deve fazer para saber se o IBGE está ou não informando corretamente os preços é comparar seus dados com os de outras instituições.

Enquanto o IPCA registrou alta de 5,59% nos últimos 12 meses, o IGP-M e o IPC-S, ambos calculados pela Fundação Getulio Vargas (FGV), marcaram aumento de 5,66% e de 5,61%, respectivamente.

O IPC da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), que mede a inflação em São Paulo, constatou reajuste de 3,66% no mesmo período. O Índice do Custo de Vida (ICV), do Dieese, marcou alta de 6,04% nos preços.

Temos, então, os indicadores da FGV, da Fipe e do Dieese registando uma variação próxima à do IBGE. A diferença entre o índice oficial e os demais é pequena, se considerarmos que as pesquisas têm metodologias diferentes e, por isso mesmo, não devem trazer resultados idênticos.

É preciso lembrar, ainda, que os índices de inflação refletem o que os institutos acreditam ser o hábito de consumo médio das pessoas. Por exemplo, o IBGE considera que a alimentação em casa representa 16% dos gastos mensais de uma família, e que as refeições fora correspondem a 8,5%.

Se uma pessoa almoça e janta fora todo dia, e quase não come em casa, a inflação dos produtos que ela consome certamente vai ser maior, pois a refeição fora de casa subiu mais. Se ela sempre deixa o carro em estacionamentos, também vai sentir um pacto maior no bolso.

Para saber, definitivamente, se as pesquisas de inflação refletem ou não o que cada um vê no dia a dia, a melhor dica é de um leitor que assina como Dinto:

“Esse índice é confiável ou não? Depende! Cada família tem o seu ‘índice de inflação próprio’. Dá um pouco de trabalho, mas é muito simples: em um mês, anote TUDO MESMO em que você gastou o seu rico dinheirinho. No mês seguinte, faça a mesma coisa e compare, mas com a mesma quantidade de produtos. Essa é a SUA inflação, sem viés e sem categorização por classe de consumo.”


Dilma poupa menos que Lula e mais que FHC para pagar juros
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Sílvio Guedes Crespo

Atualizado às 9h28*

Lula, Dilma e FHC ao embarcar para o velório de Mandela, em dezembro

Lula, Dilma e FHC antes de embarcar para o velório de Mandela, em dezembro

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Com ou sem truques contábeis, nos três primeiros anos do governo Dilma Rousseff as contas do país ficaram menos equilibradas do que no período do seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, e mais do que no tempo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

Se avaliarmos desde Fernando Collor de Mello, o período em que o país manteve suas contas públicas mais equilibradas foi o de Lula, seguido por Itamar Franco, Dilma, FHC e, por último, Collor.

Esse ranking é confirmado tanto pelos dados que o governo anuncia quanto pelos números que neutralizam a prática conhecida como “contabilidade criativa” – o uso de medidas não convencionais para inflar o registro das receitas e reduzir o das despesas.

Em 2013, o governo federal e o Banco Central reservaram R$ 75 bilhões de suas receitas (inclusive as extraordinárias) para pagar juros, o que equivale a 1,6% do PIB (produto interno bruto). Na média dos três anos de Dilma, a proporção ficou em 1,9% do PIB.

Nos oito anos de Lula, a média foi de em 2,2% (sendo 2,4% no primeiro mandato e 2% no segundo). No período FHC, foi de 1,1% (0,3% no primeiro e 1,9% no segundo). Com Itamar, a proporção ficou em 2%, e com Collor, 1%.

superavit primario por presidente 1

Deve-se notar, porém, que, desde 1999, quando foram criadas as metas, o superavit primário vinha caminhando bem, sempre em torno de 2%, 3% ou mais, o que possibilitou diminuição da dívida como proporção do PIB. No governo Dilma, no entanto, o superávit primário recuou para menos de 2% do PIB, o que não ocorria desde 1998.

supravit primario historico

‘Contabilidade criativa’

Nos últimos anos, o governo tem sido criticado por antecipar receitas para aumentar o superávit primário. Por exemplo, as estatais iriam pagar dividendos ao Tesouro em 2013, mas o governo decidiu que elas antecipassem o pagamento para dezembro do ano anterior, de modo que as contas ficassem equilibradas nas planilhas de 2012.

Além disso, não entram na conta os gastos do governo com empréstimos subsidiados, observa o economista Felipe Salto, da Tendências Consultoria Integrada. “É por meio da contabilização das receitas [antecipadas de dividendos] e da não contabilização dos subsídios das operações do BNDES, por exemplo, que o Tesouro fabricou os montantes elevados de dividendos nos últimos anos”, afirma (leia entrevista mais abaixo).

Desse modo, ele calcula o Primário Efetivo Tendências (PET), série de dados que mostra qual seria o superávit primário do setor público se o governo não antecipasse dividendos nem deixasse de contabilizar os empréstimos subsidiados.

O PET desconta, ainda, a receita de R$ 32 bilhões que o Tesouro teve com a Petrobras em 2010. Naquele ano, a estatal pagou R$ 75 bilhões ao governo, que, em contrapartida, colocou R$ 43 bilhões na companhia para manter-se como sócio majoritário após a capitalização da petrolífera.

pet

Pela série PET, o superávit primário médio do setor público durante o governo Dilma cai de 2,5% para 2,1% do PIB. Já no período Lula, desce de 3,2% para 3%. Esses dados se referem às contas da União, Estados, municípios e estatais. O PET não tem uma série apenas para o governo federal.

Outra crítica à política atual se refere ao uso de receitas extraordinárias para fazer superávit primário, como as concessões de infraestrutura, os leilões do pré-sal e o Refis, programa que deu desconto para as empresas quitarem antecipadamente suas dívidas com a União.

