Achados Econômicos

Arquivo : dezembro 2013

Preços em que o governo não põe a mão sobem mais de 7% em um ano
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Sílvio Guedes Crespo

A inflação no Brasil atualmente só é inferior ao teto da meta, que é de 6,5% ao ano, porque o governo tem forçado para baixo os preços que consegue controlar diretamente, conforme aponta um estudo da Tendências Consultoria Integrada, feito a pedido do blog Achados Econômicos.

Nos últimos 12 meses, os preços administrados pelo governo – como tarifas de energia elétrica, gasolina e transporte público – subiram apenas 0,94%.

Enquanto isso, os demais itens, os chamados preços livres, acumulam alta de 7,27% no mesmo período. Consequentemente, o índice geral da inflação ficou em 5,77%.

Caso o governo federal não tivesse reduzido as tarifas de energia elétrica, e caso os Estados e municípios não tivessem recuado da decisão de elevar preços do transporte público, os preços controlados teriam acumulado alta de 4,2%, segundo o estudo da Tendências.

Ainda, se a Petrobras não tivesse segurado o preço da gasolina, a inflação dos administrados chegaria a 5%.

O gráfico abaixo mostra que o governo põe cada vez mais a mão nos preços administrados. Nos 12 meses encerrados em janeiro do ano passado, eles tiveram um aumento de 5,1%. Já nos 12 meses até novembro de 2013, subiram menos de 1%.

precos livres administrados tendencias ibge achados economicos

A meta de inflação é de 4,5% para o período de janeiro a dezembro de 2013, com tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo.

Entrevista

Abaixo, Adriana Molinari, autora do estudo,  comenta o controle dos preços administrados.

Achados Econômicos: O que está acontecendo com os preços administrados?

Adriana Molinari: Há uma distorção completa. O que a gente observa não é uma melhora consistente da dinâmica da formação de preços. São questões pontuais que afetam o índice cheio. Por exemplo, a redução das tarifas de energia elétrica, a manutenção do preço do transporte público depois das manifestações, o não repasse ao consumidor pelos gastos das térmicas e outros.

Achados: Se o governo não estivesse segurando os preços administrados, a taxa básica de juros deveria ser mais alta?

Molinari: Certamente. O aperto monetário teria que ser mais contundente. Mas também temos que mencionar a deterioração fiscal, que acaba tendo impacto na inflação. Se o governo fizesse a lição de casa na parte fiscal, ajudaria a conter a inflação.


Indústria de máquinas cresce 10% em 12 meses, maior alta desde 2011
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Sílvio Guedes Crespo

A economia brasileira parece viver um momento de contradições. A mais conhecida talvez seja a combinação entre desemprego baixo e PIB (produto interno bruto) a passos de tartaruga.

Há, no entanto, outro dado intrigante. Enquanto a indústria brasileira sofre para crescer mísero 1% ao longo de um ano – e isso depois de já ter encolhido mais de 2% em 2012 – o setor de bens de capital (ou seja, de máquinas usadas na produção, assim como caminhões) está em forte aceleração. Nos últimos 12 meses, avançou 9,9%, melhor resultado desde maio de 2011.

O gráfico abaixo deixa isso claro.

bens de capital industria

A produção de bens de capital acumulava uma queda de mais de 10% no final do ano passado. Em janeiro, começou a reduzir essa perda. Agora em outubro, está em alta de quase 10%.

Ao mesmo tempo, a indústria em geral permanece praticamente estagnada, diferentemente do que ocorreu em períodos anteriores. No final de 2009, por exemplo, a produção de bens de capital acumulava queda de mais de 20%. Essa perda foi diminuindo e, ao contrário do que está acontecendo hoje, a indústria em geral foi se recuperando.

Se a indústria não está acompanhando a recuperação do setor de bens de capital, é possível que os empresários estejam aguardando o momento certo de retomar a produção dos bens de consumo. A hesitação dos investidores, aliás, é um dos aspectos que marcaram a economia brasileira em 2013, como reação a um cenário interno e externo incerto.


Blog Achados Econômicos ganha prêmio de jornalismo
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Sílvio Guedes Crespo

premio cnh jornalismo 2

O blog Achados Econômicos  foi contemplado no Prêmio CNH de Jornalismo Econômico, o único do país que coloca blogs e mídia impressa no mesmo patamar.

