Achados Econômicos

Arquivo : setembro 2013

Empresas dão aumento acima da inflação só para cargos mais baixos
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Sílvio Guedes Crespo

Empregados operacionais, nível em que as greves são mais comuns, tiveram aumento nominal de 12,5% nas empresas pesquisadas

As empresas privadas só deram aumento salarial acima da inflação, em 2013, para os cargos mais baixos, justamente aqueles em que as negociações coletivas costumam ser mais frequentes, segundo uma pesquisa da consultoria Mercer.

Já nos níveis em que as greves são raras e os reajustes dependem mais do reconhecimento do mérito individual do que de pressões em grupo, a remuneração direta não acompanhou a inflação.

Considerando o salário base mais os incentivos de curto prazo, como bônus e participação no lucro, os cargos de nível operacional tiveram um reajuste de 12,5% em 2013, segundo a pesquisa, que consultou 446 empresas privadas, com faturamento médio de US$ 1,25 bilhão.

De acordo com o levantamento, um funcionário operacional ganhou, em média, um salário anual de R$ 24 mil em 2012. Neste ano, a média subiu para R$ 27 mil.

Entre os sete grupos em que os pesquisadores dividiram os profissionais, o de funcionários operacionais foi o único onde se registrou um aumento médio de remuneração superior ao IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), o indicador oficial de inflação, que no ano passado subiu 5,84%.

O segundo grupo com maior reajuste foi o extremo oposto, o dos presidentes de empresas. Depois de embolsar uma média de R$ 1,084 milhão no ano passado, este ano eles ganharão, até dezembro, R$ 1,14 milhão, uma alta de 5,2%. Com esse aumento, eles quase conseguem manter o poder de compra que tinham em 2012.

Tirando os presidentes e os operacionais, nos demais níveis hierárquicos houve perda do poder aquisitivo. Os salários de coordenadores, supervisores e gerentes normalmente sofrem um impacto menor em acordos coletivos. Empregados desses níveis dependem mais de que o mercado reconheça seu desempenho para ter um aumento.

Vale ressaltar que a pesquisa considera os cargos, não as pessoas. Por exemplo, se um funcionário foi promovido a diretor, recebendo mais do que como gerente, porém menos do que o diretor anterior, os dados indicarão que o salário dos diretores, em média, diminuiu, ainda que aquele trabalhador específico esteja ganhando mais.

Outro ponto a ser ressaltado é que a pesquisa trabalha com valores médios. Diversos gerentes, diretores ou supervisores, por exemplo, podem ter obtido aumento real de salário, mas não o suficiente para puxar a média para cima da inflação.

Disparidade

Também deve ser levado em conta que, como os presidentes ganham muito mais que os outros empregados, uma elevação de 5% nos ganhos daqueles significa bem mais dinheiro do que uma alta de 12% para um funcionário operacional.

Isso fica claro no gráfico abaixo, onde nem se nota a diferença de tamanho de uma barra para a outra no nível operacional. Já entre os presidentes, o aumento de 5% é bem nítido, porque corresponde, em valores, a R$ 56 mil (ou seja, duas vezes o salário de empregados operacionais).

Na semana passada, este blog comentou outros dados dessa mesma pesquisa da Mercer. Os leitores mais atentos podem estranhar, pois os números parecem não bater.

No post anterior, era dito que o presidente de uma empresa privada no Brasil (considerando tanto as de capital nacional quanto as demais) ganha hoje R$ 1,289 milhão por ano. Já no post desta segunda-feira, a informação é de que eles ganham R$ 1,14 milhão.

A diferença existe porque a remuneração de R$ 1,289 milhão se refere à média de todas as empresas que participaram da pesquisa neste ano. Já o R$ 1,14 milhão inclui apenas as companhias presentes tanto na pesquisa de 2013 como na de 2012.

A Mercer pesquisou 826 cargos em companhias privadas que, juntas, faturaram mais de US$ 500 bilhões em 2012, o que dá um quarto do PIB (produto interno bruto) do Brasil. Essas empresas empregam 1,7 milhão de pessoas, ou 7% da população economicamente ativa do país. A coleta de dados foi feita no primeiro semestre de 2012 e 2013.