A analista de finanças públicas Vilma da Conceição Pinto, da Fundação Getulio Vargas, calculou o esforço fiscal do setor público, ou seja, quanto foi reservado dos impostos para pagar juros. Como Salto, da Tendências, ela descontou as antecipações de dividendos e o pagamento da Petrobras. A diferença é que ela retirou, também, as receitas extraordinárias com concessões, outorgas e Refis, conforme o gráfico abaixo.

superavit primario decomposto fgv vilma conceicao pinto 01

De acordo com esse cálculo, o setor público fez um esforço fiscal de apenas 1,6% do PIB durante o governo Dilma e de 2,9% no período Lula. A série se inicia em 1997, de modo que não se pode calcular a média de todo o governo FHC. Nos seis anos disponíveis (1997-2002), o esforço fiscal foi de 1,5% do PIB.

Entrevista

O economista Felipe Salto, da Tendências, deu a seguinte entrevista a este blog.

Sílvio Crespo: O governo FHC fez um esforço fiscal menor do que o governo Dilma. Por que, então, as críticas de que ela está sendo mais leniente com esse problema?

Felipe Salto: São dois momentos diferentes. Em primeiro lugar, as metas anuais de superavit primário só vieram em 1999. Então, você pode comparar os dois períodos (Dilma e FHC), mas tem que fazer essa ressalva.

SC: Por quê?

O ponto é: naquele momento, era possível gerar um superavit primário de 3% do PIB? Com crescimento baixo, sem regras anuais, sem a renegociação da dívida dos Estados, não havia condições. A Lei de Responsabilidade Fiscal é de maio de 2000. Antes disso, não tínhamos condições.

O que dá para criticar é que as metas de superavit primário poderiam ter sido estabelecidas desde 1994. Naquela época já se sabia que, mesmo controlando a inflação inercial, seria necessário controlar a parte fiscal.

SC: Como o senhor vê a situação atual?

FS: Hoje, a crítica é outra. Uma vez que já existia um regime funcionando, o governo abandonou essas regras e não colocou nada no lugar.

O custo da dívida está aumentando a todo vapor. As taxas bateram quase 7%, mesmo nos títulos mais longos. O mercado está dizendo: ‘Esse regime fiscal novo é pior. Gera um esforço fiscal menor’.

Opinião

Dilma abandonou um regime que estava dando certo, como disse Felipe Salto.

Não faltam sinais de que a “nova matriz econômica” não deu frutos. Durante o atual governo, o PIB desacelerou, a inflação aumentou, as contas externas pioraram, a indústria encolheu e os juros voltaram a subir. O modelo precisa mudar.

Isso posto, não custa lembrar um pouco do nosso passado. FHC, um defensor da responsabilidade fiscal, enfrentou uma situação interna e externa adversa durante o seu governo. Mas, no seu primeiro mandato, quando o superavit primário federal foi de apenas 0,3% do PIB, o presidente tinha também outro objetivo muito claro: convencer o Congresso a aprovar a reeleição.

De 1991 até hoje, o único ano em que o governo federal não conseguir fazer superavit primário foi 1997, quando a emenda da reeleição passou no Legislativo.

* Acrescentado o item ‘Opinião’ às 9h28


Indústria no governo Dilma tem pior desempenho desde Collor
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Sílvio Guedes Crespo

Atualizado às 14h15*

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A indústria brasileira encolheu em média 0,3% ao ano desde 2011, de acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

O setor cresceu 0,4% em 2011, recuou 2,5% em 2012 e recuperou parte das perdas no ano passado, ao avançar 1,2%.

Comparando a evolução da indústria dentro do período de cada um dos recentes presidentes da República, a média anual do governo Dilma Rousseff é a pior desde Fernando Collor de Mello.

producao industrial por presidente

producao industrial anual 1

O número referente ao período Collor inclui apenas o ano de 1992, quando se iniciou a medição da produção industrial pela atual metodologia.

De toda a série histórica da pesquisa, o ano de maior queda da indústria foi 2009, quando a produção encolheu 7,4%. Na época, o mundo sofria as consequências da crise bancária dos Estados Unidos.

Em 2010, no entanto, a indústria brasileira teve uma forte recuperação, crescendo 10,5% – melhor desempenho desde o início da coleta de dados, em 1992.

Com isso, o crescimento médio do setor ao longo dos oito anos de governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi de 3,2% ao ano. Nos dois mandatos do período Fernando Henrique Cardoso, a alta anual foi de 1,9%. Nos dois anos de Itamar Franco, a indústria cresceu 7,5% ao ano.

Análise

A produção industrial é mais um indicador que confirma o fim do ciclo de crescimento que o Brasil conheceu na década de 2000.

Com exceção do mercado de trabalho, que continua aquecido, a maior parte dos indicadores econômicos apresentou piora nos últimos anos.

A indústria brasileira, especificamente, vem perdendo espaço para outros setores há décadas. O crescimento registrado nas décadas de 1990 e 2000 foi muito inferior ao restante da economia. A decadência se acentuou nos últimos anos.

Em meados da década de 1980, a indústria era responsável por 27% do PIB (produto interno bruto) do país. Desde então, a proporção está praticamente em queda livre, como indica o gráfico abaixo, extraído de um estudo recente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).

participacao-da-industria-no-pib-fiesp

Houve um voo de galinha no início da década de 2000, mas em seguida o setor voltou a perder importância em comparação com a economia geral, de modo que hoje a indústria equivale a cerca de 13% do PIB – mesmo patamar de 1955, quando o então presidente Juscelino Kubitschek lançou um plano de industrialização do país.

Aqui, vale uma explicação: a indústria brasileira não é, hoje, menor do que em 1960, 1980 e nem do que em 2009. É maior, mas tem crescido menos que os demais setores, de modo a perder participação no PIB.

