Achados Econômicos

Arquivo : março 2014

Inflação de 0,69% é a maior para meses de fevereiro desde 2011
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Sílvio Guedes Crespo

Atualizado às 11h38*

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O índice oficial de inflação apontou que os preços no país subiram 0,69% no mês passado, o que representa o maior aumento, para meses de fevereiro, dos últimos três anos.

A última vez em que o indicador superou 0,69% em um mês de fevereiro foi em 2011, quando atingiu 0,8%.

ipca fevereiro

Os dados são do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), medido pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

A inflação em janeiro havia sido de 0,55%; em fevereiro do ano passado, de 0,6%. Nos últimos 12 meses, atingiu 5,68%.

A meta do governo para 2014 é de 4,5%, com tolerância de dois pontos percentuais para mais ou para menos.

Se considerarmos não só os meses de fevereiro, a alta foi a maior desde dezembro do ano passado (0,92%). Mas, quando se trata de inflação, é melhor comparar sempre com o mesmo mês dos anos anteriores, pois os preços sofrem muita influência de fatores sazonais.

Em meses de fevereiro, por exemplo, a alta costuma ser puxada pelos reajustes de mensalidade escolar. Neste ano, o custo dos cursos regulares subiu 7,64%. Com isso, o conjunto de itens que o IBGE classifica como “Educação” aumentou 5,97%.

Do 0,69% que foi a inflação em fevereiro, mais de um terço (0,27 ponto percentual) foi provocado pelo grupo Educação.

Análise

Observando os dados históricos de meses de fevereiro no gráfico acima, vemos que estamos em um patamar inferior ao dos anos de 2010 e 2011 e bem abaixo do pico de 2003.

Mesmo assim, a situação atual preocupa porque estamos vindo de uma sequência de três aumentos seguidos do IPCA de fevereiro e, neste momento, os dados de conjuntura não apontam para uma redução significativa da inflação.

Analistas consultados pelo Banco Central esperam que a inflação em todo o ano de 2014 fique em 6%. Para 2015, a previsão é de 5,7%, ou seja, uma leve queda do ritmo de aumento de preços.

A projeção do BC é de que a inflação fique em 5,3% em 2014 – portanto, acima do centro da meta do governo, que é de 4,5%, mas abaixo do teto de tolerância, de 6,5%.

Quando se calcula a inflação acumulada em 12 meses, ela está acima do centro da meta desde 2010. Isso ocorreu apesar de o BC ter aumentado fortemente a taxa básica de juros, de 7,25% ao ano, em abril de 2013, para os atuais 10,75%.

Quando o BC iniciou este ciclo de aumento de juros, em abril do ano passado, a inflação acumulada nos 12 meses anteriores era de 6,49%. Hoje, está em 5,68%.

Vários fatores explicam por que os preços desaceleraram pouco desde o início daquele ciclo. Primeiro, que o impacto do aumento das taxas de juros sobre os preços não é imediato. Ao contrário, existe uma grande defasagem entre as decisões do BC o efeito nos preços.

Em segundo lugar, ao mesmo tempo em que os juros aumentaram, o dólar também subiu. Com isso, o preço de produtos importados tende a se elevar, pressionando a inflação.

Outro ponto é política fiscal. Quando o governo aumenta os gastos – e isso ocorreu no ano passado e também anteriormente – ele faz com que a demanda por bens e serviços também se eleve, o que constitui outra pressão na inflação.

Existem também fatores climáticos que influenciam o preço de alimentos. Economistas ouvidos pelo Valor Econômico disseram que a falta de chuva fez aumentarem os preços de produtos in natura e que a tendência é de esse problema se intensificar em março.

* Acrescentado o item ‘Análise’ às 11h38


Expansão de 2,9% da indústria em janeiro é a maior em um ano
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Sílvio Guedes Crespo

Atualizado às 11h58*

industria Fernando Donasci UOL

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Logo depois de ter sofrido sua pior queda mensal desde a crise de 2008, a indústria brasileira agora registra a maior alta dos últimos 12 meses. Sinal de que o quadro de instabilidade verificado no ano passado – em que o setor alternava momentos de alta e de baixa – ainda não ficou para trás.

A produção industrial subiu 2,9% de dezembro para janeiro. Nesse tipo de medição – comparando a variação de um mês para o outro, sempre com ajuste sazonal – a última vez em que foi constatada uma expansão maior que essa foi na passagem de dezembro de 2012 para janeiro de 2013 (alta de 3,2%).

Os números, divulgados nesta terça-feira (11) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), mostram que o desempenho da indústria em janeiro foi suficiente para recuperar apenas parte das perdas de dezembro, quando a produção havia recuado 3,7%.

ANÁLISE

Por causa dessa instabilidade na produção industrial que temos visto nos últimos meses, com alternância entre breves fases de alta e de baixa, acredito que não se pode entender o que está acontecendo sem olhar para o desempenho do setor em um período um pouco mais longo. Sugiro analisar a variação da produção em períodos de 12 meses.

Nos 12 meses encerrados em janeiro, a produção industrial teve uma alta de 0,52%. Nesse tipo de cálculo, o desempenho tem ficado entre 0,5% e 1,2% desde julho do ano passado. Ou seja, o setor vem mantendo um crescimento fraco desde meados do ano passado.

