Achados Econômicos

Arquivo : setembro 2013

Restituição do IR atingiu 3 milhões de pessoas a menos neste ano
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Sílvio Guedes Crespo

Atualizado às 16h33*

As restituições do Imposto de Renda de 2013 chegaram a 5,5 milhões de pessoas nos quatro primeiros lotes, liberados de junho a setembro, segundo dados da Receita Federal.

No ano passado, no entanto, 8,5 milhões de contribuintes do Imposto de Renda Pessoa Física 2012 já haviam recebido o dinheiro em setembro.

A diferença, de 3 milhões de pessoas, representa uma queda de 35% em relação ao ritmo de entrega das restituições de 2012.

O valor distribuído também caiu, mas em menor intensidade. Os quatro primeiros lotes do ano passado somaram R$ 8,8 bilhões para os contribuintes do IRPF 2012. Em igual período de 2013, o montante foi de R$ 6,6 bilhões, queda de 25%.

A redução do ritmo da entrega de restituições diminuiu apesar de o número de declarantes ter superado o do ano passado e batido recorde, com 26 milhões de pessoas.

Neste ano, a Receita começou a liberação das restituições com um lote recorde, devolvendo R$ 2,7 bilhões, 6% a mais do que em junho do ano passado.

Depois, no entanto, o ritmo caiu fortemente. O segundo e o terceiro lote beneficiaram menos da metade do número de contribuintes restituído no mesmo período de 2012. O quarto lote de 2013 atingiu 36% menos pessoas do que há um ano.

Cronograma

A Receita não tem uma explicação do porquê dessa redução. Afirma que a “liberação dos lotes obedece um cronograma de desembolso previamente estabelecido e que é cumprido rigorosamente”.

Em declarações à imprensa, alguns economistas disseram que a Receita pode estar segurando as devoluções de impostos para fazer caixa, acusação que o órgão nega.

O objetivo seria, segundo essa hipótese, aumentar o superávit primário (dinheiro que o governo guarda para pagar dívida) de julho a setembro. No entanto, as metas desse tipo de superávit são anuais. Se empurrar a devolução do dinheiro para dezembro, o resultado primário não muda.

Além disso, o governo remunera as restituições com a taxa básica de juros, a Selic, que subiu 1,5 ponto percentual desde junho. Como a Selic tem ficado acima da inflação, quanto mais tempo o governo segura a restituição, mais dinheiro perde.

Outra hipótese é de que, neste ano, tenha aumentado o número de pessoas que foram para a malha fina. A confirmação, porém, só vira em dezembro, quando a Receita liberar o último lote deste ano.

* Substituição da palavra ‘beneficiou’ por ‘atingiu’, no título.


Importação de gasolina aumenta 42 mil vezes em três anos
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Sílvio Guedes Crespo

*Atualizado 12/09 às 11h22

O Brasil aumentou drasticamente a importação de gasolina logo depois de ter quase zerado essa conta, segundo dados da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis). Com isso, o país deixou de ser um exportador desse produto.

Em 2009, o país havia praticamente se livrado da necessidade de importar gasolina. Gastou apenas US$ 71 mil com a compra do combustível no exterior. No ano passado, no entanto, dispendeu o valor recorde de US$ 3 bilhões, ou 42,5 mil vezes mais.

As exportações, ao contrário, caíram fortemente, de US$ 965 milhões em 2009 para US$ 93 milhões em 2012, uma baixa de 90%.

Os números representam uma inversão da situação em que se encontrava a balança comercial da gasolina. De 1991 (dado mais antigo disponível pela ANP) a 2010, o país quase sempre exportou mais gasolina do que importou, com apenas duas exceções, em 1995 e 1996.

Já em 2010, a importação de gasolina aumentou significativamente, mas a exportação ainda era relativamente alta e compensou. Foi a partir de 2011 que o país ficou com saldo negativo.

Consumo alto

A importação de gasolina aumentou depois que o consumo começou a crescer mais que a produção, conforme o gráfico abaixo.

Este gráfico deve ser observado com cuidado, porque, quando falamos em produção, consideramos a gasolina tipo A (vendida nas refinarias, sem adição de álcool anidro); já a gasolina que consumimos é a do tipo C (que hoje tem 25% de etanol).

Por isso, é normal que a linha verde fique sempre um pouco acima da vermelha. No entanto, pode-se observar claramente que ambas caminhavam de forma quase paralela até 2009, mas depois houve um descolamento, com o consumo avançando muito mais do que a produção.