Tem avançado menos, também, em comparação com a indústria de outros países emergentes. Em 1980, as exportações de produtos brasileiros correspondiam a 0,9% de todos os produtos comercializados mundialmente, proporção superior à de mercadorias chinesas (0,7%), mexicanas (0,4%) e coreanas (0,3%).

Hoje, as exportações brasileiras equivalem a 1,3% do comércio mundial, número inferior ao dos produtos chineses (11%), coreanos (3%) e mexicanos (2%).

exportacoes paises emergentes

“Isso mostra que os ministros da Fazenda não resistem à tentação de controlar a inflação por meio do câmbio”, disse recentemente o economista Antônio Delfim Netto, ele próprio um ex-ministro da Fazenda, de 1967 a 1974.

De fato, quando a hiperinflação foi eliminada, em 1994, o governo manteve o real forte enquanto pôde, para deixar os produtos importados mais baratos. O problema é que, consequentemente, os produtos nacionais ficam mais caros, em comparação com os estrangeiros. Os consumidores, nesses casos, acabam optando pelo que vem de fora, minando a indústria nacional.

O governo só conseguiu segurar o câmbio por quatro anos. Nossa indústria não conseguia exportar no mesmo ritmo em que as importações aumentavam. Resultado: saíam mais dólares do que entravam no país. Investidores perceberam que, cedo ou tarde, faltaria moeda americana no Brasil e resolveram especular contra o real. Em 1999, o mercado venceu, e o real foi desvalorizado.

No início da década de 2000, no entanto, a China acelerava seu crescimento e importava cada vez mais matérias-primas brasileiras. Nossas exportações dispararam. Avançaram bem mais do que as importações, de modo que os dólares voltaram a chegar. Consequentemente, o real se fortaleceu, e os produtos importados ficaram mais baratos. Assim, o câmbio ajudou a controlar a inflação durante o governo Lula. A situação estava tão boa, com expansão do crédito, que a indústria cresceu um pouco mesmo assim – mas menos do que a economia do país como um todo.

Hoje, como a China já não cresce mais tanto, e a Europa está em crise, ficou mais difícil exportar produtos brasileiros. Os dólares, em vez de entrarem, têm saído do país, aos poucos. Para piorar, os EUA estão emitindo cada vez menos moeda no mercado, pois acreditam que estão se recuperando da crise.

A consequência é que o dólar está subindo, o que tem seu lado positivo. Se por um lado o governo não consegue mais usar o câmbio para segurar a inflação, por outro os produtos nacionais ficam mais baratos, no comércio internacional. Isso pode significar uma ajuda para a indústria.

Há quem reclame que os salários dos operários estejam altos demais no Brasil. Outros põem a culpa na carga tributária. Mas a indústria alemã, por exemplo, paga salários mais altos, tem a mesma carga tributária que a nossa e convive com uma moeda forte – e a Alemanha é um dos maiores exportadores do mundo.

O que nos falta, provavelmente, é eficiência – dentro e fora da fábrica. Fora, devemos melhorar a infraestrutura do país, a burocracia e a qualificação profissional. Para aumentar a produtividade dentro da fábrica, no entanto, é preciso que o país se abra para a concorrência externa. Quem vive protegido pelo Estado tem menos estímulos para trabalhar melhor.

* Acrescentado o item ‘Análise’ às 14h15


País gasta mais de R$ 1 tri em cinco anos com juros da dívida pública
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Sílvio Guedes Crespo

Atualizado às 15h04*

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O Brasil gastou mais de R$ 1 trilhão nos últimos cinco anos com pagamento de juros da dívida pública, mostram dados do Banco Central divulgados nesta sexta-feira, 31.

No total, o setor público brasileiro teve uma despesa de R$ 249 bilhões em 2013 com juros. É o maior valor anual desde pelo menos 2002, quando o BC iniciou o registro desses dados pela metodologia atual. Se atualizarmos pela inflação, no entanto, o maior valor da série é o de 2011 (R$ 265 bilhões).

De 2009 a 2013, os gastos com juros somaram R$ 1,065 trilhão. Corrigido pela inflação, esse valor equivale hoje a R$ 1,190 trilhão.

Em média, cada um dos 94 milhões de brasileiros com ocupação remunerada gastou, indiretamente, R$ 11 mil no período para pagar os credores do governo, o que dá mais de R$ 2 mil por ano por pessoa.

gastos com juros - legenda

Parte do dinheiro usado para pagar juros vem da arrecadação dos governos federal, estaduais e municipais com impostos e itens extraordinários (como receita de privatizações e concessões).

Outra parte é obtida por meio da rolagem da dívida – processo em que o governo toma dinheiro emprestado para pagar juros.

No ano passado, União, Estados e municípios destinaram R$ 91 bilhões do seu orçamento para a dívida. Esse esforço fiscal é chamado de superavit primário.

Como os juros somaram R$ 249 bilhões em 2013, ficaram faltando R$ 158 bilhões para pagar os credores. Este último valor, chamado de deficit nominal, ou necessidade de financiamento nominal, corresponde ao que o governo precisou tomar emprestado para honrar seus compromissos.

Gastos do setor público com juros

Item2013 (R$ bi)2009 a 2013, em valores da época (R$ bi)2009 a 2013, em valores atuais (R$ bi)
Parte da arrecadação do governo usada para pagar juros91,3491,4550,0
Dinheiro que o governo tomou emprestado para pagar juros157,5574,3640,1
Total de gastos com juros248,91.065,81.190,1
  • Fonte: Banco Central

Opinião: gasto alto, mas necessário

Como se pode ver, a maior parte dos juros tem sido paga por meio da rolagem, ou seja, por meio da criação de novas dívidas. O governo toma dinheiro emprestado de uns para pagar outros.