Antes disso, no entanto, a situação estava pior. De janeiro de 2012 a maio de 2013, a variação da produção industrial em períodos de 12 meses ficou sempre negativa, variando entre -0,4% e -2,9%.

Isso quer dizer que o cenário, hoje, está melhor em comparação com a retração ocorrida naquele período, mas não está nem de longe no mesmo ritmo que tivemos no final da década de 2000.

A esperança de que o ritmo melhore – ou que pelo menos não voltemos a ver uma queda como a de 2012 – está no fato de que o único segmento da indústria que vai bem é o de bens de capital, ou seja, de equipamentos usados na própria produção.

Nos últimos 12 meses, os bens de capital tiveram um avanço de 12,1%, o maior desde abril de 2011.

producao industrial categorias de uso

Já os bens intermediários (produtos que são consumidos pela indústria, como combustíveis, peças usadas na linha de montagem etc) caíram 0,53%. Os bens de consumo, por sua vez, recuaram 0,83%, sempre considerando os últimos 12 meses.

O fato de os bens de capital serem, atualmente, o segmento que mais cresce – e disparado –indica que as empresas estão modernizando ou ampliando suas instalações. E ninguém faz isso se não tiver interesse de aumentar a produção ou melhorar o seu desempenho.

Alguns economistas têm observado que o ramo que mais cresce dentro do segmento de bens de capital é o de caminhões, não o de máquinas usadas nas fábricas. De fato, os equipamentos de transporte industrial tiveram uma alta de 16,1% nos últimos 12 meses.

Mas os demais bens de capital avançaram 9% no mesmo período, um resultado nada desprezível se considerarmos o histórico recente. Há um ano, em janeiro do ano passado, esse ramo havia encolhido 11,5%. Nos últimos 12 meses, portanto, a indústria de bens de capital recuperou ao menos parte do que havia perdido ao longo do fraco ano de 2012.

Conjuntura

É evidente que não se pode basear as expectativas econômicas apenas no histórico estatístico. Enquanto o aumento da produção de bens de capital representa uma esperança, se não de retomada, pelo menos de que não haverá retração neste ano, alguns fatores de conjuntura nacional e internacional geram preocupação.

Três dos principais clientes do Brasil estão longe da sua melhor forma. A China desacelerou seu ritmo de crescimento do PIB (produto interno bruto) nos últimos três meses. Em todo o ano passado, a expansão foi de 7,7%, muito abaixo da taxa de dois dígitos verificada na década de 2000.

A União Europeia, embora não esteja mais causando grandes turbulências nos mercados globais, também não está ajudando muito. Seu PIB subiu apenas 0,4% em 2013.

A Argentina, outro importante parceiro comercial, não só está em crise como não se cansa de erguer barreiras a produtos brasileiros.

Internamente, temos alguns problemas que podem afetar a disposição dos empresários em investir. Além dos entraves antigos (infraestrutura ruim, burocracia excessiva etc), temos este ano juros mais altos, inflação ainda acima do centro da meta.

No lado bom, temos a promessa, da presidente, de conter os gastos públicos (o que ameniza o endividamento do país e dá mais segurança a investidores) e a alta do dólar, que, embora prejudique parte da sociedade, para exportadores acaba ajudando.

A questão é se os juros altos e a inflação não vão ser um problema grande o bastante a ponto de anular todo o benefício que a queda do real poderia trazer para a indústria.

Acrescentado o item “Conjuntura” às 11h58*


Dívida da Petrobras aumenta seis vezes desde 2007; entenda
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Sílvio Guedes Crespo

Atualizado às 9h32

Rafael AndradeqFolhapress

Foto: Rafael Andrade/Folhapress

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A dívida da Petrobras aumentou mais de seis vezes desde 2007, segundo as demonstrações financeiras da companhia divulgadas na semana passada. O valor, que estava em R$ 39,7 bilhões em dezembro daquele ano, atingiu R$ 267,8 bilhões no final de 2013. Somente no ano passado, a alta foi de 36%.

Se considerarmos apenas a dívida líquida, ou seja, a diferença entre o que a empresa está devendo e o que ela tem em caixa, o aumento foi ainda mais forte, pois alcançou R$ 221,6 bilhões em 2013, oito vezes mais que em 2007 e 50% acima do registrado no final de 2012.

divida total e liquida da petrobras

Os dados foram levantados pela economista Paula Barbosa, da UFRJ, a pedido do blog Achados Econômicos. Ela é autora do estudo “O endividamento da Petrobras com o BNDES no período pós-2008”, publicado pela Fundação Getulio Vargas.

A economista observa que o crescimento da dívida tem sido maior do que a evolução dos lucros ou da capacidade da empresa de gerar caixa.

Em 2007, o endividamento da companhia correspondia a 185% do lucro líquido. Hoje, a relação é de 1.136%, o que quer dizer que a empresa precisaria de 11 anos de trabalho para chegar ao valor atualmente devido aos credores.

Mas o lucro líquido, embora seja um indicador fácil de ser compreendido, não é o melhor parâmetro para com a evolução da dívida, pois sofre influência de fatores que nada têm a ver com o bom funcionamento da empresa.

Por exemplo, quando um conglomerado vende uma de suas empresas, o dinheiro que entra, se não for gasto em seguida, é registrado como lucro. Então um desavisado pode olhar para a demonstração de resultados, notar que o lucro disparou e achar que a companhia está em ótima forma, quando na verdade ela pode estar se desfazendo de negócios justamente por viver uma crise.