Em 2013, a tendência é diminuir um pouco, pois a produção cresceu 7,1% até julho, e o consumo, 4,2%. Mas não o suficiente para o país voltar a prescindir de gasolina importada.

A Petrobras alega que a produção vem subindo em média 10% ao ano e “suportou parcialmente o expressivo aumento da demanda nacional”.

A empresa estima que, em 2013, a importação de gasolina será entre 30% e 40% menor do que em 2012, devido ao “aumento da eficiência operacional das refinarias” e à elevação do teor de álcool anidro misturado à gasolina em maio.

Autossuficiência

Apesar do saldo negativo no comércio de gasolina com o exterior, o país continua autossuficiente em petróleo e derivados, segundo a ANP. Isso ocorre porque as exportações de petróleo bruto compensaram não apenas as importações do óleo leve, mas também as de derivados, como a própria gasolina.

De qualquer maneira, exportar matéria-prima e importar o produto pronto não é vantagem para o país. (Aliás, é um problema histórico que envolve vários outros segmentos da economia e que ainda pretendo abordar futuramente por este blog.)

O professor Ricardo Mollo, do Insper, comenta a questão na entrevista abaixo.

Por que a importação de gasolina aumentou tanto?

Porque o Brasil produz em quantidade insuficiente em relação ao que precisaria. O país necessita do equivalente a 2,9 milhões de barris por dia, mas só  tem capacidade de refino de 2 milhões.

Qual a perspectiva para os próximos anos?

Existem algumas refinarias em construção, mas acabaram atrasando. A Abreu e Lima, em Pernambuco, é a próxima a ficar pronta, em 2014, com cerca de 280 mil barris por dia, ainda insuficiente.

As coisas vão começar a acalmar em 2016, quando a Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro) começar a funcionar, em 2016. Mais duas refinarias, no Maranhão e no Ceará, devem entrar em funcionamento em 2017 e 2018.

Por que os investimentos não foram feitos?

A Petrobras tem limitações. Por ser controlada pelo governo, precisa fazer licitações, e isso demora. Além disso, investimentos que poderiam ser feitos em refinarias foram direcionados para prospecção e perfuração.

Enquanto isso, a Petrobras paga caro na gasolina importada e vende mais barato aqui?

Sim. Deve pagar hoje R$ 1,70 ou R$ 1,80 por litro e vende por R$ 1,30 a R$ 1,40 às distribuidoras. Então tem prejuízo. [Nota do entrevistador: o preço de venda às distribuidoras não é o mesmo que o consumidor paga nos postos; este último é mais caro por causa dos ganhos das próprias distribuidoras, dos impostos e dos custos de transporte, entre outros.]

O que se poderia fazer para amenizar o problema enquanto as refinarias não ficam prontas?

O governo poderia aumentar a quantidade de etanol misturada na gasolina. Era de 20%, agora é de 25%. Claro que com essa mistura a gasolina vai ter uma performance pior. Mas tem que ver o que custa mais, se importar a gasolina e a Petrobras bancar (vendendo mais barata aqui) ou misturar álcool.

* O preço que a Petrobras paga pela gasolina importada e recebe pela venda nas refinarias foi estimado pelo professor Ricardo Mollo em reais, não em dólares, como informava incorretamente este texto. O erro foi corrigido em 12/09 às 11h22. Além disso, o autor acrescentou uma observação ao final da terceira resposta do entrevistado


76% acreditam que inflação não está controlada; 36% preveem melhorar renda
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Sílvio Guedes Crespo

A mais recente pesquisa sobre a avaliação do governo e da situação atual mostra que o brasileiro ficou menos pessimista em relação à sua própria renda, mas continua preocupado com a economia do país.

Nada menos que 76% dos entrevistados não acreditam no discurso do governo segundo o qual a inflação está controlada, de acordo com a pesquisa CNT/MDA, divulgada nesta terça-feira (10).

O IPCA, indicador oficial de inflação, acumula uma alta de 6,09% nos últimos 12 meses. O número é inferior ao pico de 6,59% alcançado em março deste ano, mas permanece acima do centro da meta definida pelo governo (4,5% ao ano).

Crescimento

Os entrevistados também se disseram “preocupados” (41%) ou muito preocupados (13%) com a economia do país. Do total de pessoas pesquisadas, 41% acham que o crescimento deu lugar uma estagnação, e só 24% acreditam que a economia ainda está se expandindo.