De 2009 a 2013, os juros somaram R$ 1,1 trilhão, como foi dito, mas apenas R$ 491 bilhões foram pagos com dinheiro arrecadado com impostos e outras fontes. Os demais R$ 574 bilhões vieram de novas dívidas.

É verdade que R$ 491 bilhões não são uma quantia desprezível, ao contrário. Há, inclusive, quem argumente que o governo deveria usar parte desse valor para investimentos, programas sociais ou corte de impostos.

O problema é que. se o setor público aumenta a dependência de rolagem da dívida – e isso tem ocorrido nos últimos anos –, o risco de emprestar dinheiro ao governo também sobe. Consequentemente, a taxa de juros que os investidores cobram tende a aumentar também, criando um ciclo vicioso.

Dito de outra forma, a tendência é de que, quanto menos dinheiro de impostos o governo gastar hoje com dívida, mais terá que gastar no futuro. Além disso, existem as consequências de curto prazo. Se os investidores notam que o controle da dívida (e outras responsabilidades do governo) não está sendo levado a sério, eles investem menos no setor produtivo, o que contribui para frear o PIB (produto interno bruto).

Ainda se poderia dizer que a dívida líquida do governo tem diminuído como proporção do PIB, o que é verdade. Mas o problema, neste momento, não é a dívida líquida, e sim a bruta.

A dívida líquida se refere a tudo o que o governo está devendo menos tudo o que estão devendo ao governo. A bruta é só o que o governo deve.

A dívida bruta tem aumentado porque o governo toma dinheiro emprestado, a juros de mercado, e empresta para empresas, a juros mais baixos, por meio do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).

Quando faz essa operação, a dívida líquida não aumenta, pois o mesmo montante que o governo toma emprestado é registrado como uma quantia que o BNDES (ou seja, o próprio governo) tem a receber.

Já a dívida bruta aumenta. Pode parecer que não há problema, mas há. A dívida que o governo contrai precisa ser paga em um prazo menor do que aquela que as empresas contraíram junto ao BNDES. Além disso, os juros que o governo paga são maiores do que os que ele recebe.

* Inspirado em comentário do leitor que assina como Hussar, incluí às 15h04 a informação de que cada brasileiro com ocupação pagou, em média, R$ 11 mil em juros nos últimos cinco anos. Hussar, obrigado pela observação!


Com Dilma, renda da população cresce 3% ao ano e supera a era Lula
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Sílvio Guedes Crespo

Atualizado ás 16h11*

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Enquanto a maior parte dos principais indicadores econômicos tem se deteriorado nos três primeiros anos do governo Dilma Rousseff, o mercado de trabalho permanece uma exceção, de acordo com dados de diversas fontes, estatais e privadas.

A renda da população teve um crescimento real (acima da inflação) acumulado de 2,6% em 2011, 3,2% em 2012 e outros 3,2% no ano passado, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Na média anual, portanto, o ritmo de crescimento da renda no governo Dilma é de 3%, o que dá mais que o dobro do registrado durante o período do seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva (1,3% ao ano). Isso aconteceu porque, no primeiro ano do ex-presidente, a renda caiu mais de 10%, puxando para baixo a média dos seus oito anos.

rendimento medio - variacao 2003 2013 01

Não é possível comparar com o governo Fernando Henrique Cardoso porque o IBGE mudou a metodologia da pesquisa em 2002.

A série histórica do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) em São Paulo, no entanto, é mais longa. Ela registra que, na média anual, a renda no governo Dilma cresceu mais do que nos dois mandatos de Lula e do que no segundo de Fernando Henrique Cardoso. Por outro lado, avançou em ritmo mais lento do que na primeira gestão de FHC e no período Itamar Franco.

renda media variacao por presidente dieese

Sempre que cito algum dado sobre o crescimento da renda, boa parte dos leitores diz que seu próprio salário não subiu e que, portanto, os dados estão errados ou manipulados.

Isso acontece provavelmente porque tais leitores devem ser de classe média. O aumento real da renda praticamente só ocorreu na classe baixa (e provavelmente na altíssima, que tem tão pouca gente e por isso não aparece nas pesquisas). Um estudo do próprio IBGE, por exemplo, mostrou que o rendimento da população com nível superior subiu só 0,7% de 2003 a 2012, enquanto o dos que têm até oito anos de estudo aumentou 37%.

Uma pesquisa da consultoria Mercer, citada neste blog, constatou que, nas grandes empresas privadas do país, somente os profissionais de nível operacional (o mais baixo da hierarquia) tiveram aumento salarial acima da inflação em 2013.

Para quem não acredita em pesquisas, nem estatais nem privadas, sugiro fazer o seu próprio levantamento. Tente se lembrar de quanto uma faxineira, um pedreiro ou um pintor cobrava pelo dia há três anos e veja quanto eles cobram hoje. Pergunte ao síndico do seu prédio qual foi o aumento dos porteiros. Caso ande de ônibus, pergunte ao cobrador qual foi o dissídio da categoria.

Desemprego

A taxa de desemprego é outro indicador de que o mercado de trabalho continua aquecido. Ela ficou em 5,4% em 2013, segundo o IBGE, sendo o menor valor desde o início da série histórica da Pesquisa Mensal de Emprego, em 2002.

O Dieese, que usa outra metodologia, apontou que o desemprego foi de 10,4% em São Paulo no ano passado, a menor desde 1990.

Uma observação a ser feita é que, nos últimos meses, o desemprego tem caído não por causa o aumento do emprego, mas porque o número de pessoas que procuram trabalho está diminuindo.

Segundo o IBGE, em março de 2002, 76% da população que estava fora do mercado dizia não ter interesse em trabalhar. Hoje, 91% afirmam não querer emprego. Não se trata necessariamente de preguiça. Entre essas pessoas, há aposentados e menores de 18 anos, além de donas de casa.