Outro exemplo de como o lucro é uma medida enganadora: uma empresa pode aproveitar que está em ótimo momento e usar parte dos seus ganhos para fazer uma grande amortização de sua dívida. Nesse caso, quem olhar só para o lucro vai achar que a companhia não vai tão bem.

Por isso, Barbosa sugere que olhemos não só para o lucro, mas também para a relação entre a dívida líquida e o Ebitda ajustado. Ebitda é a sigla em inglês para “lucro antes do pagamento de juros, impostos, depreciações e amortizações”. O Ebitda ajustado, particularmente, elimina fatores extraordinários, como a compra ou venda de ativos da empresa.

Em 2010, a dívida líquida era igual ao Ebitda ajustado. Hoje, ela é 3,5 vezes maior, de acordo com dados levantados por Barbosa.

indice divida luiqda petrobras

A Petrobras destaca que os reajustes no preço dos combustíveis (20% no diesel e 11% na gasolina), o aumento da produção de derivados e a otimização dos custos  no ano passado contribuíram para um aumento de 11% no lucro líquido da empresa e de 18% no Ebitda ajustado – o que ameniza o fato de a dívida ter subido 36% em 2013.

Em outubro, a agência de classificação de risco Moody’s rebaixou a nota da Petrobras, argumentando que a alavancagem (relação entre dívida e lucro) está alta e que o fluxo de caixa tende a ficar negativo nos próximos anos.

A favor da companhia, não podemos nos esquecer de que ela conseguiu tomar emprestados US$ 5,1 bilhões no exterior em janeiro, prova de que muitos investidores continuam apostando na empresa e acreditam na sua capacidade de pagar as dívidas.

A estatal diz que a dívida cresceu por causa da necessidade de investimentos com o pré-sal e acrescenta que a situação está sob controle. “Com a maturação dos investimentos atuais (que contribuirá para a elevação da produção já em 2014 e nova capacidade de refino) e a consequente elevação da geração de caixa, haverá uma reversão desses indicadores. A nossa expectativa é  que em 24 meses nós tenhamos atingido os níveis indicados pelo Conselho de Administração: alavancagem menor do que 35% e dívida líquida/Ebitda menor do que 2,5 vezes”, afirmou a petrolífera, por meio de sua assessoria de imprensa.

Entrevista

De um lado, portanto, vemos diversos analistas apontando um aumento do risco da Petrobras, o que foi expresso na decisão da agência Moody’s. De outro, temos que considerar que ao menos parte da elevação da dívida se deveu à necessidade de investimento, o que é positivo. Para ajudar a explicar o assunto, a economista Paula Barbosa deu a seguinte entrevista ao blog Achados Econômicos.

Pergunta: O que explica o aumento da dívida da Petrobras?

Resposta: Houve dois grandes fatores. Primeiro, com o pré-sal aumentou a necessidade de investir, por exemplo, em equipamentos, estudos, perfurações tc. A Petrobras hoje é uma das empresas de petróleo que mais investem em descobertas, o que é bom. Mas isso aumenta a necessidade de caixa.

Em segundo lugar, tivemos uma conjuntura nacional e internacional desfavorável. Com a crise de 2008, diversas ‘torneiras’ dos bancos estrangeiros se fecharam. A Petrobras teve que se socorrer com bancos públicos nacionais para cobrir despesas de curto prazo.

P: Então o crescimento da dívida ocorreu por um bom motivo, que foi a necessidade de investimento?

R: Sim. Mas depois, outros fatores entraram e não ajudaram, como a disparidade entre preços no Brasil e no exterior [o preço do petróleo aumentou no mundo, mas a Petrobras não repassou inteiramente essa elevação para seus clientes, de modo que ela perde dinheiro quando importa gasolina e vende-a mais barata]. Além disso, a gestão operacional não foi equacionada da melhor forma possível. Nos últimos dez anos, a empresa teve um crescimento muito forte dos projetos, mas deixou de atingir metas. As estimativas de gastos e custos ficaram sempre aquém do que foi efetivamente realizado.


Com Dilma, economia do país cresce no menor ritmo desde Collor
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Sílvio Guedes Crespo

Collor, Sarney, Lula, Dilma e FHC

Collor, Sarney, Lula, Dilma e FHC

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A economia brasileira medida pelo PIB (produto interno bruto) cresceu 2,3% em 2013, depois de uma expansão de 1% em 2012 e de 2,7% em 2011, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Nos três primeiros anos da presidente Dilma Rousseff, portanto, o crescimento médio foi de 2%. O número é metade do verificado na gestão de Luiz Inácio Lula da Silva (4%), e ligeiramente inferior ao registrado no período de Fernando Henrique Cardoso (2,3%).

Também está bem abaixo do desempenho do período Itamar Franco (5%), mas muito acima da variação de -1,3% ao ano verificada nos três anos do ex-presidente Fernando Collor de Mello.

O gráfico abaixo mostra qual foi o ritmo de crescimento médio anual do PIB durante o mandato de cada presidente.

crescimento do pib por presidente 1

Apenas por curiosidade, calculei a média desde Getulio Vargas, que chegou ao pode em 1930. Mas naquela época as condições eram tão diferentes que não dá nem para comparar. Além de uma conjuntura nacional e internacional completamente diversa, o ritmo de crescimento da população era muito maior. Portanto, os dados que vão dos anos 1930 a mais ou menos 1980 estão aí só a título de curiosidade, mesmo.