Reajustes

A constatação da Mercer confirma uma tendência que já vinha sendo verificada nos últimos anos, de aumento maior de remuneração na base da pirâmide econômica.

A renda média dos trabalhadores com curso superior teve um aumento real de apenas 0,7% de 2003 a 2012, ou seja, apenas acompanhou a inflação, atingindo R$ 4,1 mil em dezembro do ano passado, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Já a dos que têm até oito anos de estudos registrou uma elevação real de 37% no mesmo período, chegando a R$ 953.

Isso foi possível porque a maior parte dos empregos gerados nos últimos anos contemplou cargos que exigem menos escolaridade. A taxa de desocupação das pessoas com até oito anos de estudos caiu de 12%, em 2003, para 4,5%.

Consequentemente, ficou mais difícil, para as empresas, substituir funcionários com esse perfil, o que aumentou o poder de barganha deles. Em 2012, o número de greves no país foi o maior dos últimos 16 anos.

Em 2003, somente 19% das negociações coletivas terminaram com um reajuste acima da inflação; no ano passado, a proporção foi de 95%, segundo o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos). Neste ano, no entanto, o indicador caiu para 85%

A questão agora é se o mercado de trabalho vai se desaquecer a ponto de os empregados de cargos mais baixos perderem o poder de barganha conquistado na era Lula.


Após liderar perdas, real vira a moeda que mais sobe entre 31 países
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Sílvio Guedes Crespo

Atualizado às 19h38*

Depois de um período de forte queda, o real foi a moeda que mais subiu desde o início do mês, entre 31 selecionadas, incluindo os mercados desenvolvidos e os principais emergentes. O levantamento foi elaborado pela CMA, empresa de tecnologia e informações financeiras.

A moeda brasileira avançou 5,21% em relação ao dólar, do início de setembro até o dia 18. A trajetória de alta, no entanto, já estava acentuada desde que o Banco Central anunciou, no dia 22, que faria leilões diários de venda de dólares no mercado futuro.

Vale lembrar que, antes desse surto de alta, o real estava caindo fortemente em relação ao dólar. Do início de agosto até o dia 22, recuou 5,53%, tendo a maior perda entre as 31 moedas analisadas pela CMA.

Se considerarmos um prazo mais longo, vemos uma desvalorização do real. A moeda brasileira caiu 10,05% desde o início do ano até o dia 18 – mais do que, por exemplo, os pesos mexicano, peruano e colombiano. Nesse período, a maior queda entre os 31 países foi a do peso argentino, de 17%, conforme o gráfico abaixo.

Entrevista

O economista-chefe da CMA, Carlos Lima, autor do levantamento, concedeu a entrevista abaixo ao blog Achados Econômicos.

Por que o real subiu mais do que as outras moedas?

Foram dois fatores. Primeiro, o impacto da decisão do BC em entrar pesadamente no mercado de câmbio. Na época [22 de agosto], o BC foi claro: quem estaria entrando para especular, sofreria um impacto devido a um grande player [o BC] vendendo.

Depois, passou a haver uma desconfiança em relação à possibilidade de o Fed [Federal Reserve, o banco central dos EUA] retirar os estímulos. A meu ver, o mercado, que antes acreditava que o Fed iria retirar, passou a avaliar se ia retirar mesmo e se, caso retirasse, em quanto seria essa redução.

Então o real continua sendo uma das moedas mais voláteis, entre as maiores economias?

Sim. Existe um peso enorme da variável dólar na nossa economia, e isso está sendo demonstrado na variação do real. Entre 80% e 90% das empresas listadas no Ibovespa (principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo) sofrem impacto do dólar.

Na sua visão, o real deve continuar subindo mais que as outras moedas?

A ideia do Fed de prorrogar a decisão [de retirar os estímulos] joga, para o mercado, uma certa especulação, o que gera volatilidade. Num curto prazo, me parece que o real encontrou um certo parâmetro, variando entre R$ 2,20 e R$ 2,25. Mas, quando o Fed começar a retirar os estímulos, o real tende a voltar a se desvalorizar.