Não é possível saber se esses números melhoraram ou pioraram porque na pesquisa anterior, de julho, não havia perguntas sobre inflação nem sobre crescimento econômico.

O PIB (produto interno bruto do país) subiu 1,5% no segundo trimestre deste ano, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Foi o melhor resultado desde 2010, mas economistas têm afirmado que esse ritmo não se sustentará no terceiro trimestre.

Emprego e renda

A expectativa de cada entrevistado sobre sua própria renda aumentou, recuperando o nível em que estava antes das manifestações.

Atualmente, 36% acreditam que a própria renda mensal vai aumentar nos próximos seis meses, mesmo percentual de junho. Em julho, um mês após milhões de pessoas irem às ruas protestar, essa proporção era de 30%.

À pergunta sobre o mercado de trabalho, 35% disseram achar que o emprego no país vai melhorar nos próximos seis meses. Esse percentual aumentou em relação a julho (32%), mas ainda não recuperou o nível pré-manifestação (40% em junho).


Após 5 meses, poupança pela regra antiga volta a bater a inflação
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Sílvio Guedes Crespo

Quem tem aplicação na poupança pela regra antiga, ou seja, investiu antes do dia 4 de maio do ano passado e não resgatou o dinheiro, voltou a ter um rendimento acima da inflação.

O indicador oficial de preços (IPCA) acumulou uma alta de 6,09% nos 12 meses encerrados em agosto. No mesmo período, as aplicações da poupança que seguem a regra antiga renderam 6,2%.

O gráfico acima mostra que, desde março, a rentabilidade da poupança antiga vinha perdendo para a inflação, considerando sempre períodos de 12 meses.

Já os poupadores que seguem a regra nova (aqueles que aplicaram depois de 3 de maio do ano passado) continuam perdendo poder de compra, pois tiveram rentabilidade de apenas 5,3% no últimos 12 meses. A linha verde começa em maio de 2013 porque, antes disso, não havia aplicações na poupança nova com prazo de um ano.

De acordo com o economista Fabiano Lima, pesquisador do Instituto Assaf, os aumentos recentes da taxa básica de juros, a Selic,  que elevaram a rentabilidade dos poupadores que estão na regra nova, aumentando a probabilidade de estes também passarem a ter ganho real.

O IPCA acumulado em 12 meses atingiu um pico de 6,7% em junho e depois passou a desacelerar. A projeção de analistas de mercado consultados pelo Banco Central é de que a inflação de janeiro a dezembro de 2013 fique em torno de 5,8%.


Após recorde, montadoras mais que dobram previsão de alta da produção
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Sílvio Guedes Crespo

Atualizado às 14h47*

As montadoras instaladas no Brasil mais do que dobraram a expectativa de crescimento da produção de veículos e, ao mesmo tempo, reduziram a menos da metade a previsão de aumento das vendas, segundo informou a Anfavea (associação que representa o setor), após anunciar recorde de produção em agosto.

Projeções de crescimento em 2013

Previsão anteriorPrevisão Atual
Produção4,5%11,9%
Vendas3,5% a 4,5%1% a 2%
Exportação-4,6%20%

A entidade agora projeta que a produção de automóveis no país seja, este ano, 11,9% maior do que foi em 2012. A estimativa anterior era de uma alta de 4,5%.

Por outro lado, a associação passou a prever um aumento menor das vendas. Na projeção anterior, esperava alta de 3,5% a 4,5%; agora, estima em 1% a 2%.

Considerando que o nível de estoque está “normal”, como afirmou o presidente da Anfavea em entrevista coletiva, o que parece motivar um aumento da expectativa de produção, mesmo com a queda na previsão das vendas, são as melhores condições para a exportação.

Até julho, as montadoras esperavam uma queda de 4,6% nas exportações neste ano. Agora, a elas projetam uma alta de 20%.

Embora, segundo a própria Anfavea, a cotação do dólar esteja em um patamar bom para as montadoras no Brasil, não foi o câmbio que levou a entidade a prever aumento maior das exportações, e sim a melhora do cenário internacional.

Quando revisou a alta, o presidente da entidade, Luiz Moan, afirmou que o dólar continuava muito instável, de modo que, sozinho, o câmbio ainda não era um fator suficiente para sustentar uma projeção de melhora das exportações.