A Folha de S.Paulo também foi premiada, com a série de reportagens intitulada “Fora dos trilhos: as revelações do cartel ferroviário no Brasil”, sobre o cartel nos metrôs de São Paulo e do Distrito Federal.

O Prêmio CNH é uma iniciativa da Case New Holland, líder global no setor de bens de capital.

Os premiados

Veja abaixo os trabalhos escolhidos.

Categoria Blogs: Achados Econômicos, de Sílvio Crespo, no UOL.

Categoria Jornal: “Fora dos trilhos: as revelações do cartel ferroviário no Brasil”, de Catia Seabra, Julianna Sofia, Dimmi Amora e Flávio Ferreira, na Folha de S.Paulo.

Categoria Revista: “A China escolheu seu caminho, e nós?”, de Roberta Paduan, Alexa Salomão, Luiza Dalmazo, Guilherme Manechini, Patrick Cruz e Patrícia Ikeda, na revista “Exame”.

Categoria Excelência Jornalística: “Descaminhos”, de Roberta Soares, no “Jornal do Commercio”.

Menções Honrosas: “Caos do Campo ao Porto”, de Henrique Gomes Batista, Danielle Nogueira, no jornal “O Globo”, e “Qual o efeito do BNDES”, de Cristiane Barbieri, na revista “Época”.

Agradeço aos leitores que deixam comentários construtivos e educados, mandam e-mails e me fazem refletir sobre o conteúdo de cada texto que publico. Agradeço também a toda a equipe do UOL, especialmente Rodrigo Flores, Irineu Machado e Armando Pereira, que acreditaram no blog antes mesmo de ele existir e me deram as condições para tocar este trabalho.


PIB no trimestre perde para países em crise; em um ano, bate EUA e México
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Sílvio Guedes Crespo

Marcha lenta: PIB brasileiro teve variação pior do que o de Itália, Portugal e Espanha

Marcha lenta: PIB brasileiro caiu mais que o da Itália e o da França no 3º trimestre

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Depois de registrar um crescimento surpreendente no segundo trimestre, a economia brasileira teve, de julho a setembro, um desempenho pior do que o de diversos países que estão mergulhados em crise desde 2009, como Portugal, Espanha, Itália e França.

O PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil no terceiro trimestre foi 0,5% menor do que no segundo, de acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Na comparação com o terceiro trimestre do ano passado, a economia brasileira aumentou 2,2%, superando o desempenho de importantes países ricos e emergentes, como os Estados Unidos e o México, mas mantendo-se abaixo das nações asiáticas de crescimento rápido, como a China e a Coreia do Sul.

pib brasil paises terceiro trimestre ante segundo achados economicos 1

pib paises terceiro trimestre 2013 2012 achados economicos uol

Os dados citados se referem à variação percentual do PIB. Se considerássemos a variação em dinheiro, seja na moeda local ou em dólares, o ranking seria bem diferente. Para os EUA, que têm uma economia de US$ 15 trilhões anuais, uma pequena variação no PIB já significaria muitos bilhões de dólares, o que o tornaria incomparável com a maioria dos países.

Opinião

Os números mostram que a economia brasileira não conseguiu manter o mesmo ritmo de produção verificado no segundo trimestre, mas a piora não foi tanta a ponto de voltarmos ao fraco ritmo verificado no ao passado.

A queda de 0,5% do PIB em relação ao segundo trimestre confirma que a forte produção no período de abril a junho foi um caso pontual, motivado por uma safra recorde.

No terceiro trimestre, a leve recuperação da indústria e dos serviços (0,1% de crescimento em cada) não compensou a forte queda da agropecuária (-3,5%).

Não há sinais, entre os números mais recentes, de que no último trimestre do ano recuperaremos o ritmo de alta do segundo trimestre. Aquele período foi, muito provavelmente, o melhor de 2013. (Curiosamente, foi logo naquela época que as manifestações se espalharam pelas ruas do país.)