CLIQUE NA IMAGEM E ENTENDA COMO FUNCIONA O MERCADO DE DÓLAR

* Acrescentado o segundo gráfico, com a variação anual


Presidente de empresa brasileira ganha 65 vezes mais que baixo funcionário
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Sílvio Guedes Crespo

Texto atualizado em 20/09 às 16h44*

Os presidentes de grandes empresas brasileiras – as de capital nacional, não as subsidiárias de companhias estrangeiras – ganham em média 65 vezes mais do que os funcionários do escalão mais baixo, segundo uma pesquisa recém divulgada da consultoria Mercer.

A remuneração anual do executivo-chefe atingiu, em 2013, a média de R$ 2,3 milhões por ano, incluindo o salário base e os incentivos de curto prazo, como bônus e participação no lucro. Se acrescentarmos também os incentivos de longo prazo (como opções de ações), os ganhos sobem para R$ 2,7 milhões. Já o cargos mais baixos pagam em torno de R$ 41 mil por ano.

Trata-se da maior diferença entre as grandes empresas que atuam no Brasil. Nas de capital europeu, o presidente ganha apenas 39 vezes mais que os baixos funcionários. Nas de origem asiática, a proporção é de 23 vezes.

A pesquisa consultou 446 empresas privadas com faturamento médio de US$ 1,25 bilhão por ano.

Ao contrário do que se poderia esperar, as empresas brasileiras que participaram da pesquisa pagam mais do que as estrangeiras para os baixos funcionários. Mas a distância entre o maior e o menor salário é mais dilatada porque as de capital nacional oferecem o dobro da remuneração aos seus presidentes.

Enquanto a empresa brasileira remunera o seu presidente com R$ 2,3 milhões anuais, a europeia paga R$ 1,1 milhão, e a asiática, R$ 777 mil.

* Correção: O salário da classe mais baixa de funcionários de empresas de capital nacional é de R$ 41 mil por ano, e não R$ 35 mil, como dizia incorretamente este texto.


Volume de empréstimos sobe 564% em dez anos; taxa de juros cai 30 pontos
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Sílvio Guedes Crespo

Atualizado às 12h51*

O “boom” dos empréstimos nos últimos dez anos mudou a cara do mercado de crédito brasileiro, conforme mostra um estudo da Anefac, a associação dos executivos de finanças e administradores.

Em todos os cinco principais indicadores de crédito analisados, houve melhora no período, embora, como diz a própria associação, os resultados ainda estejam abaixo do verificado em países ricos.

O volume de crédito – total de dinheiro emprestado pelos bancos para pessoas físicas e empresas – é hoje 564% superior ao registrado dez anos atrás. Em junho de 2003, havia no país R$ 381 bilhões em crédito tomado pelos brasileiros; atualmente, há R$ 2,5 trilhões.

Como proporção do tamanho da nossa economia, o crédito passou de 24,7% do PIB (produto interno bruto) para 55,2%. É um avanço notável em um período de dez anos, mas ainda longe do que se observa nos principais mercados do mundo, onde essa proporção chega a superar 100% do PIB.

Ao mesmo tempo, a taxa média de juros, que era de 56,7% ao ano em 2003, hoje está em 26,5%, uma queda de 30,2 pontos percentuais.

Se considerados apenas os juros pagos pelas pessoas físicas, a taxa caiu de 81,4% para 34,9% no período, ou seja, 46,5 pontos percentuais. Nos empréstimos para empresas, a queda foi de 38,6% para 19,3%.

A inadimplência (percentual dos empréstimos com atraso de mais de 90 dias), que estava em 8,8% em junho de 2003, chegou a 5,2% dez anos depois. Entre pessoas físicas, a variação foi de 15,5% para 7,2%; entre as empresas, houve de redução de 4,7% para 3,5%.

Os prazos de financiamento, por sua vez, saltaram 426%, segundo a Anefac. Em média, o brasileiro em 2003 tomava empréstimos para pagar em 7 meses. Hoje, a média é de 38 meses.