Só para não perder a viagem, acrescento que, de 1930 até hoje, a economia brasileira registrou um crescimento acumulado de 5.134%.

Mundo

Em comparação com outros países, o período em que o PIB do Brasil teve o melhor desempenho desde 1990 foi o de Itamar, com um crescimento de 5%, acima da média do mundo, da América Latina e dos países emergentes e pobres.

pib por presidente brasil mundo america latina emergentes 01

No gráfico acima, os dados de 2013 são estimativas do Fundo Monetário Internacional (FMI), pois muitos países ainda não divulgaram o PIB do ano passado.

A economia brasileira cresceu menos do que a do mundo nos governos Collor e FHC, assim como nos três primeiros anos de Dilma. O país só superou ritmo do restante do planeta durante as gestões de Itamar e Lula.

No grupo dos emergentes e pobres há 154 nações que o FMI classifica dessa forma. Na América Latina, foram considerados 32 países, incluindo a região do Caribe. No mundo, incluí os 189 países sobre os quais o FMI tem dados.

Comparações

Com este texto, o blog Achados Econômicos encerra uma série de comparações do desempenho da economia brasileira no período de cada um dos últimos presidentes da República.

Considerando as séries históricas disponíveis, o período Dilma foi o melhor em termos de emprego e renda.

Quanto à balança comercial (diferença entre exportações e importações), à inflação e ao equilíbrio das contas públicas, a média anual desses indicadores nos anos Dilma foi menos favorável do que na era Lula e mais do que no período FHC.

Em relação à indústria, o ritmo de crescimento no governo Dilma é o menor desde Collor, como ocorreu com o PIB.

Como venho afirmando desde a primeira postagem desta série, a comparação do desempenho de indicadores econômicos não deve ser a única nem a principal maneira de avaliar um presidente, pois a economia é influenciada por diversos fatores que não estão ao alcance do chefe do Poder Executivo.

Mesmo assim, esse tipo de comparação é importante porque mostra quais foram os principais desafios macroeconômicos do país durante o mandato de cada um e ajuda a entender por que alguns presidentes se tornaram mais populares do que outros.

Se olharmos, por exemplo, para o período Lula, que encerrou seu segundo mandato sendo aprovado por mais de 80% da população adulta, os indicadores de emprego, renda, PIB, balança comercial, contas públicas e inflação estavam melhores do que o do seu antecessor, FHC. Este, por sua vez, foi nitidamente superior aos que o antecederam em termos de combate à inflação, como todos sabemos, o que explica sua eleição em 1994 e, provavelmente, sua reeleição, em 1998.


Opinião: Lula publica mini ‘Carta ao Povo Brasileiro’
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Sílvio Guedes Crespo

lula instituto lula reproduca

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O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva publicou no jornal “Valor Econômico” o que me parece uma mini Carta ao Povo Brasileiro.

No artigo, reconheceu duas vezes que o governo erra e acrescentou que está disposto a mudar na direção que o mercado quer (“Um país robusto não se intimida com as críticas; aprende com elas”; “Cometemos erros, naturalmente, mas a boa notícia é que os reconhecemos e trabalhamos para corrigi-los”).

Nas entrelinhas, entendi que foi um recado a investidores no qual ele quis dizer o seguinte:

***

Pessoal, sei que a Dilma andou pisando na bola com vocês e me sinto um pouco responsável, afinal fui eu que a indiquei.

Mas eu queria dizer que ela está entrando nos eixos. Vejam, ela já desistiu daquele negócio de ficar controlando o que vocês vão ganhar nos leilões de infraestrutura. Vocês gostaram do modelo novo de concessão? A partir de agora vai ser tudo assim.

Tem também esse negócio da dívida bruta, que eu sei que tira o sono de vocês. Mas olhem só: a Dilma já se comprometeu a cortar mais de R$ 40 bilhões do orçamento. E outra: sabe esse dinheiro que a gente pega emprestado a juros altos e empresta para as empresas a juros baixos? Isso a gente vai diminuir. Assim, a dívida bruta vai ficar controlada, não se preocupem.

Em relação à inflação, ok, ela está acima dos 4,5% que a gente combinou. Mas, em primeiro lugar, não vamos esquecer que no último ano do FHC ela estava em 12,5%, e hoje está em 5,9% (kkkkkk..). Tá bom, sei que isso não é suficiente e eu prometo que a Dilma vai colocar a inflação no centro da meta.

Então, vamos dar um voto de confiança para a presidenta? Eu garanto que ela vai fazer tudo isso.

Para garantir mesmo, vou publicar no jornal. Vou deixar registrado que essa é a minha opinião. Se a Dilma resolver fazer diferente, é por conta dela. E já que eu vou publicar um artigo, vou aproveitar e lembrar vocês de novo de tudo o que aconteceu de bom desde que eu fui eleito, porque ninguém é de ferro. E vou falar também das políticas sociais (essa parte vocês aprovam, vai?).

Nos vemos em outubro?