Uma hipótese é de que o envelhecimento da população e o desejo de cada vez maior dos jovens de estender os estudos podem ter contribuído para o aumento da população que não deseja trabalhar. De qualquer maneira, se elas não querem um emprego, não podem ser chamadas de desempregadas.

Quanto menos pessoas estão disponíveis para o mercado, maior a chance de os trabalhadores conseguirem reajustes, pois a disputa por cada vaga fica menor. A população chamada de “nem-nem”, que não estuda nem trabalha, contribui, indiretamente, para o aumento da renda dos demais.

Nos próximos meses poderemos ter uma noção melhor do mercado de trabalho, quando saírem os próximos resultados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (chamada de Pnad Contínua), bem mais ampla que a atual Pesquisa de Emprego. Ela cobre mais de 3.000 cidades do país, enquanto a atual abrange apenas seis regiões metropolitanas.

Perspectiva

O bom momento do mercado de trabalho é ameaçado pelo menos por dois fatores. Primeiro, a alta do dólar torna o preço das mercadorias importadas mais caro. Dessa forma, os assalariados tendem a perder poder de compra.

Em segundo lugar, por causa do aumento da inflação, o Banco Central tem elevado sua taxa básica de juros. Com isso, as empresas ficam menos estimuladas a investir na produção (uma vez que podem ganhar mais com aplicações financeiras) e dessa forma a geração de empregos fica comprometida.

O aumento de juros também afeta o consumo. O crediário fica mais caro e, se o as empresas vendem menos, tendem a contratar menos ou até demitir trabalhadores.

O lado positivo é que o real mais fraco tende a ajudar a indústria nacional na competição com a estrangeira – mesmo que as máquinas importadas fiquem mais caras, os salários ficam mais baixos quando medidos em dólares. A questão agora é se o ganho das empresas com o câmbio vai ser suficiente para traze investimentos e compensar as incertezas do mercado e o custo gerado pelo aumento dos juros.

* Atualização:

Notei que o IBGE destacou no texto de apresentação da Pesquisa Mensal de Emprego um número diferente do que eu usei. A instituição diz que a renda média no ano passado foi 1,8% maior do que em 2012. Ela somou a renda média de todos os meses de 2013 e dividiu por 12. Fez o mesmo com 2012. Depois, dividiu o resultado de 2013 pelo de 2012.

Já eu optei por um caminho diferente. Calculei quanto a renda aumentou de dezembro de 2012 para janeiro de 2013, de janeiro para fevereiro etc, até chegar a dezembro de 2013. O resultado foi uma expansão de 3,2% acumulada no ano passado.

De qualquer modo, as duas formas de cálculo levam à conclusão destacada nesta postagem, de que o aumento médio anual da renda nos três primeiros anos do governo Dilma (de 3% ao ano no meu cálculo e 2,9% no do IBGE) foi superior ao registrado no segundo (3,1% no meu cálculo e 3,4% no do IBGE) e no primeiro mandato (-0,5% e -2,1%) de Lula.


Pessimismo dos empresários atinge o maior nível desde 2009
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Sílvio Guedes Crespo

Atualizado às 9h49*

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Uma onda de pessimismo se espalhou entre empresários brasileiros em 2013 a ponto de a expectativa sobre a economia cair, na média anual, para o menor nível desde 2009.

O clima de pessimismo é captado por diversas pesquisas da Fundação Getulio Vargas (FGV), da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e da Confederação Nacional do Comércio (CNC).

A FGV realiza sondagens mensais junto aos empresários da indústria, dos serviços, do comércio e da construção.

No caso da indústria e dos serviços, o índice de expectativa, na média de 2013, foi o mais baixo desde 2009. Já em relação ao comércio e à construção, cujas pesquisas começaram a ser feitas em 2010, o nível atingido em 2013 é o menor da série.

expectativa empresarios fgv

Pela pesquisa da CNI, a expectativa do empresário industrial é hoje a mais baixa desde 2007 (dado mais antigo disponível). Na sondagem da CNC, iniciada em 2011, o nível é o menor da série.

expectativa industria cni

expectativa comercio

Histórico

A sondagem industrial da FGV é o indicador mais antigo sobre a confiança dos empresários. Ela mostra que a indústria estava mais pessimista na segunda metade da década de 1990. Depois disso, houve quatro picos de otimismo: em 2000, 2004, 2007 e 2010.  De 2011 para cá, no entanto, as expectativas da indústria vêm caindo ano a ano.

expectativa do empresario industrial historico

Opinião

Conhecer as expectativas dos empresários é importante porque elas indicam a propensão ou não ao investimento. Quanto maior o receio por parte deles, menores as chances de fazerem grandes planos de longo prazo. Mesmo quando o pessimismo é infundado, ele pode gerar, ao menos no curto ou médio prazo, uma retração dos investimentos e, consequentemente, da economia.

Isso não quer dizer, no entanto, que as expectativas dos agentes sempre se concretizem. Há dois anos, as projeções para 2013 eram excessivamente otimistas.

Em janeiro de 2012, analistas estimavam que, em 2013, o PIB (produto interno bruto) cresceria 4,2%, que a balança comercial ficasse positiva em US$ 15 bilhões e que a inflação oficial caísse para 5%. Hoje, não há sinais de que o PIB tenha subido muito mais que 2%; a balança comercial teve um superavit de apenas US$ 2,6 bilhões e a inflação atingiu 5,91%.

No atual momento, ao contrário, temos indícios de que o pessimismo pode estar exagerado. O Itaú compara as estimativas dos analistas com os indicadores de mercado e assim chega a um número, o Índice Itaú de Surpresa. Quando o indicador dá um resultado acima de zero, significa que as surpresas foram positivas, ou seja, que o pessimismo dos analistas não se confirmou – ao menos não na intensidade estimada.