Os bancos, embora estejam hoje lucrando muito mais, reduziram o chamado “spread” – diferença entre a taxa de juros que eles pagam quando tomam dinheiro emprestado e a que eles cobram quando emprestam.

O “spread” caiu de 33,2% para 16,7% em uma década, de acordo com a Anefac. Em outras palavras, os bancos passaram a ganhar um pouco menos em cima de cada real emprestado, mas conseguem lucrar mais no total, porque mais do que sextuplicaram a quantidade de  dinheiro que concedem na forma de crédito.

“A análise de dez anos das condições de crédito no país demonstra que efetivamente as condições de crédito apresentaram substancial melhora com forte expansão do volume emprestado, redução das taxas de juros, redução dos Spreads bancários, aumento dos prazos médios de financiamento e redução da inadimplência mesmo com todo este crescimento no crédito”, afirma o estudo.

Para os pesquisadores, a inadimplência segue em tendência de queda nos próximos meses, apesar do forte aumento do crédito concedido no período.

Os dados são do Banco Central e foram trabalhados pela Anefac. Os números sobre juros se referem às taxas médias, ou seja, muitos pagam bem mais do que 26% ao ano em um empréstimo, enquanto poucos pagam bem menos (porque têm mais bens e, portanto, garantias, ou simplesmente por terem boa relação com o banco). Como os que pagam menos – por exemplo, as grandes empresas – movimentam muito dinheiro, esse grupo puxa a média para baixo.

Risco de bolha

Miguel Ribeiro de Oliveira, diretor da Anefac e coordenador da pesquisa, não acredita que esteja sendo formada uma bolha de crédito no Brasil, apesar do forte crescimento dos empréstimos nos últimos dez anos. Abaixo, trecho de entrevista que ele concedeu ao blog Achados Econômicos.

Qual o risco de bolha de crédito no Brasil hoje?

Nenhum. Os números demonstram que houve uma redução da inadimplência. O crédito no Brasil foi pautado por seletividade. Não foi dado indiscriminadamente, como ocorreu nos Estados Unidos.

Em segundo lugar, essa expansão ocorreu porque o volume de crédito era muito baixo [até 2003]. Uma coisa é se expandir nos EUA, onde o crédito já é de 160% do PIB. Outra coisa é no Brasil, onde estava em 25% há dez anos e hoje está em 55%.

Os dados pegam um período de dez anos. Mas se olharmos os últimos meses, os indicadores continuam melhorando?

Sim. Do ano passado para cá, melhorou. O volume de crédito não deixou de crescer. Os bancos privados foram mais receosos em emprestar, mas em contrapartida, os públicos emprestaram mais e compensaram.

A única mudança, que foi pontual, foi a das taxas de juros e do “spread”, que aumentaram em decorrência da elevação da taxa básica de juros, por causa da inflação. Mas a tendência, passada essa fase de inflação, é que voltem a diminuir.

Como o mercado de crédito está tão bem em um momento em que a economia, em geral, não cresce?

As pessoas continuam comprando imóvel, financiado a 35 anos, continuam fazendo um consignado etc. Se o país estivesse crescendo mais, o crédito iria crescer mais ainda.

* Acrescentada entrevista no final do post.


10% mais ricos ficam com 50% da renda nos EUA, maior concentração desde 1917
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Sílvio Guedes Crespo

A concentração econômica nos Estados Unidos bateu recorde, quando medida pela comparação da renda dos 10% mais ricos com a do restante da população.

Pela primeira vez desde pelo menos 1917, os 10% mais abastados passaram a abocanhar mais da metade de toda a renda gerada naquele país, segundo uma pesquisa do economista Emmanuel Saez, da Universidade da Califórnia em Berkeley.

Mais precisamente, essa faixa da população ficou com 50,4% da renda em 2012. Saez levantou dados disponíveis desde 1917, conforme indica o gráfico abaixo.

É curioso observar que, em todo o período analisado, houve somente dois outros momentos em que os 10% mais ricos se aproximaram de conquistar metade da renda do país – e ambos precederam as maiores crises econômicas do planeta.