Abração,

Lulinha Paz e Amor”

***

Para quem não se lembra, a Carta ao Povo Brasileiro foi o texto que Lula divulgou em junho de 2002, comprometendo-se a não assumir uma posição antimercado caso fosse eleito. “Lulinha Paz e Amor” foi uma expressão que ele adotou naquela época, para mostrar que estava de bem com o mercado.

Em meio a rumores de que há pessoas dentro e fora do governo pedindo “volta, Lula”, o ex-presidente parece mais empenhado em mostrar a estas que convenceu Dilma a se tornar, de uma vez, um Lula de saias – pelo menos na política econômica.

Para ser uma verdadeira Carta ao Povo Brasileiro, no entanto, o artigo deveria ter ido mais longe e tocado em outras questões que desagradam o mercado, como a política de preços da Petrobras.


No Brasil, acesso a smartphones é menor que no Egito, Venezuela e China
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Sílvio Guedes Crespo

celular smartphone thikstock

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No Brasil, o acesso da população a smartphones é menor do que em países como China, África do Sul e Egito, segundo uma pesquisa do Pew Research Institute, dos Estados Unidos.

Embora mais de 80% dos brasileiros adultos tenham pelo menos um celular, apenas 15% possuem um smartphone, como o iPhone, o BlackBerry ou aparelhos que usem o sistema operacional Android.

A proporção de pessoas que têm smartphones é de 23% no Egito, 33% na África do Sul e de 37% na China. O acesso a smartphone é menor no Brasil apesar de aqui o PIB (produto interno bruto) per capita, de US$ 12,1 mil por ano, ser maior do que nesses três países.

País% da pop. que tem celular% da pop. que tem smartphone
Líbano8645
Chile9139
Jordânia9538
China9537
Argentina8334
África do Sul9133
Rússia9432
Malásia8931
Venezuela8631
Egito8823
México6321
Quênia8219
Nigéria7819
Turquia8717
Filipinas7117
Brasil8015
Gana7915
Senegal8113
Tunísia8812
Bolívia8112
El Salvador7911
Indonésia7811
Uganda594
Paquistão533

 

O percentual das pessoas que têm celular ou smartphone deve ser visto com cautela porque o estudo, embora tenha sido divulgado em fevereiro deste ano, baseia-se em dados que haviam sido coletados em abril de 2013. De lá para cá, os 15% que têm smartphone no Brasil certamente cresceram, pois as vendas do produto no ano passado subiram muito.

O mais interessante da pesquisa é a posição relativa de cada país no ranking. Ainda que os 15% do Brasil tenham subido, a maior parte dos países emergentes estudados viveu um “boom” parecido.

Esta pesquisa traz dados muito diferentes de outros levantamentos sobre o assunto porque procura informar a quantidade de pessoas que têm smartphone, e não o número de aparelhos vendidos. Um smartphone comprado por uma empresa para ser emprestado a funcionários, por exemplo, não entra nessa pesquisa da Pew Research. Por isso, o número de pessoas que têm o produto é inferior ao de aparelhos vendidos.

Também não se pode confundir a comercialização em determinados períodos com a quantidade de aparelhos ativos. No segundo trimestre do ano passado, as vendas de smartphones superaram, pela primeira vez, a de celulares simples. Mas como já existiam muito mais aparelhos simples do que aqueles mais sofisticados, ainda precisam ser vendidos muito mais produtos deste segundo grupo para que sua presença na sociedade supere a do primeiro.

Entrevista

Luciano Pereira Soares, professor de Engenharia de Computação do Insper, comenta o assunto.

Pergunta: Por que o no Brasil o acesso da população a smartphone é mais baixo do que em alguns países com PIB per capita inferior?

Resposta: Luciano Pereira Soares: Uma das razões é o preço do aparelho, com taxas de importação e outros impostos. Aqui, não temos muita fabricação, e mesmo os smartphones produzidos aqui são caros. Na China, eles são incrivelmente baratos. O país é um grande fabricante do produto. Lá você acha muitos modelos a US$ 100, em marcas locais, desconhecidas.

Quais são as outras razões?

Outra razão é o preço não do aparelho, mas do serviço de acesso à internet. Nossa infraestrutura é precária e cara. Consequentemente, os valores são altos e os serviços são ruins.

De quem é a culpa?

Em grande parte, a culpa é das operadoras, mas o governo também tem certa culpa, porque os processos licitatórios atrasam. Para instalar uma antena, é muito mais complicado aqui do que na China. Tudo isso faz com que o preço não seja compatível com a renda do brasileiro.

Existe também uma questão que é o comportamento do consumidor. A população brasileira ainda não percebeu o potencial dos smartphones. Na África do Sul, o aparelho é muito usado para fazer compras. Aqui, não.


Remessa de lucros e juros geram rombo recorde em transações com exterior
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Sílvio Guedes Crespo

dolar Lee Jae-Won Reuters

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O Brasil teve um deficit de US$ 11,6 bilhões nas suas transações com o exterior em janeiro. Trata-se de um rombo 2% maior que o registrado em igual período do ano passado (US$ 11,4 bilhões) – que, por sua vez, era o mais alto desde pelo menos 1980, quando o Banco Central começou a divulgar mensalmente esse levantamento.

Os números se referem à diferença entre o dinheiro que entrou e o que saiu do país na forma de comércio de bens, serviços e rendas.