A previsão de exportar mais está baseada no aumento registrado de vendas para a Argentina e na manutenção do comércio com outros países, como os da União Europeia. Além disso, o presidente da Anfavea citou o Inovar Auto, programa federal para desestimular a importação e atrair investimento, como um dos fatores do aumento da produção local.

Indústria

Os dados da Anfavea – tanto as projeções como o registro do aumento recente da produção – dão esperança de que a atividade industrial do país tenha melhorado em agosto.

O setor automotivo foi o principal responsável pela queda de 2% da indústria brasileira em julho. Com um crescimento de 9% da produção de veículos no mês seguinte, além da revisão das expectativas do setor, aumenta a probabilidade de que a indústria recupere parte de suas perdas.

Quanto à revisão da projeção das vendas internas, deve-se notar que a Anfavea não está prevendo queda, mas sim um aumento menor do que o esperado anteriormente. Ou seja, apesar de o segundo semestre do ano passado ter sido muito forte por causa da redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), o desempenho deste ano deve ser de 1% a 2% superior, segundo as montadoras.

Os novos dados da Anfavea reforçam a hipótese defendida por este blog anteontem, de que o fundo do poço do recente ciclo de baixa da produção industrial ocorreu no final do ano passado e início de 2013.

É claro que esta lenta retomada da indústria não está garantida. Mas a informação de que a União Europeia, um dos principais parceiros comerciais do país, manteve o ritmo de compra de carros “made in Brazil”, junto com a notícia de que a protecionista Argentina elevou as importações, aumenta as chances de melhora dos produtores nacionais.

* Acrescentada declaração do presidente da Anfavea de que o Inovar Auto é um fator da alta da produção


Bancos invertem posição e ficam ‘vendidos’ em US$ 4,2 bi
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Sílvio Guedes Crespo

* Atualizado em 6/9/2013

Depois de três meses seguidos na posição ‘comprada’ em dólares, os bancos inverteram o sinal e em agosto passaram a ficar vendidos, segundo dados do Banco Central divulgados nesta quarta-feira.

Somadas, as instituições financeiras que atuam no país terminaram o mês de agosto “vendidas” em US$ 4,2 bilhões.

A mudança de posição ocorreu no mesmo mês em que saíram do país US$ 5,9 bilhões, a maior debandada de dólares dos últimos 15 anos registrada em meses de agosto.

Para Luiz Antonio Pardal, sócio da TCX Asset Manager, a mudança de posição dos bancos pode ter ocorrido depois que o BC anunciou, dia 22, que faria leilões diários até dezembro para tentar conter a alta do dólar (veja entrevista abaixo).

Até o dia 21 de agosto, o dólar acumulava uma alta de 7,4% naquele mês. No dia seguinte, o sentido se inverteu, e a moeda desde então caiu 3,7%.

* O post não informava que a posição ‘vendida’ em questão se referia ao mercado à vista. A informação foi acrescentada em 6/9.


Análise: indústria deixa fundo do poço, mas retomada é incerta
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Sílvio Guedes Crespo

A produção industrial tem se comportado na forma de uma montanha russa nos últimos meses, alternando momentos de alta e de baixa.

O setor teve queda de 2% em julho, depois de ter registrado desempenho negativo em fevereiro e maio, e positivo em março, abril  e junho.

O segmento que mais contribuiu para a queda em julho, o de veículos, é um dos mais instáveis. Despencou 9,5% em fevereiro, cresceu nos dois meses seguintes (8,2% e 8%, respectivamente), voltou a cair em maio, subiu em junho e recuou novamente em julho.

O farmacêutico, o segundo ramo com maior impacto negativo no índice geral da indústria em julho, também tem variado para cima e para baixo. Subiu 10% em junho e caiu 10,7% em julho, após alternar entre resultados positivos e negativos em meses anteriores.

Para evitar um olhar míope sobre a indústria brasileira neste momento de instabilidade, é recomendável observar também o desempenho em prazos maiores. Abaixo, veremos os resultados acumulados em 12 meses, sempre em relação a igual período do ano anterior.

Nesse tipo de comparação, nota-se que a indústria brasileira acabou de sair de um ciclo de baixa e entrou em uma fase de leve alta, como indica o gráfico. A consistência dessa retomada, no entanto, é incerta.

O gráfico mostra que o ciclo de baixa mais recente da indústria começou na passagem de 2011 para 2012 e viu o fundo do poço em setembro do ano passado (-2,9%). Em junho de 2013, registrou uma leve alta (0,3%), mantida no mês seguinte (0,6%).