O primeiro momento foi no final da década de 1920, logo antes da Grande Depressão que se estenderia ao longo dos anos 30. O segundo foi oito décadas mais tarde, em 2007, um ano antes da quebra do banco Lehman Brothers.

Se considerado o 1% mais rico, o grau de concentração econômica, embora esteja crescendo, ainda não bateu o recorde do final da década de 1930. Essa pequena parcela da população fica hoje com pouco mais de 20% da renda dos EUA; em 1928, ela tinha quase 25%.

Retomada desigual

O estudo mostra, ainda, que a atual retomada econômica dos EUA praticamente só tem beneficiado a população mais rica.

Enquanto as estatísticas oficias mostram que a renda média subiu 6% de 2009 a 2012, Saez explica que os ganhos do 1% mais rico cresceram 31,4% no período, enquanto os dos demais 99% ficaram estagnados, com uma alta de apenas 0,4% em três anos.

Saez nota que, logo após a crise, os mais ricos perderam mais dinheiro. A renda do 1% caiu 36% de 2007 a 2009; a dos 99% recuou 12%. Com isso, a elite econômica recuperou quase totalmente o que havia perdido na recessão, enquanto a faixa dos demais 99% perdeu menos, mas não recuperou nada.

“A Grande Recessão deprimiu a participação dos mais ricos apenas temporariamente e não vai reverter o dramático aumento da fatia de renda dos mais ricos que se iniciou na década de 1970”, afirma Saez, no estudo.


Restituição do IR atingiu 3 milhões de pessoas a menos neste ano
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Sílvio Guedes Crespo

Atualizado às 16h33*

As restituições do Imposto de Renda de 2013 chegaram a 5,5 milhões de pessoas nos quatro primeiros lotes, liberados de junho a setembro, segundo dados da Receita Federal.

No ano passado, no entanto, 8,5 milhões de contribuintes do Imposto de Renda Pessoa Física 2012 já haviam recebido o dinheiro em setembro.

A diferença, de 3 milhões de pessoas, representa uma queda de 35% em relação ao ritmo de entrega das restituições de 2012.

O valor distribuído também caiu, mas em menor intensidade. Os quatro primeiros lotes do ano passado somaram R$ 8,8 bilhões para os contribuintes do IRPF 2012. Em igual período de 2013, o montante foi de R$ 6,6 bilhões, queda de 25%.

A redução do ritmo da entrega de restituições diminuiu apesar de o número de declarantes ter superado o do ano passado e batido recorde, com 26 milhões de pessoas.

Neste ano, a Receita começou a liberação das restituições com um lote recorde, devolvendo R$ 2,7 bilhões, 6% a mais do que em junho do ano passado.

Depois, no entanto, o ritmo caiu fortemente. O segundo e o terceiro lote beneficiaram menos da metade do número de contribuintes restituído no mesmo período de 2012. O quarto lote de 2013 atingiu 36% menos pessoas do que há um ano.

Cronograma

A Receita não tem uma explicação do porquê dessa redução. Afirma que a “liberação dos lotes obedece um cronograma de desembolso previamente estabelecido e que é cumprido rigorosamente”.

Em declarações à imprensa, alguns economistas disseram que a Receita pode estar segurando as devoluções de impostos para fazer caixa, acusação que o órgão nega.

O objetivo seria, segundo essa hipótese, aumentar o superávit primário (dinheiro que o governo guarda para pagar dívida) de julho a setembro. No entanto, as metas desse tipo de superávit são anuais. Se empurrar a devolução do dinheiro para dezembro, o resultado primário não muda.

Além disso, o governo remunera as restituições com a taxa básica de juros, a Selic, que subiu 1,5 ponto percentual desde junho. Como a Selic tem ficado acima da inflação, quanto mais tempo o governo segura a restituição, mais dinheiro perde.

Outra hipótese é de que, neste ano, tenha aumentado o número de pessoas que foram para a malha fina. A confirmação, porém, só vira em dezembro, quando a Receita liberar o último lote deste ano.