Esse saldo negativo foi compensado pela entrada de US$ 14 bilhões na forma de investimento estrangeiro – tanto os aportes no setor produtivo quanto no mercado financeiro. Com isso, as reservas internacionais cresceram quase US$ 3 bilhões.

transacoes correntes usd

 

O gráfico mostra o saldo em dólares das transações com o exterior. Mais importante que isso, no entanto, é o saldo como proporção do PIB (produto interno bruto). Porque se o deficit sobe em ritmo igual ao PIB, então não há deterioração das contas externas.

Pelo critério de porcentagem do PIB, o deficit em conta corrente não é recode. Ficou em 3,7%, muito perto de atingir os 4% registrados de 1999 a 2002, que foi o pior momento das contas externas da história recente do país.

chartgo

Rombo nas transações correntes

Nos três principais itens em que o BC divide as transações correntes (comércio de bens, mercado de serviços e pagamentos de renda), o país está com saldo negativo.

O item “rendas” foi o que apresentou maior deficit, de US$ 4,4 bilhões – um aumento de US$ 500 milhões em comparação com janeiro do ano passado.

Isso ocorreu porque saíram do país R$ 2,5 bilhões na forma de remessas de lucros das empresas às suas matrizes no exterior e mais US$ 1,9 bilhão como pagamento de juros das companhias nacionais a bancos estrangeiros.

saldo remessas juros

O segundo item que mais gerou deficit foi a balança comercial. As importações de bens superaram as exportações em US$ 4,1 bilhões, resultado um pouco maior que o do ano passado (US$ 4 bilhões).

Nas transações de serviços, o houve um deficit de US$ 3,4 bilhões. Esse rombo resultou da nossa forte dependência de aluguel de equipamentos estrangeiros, atividade que gerou a saída de US$ 1,6 bilhão do país. Outro motivo foram os gastos de turistas no exterior, que superaram em US$ 1,5 bilhão as despesas de visitantes estrangeiros no Brasil.

A conta de transações correntes inclui, também, mais um item, que o BC chama de “transferências unilaterais” – dinheiro que os brasileiros que moram no exterior mandam para suas famílias aqui, e vice-versa. Mas o volume é muito pequeno e não faz diferença para o rombo das contas externas.

Investimento e especulação

A saída de US$ 11,6 bilhões do país por meio das nossas transações com o resto do mundo foi compensada pela entrada de US$ 14,1 bilhões na forma de investimentos estrangeiros.

O dinheiro que as multinacionais colocaram no setor produtivo brasileiro – os chamados investimentos diretos – gerou uma entrada líquida de US$ 5 bilhões no país. Esse é um capital de boa qualidade, porque gera empregos e não pode sair do país rapidamente. Uma empresa não consegue vender uma fábrica tão rápido quanto o faz com ações ou títulos de renda fixa.

O ideal seria se, sozinho, o investimento direto conseguisse cobrir todo o rombo das transações correntes, de US$ 11,6 bilhões.

Mas como a entrada de investimento produtivo foi de somente US$ 5 bilhões, o país precisou contar com mais US$ 4 bilhões na forma de investimentos em carteira e em derivativos. Ou seja, dinheiro que vem para o mercado financeiro e pode rapidamente deixar o país.

Ainda, o BC registra que entraram outros US$ 5 bilhões no país na forma de “outros investimentos”, que incluem algumas formas de empréstimos para empresas brasileiras e outros itens.


População que ‘não gostaria de trabalhar’ cresce 36% desde 2003
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Sílvio Guedes Crespo

Atualizado às 19h31*

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A taxa de desemprego caiu para 4,8% da população ativa, nível mais baixo para meses de janeiro desde pelo menos 2003, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Ao mesmo tempo, a criação de vagas com carteira assinada continua em um ritmo bem mais fraco do que no período do “boom” do mercado de trabalho, que ocorreu de 2004 a 2012.

emprego clt 2

Como pode a taxa de desemprego continuar caindo ao mesmo tempo em que a economia e a geração de vagas formais desaceleram?

Alguém poderia supor que a população está indo para a informalidade. Mas não é o caso. A taxa de formalização vem crescendo continuamente desde 2003 e, no ano passado, bateu recorde.

A resposta para a aparente contradição entre desemprego baixo, de um lado, e desaceleração da economia e da geração de empregos, de outro, está em um item que o IBGE chama de pessoas “que não gostariam de trabalhar”.

Trata-se do conjunto de indivíduos que dizem aos pesquisadores do IBGE que não só não trabalham como não querem entrar no mercado neste momento. Essas pessoas podem ser, por exemplo, aposentados, donas de casa, estudantes ou mães que não têm com quem deixar seus filhos pequenos durante o expediente.

A população “que não gostaria de trabalhar” somava, em janeiro de 2003, 12,4 milhões de pessoas nas seis regiões metropolitanas em que é feita a pesquisa. Hoje, são 16,9 milhões, uma alta de 36% em 11 anos. Já a população em idade de trabalhar cresceu 17% no período.

pessoas que nao gostariam de trabalhar

Em 2003, 33,8% das pessoas em idade ativa (dez anos ou mais) “não gostariam de trabalhar”. Atualmente, a proporção é de 39,2%.

Apesar de esse grupo ter crescido continuamente desde pelo menos 2003 (início da série de dados), só agora ele se tornou imprescindível para manter a taxa de desemprego baixo. Porque, até 2012, a população ocupada vinha crescendo fortemente (ela dobrou em dez anos).