Na mediação mais recente, divulgada em dezembro, o Índice Itaú de Surpresa ficou positivo em 0,17 ponto, número mais alto entre os cinco países latino-americanos pesquisados.

is2

is3

Em recente entrevista ao jornal “O Estado de S. Paulo”, o presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, afirmou que a crítica do mercado ao Brasil “tem uma certa dose de exagero”. É o que indicam os dados do concorrente Itaú. O mais provável, no entanto, é que esse exagero seja pontual – um ajuste após um período de otimismo igualmente excessivo.

* Acrescentado o item ‘Opinião’ às 9h49


Brasil perde reservas internacionais pela primeira vez desde 2000
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Sílvio Guedes Crespo

Atualizado às 13h46*

O Brasil interrompeu, no ano passado, sua trajetória de acúmulo de reservas cambiais internacionais que já durava mais de uma década.

Pela primeira vez desde 2000, o montante em moeda estrangeira ou títulos públicos de países ricos que o governo brasileiro mantém em seu poder diminuiu.

O país perdeu US$ 5,9 bilhões em reservas em 2013 (gráfico abaixo). O número é pequeno em comparação com os US$ 313 bilhões que o Brasil acrescentou ao seu cofre ao longo de 12 anos. Mesmo assim, a perda não é desprezível porque marca o fim de um ciclo.

Os dados fazem parte do balanço de pagamentos divulgado nesta sexta-feira pelo Banco Central.

reservas internacionais variacao 2000-2013

Entenda

As reservas são o dinheiro que o país guarda quando a entrada de moeda estrangeira supera a saída.

A perda de reservas no ano passado ocorreu porque os gastos dos brasileiros com bens e serviços estrangeiros aumentaram e não foram compensados por uma elevação equivalente das exportações nem dos investimentos vindos do exterior.

As importações de bens atingiram US$ 239,6 bilhões, ou US$ 16,8 bilhões a mais do que em 2012. Do outro lado, as exportações ficaram praticamente estáveis, em US$ 242,2 bilhões.

Assim, a balança comercial, que é a diferença entre exportações e importações, despencou de US$ 19,4 bilhões, em 2012, para US$ 2,6 bilhões, no ano passado.

BALANÇA COMERCIAL (em US$ bi)*

Item20122013
Exportações242,6242,2
Importações-223,2-239,6
Saldo19,42,6
  • Fonte: Banco Central
  • * Números negativos indicam saída de dinheiro do país

Já a balança de serviços e rendas, que inclui os gastos dos brasileiros com serviços estrangeiros (por exemplo, em viagens internacionais) e também com pagamento de juros e salários, teve um deficit de US$ 87,3 bilhões no ano passado, contra US$ 76,5 bilhões em 2012.

BALANÇA DE SERVIÇOS E RENDAS (US$ bi)*

Item20122013
Receita de brasileiros com serviços no exterior39,939,1
Receita de estrangeiros com serviços no Brasil-80,9-86,6
Receita de brasileiros com rendas no exterior10,910,1
Receita de estrangeiros com rendas no Brasil-46,3-49,8
Saldo-76,5-87,3
  • Fonte: Banco Central
  • * Números negativos indicam saída de dinheiro do país

As transferências que os brasileiros no exterior fazem para suas famílias no Brasil subiram 18% e somaram US$ 3,4 bilhões, o que representa a entrada de US$ 518 milhões a mais do que em 2012. Só que essa entrada é pequena demais para fazer alguma diferença.

Desse modo, a conta de transações correntes, que reúne a balança comercial, a balança de serviços e renda e as transferências teve no ano passado um rombo de US$ 81,4 bilhões, o maior desde que o país começou a fazer esse registro, em 1947.

CONTA DE TRANSAÇÕES CORRENTES (US$ bi)*

Item20122013
Balança comercial19,42,6
Balança de serviços e rendas-76,5-87,3
Transferências unilaterais2,83,4
Saldo-54,2-81,4
  • Fonte: Banco Central
  • * Números negativos indicam saída de dinheiro do país

O resultado das transações correntes tem sido deficitário nos últimos anos, mas esse saldo negativo vinha sendo coberto pelo forte aumento dos investimentos estrangeiros no país.

Até o ano passado, a entrada de capital externo para projetos de longo prazo era mais do que suficiente para compensar todo o dinheiro que saía na forma de transações correntes.

No primeiro semestre, no entanto, o deficit na conta corrente, que já vinha subindo, atingiu um ponto em que os investimentos estrangeiros diretos, ou seja, no setor produtivo, passaram a não dar mais conta. A partir daquele momento, o país passou a depender de capital de curto prazo, conforme este blog notou à época.

O que os últimos dados da balança comercial mostram é que, em 2013 como um todo, nem mesmo o capital especulativo foi suficiente para cobrir o déficit das transações correntes.

Os investimentos estrangeiros diretos caíram de US$ 65,3 bilhões para US$ 64 bilhões. Somando a isso os US$ 3,5 bilhões que as companhias brasileiras receberam de suas filiais no exterior, tivemos US$ 67,5 bilhões entrando no país na forma de investimentos empresariais.

O país registrou, ainda, uma entrada líquida de US$ 5 bilhões na forma de investimentos de curto prazo, como aplicações na Bolsa de Valores, em títulos da dívida do governo e outros.

Mais US$ 1,2 bilhão entrou como transferência unilateral entre empresas (por exemplo, quando uma companhia sediada nos EUA manda dinheiro para sua filial no Brasil, sem exigir nada em troca).

Dessa forma, os investimentos estrangeiros totais somaram US$ 73,8 bilhões.