A boa notícia é que o setor que puxou para baixo o resultado de julho apresentou melhora quando se observam os resultados acumulados em 12 meses.

A produção de veículos, que foi muito mal no ano passado (queda de 13,6%), reduziu sua queda aos poucos ao longo de 2013, de modo que passou a apresentar alta de junho (1,7%) e julho (3,3%).

Outro ponto positivo está no segmento de máquinas e equipamentos, que registrava forte queda no início do ano (-4,1% nos 12 meses encerrados em janeiro) e depois reduziu as perdas, passando a ter leve alta também a partir de junho.

O ramo de alimentos também diminuiu a queda, porém, sem ainda começar a crescer.

Mas essa análise de prazo um pouco mais longo também traz más notícias. Considerando sempre o acumulado de 12 meses, dois segmentos que mostram grande dificuldade, e põe em dúvida a retomada da indústria brasileira, são o extrativo e o têxtil.

Este último não parou de encolher desde fevereiro de 2011. Um consolo é que as taxas de queda já foram piores. Estavam em  torno de -15% na passagem de 2011 para 2012 e agora, em 2013, passaram a variar ao redor de -3%.

Dado esse grande período de retração, não se pode esperar que empresários invistam firmemente no ramo nos próximos meses, mesmo com a desvalorização do real, que encarece os tecidos importados.

Outro setor em dificuldade, o extrativo, mostrou que vai de mal a pior. Registrou uma ligeira alta de 1,8% em março, mas desde então passou a cair, e cada vez com maior intensidade, chegando a -3,7% em julho.

Com importantes ramos da indústria caminhando em direções opostas (o de veículos com sinais de recuperação, e o extrativo e outros com indicações de piora), e ainda com as incertezas na economia internacional, o futuro da indústria permanece incerto. Se o fundo do poço ficou para trás no segundo semestre do ano passado, como mostra o gráfico acima, não há sinais de que a retomada seja duradoura.

Tanto que diversos analisas econômicos, depois de terem sido pessimistas demais nas estimativas para o PIB (produto interno bruto) do segundo trimestre, erraram também as projeções para a indústria – só que, desta vez, por serem otimistas demais.

A estimativa mediana para a variação da produção industrial de junho para julho, segundo 21 especialistas consultados pela agência Reuters, era de uma queda de 1,2%. O resultado oficial foi uma retração ainda maior, de 2%.


PIB do Brasil cresce mais que de EUA e Coreia; perde para China e Indonésia
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Sílvio Guedes Crespo

Atualizado às 10h18*

A economia brasileira surpreendeu muitos analistas no segundo trimestre, colocando o país em uma posição melhor do que a verificada no início do ano, em comparação com outras nações.

O PIB (produto interno bruto) do Brasil avançou 1,5% em relação ao primeiro trimestre, superando não apenas o dos maiores países ricos, como os Estados Unidos e a Alemanha, mas também o de nações que vinham se expandindo bem, como o México e a Coreia do Sul. Por outro lado, continua atrás dos asiáticos de crescimento rápido, como a China e a Indonésia, conforme o gráfico abaixo.

No primeiro trimestre, o crescimento da economia do Brasil havia sido igual ao dos EUA e inferior ao da Coreia.

Para quem vem acompanhando o PIB dos países, pelo menos dois pontos no gráfico acima chamam atenção.

Primeiro, ver o Brasil com um resultado muito próximo do da China. Depois, encontrar Portugal (que está mergulhado em crise) acima de países como Alemanha e México.

Os dois casos devem ser vistos com cuidado por motivos parecidos. O Brasil encostou na China após ter um crescimento econômico excepcionalmente bom. Fazia 13 trimestres que o PIB brasileiro não crescia nesse ritmo. Já o da China vem se mantendo em ritmo igual ou superior ao atual há anos.

Quando comparamos períodos um pouco mais longos, vemos que a China, apesar de ter piorado, continua relativamente bem. A alta do PIB do segundo trimestre em relação a igual período do ano passado foi de 7,5%. Nesse tipo de comparação, a economia brasileira cresceu 3,3%.

A questão de Portugal é parecida com a da China, só que ao contrário. A economia portuguesa vinha encolhendo fortemente. Nesse contexto, crescer 1,1% no segundo trimestre, em comparação como primeiro, que foi muito fraco, não significa muita coisa. Tanto que, em relação ao segundo trimestre de 2012, o PIB teve uma queda de 2%.