Agora, a situação mudou. O desemprego caiu apesar de a ocupação não ter subido. A população desocupada diminuiu em 12,6% nos últimos 12 meses. Enquanto isso, a população ocupada ficou estável. A redução do desemprego decorreu do aumento do grupo que “não gostaria de trabalhar”.

Se o número de pessoas que sai voluntariamente do mercado de trabalho é superior ao das que entram, a tendência é de que quem está na ativa acabe conseguindo salários mais altos. Quanto menos pessoas disputam uma vaga, mais os empregadores terão que oferecer para atrair os melhores candidatos.

A população que “não gostaria de trabalhar”, portanto, faz a taxa de desemprego permanecer baixa e ajuda a explicar por que a renda média da população ocupada continua aumentando acima da inflação, mesmo com a desaceleração da economia e do ritmo de criação de empregos formais.

Bolsa Família

Neste e em outros artigos sobre o mercado de trabalho, li comentários e e-mails de leitores com a hipótese de que o baixo desemprego seria explicado, em parte, pelos programas de transferências de renda.

Alguns leitores perguntaram se os beneficiários do programa Bolsa Família não são considerados desempregados. A resposta é: depende. O IBGE considera desempregados aqueles que não trabalham e estão procurando emprego. Se uma pessoa não tem trabalho remunerado, recebe o Bolsa Família e está atrás de uma vaga, ela é considerada desempregada. Se essa mesma pessoa não tem procurado emprego, ela é classificada como inativa, e nesse caso entra para aquele grupo que eu citei acima, o dos que não gostariam de trabalhar.

Houve, também, a seguinte dúvida de leitor: será que as pessoas não querem trabalhar porque recebem Bolsa Família?

Essa pergunta é mais difícil de responder. Primeiro, não conheço uma pesquisa que tenha feito um cruzamento de dados mostrando quantos, entre os que não querem trabalhar, recebem Bolsa Famílias. Sem esse dado, não vejo como chegar a uma conclusão segura.

Uma pesquisa da CNT, no entanto, constatou o seguinte: 75% dos entrevistados que recebem Bolsa Família disseram que aceitariam uma oferta de emprego, mesmo se isso as fizesse perder o benefício. A minoria (20%) disse que rejeitaria (os demais não souberam responder).

O valor básico concedido a uma família cadastrada no programa é de R$ 70 por mês, o que dá menos de R$ 2,50 por dia. Se a mãe for gestante, tiver quatro filhos de até 15 anos e mais dois de 16 ou 17 anos, ela ganha R$ 306 mensais – portanto, menos de R$ 1,50 ao dia para cada um dos sete membros da família.

Parece-me pouco demais para levar uma pessoa a desprezar um emprego – só mesmo se for um trabalho extremamente degradante ou muito mal pago.

Considerando esses dois dados – o valor baixo do Bolsa Família e a pesquisa da CNT – minha hipótese é de que o programa de transferência de renda não é o principal responsável pelo aumento do número de pessoas que não querem trabalhar.

* Acrescentado o item ‘Bolsa Família’ às 19h31


Inflação e aumento de salários freiam ganhos do empresário de serviços
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Sílvio Guedes Crespo

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O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou nesta quarta-feira os resultados mais recentes da sua Pesquisa Mensal de Serviços.

Os números mostram que a receita do setor avançou 8,5% no ano passado. São examinados serviços prestados ao consumidor, como alimentação, transporte e alojamento, e também às empresas, caso de tecnologia da informação, comunicação e serviços administrativos.

Esse aumento registrado, no entanto, não desconta a inflação. A pesquisa, talvez por ter sido lançada há pouco tempo (janeiro de 2011), não tem o mesmo detalhamento de outros levantamentos do IBGE, como o da indústria e o do comércio.

O avanço de 8,5%, por isso, não pode ser comparado diretamente com, por exemplo, a expansão de apenas 1,2% da produção industrial ou o crescimento de 3,6% do volume de vendas comércio.

Como não existe um levantamento dos preços pagos pelas empresas de serviços, uma possibilidade de calcular o crescimento real é descontar o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), o indicador oficial de inflação.

Enquanto as empresas de serviços aumentaram seu faturamento em 8,5%, os preços no país subiram 5,91%. A expansão real do setor, nesse caso, ficou em 2,4%. Se comparado com o IGP-M, índice de preços calculado pela Fundação Getulio Vargas que atingiu 5,51% em 2013, o crescimento real dos serviços foi de 2,8%.

Conforme indica o gráfico abaixo, a inflação no Brasil tem corroído mais da metade das receitas do setor de serviços.

receitas servicos 2013

Essa seria uma forma de se aproximar de encontrar a taxa de crescimento real do setor de serviços. Mas o segmento faz um uso intenso de mão de obra e, portanto, a variação dos salários tem um peso importante nos custos das empresas.

O rendimento médio da população no ano passado subiu 1,8% acima do IPCA, indicando que parte do avanço real da receita foi gasta com reajustes de funcionários.


Com Dilma, ritmo de expansão do comércio cai quase à metade
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Sílvio Guedes Crespo

Atualizado às 13h35*

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O comércio varejista brasileiro continua crescendo, mas a um ritmo cada vez mais lento, mostram dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Depois de saltar 12% em 2010, o volume de vendas do setor teve uma expansão de 7% no ano seguinte, 8% em 2012 e apenas 4% em 2013.