INVESTIMENTOS INTERNACIONAIS (US$ bi)*

Item20122013
De longo prazo (investimento direto)68,167,5
De curto prazo (investimento em ações, títulos etc.)3,85,0
Transferências unilaterais (a chamada ‘conta de capital’)-1,91,2
Saldo70,073,8
  • Fonte: Banco Central
  • * Números negativos indicam saída de dinheiro do país

Temos, também, os dados que foram registrados de forma errada e por isso não entraram em nenhum dos itens do balanço de pagamentos aqui citados. Os erros e omissões somaram uma entrada de US$ 1,7 bilhão.

Assim, colocando tudo na conta, saíram do país US$ 81,4 bilhões por meio das transações correntes e entraram US$ 73,8 bilhões como investimentos estrangeiros e mais US$ 1,7 bilhão que não se sabe como (erros e omissões), o que significou um balanço de pagamentos negativo em (ou uma perda de reservas de) US$ 5,9 bilhões.

BALANÇO DE PAGAMENTOS (US$ bi)*

Item20122013
Transações correntes-54,2-81,4
Investimentos internacionais70,073,8
Erros e omissões3,11,7
Saldo (variação das reservas)18,9-5,9
  • Fonte: Banco Central
  • * Números negativos indicam saída de dinheiro do país

* Acrescentado o item “Entenda” às 13h46


Ranking: as casas de câmbio com as melhores taxas destas férias
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Sílvio Guedes Crespo

dolar thinkstock

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Quem pesquisa as casas de câmbio antes de fazer uma viagem internacional ou após voltar pode economizar centenas de reais.

Por exemplo, as pessoas que compraram US$ 5.000 em espécie para viagem no HSBC em dezembro pagaram, em média, R$ 2,487 por cada unidade da moeda dos Estados Unidos e gastaram, pela quantia adquirida, R$ 12.435. Já os que foram ao Banco do Brasil conseguiram uma cotação de R$ 2,424 e desembolsaram R$ 12.120 – ou R$ 315 a menos.

Os dados fazem parte do ranking de operações de câmbio, à disposição no site do Banco Central. Os números se referem ao valor efetivo total (VET) cobrado, que inclui a taxa de câmbio mais as tarifas e o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras).

Na comparação entre BB e HSBC, considerei duas instituições que fizeram mais de 300 operações naquele valor. Se tomarmos o total das casas de câmbio do país, as pessoas que compraram US$ 5.000 pela Lúmina Corretora de Câmbio gastaram R$ 12.625 em dezembro, em média, enquanto no banco BNP Paribas o valor foi de R$ 11.680, o que dá uma diferença de R$ 925.

Aqui, cabe fazer duas ressalvas. Primeiro, que os dados se referem à média do mês. Portanto, se a maior parte das operações em determinado banco foi feita justamente num dia em que a cotação do dólar estava muito alta, essa instituição financeira vai ficar lá embaixo no ranking, e não necessariamente por ser careira.

Para evitar avaliações erradas, sugiro, então, comparar apenas as instituições que fizeram um grande número de negócios. Isso diminui a chance de que a casa de câmbio avaliada tenha concentrado suas operações em uma data específica.

A segunda ressalva se refere ao fato de que os valores disponíveis no site do BC correspondem às operações já realizadas. As instituições não têm obrigação de comprar ou vender moeda estrangeira, hoje, pelo mesmo preço do mês passado.

Mesmo assim, o ranking é de grande serventia porque oferece um histórico das casas de câmbio. Se uma instituição ficou entre as mais baratas em novembro e dezembro, vale a pena ligar e perguntar qual o VET atual. esses dados são, portanto, um ponto de partida para a pesquisa. Meia dúzia de telefonemas podem significar uma boa economia.

Ranking

Veja, abaixo, as casas de câmbio que apresentaram, nos dois últimos meses, as melhores taxas (do ponto de vista do cliente) para comprar ou vender moeda estrangeira em espécie, para turismo.

Para elaborar cada tabela, listei as 20 instituições que fizeram o maior número de operações e apresento, abaixo, as que apresentaram os melhores valores efetivos totais. Para pesquisar outros valores, basta olhar no site do BC.

MELHORES INSTITUIÇÕES PARA QUEM COMPRA US$ 5.000

InstituiçãoVET por dólar em dezembro (R$)VET por dólar em novembro (R$)VET médio nov./dez.Custo médio nov./dez.
BANCO DO BRASIL S.A.2,4242,3712,397511.988
BEXS CORRETORA DE CÂMBIO S/A2,4372,3792,40812.040
TREVISO CORRETORA DE CÂMBIO S.A.2,4352,3892,41212.060
LEVYCAM – CORRETORA DE CAMBIO E VALORES LTDA.2,4352,3912,41312.065
FAIR CORRETORA DE CAMBIO S.A.2,4392,3892,41412.070
  • Fonte: Banco Central. Elaboração: Achados Econômicos

MELHORES INSTITUIÇÕES PARA QUEM VENDE US$ 1.000

InstituiçãoVET por dólar em dezembro (R$)VET por dólar em novembro (R$)VET médio nov./dez.Receita média da operação nov./dez.
CONECTA CORRETORA DE CÂMBIO LTDA.2,3472,312,32852.328,50
SOL CORRETORA DE CÂMBIO LTDA.2,3012,2562,27852.278,50
MULTIMONEY CORRETORA DE CÂMBIO LTDA2,3012,2552,2782.278,00
TREVISO CORRETORA DE CÂMBIO S.A.2,2922,2442,2682.268,00
NOVO MUNDO CORRETORA DE CÂMBIO S.A.2,2962,2372,26652.266,50
  • Fonte: Banco Central. Elaboração: Achados Econômicos