A retomada econômica, do Brasil, portanto, perdeu ritmo. O encolhimento do PIB do segundo para o terceiro trimestre nos coloca no mesmo patamar de países que já têm uma renda per capita alta e uma rede de proteção social muito melhor do que a nossa, como a França e a Itália. Que esses países, já ricos e atolados em dívidas, não cresçam, é de se esperar. No caso do Brasil, uma nação ainda chamada de “emergente”, deveria estar avançado a um ritmo maior, a exemplo dos latino-americanos Peru e Chile, ou dos asiáticos Coreia do Sul e Indonésia.

Não podemos nos esquecer de que ainda estamos crescendo mais do que o México, a segunda maior economia da América Latina e um concorrente direto do Brasil na busca por capital estrangeiro. Mesmo assim, há sinais de que temos espaço para melhorar. O diagnóstico econômico está dado: o país precisa recuperar a confiança do mercado internacional, respeitando, sem subterfúgios, as metas de inflação e de superávit primário (dinheiro que o país reserva para pagar juros da dívida). O problema é criar as condições políticas para que isso ocorra, considerando que teremos eleições em menos de 12 meses.


Cliente pode poupar mais de R$ 200 mil ao pesquisar crédito imobiliário
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Sílvio Guedes Crespo

Quem sabe pesquisar as taxas de juros e demais custos de financiamento de um imóvel pode economizar dezenas de milhares de reais ou mesmo centenas de milhares ao longo de 30 anos, segundo estimativa do blog Achados Econômicos a partir de dados coletados pela Fundação Proteste.

A entidade levantou o custo efetivo total (CET) do crédito imobiliário em oito bancos, expresso na forma de porcentagem ao ano. O blog calculou quanto isso significa em reais, considerando o Sistema de Amortização Constante (SAC), em que as parcelas são mais altas no início e mais baixas no fim.

Um casal com renda de R$ 4,5 mil, por exemplo, consegue um CET de 10,25% ao ano no Citibank, ao financiar 80% de um imóvel de R$ 150 mil. Já na Caixa Econômica Federal, o mesmo cliente obtém o empréstimo a um custo de 8,23% anuais.

A diferença do CET de um banco para o outro é de menos de 2 pontos percentuais ao ano. Parece que não faz diferença, mas este blog calculou que, ao longo de 30 anos, o cliente do Citibank terá desembolsado aproximadamente R$ 300 mil com o financiamento (sem contar o valor da entrada), enquanto o da Caixa gastará menos de R$ 270 mil, ou seja economizará cerca de R$ 30 mil.

O valor que se pode poupar – ou perder – aumenta quanto maior for a quantia financiada. Para parcelar 80% de um imóvel de R$ 800 mil, o cliente do Banrisul, por exemplo, terá um custo de 11,5% ao ano e desembolsará em torno de R$ 1,7 milhão ao longo de 30 anos. A mesma pessoa pode conseguir uma taxa de 9,25% se abrir uma conta-salário na Caixa. Dessa forma, gastará R$ 1,5 milhão no período, ou R$ 200 mil a menos do que no Banrisul.

Veja abaixo o CET em porcentagem ao ano e a estimativa do total a ser desembolsado ao longo do financiamento, considerando três perfis diferentes de clientes.

Perfil 1

Imóvel de R$ 150 mil

Financiamento: 80% (R$ 120 mil)

Renda familiar: R$ 4,5 mil

BancoCET (% a.a)Valor total a ser
desembolsado (R$ mil)*
Caixa (Minha Casa, Minha Vida + FGTS)7,69254
Caixa (sem FGTS nem Minha Casa Minha Vida)8,23263
BB (Minha Casa, Minha Vida + FGTS)9,02276
BB (só FGTS)9,29281
Citibank (relacionamento**)9,36282
Santander (relacionamento**)9,72288
Banrisul9,73288
BB (sem FGTS)9,76289
HSBC9,99293
Itaú10,02293
Bradesco10,16295
Citibank10,25297
  • * Estimativa calculada por meio do SAC
  • ** Taxa válida só para quem tem relacionamento com o banco
  • Fonte: Instituto Proteste. Elaboração própria

Os compradores que podem usar o FGTS ou se enquadram no programa Minha Casa, Minha Vida têm um custo menor no BB e na Caixa, como indica a tabela acima.