* Substituição da palavra ‘beneficiou’ por ‘atingiu’, no título.


Importação de gasolina aumenta 42 mil vezes em três anos
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Sílvio Guedes Crespo

*Atualizado 12/09 às 11h22

O Brasil aumentou drasticamente a importação de gasolina logo depois de ter quase zerado essa conta, segundo dados da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis). Com isso, o país deixou de ser um exportador desse produto.

Em 2009, o país havia praticamente se livrado da necessidade de importar gasolina. Gastou apenas US$ 71 mil com a compra do combustível no exterior. No ano passado, no entanto, dispendeu o valor recorde de US$ 3 bilhões, ou 42,5 mil vezes mais.

As exportações, ao contrário, caíram fortemente, de US$ 965 milhões em 2009 para US$ 93 milhões em 2012, uma baixa de 90%.

Os números representam uma inversão da situação em que se encontrava a balança comercial da gasolina. De 1991 (dado mais antigo disponível pela ANP) a 2010, o país quase sempre exportou mais gasolina do que importou, com apenas duas exceções, em 1995 e 1996.

Já em 2010, a importação de gasolina aumentou significativamente, mas a exportação ainda era relativamente alta e compensou. Foi a partir de 2011 que o país ficou com saldo negativo.

Consumo alto

A importação de gasolina aumentou depois que o consumo começou a crescer mais que a produção, conforme o gráfico abaixo.

Este gráfico deve ser observado com cuidado, porque, quando falamos em produção, consideramos a gasolina tipo A (vendida nas refinarias, sem adição de álcool anidro); já a gasolina que consumimos é a do tipo C (que hoje tem 25% de etanol).

Por isso, é normal que a linha verde fique sempre um pouco acima da vermelha. No entanto, pode-se observar claramente que ambas caminhavam de forma quase paralela até 2009, mas depois houve um descolamento, com o consumo avançando muito mais do que a produção.

Em 2013, a tendência é diminuir um pouco, pois a produção cresceu 7,1% até julho, e o consumo, 4,2%. Mas não o suficiente para o país voltar a prescindir de gasolina importada.

A Petrobras alega que a produção vem subindo em média 10% ao ano e “suportou parcialmente o expressivo aumento da demanda nacional”.

A empresa estima que, em 2013, a importação de gasolina será entre 30% e 40% menor do que em 2012, devido ao “aumento da eficiência operacional das refinarias” e à elevação do teor de álcool anidro misturado à gasolina em maio.

Autossuficiência

Apesar do saldo negativo no comércio de gasolina com o exterior, o país continua autossuficiente em petróleo e derivados, segundo a ANP. Isso ocorre porque as exportações de petróleo bruto compensaram não apenas as importações do óleo leve, mas também as de derivados, como a própria gasolina.

De qualquer maneira, exportar matéria-prima e importar o produto pronto não é vantagem para o país. (Aliás, é um problema histórico que envolve vários outros segmentos da economia e que ainda pretendo abordar futuramente por este blog.)

O professor Ricardo Mollo, do Insper, comenta a questão na entrevista abaixo.

Por que a importação de gasolina aumentou tanto?

Porque o Brasil produz em quantidade insuficiente em relação ao que precisaria. O país necessita do equivalente a 2,9 milhões de barris por dia, mas só  tem capacidade de refino de 2 milhões.

Qual a perspectiva para os próximos anos?

Existem algumas refinarias em construção, mas acabaram atrasando. A Abreu e Lima, em Pernambuco, é a próxima a ficar pronta, em 2014, com cerca de 280 mil barris por dia, ainda insuficiente.

As coisas vão começar a acalmar em 2016, quando a Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro) começar a funcionar, em 2016. Mais duas refinarias, no Maranhão e no Ceará, devem entrar em funcionamento em 2017 e 2018.

Por que os investimentos não foram feitos?

A Petrobras tem limitações. Por ser controlada pelo governo, precisa fazer licitações, e isso demora. Além disso, investimentos que poderiam ser feitos em refinarias foram direcionados para prospecção e perfuração.

Enquanto isso, a Petrobras paga caro na gasolina importada e vende mais barato aqui?