Com isso, o comércio vem crescendo no governo Dilma a uma média de 6% anuais, pouco mais que a metade dos 11% ao ano registrados durante o segundo mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Os números se referem ao grupo que o IBGE chama de “comércio varejista ampliado”, que inclui os setores de materiais de construção e veículos, além dos demais, como supermercados, postos de combustíveis, lojas de móveis e eletrodomésticos etc.

comercio varejista ampliado 1

Como a série de dados começa em 2004, não é possível saber o ritmo de crescimento do comércio ampliado durante todo o primeiro mandato de Lula. No período de 2004 a 2006, a expansão foi de 7% ao ano.

Se considerarmos apenas o comércio restrito, que abrange todos os setores do varejo menos veículos e construção, a série histórica disponível no IBGE é maior. Nesse caso, o ritmo de alta foi de 6,4% ao ano no governo Dilma, 8,9% no segundo mandato de Lula e 4% no primeiro.

O desempenho de Dilma, portanto, caiu em relação ao do segundo período de seu antecessor, mas não a ponto de voltar ao que era na primeira etapa do governo Lula.

A pesquisa do comércio restrito começou em 2001, de modo que, em relação ao governo Fernando Henrique Cardoso, só temos os resultados dos seus dois últimos anos: queda de 1,6% e de 0,7%, respectivamente. Naquele biênio, o comércio encolheu, em média, 1,1% ao ano.

comercio varejista restrito

 

Este post faz parte de uma série de comparações da evolução dos principais indicadores econômicos durante os mandatos de cada presidente.

Nesta série, o blog já escreveu sobre balança comercial, inflação, indústria, renda e política fiscal.

Todos sabemos que os números macroeconômicos não devem ser a única nem a principal forma de mensurar a competência de um governante – até porque os resultados não dependem só deles, mas também de fatores internos e externos que estão fora de seu alcance.

Mesmo assim, Achados Econômicos tem feito as comparações por entender que os dados ajudam a dar uma ideia de quais foram os principais desafios de cada mandatário.

Opinião

Não se pode dizer que está em crise um setor que cresce 4% ao ano. Seria um ótimo resultado se todo o resto da economia também estivesse caminhando nesse ritmo.

O problema é que, enquanto a indústria andava devagar, o comércio continuava avançando a taxas chinesas e ajudava a assegurar o crescimento econômico do país. Em 2012, quando o PIB (produto interno bruto) subiu apenas 0,9%, o varejo ampliado saltou nada menos que 8%.

No ano passado, no entanto, a situação mudou. O comércio passou a se expandir em taxas mais brandas, reforçando o diagnóstico já conhecido de que o modelo de crescimento baseado no consumo, que marcou a era Lula, esgotou-se.

De 2003 a 2010, a indústria avançou 4% ao ano, enquanto o consumo aumentou 5%, de acordo com a pesquisa das Contas Nacionais, do IBGE. Nos dois primeiros anos do governo Dilma, o setor industrial ficou estagnado, mas o consumo continuava bem, com alta de 4%.

A indústria, com a valorização do real, além dos velhos problemas conhecidos como “custo Brasil” (burocracia excessiva, infraestrutura precária etc), não conseguiu crescer em 2011 e 2012. Mas o comércio se dava bem, vendendo produtos importados para uma população cuja renda ainda crescia (ainda que em ritmo mais lento do que no passado) e que ainda tinha bom acesso ao crédito.

Em 2013, a renda da população teve uma desaceleração. Ao mesmo tempo, os consumidores ainda estavam pagando dívidas contraídas em anos anteriores, o que dificultava a abertura de novos crediários. Como se esperava, o comércio também acabou sofrendo desaceleração.

Com a desvalorização do real nos últimos meses, e também com o aumento das taxas de juros, que o Banco Central aumentou para conter a inflação, as chances de que o comércio volte a crescer como na década passada ficam menores.  Os produtos importados tendem a ficar mais caros e, consequentemente, mais difíceis de serem vendidos.

A boa notícia é que a inadimplência do consumidor tem caído. Em dezembro do ano passado, dado mais recente disponível, ela estava no menor valor desde 2011, quando o Banco Central começou a coletar esses dados pela metodologia atual.

A baixa inadimplência pode ser um alento para o comércio nos curto ou médio prazo. Indica que o setor tem chance de se manter no ritmo atual por algum tempo.

“A inadimplência, agora, está até jogando a favor do varejo. As pessoas se endividaram muito na década passada, e agora estão organizando suas contas”, disse Fábio Bentes, economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC), à jornalista Juliana Elias, do site “Mais Guide”.

Mas, com o dólar mais alto e com a renda e o crédito crescendo menos, não há o que sustente, por enquanto, uma aceleração do varejo.

Uma retomada mais sólida da economia – e, também, do comércio – vai depender, nos próximos anos, não do consumo, mas do investimento. Para os empresários voltarem a investir, o governo precisa recuperar sua credibilidade – por exemplo, mostrando que leva a sério as metas de inflação e das contas públicas. Ou então esperar por uma nova onda de bonança internacional.

* Incluído o item ‘Opinião’ às 13h35