Alguns bancos divulgaram qual seria a taxa para quem tem relacionamento com a instituição financeira. No Citibank, por exemplo, quem apenas toma o crédito e não usa outros serviços bancários tem um custo de 10,25% ao ano; já os que têm relacionamento pagam apenas 9,36%, na mesma instituição financeira.


Perfil 2

Imóvel de R$ 400 mil

Financiamento: 80% (R$ 320 mil)

Renda familiar: R$ 11 mil

BancoCET (% ao ano)Valor total a ser
desembolsado (R$ mil)*
Caixa (relacionamento** + conta salário)8,62719
BB (prestação em dia + salário) 300 meses***8,66654
BB (prestação em dia) 300 meses***8,9673
Citi (relacionamento**)9,04738
Caixa (relacionamento**)9,12742
Santander (relacionamento**)9,39754
HSBC9,63764
BB (taxa balcão) 300 meses9,66692
Caixa (balcão)9,67766
Itaú9,79771
Citibank9,93777
Banrisul10,49802
Bradesco10,89820
  • * Estimativa calculada pelo SAC
  • ** Para clientes que têm relacionamento com o banco
  • *** O financiamento do BB para esta modalidade é de 25 anos
  • Fonte: Fundação Proteste. Elaboração própria

Bancos como Caixa, BB, Santander e Citibank informaram as taxas cobradas de quem tem relacionamento com a instituição financeira credora, que são mais baixas do que para os que apenas tomam o crédito.

Os dados sobre o BB, no caso dos perfis 2 e 3, se referem a um financiamento de 300 meses, não de 360, como os demais bancos. Por isso, seu custo não pode ser comparado diretamente com o dos rivais. Mantive-o na lista, ordenado pelo CET, não pelo valor a ser desembolsado. O mesmo banco informou, também, qual a taxa cobrada de quem mantém os pagamentos em dia, como indica a tabela.


Perfil 3

Imóvel de R$ 800 mil

Financiamento: 80% (R$ 640 mil)

Renda familiar: R$ 23 mil

BancoCET (% ao ano)Valor total a ser
desembolsado (R$ milhões)*
Caixa (relacionamento + salário)9,061,5
Caixa (relacionamento)9,251,5
Citibank9,341,5
HSBC9,531,5
BB (prestação em dia + salário) 300 meses**9,591,4
Santander (relacionamento)9,981,6
Caixa10,051,6
BB (prestação em dia) 300 meses**10,081,4
Itaú10,221,6
Citibank10,481,6
BB (balcão) 300 meses**10,581,5
Bradesco11,281,7
Banrisul11,51,7
  • * Estimativa calculada pelo SAC
  • ** Para clientes com relacionamento com o banco
  • Fonte: Fundação Proteste. Elaboração própria

Outro lado

Consultados pelo blog, os bancos disseram que o CET informado nas tabelas acima é o máximo cobrado para os três cenários da simulação e acrescentaram que essas taxas são reduzidas dependendo do perfil do cliente e das condições de financiamento. Os valores divulgados no site das instituições financeiras podem ser negociados. A atribuição dos juros é feita de maneira individualizada.

Observação

O cálculo do valor a ser desembolsado é uma estimativa porque o cliente pode optar por financiar ou não algumas despesas, como os gastos com cartório e imposto. Este estudo usou os mesmos critérios para todos os bancos ao projetar o valor total previsto em cada operação.


PIB per capita do DF é duas vezes o de SP e oito vezes o do Piauí
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Sílvio Guedes Crespo

Atualizado às 16h59*

brasilia

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O Brasil caminha gradativamente rumo à redução das desigualdades regionais, embora elas ainda saltem à vista, como indicam dados divulgados nesta sexta-feira pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

A distância entre os Estados mais ricos e os mais pobres dá sinais de que está diminuindo, tanto em termos de PIB (Produto Interno Bruto) total quanto em relação ao PIB per capita.

O Distrito Federal teve um PIB per capita de R$ 63 mil em 2011 (dado mais recente), número oito vezes maior que o dos dois Estados mais pobres do país, o Piauí (R$ 7.836) e o Maranhão (R$ 7.853).

O PIB per capita do DF é, também, quase duas vezes superior ao do Estado de São Paulo (R$ 32.449) e quase três vezes maior que a média nacional (R$ 21.536).