MELHORES INSTITUIÇÕES PARA QUEM QUER COMPRA € 5.000

InstituiçãoVET por euro em dezembro (R$)VET por euro em novembro (R$)VET médio nov./dez.Custo médio da operação nov./dez.
BANCO DO BRASIL S.A.3,3233,1943,258516.293
FAIR CORRETORA DE CAMBIO S.A.3,3033,2183,260516.303
S. HAYATA CORRETORA DE CÂMBIO S.A.3,333,213,2716.350
DISTRI-CASH DISTRIBUIDORA DE TÍTULOS E VALORES MOBILIÁRIOS S.A.3,3413,2143,277516.388
LEVYCAM – CORRETORA DE CAMBIO E VALORES LTDA.3,3423,2173,279516.398

MELHORES INSTITUIÇÕES PARA QUEM QUER VENDE € 1.000

InstituiçãoVET por euro em dezembro (R$)VET por euro em novembro (R$)VET médio nov./dez. (R$)Receita média da operação nov./dez. (R$)
TREVISO CORRETORA DE CÂMBIO S.A.3,1573,0493,1033.103
MULTIMONEY CORRETORA DE CÂMBIO LTDA3,1413,0343,08753.088
TURMALINA CORRETORA DE CÂMBIO S.A.3,1523,0083,083.080
CONECTA CORRETORA DE CÂMBIO LTDA.3,1083,0263,0673.067
BROKER BRASIL CORRETORA DE CÂMBIO LTDA.3,1472,9873,0673.067
  • Fonte: Banco Central. Elaboração: Achados Econômicos


Brasil sobe 23 posições em ranking de melhores países para fazer negócios
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Sílvio Guedes Crespo

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O Brasil subiu 23 posições em um ranking de melhores países para fazer negócios, elaborado pela agência de informações financeiras Bloomberg.

O país passou do 61º lugar, na edição do ano passado, para o 38º, no ranking atual. Com isso, o Brasil superou países emergentes como Rússia e Índia, mas manteve-se atrás da China, do Peru e do Chile, assim como de todas as nações desenvolvidas e de algumas em crise, como a Grécia.

Hong Kong se manteve em primeiro lugar, seguido pelo Canadá, que subiu quatro posições, e pelos Estados Unidos, que caíram duas.

A Bloomberg analisou 157 países e deu uma nota de 0 a 100 nos seguintes quesitos: “grau de integração econômica” (peso 10), “custo de iniciar um negócio” (peso 20), “custo do trabalho e do material” (peso 20), “custo de transporte de bens” (peso 20), “custos menos tangíveis” (20) e “mercado consumidor” (10).

Melhores países para fazer negócios

Posição em 2014PaísPosição em 2013Nota
1Hong Kong183.4
2Canadá681.5
3Estados Unidos280.2
4Cingapura880.1
5Austrália679.9
5Alemanha579.9
7Reino Unido1079.4
8Holanda478.0
9Espanha1677.0
10Suécia1276.2
21Chile2672.8
28China2469.6
37Peru5063.3
38Brasil6163.2


Análise

A olho nu, o ranking da Bloomberg parece destoar de muito do que vem sendo constatado historicamente no Brasil.

No quesito “grau de integração econômica”, em que o Brasil teve a maior nota (75,6 pontos), o estudo avalia, entre outras coisas, se as tarifas de importação são baixas e se o grau de “codependência com o mercado global” é alto.

Nossos números não corroboram nem o primeiro nem o segundo ponto. Segundo a Câmara de Comércio Internacional, o Brasil é o país mais protecionista do G-20 (grupo que reúne sete dos países mais ricos, 12 emergentes e a União Europeia).

Em relação ao “custo de iniciar um negócio”, item em que o Brasil teve sua segunda maior nota (68,1 pontos), a Bloomberg analisa o custo não só para abrir uma empresa, como também para financiar um negócio e para trazer dinheiro ao país na forma de investimento estrangeiro direto.

O Banco Mundial, quando examina o custo de abrir uma empresa, em um estudo chamado Doing Business, coloca o Brasil em 130º lugar. Vale notar que a metodologia do BM é criticada por diversos especialistas, inclusive pela Organização Internacional do Trabalho.

Mesmo se descartarmos totalmente o trabalho do Banco Mundial, ainda teremos diversos indícios de que a burocracia no Brasil é excessiva. Nos demais itens analisados, também não há sinais de uma melhora tão abrupta.

O que, então, justificaria uma elevação tão considerável do Brasil no ranking de fazer negócios da Bloomberg?

Variação do dólar em 2013

PaísVariação do dólar (%)Variação do dólar descontada a inflação local (%)
Argentina32,515,5
Brasil14,68,2
Chile9,86,6
Peru9,46,9
Colômbia8,56,5
México0,9-2,9
  • Fonte: Economática

Uma hipótese está na taxa de câmbio. Diferentemente do Doing Business, o ranking da Bloomberg é muito focado em custos, não tanto em tempo gasto. Custo de abrir uma empresa, custo do trabalho e dos insumos (bens usados na produção), custo de mobilidade dos bens etc.

Quando o real se desvaloriza, os custos no Brasil ficam mais baixos, do ponto de vista dos estrangeiros. Mesmo que a eficiência dos nossos portos e aeroportos não melhore, mesmo que os preços do transporte não caiam, mesmo que o custo da mão de obra não baixe, para quem vem de fora o Brasil fica mais barato quando o real perde valor.

No ano passado, o dólar subiu cerca de 15% em relação ao real, o que representou uma alta considerável em comparação com outros países.

A tabela ao lado contém um levantamento da consultoria Economática e mostra a variação da moeda dos EUA em seis países da América Latina. Aponta, ainda, a variação do dólar descontada a inflação do país. Por exemplo, no Brasil, o poder de compra da moeda americana aumentou 8% no ano passado.