Sim. Deve pagar hoje R$ 1,70 ou R$ 1,80 por litro e vende por R$ 1,30 a R$ 1,40 às distribuidoras. Então tem prejuízo. [Nota do entrevistador: o preço de venda às distribuidoras não é o mesmo que o consumidor paga nos postos; este último é mais caro por causa dos ganhos das próprias distribuidoras, dos impostos e dos custos de transporte, entre outros.]

O que se poderia fazer para amenizar o problema enquanto as refinarias não ficam prontas?

O governo poderia aumentar a quantidade de etanol misturada na gasolina. Era de 20%, agora é de 25%. Claro que com essa mistura a gasolina vai ter uma performance pior. Mas tem que ver o que custa mais, se importar a gasolina e a Petrobras bancar (vendendo mais barata aqui) ou misturar álcool.

* O preço que a Petrobras paga pela gasolina importada e recebe pela venda nas refinarias foi estimado pelo professor Ricardo Mollo em reais, não em dólares, como informava incorretamente este texto. O erro foi corrigido em 12/09 às 11h22. Além disso, o autor acrescentou uma observação ao final da terceira resposta do entrevistado


76% acreditam que inflação não está controlada; 36% preveem melhorar renda
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Sílvio Guedes Crespo

A mais recente pesquisa sobre a avaliação do governo e da situação atual mostra que o brasileiro ficou menos pessimista em relação à sua própria renda, mas continua preocupado com a economia do país.

Nada menos que 76% dos entrevistados não acreditam no discurso do governo segundo o qual a inflação está controlada, de acordo com a pesquisa CNT/MDA, divulgada nesta terça-feira (10).

O IPCA, indicador oficial de inflação, acumula uma alta de 6,09% nos últimos 12 meses. O número é inferior ao pico de 6,59% alcançado em março deste ano, mas permanece acima do centro da meta definida pelo governo (4,5% ao ano).

Crescimento

Os entrevistados também se disseram “preocupados” (41%) ou muito preocupados (13%) com a economia do país. Do total de pessoas pesquisadas, 41% acham que o crescimento deu lugar uma estagnação, e só 24% acreditam que a economia ainda está se expandindo.

Não é possível saber se esses números melhoraram ou pioraram porque na pesquisa anterior, de julho, não havia perguntas sobre inflação nem sobre crescimento econômico.

O PIB (produto interno bruto do país) subiu 1,5% no segundo trimestre deste ano, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Foi o melhor resultado desde 2010, mas economistas têm afirmado que esse ritmo não se sustentará no terceiro trimestre.

Emprego e renda

A expectativa de cada entrevistado sobre sua própria renda aumentou, recuperando o nível em que estava antes das manifestações.

Atualmente, 36% acreditam que a própria renda mensal vai aumentar nos próximos seis meses, mesmo percentual de junho. Em julho, um mês após milhões de pessoas irem às ruas protestar, essa proporção era de 30%.

À pergunta sobre o mercado de trabalho, 35% disseram achar que o emprego no país vai melhorar nos próximos seis meses. Esse percentual aumentou em relação a julho (32%), mas ainda não recuperou o nível pré-manifestação (40% em junho).


Após 5 meses, poupança pela regra antiga volta a bater a inflação
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Sílvio Guedes Crespo

Quem tem aplicação na poupança pela regra antiga, ou seja, investiu antes do dia 4 de maio do ano passado e não resgatou o dinheiro, voltou a ter um rendimento acima da inflação.

O indicador oficial de preços (IPCA) acumulou uma alta de 6,09% nos 12 meses encerrados em agosto. No mesmo período, as aplicações da poupança que seguem a regra antiga renderam 6,2%.

O gráfico acima mostra que, desde março, a rentabilidade da poupança antiga vinha perdendo para a inflação, considerando sempre períodos de 12 meses.

Já os poupadores que seguem a regra nova (aqueles que aplicaram depois de 3 de maio do ano passado) continuam perdendo poder de compra, pois tiveram rentabilidade de apenas 5,3% no últimos 12 meses. A linha verde começa em maio de 2013 porque, antes disso, não havia aplicações na poupança nova com prazo de um ano.