Ainda gritante, essa diferença já foi mais acentuada. Em 2010, o PIB per capita do DF era 8,5 vezes maior do que o do Maranhão, à época o Estado mais pobre.

A queda verificada não é desprezível, pois significa que, em 16 anos, o PIB per capita das duas unidades federativas se igualaria.

Vale notar, no entanto, que dificilmente esse ritmo continuaria por tanto tempo, uma vez que quanto mais uma região cresce economicamente, mais difícil se torna manter a velocidade da expansão.

pib per capita dos 26 Estados e DF

O PIB per capita do Distrito Federal é grande porque reúne num espaço muito pequeno pessoas com muito dinheiro – notadamente, altos funcionários públicos. Nesse aspecto, a capital federal é hors concours.

Mas se tomarmos como referência os demais Estados, nota-se uma pequena queda na desigualdade regional.

Em 2008, o PIB de São Paulo era 4,5 vezes maior que o do Piauí e o do Maranhão. Em 2011, já era quatro vezes superior a ambos. Nesse ritmo, as duas unidades federativas mais pobres levariam 24 anos para chegar ao nível de São Paulo.

Não custa lembrar que esse indicador, ainda que seja bom para medir a distância econômica entre os Estados, não capta a desigualdade interna de cada unidade federativa. Este ponto é mais bem identificado pelo índice de Gini.

* O PIB do DF era 8,5 vezes maior que o do Maranhão em 2011, não 8,5%, como afirmava incorretamente este texto. O erro foi corrigido às 13h18. 


Renda de empregados domésticos sobe 8,1% em um ano e lidera alta
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Sílvio Guedes Crespo

Atualizado às 17h21*

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A renda dos trabalhadores que prestam serviços domésticos saltou 8,1% em termos reais (descontada a inflação) entre outubro do ano passado e o mesmo mês de 2013, em mais um sinal de que os mais pobres estão sentindo menos os problemas econômicos do país, mais percebidos pela classe média.

O aumento de renda dos empregados domésticos foi o mais acentuado dos últimos 12 meses, entre as sete categorias em que o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divide a população ocupada. Em segundo lugar ficaram os trabalhadores da construção civil, com uma alta de 7,2% no seu rendimento.

A Pesquisa Mensal de Emprego referente a outubro foi divulgada nesta quinta-feira.

RENDA MÉDIA DOS TRABALHADORES ATUALIZADA PELA INFLAÇÃO

Grupo de atividadeRenda em out/12 (R$)Variação ante out/12 (%)
População ocupada1.9171,8
Indústria extrativa, de transf. e distr. de eletricidade, gás e água1.9914,1
Construção1.7057,2
Comércio, reparação de veículos e objetos pessoas e domésticos e comércio varejista e de combustíveis1.527-0,8
Serviços prestados à empresa, aluguéis, atividades imobiliárias e de intermediação financeira2.348-2,5
Educação, saúde, serviços sociais, administração pública, defesa e seguridade social2.5921,8
Serviços domésticos8158,1
Outros serviços (alojamento, transporte, limpeza urbana e serviços pessoais)1.6941,4
  • Fonte: IBGE

Os dados mostram que, apesar de ter obtido o maior aumento, o grupo dos serviços domésticos continua sendo o de menor rendimento. Entre as sete categorias, é a que mais concentra trabalhadores pobres.

O IBGE não abriu os números referentes a cada uma dessas categorias. Não é possível comparar, por exemplo, quais empregados do ramo “construção civil” tiveram os maiores reajustes, se os pedreiros ou os engenheiros.

Mas existem outras pesquisas indicando que os mais pobres continuam tendo reajuste superior, em termos percentuais, ao da classe média.

Em um estudo feito em janeiro, o mesmo IBGE informou que a renda dos profissionais com curso superior teve uma alta real de apenas 0,7% nos últimos dez anos, enquanto na população com até oito anos de estudo, o aumento foi de 37,3%.