Variação em um ano

Olhando o segundo trimestre deste ano em comparação com o período equivalente de 2012, conseguimos uma noção um pouco mais ampla da situação global.

Não apenas porque assim enxergamos um período mais longo, mas também porque alguns países importante só divulgaram a variação do PIB em relação a um ano antes, como a Rússia, o Chile e o Peru.

Nesse tipo de comparação, o PIB do Brasil cresceu 3,3%, mantendo um resultado melhor que o dos países ricos e atrás da China e da Coreia.

Mas aqui conseguimos perceber que o Chile e o Peru também registraram taxas asiáticas de crescimento, superando o Brasil.

Em relação ao grupo de emergentes chamado Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), o PIB brasileiro avançou mais que o da Rússia e o da África do Sul e menos que o da China. A Índia ainda não divulgou o dado.

* Acrescentadas mais informações e segundo gráfico às 10h18


Peso da indústria na economia brasileira volta ao nível de 1955
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Sílvio Guedes Crespo

Atualizado às 15h19*

‘Folha da Manhã’ em 29 de setembro de 1956: Juscelino prometia amparar indústria automobilística

A indústria tem hoje um peso na economia brasileira tão grande quanto tinha em 1955, antes de Juscelino Kubitschek chegar à Presidência e anunciar seu Plano de Metas para o desenvolvimento do país.

A produção do setor corresponde, atualmente, a 13,3% do PIB (produto interno bruto); em 1955, eram 13,1%, segundo o estudo “Por que reindustrializar o Brasil?”, divulgado nesta quarta-feira (28) pela Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).

De acordo com o estudo, a desindustrialização no Brasil começou na década de 1980, após a participação do setor no PIB atingir um pico de 27,2%, como indica o gráfico abaixo, extraído da pesquisa. A projeção da Fiesp é de que, se a atual tendência continuar, a proporção tende a chegar a 9,3% em 2029 ou antes.

A princípio, os dados poderiam levar a crer que a indústria perdeu importância para o país, tornando-se uma atividade secundária para o crescimento econômico, uma vez que o setor de serviços gera mais da metade do PIB.

A Fiesp, no entanto, defende nesse estudo uma tese exatamente oposta, de que reforçar a área industrial será indispensável se o Brasil quiser se tornar um país rico. Afirma que, se a tendência de queda da participação da indústria no PIB se mantiver, junto com uma baixa taxa de investimento das empresas, “as perspectivas de o país atingir um nível de renda per capita minimamente compatível com o patamar dos países desenvolvidos se mostram cada vez mais distantes”.

A entidade argumenta que, nos países ricos, primeiro houve uma forte industrialização, gerando aumento da renda per capita, que por sua vez viabilizou os investimentos no setor de serviços. A desindustrialização das nações desenvolvidas ocorreu “naturalmente”, diz o estudo, mas somente depois que o PIB per capita chegou a perto de US$ 20 mil.

Um ponto comum de todos os países com mais de 25 milhões de habitantes que conseguiram atingir aquela renda per capita é que, em todos eles, esse patamar foi alcançado quando a indústria representava mais de 20% do PIB, segundo a pesquisa.

Por isso, a Fiesp acredita que o Brasil teve uma “desindustrialização prematura” e “acelerada”. Os representantes da indústria paulista propõem que o governo crie as condições para que o segmento se desenvolva e ajude a aumentar a renda per capita do país.

O estudo calcula que para dobrar a renda per capita do país em 20 anos não é preciso crescer a taxas chinesas. Basta que o PIB avance 4% ao ano. Se a meta for dobrar a nossa renda per capita em 15 anos, a economia deveria se expandir 5,3% ao ano, diz a Fiesp.

Atualmente, o peso da indústria no PIB é maior no Brasil do que em alguns países ricos, como os EUA, conforme o gráfico abaixo.

Opinião

Embora apresente dados relevantes ao comparar a desindustrialização do Brasil com a de outros países, o estudo não consegue confirmar a sua principal hipótese – de que aumentar a participação da indústria no PIB, ou amenizar sua queda, é essencial para elevar a renda per capita a US$ 20 mil.

O fato de que nove países tinham um alto grau de industrialização quando ficaram ricos não garante que todos os demais tenham que fazer o mesmo caminho para chegar lá. Muito menos que hoje essa via seja a melhor.