De acordo com o economista Fabiano Lima, pesquisador do Instituto Assaf, os aumentos recentes da taxa básica de juros, a Selic,  que elevaram a rentabilidade dos poupadores que estão na regra nova, aumentando a probabilidade de estes também passarem a ter ganho real.

O IPCA acumulado em 12 meses atingiu um pico de 6,7% em junho e depois passou a desacelerar. A projeção de analistas de mercado consultados pelo Banco Central é de que a inflação de janeiro a dezembro de 2013 fique em torno de 5,8%.


Após recorde, montadoras mais que dobram previsão de alta da produção
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Sílvio Guedes Crespo

Atualizado às 14h47*

As montadoras instaladas no Brasil mais do que dobraram a expectativa de crescimento da produção de veículos e, ao mesmo tempo, reduziram a menos da metade a previsão de aumento das vendas, segundo informou a Anfavea (associação que representa o setor), após anunciar recorde de produção em agosto.

Projeções de crescimento em 2013

Previsão anteriorPrevisão Atual
Produção4,5%11,9%
Vendas3,5% a 4,5%1% a 2%
Exportação-4,6%20%

A entidade agora projeta que a produção de automóveis no país seja, este ano, 11,9% maior do que foi em 2012. A estimativa anterior era de uma alta de 4,5%.

Por outro lado, a associação passou a prever um aumento menor das vendas. Na projeção anterior, esperava alta de 3,5% a 4,5%; agora, estima em 1% a 2%.

Considerando que o nível de estoque está “normal”, como afirmou o presidente da Anfavea em entrevista coletiva, o que parece motivar um aumento da expectativa de produção, mesmo com a queda na previsão das vendas, são as melhores condições para a exportação.

Até julho, as montadoras esperavam uma queda de 4,6% nas exportações neste ano. Agora, a elas projetam uma alta de 20%.

Embora, segundo a própria Anfavea, a cotação do dólar esteja em um patamar bom para as montadoras no Brasil, não foi o câmbio que levou a entidade a prever aumento maior das exportações, e sim a melhora do cenário internacional.

Quando revisou a alta, o presidente da entidade, Luiz Moan, afirmou que o dólar continuava muito instável, de modo que, sozinho, o câmbio ainda não era um fator suficiente para sustentar uma projeção de melhora das exportações.

A previsão de exportar mais está baseada no aumento registrado de vendas para a Argentina e na manutenção do comércio com outros países, como os da União Europeia. Além disso, o presidente da Anfavea citou o Inovar Auto, programa federal para desestimular a importação e atrair investimento, como um dos fatores do aumento da produção local.

Indústria

Os dados da Anfavea – tanto as projeções como o registro do aumento recente da produção – dão esperança de que a atividade industrial do país tenha melhorado em agosto.

O setor automotivo foi o principal responsável pela queda de 2% da indústria brasileira em julho. Com um crescimento de 9% da produção de veículos no mês seguinte, além da revisão das expectativas do setor, aumenta a probabilidade de que a indústria recupere parte de suas perdas.

Quanto à revisão da projeção das vendas internas, deve-se notar que a Anfavea não está prevendo queda, mas sim um aumento menor do que o esperado anteriormente. Ou seja, apesar de o segundo semestre do ano passado ter sido muito forte por causa da redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), o desempenho deste ano deve ser de 1% a 2% superior, segundo as montadoras.

Os novos dados da Anfavea reforçam a hipótese defendida por este blog anteontem, de que o fundo do poço do recente ciclo de baixa da produção industrial ocorreu no final do ano passado e início de 2013.

É claro que esta lenta retomada da indústria não está garantida. Mas a informação de que a União Europeia, um dos principais parceiros comerciais do país, manteve o ritmo de compra de carros “made in Brazil”, junto com a notícia de que a protecionista Argentina elevou as importações, aumenta as chances de melhora dos produtores nacionais.

* Acrescentada declaração do presidente da Anfavea de que o Inovar Auto é um fator da alta da produção