RENDA DA POPULAÇÃO POR ESCOLARIDADE, ATUALIZADA PELA INFLAÇÃO

AnoRenda da população com até 8 anos de estudo (R$)Variação anual real (%)Renda da população com curso superior (R$)Variação anual real (%)
2004689-0,73.973-2,4
20057042,23.916-1,4
20067364,64.0002,2
20077704,54.0972,4
20087993,84.1260,7
20098202,74.1260
20108625,14.086-1
20119065,14.083-0,1
20129535,14.0980,4
  • Fonte: IBGE

Mais recentemente, a renda de quem tem no máximo oito anos de estudos acelerou, subindo em média 5,1% ao ano desde 2010. A dos que têm curso superior, ao contrário, caiu em média 0,2% anuais no período.

Outras fontes

Embora este blog tenha apresentado inúmeras vezes análises mostrando a deterioração de diversos indicadores da economia brasileira, sempre que surge uma notícia positiva embasada em dados do IBGE uma parte dos leitores argumenta que tal instituto não é confiável, por ser do governo.

Nesse caso, podemos recorrer a uma pesquisa da consultoria Mercer, empresa privada que tem 25 mil clientes e atua em 40 países. Ela fez um levantamento de salários em mais de 400 companhias privadas em atuação no Brasil e constatou que somente os funcionários de nível operacional (a categoria mais baixa) tiveram reajuste acima da inflação em 2013.

Esse grupo de trabalhadores obteve um aumento de 12,5%, de acordo com a Mercer. Em segundo lugar, ficaram os presidentes de empresa, com uma alta de 5,2%. Os demais profissionais tiveram alta salarial entre 0,5% e 3,3%, dependendo do cargo (saiba mais aqui).

A consultoria explica que os cargos operacionais tiveram os maiores reajustes porque são os que mais se beneficiam dos dissídios trabalhistas.

A informação da Mercer é confirmada por uma pesquisa do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos). Segundo a entidade, cerca de 85% dos acordos salariais coletivos acertados no primeiro semestre tiveram aumento acima da inflação.

Outro instituto que reforça esses dados é o Datafolha. Entre seis tipos de empregados domésticos, o que registrou maior aumento salarial foi o das mensalistas (23,8%, sem descontar a inflação). O único que teve perda foi o serviço de auxiliar de enfermagem (queda de 2,6%), conforme o gráfico abaixo.

datacasa empregados domesticos

* Acrescentados dados do Datafolha às 17h21


Inflação dá trégua, e serviços têm crescimento real de 2,7% em 12 meses
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Sílvio Guedes Crespo

O setor de serviços, principal componente do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro, esboça sinais de uma lenta retomada, não tanto por uma expansão de suas atividades, mas pela trégua dada pela inflação nos últimos meses.

O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou que esse ramo da economia teve um crescimento nominal de 9,6% entre setembro do ano passado e o mesmo mês de 2013. No acumulado do ano, a alta foi de 8,4%; em 12 meses, de 8,7%.

Esses números se referem somente à variação nominal, ou seja, sem descontar a inflação. Por esses dados, notamos que a receita do setor está em uma trajetória predominantemente de queda, desde o início do ano.

servicos variacao nominal ibge achados economicos

No entanto, quando calculamos a variação real (descontada a inflação), percebemos que o setor teve seu melhor resultado desde fevereiro, por causa da desaceleração do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo).

servicos variacao real ibge achados economicos

Opinião

A lenta recuperação da receita real dos serviços nos últimos meses está aquém do desejável por uma economia que cresceu apenas 0,9% no ano passado e é chamada de “emergente”.

Em 2012, o Brasil caiu 25 posições no ranking de mundial de crescimento econômico, uma vez que seu PIB avançou menos de 1%, depois de ter subido 2,7% em 2011 e 7,5% em 2010.

Mesmo não entrando em recessão, o país teve uma perda relativa de espaço na economia internacional.

Os dados do setor de serviços reforçam que a atividade econômica está sofrendo para repor essas perdas.

O comércio varejista, um dos segmentos que vinha crescendo fortemente até o ano passado, sofreu uma brusca desaceleração neste ano. Em 2012, o volume de vendas acumulava uma alta de 8%. Já nos 12 meses encerrados em setembro, o aumento foi de apenas 4,9%.

A indústria, é verdade, deu sinais de recuperação. Sua produção cresceu 1,1% nos 12 meses terminados em setembro. Mas isso não garante nem a reposição das perdas do ano passado, quando o setor encolheu 2,6%.