Nessas nações apontadas como possíveis modelos, a renda per capita de US$ 20 mil veio na década de 1970, uma época em que os serviços ainda não tinham uma participação tão grande na economia mundial.

Se o alto nível de industrialização foi um ponto comum entre os países desenvolvidos, muitos outros também foram. Por exemplo, todas as nações citadas enriqueceram num momento histórico em que o setor de tecnologia da informação não tinha o peso que tem hoje. Poderíamos concluir, então, que primeiro devemos construir fábricas, para depois pensarmos em desenvolver os softwares que as linhas de montagem vão utilizar?

A Fiesp afirma que a desindustrialização no Brasil está ocorrendo “antes de a expansão do setor de serviços intensivo em conhecimento se tornar capaz de absorver a mão de obra desempregada pela indústria”. Mas a taxa de desemprego continua em patamar historicamente baixo, sendo que alguns setores, mesmo não sendo de ponta, têm dificuldade de encontrar profissionais qualificados.

“Provavelmente, parcela significativa da força de trabalho desempregada acaba sendo alocada em setores de baixa produtividade e baixos salários e/ou em subempregos”, diz o estudo. Só que hoje mesmo uma outra pesquisa, esta do IBGE, mostra que a produtividade está crescendo no setor de serviços, mais até do que os salários, que tiveram ganhos acima da inflação nos últimos quatro anos.

A entidade representante da indústria paulista defende políticas para “moderar ou escalonar a intensidade da desindustrialização durante um longo período de tempo com o intuito de aproveitar ao máximo os benefícios de uma participação elevada da indústria no PIB”. Só que uma indústria protegida pelo Estado tem pouco estímulo para inovar e, assim, não beneficia tanto o resto da sociedade.

Em vez de moderar a queda dos setores mais hábeis no lobby político, o governo poderia retirar gradativamente o protecionismo e permitir que o capital escolha os segmentos com maior potencial de crescimento.

* Acrescentados o item “Opinião” (às 13h24), a imagem de jornal (14h50) e o gráfico comparando países (15h19).


Desempenho das empresas por trabalhador cresce mais que salários no setor de serviços
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Sílvio Guedes Crespo

O setor de serviços no Brasil cresceu em número de trabalhadores e em salários pagos nos últimos anos, e nem por isso o ganho dos empregadores foi achatado. Ao contrário, a produtividade dos funcionários subiu, de modo que as empresas passaram a faturar mais.

Serviços no Brasil

  • R$ 1 trilhão

    Foi a receita do setor em 2011

  • 1,1 milhão

    É o total de empresas do ramo

  • R$ 592 bilhões

    É o valor adicionado à economia

  • 11,4 milhões

    De pessoas empregadas

  • R$ 203 bilhões

    Em remuneração a trabalhadores

Os dados, divulgados nesta quarta-feira (28) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), apontam que cada trabalhador do setor aumentou sua produção em 3,2% ao ano entre 2007 e 2011 (dado mais recente). Ao mesmo tempo, o salário médio subiu 2,8% ao ano.

A pesquisa define produtividade como o valor adicionado (valor que a empresa gera ao prestar um serviço) dividido pelo número de pessoas ocupadas.

O valor adicionado avançou 11,7% ao no período analisado, enquanto a população que trabalha no setor cresceu um pouco menos (8,2%), gerando ganho de produtividade.

Em números absolutos, os 11,4 milhões de trabalhadores do setor geraram R$ 592 bilhões em valor adicionado em 2011, de modo que, na média, cada um prestou serviços no valor de R$ 52 mil e recebeu uma remuneração anual de R$ 17,8 mil. Em 2007, cada profissional produziu o equivalente a R$ 46 mil e foi remunerado em R$ 16 mil.

A melhora do desempenho por trabalhador pode resultar de diversos fatores, como o investimento em máquinas e instrumentos de trabalho, o aumento do número de horas trabalhadas por pessoa ou à melhora da qualificação dos profissionais. O IBGE não especifica quais fatores seriam os responsáveis pelo crescimento da produtividade.

Os números, em sua maioria positivos, pintam um retrato mais animador do que outras notícias recentes sobre a economia brasileira. Isso ocorre por pelo menos dois motivos: primeiro, porque a pesquisa não traz os dados de 2012, quando o PIB (produto interno bruto) do país cresceu apenas 1%. Em segundo lugar, porque ela se refere apenas ao setor de serviços, que vem crescendo mais do que a indústria e do que a economia brasileira em geral.