Sobrou a agropecuária como última esperança para impulsionar o PIB brasileiro em 2013. Segundo estimativa do Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), o segmento deve crescer 10,5% neste ano, bem mais que a indústria (1,1%) e os serviços (2,1%).

Com isso, a agropecuária vai permitir que o PIB avance 2,5% neste ano, estima o Ibre. Com indústria fraca, comércio menos vigoroso e serviços em expansão lenta, as commodities agrícolas devem ganhar espaço relativo na economia nacional.


Análise: economia brasileira interrompe ritmo de retomada
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Sílvio Guedes Crespo

industria folhapress rafael andrade

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Os dados que o Banco Central divulgou hoje (14) sobre a economia brasileira são capazes de agradar ao mesmo tempo gregos e troianos – e desagradar a ambos, também, como se pode notar nos comentários da notícia.

Os números do IBC-Br, um indicador que tenta antecipar o cálculo do PIB (produto interno bruto), indicam que a economia brasileira caiu 0,12% no terceiro trimestre em relação ao segundo.

Ao mesmo tempo, apontam que a economia cresceu 2,32% no terceiro trimestre em comparação com um ano antes.

O primeiro número cai como uma luva para os colecionadores de más notícias. É o argumento perfeito para quem torce por uma catástrofe. No limite, pode parecer um sinal de que estamos próximos de entrar em uma recessão.

O segundo atende aos propósitos de quem crê indiscriminadamente na propaganda governista e no otimismo exagerado do ministro Guido Mantega (Fazenda).

Crescimento medíocre

Para quem está interessado em entender o que acontece no país e não tem paciência para tentar fazer uso partidário desses dados, minha sugestão é olhar para ambos os números e também para alguns outros.

Resumindo, o cenário que temos hoje é o seguinte:

  • no ano passado, a economia foi mal (cresceu apenas 0,9%);
  • durante o primeiro semestre deste ano, melhorou. No período de abril a junho, especialmente, surpreendeu muitos analistas ao crescer 1,5%, mais do que países como Coreia do Sul e México. Continuasse nesse ritmo, o PIB acumularia alta de 6,1% em um ano;
  • no terceiro trimestre, nossa economia perdeu vigor (caiu 0,12% em relação ao segundo trimestre), mas não tanto a ponto de voltarmos ao mau desempenho do ano passado (em comparação com o terceiro trimestre de 2012, produzimos 2,32% mais neste ano).

Enfim, o que esses e outros dados mostram é que este ano estamos com um desempenho econômico medíocre. Há os que se contentam com a mediocridade e os que querem fazê-la parecer sinônimo de desastre.

Em minha visão, o melhor é entender que não estamos bem e que temos um grande potencial de melhora. Falta, por exemplo, o governo trocar a ideia de se confrontar com investidores pela de combater o desperdício de gastos públicos.


Apoio ao capitalismo aumenta entre brasileiros, mas com políticas sociais
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Sílvio Guedes Crespo

dolar reuters

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A mais recente edição do Latinobarômetro mostrou um aumento do apoio dos brasileiros à economia de mercado, ou seja, ao capitalismo. Ao mesmo tempo, a maior parte dos pesquisados vê o Estado como uma entidade capaz de acabar com grande parte da pobreza, senão toda ela.

Em texto anterior, este blog informou que o apoio à privatização, entre os brasileiros, é o segundo maior da América Latina.

Os dados sugerem que a população apoia um equilíbrio na relação entre Estado e mercado. A maioria (63%) acredita que as empresas privadas são indispensáveis para o desenvolvimento do país. Por outro lado, 77% confiam na capacidade estatal de combater a pobreza.

Veja abaixo alguns dos resultados da pesquisa.

Apoio ao capitalismo

O apoio da população à economia de mercado atingiu o maior nível desde 2005.

latinobarometro economia de mercado achados economicos

Políticas sociais

A população brasileira é a segunda da América Latina entre as que mais confiam na capacidade do Estado de resolver grande parte da pobreza, senão toda ela.

Do total de entrevistados, 77% disseram que o poder público é capaz de combater totalmente ou grande parte desse problema. Somente no Paraguai o otimismo com essa capacidade do Estado é maior.

pobreza latinobarometro achados economicos